Pausa nos Estudos
A princípio, esta seria apenas mais uma cena do capítulo ‘Silêncio e Palavras’. Minha intenção era mostrar um momento feliz e descontraído de Ron e Mione, que já passaram por muitas tensões. Mas a cena foi ficando tão longa e os dois personagens pareciam estar curtindo tanto que acabei achando melhor transformá-la em um capítulo Fluffy. Espero que gostem do resultado.
Um abraço,
Morgana
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Finalmente, depois das muitas brigas e conflitos daquele conturbado sexto ano em Hogwarts, Ron e Hermione tiveram várias oportunidades de conversar e viver momentos tranquilos, de paz. Eram a constante companhia um do outro agora que Harry aproveitava todos os horários vagos para ficar com Gina.
Hermione há muito tempo esperava por essa reaproximação do ruivo e estava mais radiante que nunca. Ron, por sua vez, havia se rendido ao forte sentimento que tinha pela amiga e também se sentia feliz.
O único assunto que a menina evitava falar com o ruivo era sobre o namoro de Gina e Harry. Ron sempre emburrava a cara. Detestava também ver a irmã beijando o amigo. Nessas horas, ele preferia sair de perto para não deixar escapar algum comentário mal-humorado.
Na sexta-feira à tarde, Ron se aproximou da amiga com aquele olhar de quem vai pedir ajuda em alguma tarefa. Hermione já conhecia muito bem a expressão entre chorosa e suplicante do ruivo que sempre derretia o coração dela, precisava admitir.
- Mione, o que você vai fazer amanhã? – perguntou o rapaz.
- Eu vou estudar – respondeu decidida.
- Estudar?! De novo? Você só pensa em estudar! Acho que nem cabe mais informação em sua cabeça. Precisa se divertir, relaxar um pouco – sugeriu.
O ruivo se questionou por que havia feito aquela pergunta. Já imaginava a resposta. Hermione só queria saber dos livros. Não foi para ter mais tempo de estudar que ela parou de se corresponder com Krum? Com certeza não planejava namorar alguém, muito menos ele, enquanto não concluísse Hogwarts. De preferência, com a medalha de honra ao mérito como melhor aluna da escola de todos os tempos. “Mas que besteira... Por que estou pensando em namoro? Nós somos amigos e nunca seremos nada além disso”, concluiu, balançando a cabeça.
- Ron? – chamou a menina e, quando o amigo se virou para encará-la, continuou a falar – Você já imaginou que posso me divertir estudando?
- Não acredito! Sei que gosta muito de estudar, mas não pode se divertir assim. Às vezes acho que nem sabe o que é diversão...
- Claro que sei. É realizar alguma atividade diferente, descontraída – começou explicando.
- É mais do que isso, Mione. Para se divertir a gente precisa deixar de lado tudo que nos preocupa e simplesmente relaxar, se permitir ser feliz – falou o ruivo com convicção.
- Ah, Ron, eu não sei se posso pensar em relaxar... O que adianta me divertir um pouco para depois ficar ainda mais preocupada com os estudos? – argumentou Hermione incerta quanto às próprias palavras.
- Mione... por favor... Que mal vai fazer perder um dia de estudo? Suas notas são excelentes – apelou o rapaz com a voz quase chorosa.
Era difícil para Hermione recusar qualquer pedido que Ron fazia desse jeito. Ainda mais porque não tinha matado suficientemente a saudade do amigo depois do longo período no qual estiveram afastados. Sentira tanta falta do rapaz dizendo que ela precisava relaxar, se preocupar menos com as provas. Ninguém, além de Ron, falava com ela assim. Sentira falta, tanta falta, dolorosa falta do seu ruivinho.
- Tudo bem, Ron. Eu aceito a sua proposta de deixar os livros de lado amanhã – disse com um sorriso.
- Isso, Mione! – comemorou Ron levantando o punho fechado como quem dá um soco no ar, gesto que fazia ao defender um gol.
Sempre muito prática, Hermione perguntou o que iriam fazer. Ron sugeriu que ficassem nos arredores do castelo. De fato, no entorno de Hogwarts havia locais encantadores, com lago, relva coberta de flores, montanhas.
“Podemos fazer um piquenique, voar de vassoura, dar um mergulho no lago...”, enumerou o rapaz. “Piquenique, sim. Mas não gosto de voar de vassoura, você sabe disso. E mergulho, nem pensar”, respondeu a menina. Ron fez uma cara de “não tem jeito”, mas na verdade estava muito feliz em saber que os dois passariam o sábado juntos.
Combinaram de sair logo depois do café da manhã. Hermione, que tinha um bom relacionamento com os elfos, conseguiria os alimentos para o piquenique. Quando já iam se despedindo, ela fez a inevitável pergunta: “Não vamos chamar Harry e Gina?”
- Eles combinaram de ir a Hogsmeade. E com certeza vão dispensar a nossa companhia – disse o ruivo.
Hermione sorriu sem graça e suas bochechas ficaram levemente rosadas. Seriam apenas ela e Ron. Pensar nisso a deixava alegre e assustada ao mesmo tempo.
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Ao ver Ron se divertindo tanto naquele voo veloz, Hermione se arrependeu de haver reclamado com o amigo por levar a vassoura. Deu um sorriso quando o ruivo passou perto dela, fazendo o ar se mexer ao seu redor. “Eu sou o bruxo mais rápido do mundo”, gritou ele, que parecia uma criança descobrindo uma nova brincadeira.
Os dois amigos haviam saído cedo do castelo, caminharam bastante aproveitando aquela manhã mais quente de final de primavera. Mione não pôde deixar de comentar a beleza das flores encontradas ao longo da estrada e ficou surpresa quando Ron lhe entregou um improvisado buquê colorido. “Para alegrar a sua manhã”, disse o rapaz timidamente.
Depois da longa caminhada, pararam próximo ao lago para fazer o piquenique, regado por muita conversa e sorrisos. “Mione, que história é essa da Bela que Dormia?”, perguntou vacilante. “O nome certo é ‘A Bela Adormecida’, uma história muito conhecida pelas crianças trouxas”, explicou, desconfiando que os gêmeos tivessem falado algo sobre o assunto com o irmão mais novo.
Quando Hermione concluiu a história, que contou rapidamente, o ruivo comentou: “Esse príncipe é mesmo corajoso em beijar uma princesa velhinha assim”. A menina, depois de sacudir a cabeça e dar um sorriso, respondeu: “Você parece não entender de magia, Ron. Ela dormiu 100 anos, mas o feitiço não a deixou envelhecer”.
- Caso eu dependesse de um beijo para me livrar de algum feitiço, acho que não encontraria ninguém capaz desse gesto heróico – falou displicente.
- Harry beijaria você, com certeza – disse a menina dando uma risada, sem conseguir evitar, no entanto, que o seu rosto ficasse rosado.
O rapaz deu uma gargalhada, daquelas que deixavam Hermione feliz. Muita conversa e sorrisos depois, Ron se deitou na relva. “O que está fazendo?”, Mione perguntou. “Vou descansar um pouco. Por que você não faz o mesmo?”, sugeriu. A menina disse que preferia ler.
- Mas fica tranquilo que não vou estudar. É um livro trouxa, ‘Sonho de uma noite de verão’, de Shakespeare. A história se passa na Grécia antiga e é bem divertida – comentou.
Ao notar que o rapaz já fechara os olhos, Hermione interrompe a fala. Em seguida, a menina se levanta e vai sentar encostada no tronco de uma árvore um pouco mais distante do lago. Depois de ler algumas páginas, começa a refletir. Precisará pedir a algum elfo da floresta, assim como acontece na narrativa de Shakespeare, para pingar o sumo da Flor do Amor Perfeito nos olhos de Ron? Somente desse jeito o ruivo vai enxergar que podem ser mais que amigos e finalmente se apaixonará por ela?
Sacode a cabeça ao chegar à conclusão que magias do Amor não funcionam para os dois. Havia iniciado o ano letivo fascinada pelo perfume que sentira ao cheirar a Amortentia, o mesmo perfume daqueles cabelos ruivos. No aniversário recebeu do amigo um colar cercado por um misterioso feitiço que os atraía um para o outro. Mas depois disso tudo desandara. O rapaz deixou de falar com ela, começou a namorar outra menina, foi envenenado...
Hermione fecha o livro, cansada da leitura solitária e, de modo especial, das exigentes reflexões que ele desperta. Repousa a cabeça no tronco da árvore e cerra os olhos. Não pensa em cochilar, quer apenas descansar um pouco. Mas os envolventes sons da natureza a levam a adormecer. Acorda um pouco assustada, ouvindo barulho de água. Não podia acreditar! Ron havia entrado de roupa e tudo no lago!
- Achei que tinha sido enfeitiçada como a Bela Adormecida – falou o rapaz quase gritando, já que estava na outra margem do lago – E fiquei pensando onde encontraria um príncipe para despertar você com um beijo.
- Você é louco! Como vai voltar para o castelo encharcado assim?! – questiona a menina, que achou mais prudente ignorar o comentário sobre a Bela Adormecida.
- Mione, já mergulhei várias vezes neste lago, entre uma aula e outra, e você nunca me viu chegando molhado ao castelo. Eu sempre vinha aqui com Fred e Jorge – contou.
A morena revirou os olhos. Não era uma surpresa saber que os gêmeos cabulavam aula mergulhando no lago. Olhou novamente para o amigo, que agora estava nadando e parecia se divertir muito. “Por que você não entra na água?”, convidou o ruivo assim que chegou à outra margem.
Com a insistência já tão conhecida por Hermione, Ron conseguiu convencê-la a tirar os sapatos e molhar os pés no lago. Mergulhar, porém, nem pensar. A menina, sempre muito atenta, permitiu-se distrair por alguns minutos. Enquanto mexia na água com um graveto, não se deu conta que o amigo havia saído do lago.
O ruivo sabia que estava correndo um grande risco. Muito provavelmente Hermione ficaria sem falar com ele por alguns dias. Mas intuía que, no fundo, ela se divertiria. Por isso, sem pensar muito nas consequências, a empurrou dentro do lago.
- Ron! – gritou enquanto caía – Você é um palhaço! Por que você fez isso?!
Se precisava ouvir bronca, melhor que estivesse dentro do lago, pensou o rapaz enquanto mergulhava. Nadou até a outra margem e, a dez metros de distância da amiga, tentou uma reconciliação.
- Você ainda está brava comigo? – perguntou em voz alta para ser ouvido.
- Sim, muito brava por sinal. Eu estou toda molhada, morrendo de frio e...
- Mione, relaxa! A água está ótima... Por que você não nada um pouco e aproveita? – sugeriu.
- Eu vou fazer melhor! Vou ver se a minha varinha continua funcionando mesmo molhada – ameaçou, começando a nadar em direção ao rapaz.
A amiga atacaria Ron novamente com pássaros? Ou tinha aprendido um feitiço ainda pior? Seja como fosse, o ruivo não recuaria. Ficou parado onde estava, esperando a amiga.
- Você nada muito bem, Mione. Vamos apostar uma corrida? – arriscou.
A água realmente estava ótima, Ron tinha razão, reconhecia Mione. Mas claro que não falaria isso para ele. “Tudo bem. Qual vai ser a aposta?”, perguntou. “Quem chegar por último na outra margem vai pagar uma cerveja amanteigada para o outro no Três Vassouras”, propôs o ruivo. A amiga aceitou e deu a largada. Ela tinha mais técnica, mas o rapaz nadava mais rápido.
- Venci! Sou o mais rápido no ar e na água – comemorou Ron.
Ela deu um sorriso, contente por ver o amigo tão feliz. Nadaram mais alguns minutos até a menina se cansar e pedir para irem embora. Quando já estavam fora do lago, Mione perguntou: “Como vamos voltar para o castelo assim? Será que vou ter que usar o feitiço para secar ervas, que aprendemos na aula de Herbologia?”.
Ron deu uma gargalhada. A amiga era muito inteligente, mas não negava que vinha de uma família trouxa. Qualquer criança bruxa aprende muito cedo o feitiço de secagem rápida. Todas as mães, inclusive as feiticeiras, detestam ver os filhos molhados. “Você vai adoecer”, reclamava Molly sempre que ele não se secava bem depois de mergulhar no lago próximo à Toca.
“Hermione, deixa que eu resolvo isso. Você é mais delicada que a erva e esse feitiço não ia dar certo”, disse sorridente. Em seguida, Ron tirou a varinha do cós da calça e invocou silenciosamente as palavras mágicas.
O ar quente que saia da varinha não era incômodo, muito pelo contrário. Surpresa, a menina sentiu toda a roupa e o corpo secarem em menos de dois minutos. “Pertencer a uma família bruxa tem algumas vantagens”, falou o rapaz sem desmanchar o sorriso.
- Você é fabuloso, Ron - elogiou.
- Merlin! Precisei esperar seis anos para você reconhecer isso – protestou.
- Ron, não é novidade que eu acho você fabuloso. E também chato, implicante, teimoso, insensível...
- Chega, Mione! Não precisa dizer dez defeitos para cada qualidade...
- Você não esperou eu começar a falar as suas qualidades – continuou.
- Depois você fala – disse parecendo indiferente – Agora vou me secar que estou com frio.
Enquanto observava o amigo se afastar para perto da margem e erguer em seguida a varinha na própria direção, a menina lamentou a insegurança dele. “Queria tanto que acreditasse mais em si mesmo. Quem sabe assim também pudesse acreditar em nós dois juntos”, refletia.
Como Ron estava cada dia mais bonito, pensava olhando o ruivo. Permanecia magro, mas já devia medir por volta de 1,80 m e o treinamento como goleiro lhe dera alguns músculos e um porte atlético. Os cabelos ainda eram provocadoramente vermelhos, brilhantes, macios e com um perfume envolvente. O sorriso, tão contagiante, de dentes brancos e perfeitos, já recebera elogios da mãe da menina, uma competente dentista. Mas eram os olhos do rapaz que mais a atraiam. Aqueles orbes azuis pareciam enxergar além da aparência e ir direto ao coração de Hermione.
Após executar o feitiço de secagem rápida, Ron caminhou em direção da amiga. Mione estava guardando a toalha, cesta de piquenique e outros materiais que havia levado. O ruivo parou a dois metros de distância, analisando os movimentos da morena. “Ela está ainda mais encantadora”, pensou.
Hermione tinha estatura mediana, o corpo esguio e harmonioso. Para o rapaz, um dos maiores encantos da menina eram os olhos castanhos, muito vivos, questionadores, com um quê de doçura e pureza. E como transmitia sinceridade aquele sorriso, que sempre iluminava o rosto da morena. Já os cabelos, rebeldes, dominados somente à força de magia, revelavam o gosto pela liberdade e aventura que Mione trazia dentro de si, mas muitas vezes reprimia. Sem falar nos lábios delicados e bem desenhados, que pareciam tão macios... “O que estou fazendo? Não deveria ter esses pensamentos”, se autocensurou.
- Ron? – chamou a menina, despertando o amigo dos seus devaneios – Precisamos ir.
- Tudo bem. Vamos! – respondeu o rapaz, que já estava com a vassoura no ombro, se oferecendo para ajudar a menina a levar a cesta, agora praticamente vazia.
O sol já começava a se despedir e, mesmo se estavam cansados, Ron e Hermione se sentiam muito felizes. A caminhada de volta ao castelo foi mais rápida do que ambos gostariam. Tinham tantos outros assuntos para conversar...
A cerca de 100 metros do castelo, Ron lançou um novo desafio à amiga. “Vamos ver quem corre mais rápido?”, perguntou. “Tudo bem. Mas dessa vez quem perder vai ter que passar o próximo sábado estudando”, propôs a menina com um sorriso.
Ron deu uma arrancada, mas, no meio da corrida, desacelerou, deixando a menina alcançá-lo. “Assim você vai perder”, disse ela. “Acho que vamos empatar”, sugeriu, pensando que não seria má ideia passar um sábado estudando, desde que fosse ao lado de Hermione.
Quando finalmente alcançaram a porta do castelo, já exaustos, Ron e Mione davam gargalhadas. Da janela da Torre da Grifinória, o ruivo e a morena eram observados. A professora Minerva, meneando a cabeça e com um sorriso no rosto, murmurava para si mesma: “Amor! Enigmática força”. O melhor amigo dos dois limitou-se a trocar um olhar de cumplicidade com a namorada.
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Para ouvir antes, durante ou depois de ler o capítulo:
I'm Yours
Well, you done done
me and you bet I felt it
I tried to be chill
but your so hot that I melted
I fell right through the cracks,
and I'm tryin' to get back
before the cool done run out
I'll be givin it my best test
and nothin's gonna stop me
but divine intervention
I reckon it's again my turn
to win some or learn some
I won't hesitate
No more, no more
it cannot wait,
I'm yours!
(…)
Comentários (3)
Esse é um dos meus capítulos favoritos, tão fofo
2020-05-28Ron e Mione mereciam se divertir um pouco juntos! Fico feliz em saber que gostou do capítulo, Cedrella :)
2012-05-26Achei acertada a sua decisão de dividir o capítulo. Assim podemos curtir, do começo ao fim, um momento fofo entre Ron e Mione \o/. Ótima a escola da música. bjs
2012-05-26