Nas Horas Difíceis





Dores fortes, abissais. Gestos de cuidado, ternura, conforto. O fantasma da insegura volta. Cena de ciúme. Mais momentos de dor. A palavra certa, o olhar, o abraço, o ombro amigo...
Chegamos ao penúltimo capítulo. Emoções à flor da pele esperam por você, que me acompanhou até aqui.


Um abraço,


Morgana


P.S: Nos próximos dias, vou ficar off line a maior parte do tempo; mas, assim que puder, respondo aos comentários, que são o combustível da minha escrita.


 


* * * * *


 


 


 


Sentado na sala comunal, Ron apenas respirava. Todo o seu corpo doía, especialmente a cabeça. Parecia ter envelhecido 10 anos em um dia. Pensamentos confusos passavam por sua mente, como raios que cruzam o céu, mas nada parecia fazer sentido.


Escutou o seu nome ser chamado por uma voz suave, muito distante. Mas ele não conseguia sair daquela espécie de transe e voltar à realidade. Foi quando sentiu uma mão pequena e delicada segurar o seu braço que começou a despertar.


Uma menina de traços suaves, cabelos volumosos e expressivos olhos castanhos o encarava com um semblante sofrido. Era Hermione Granger, sua melhor amiga.


- Ron? Vamos descer! Você precisa comer alguma coisa. Amanhã será o velório de Dumbledore e precisamos ter forças para enfrentar esse momento – disse com voz baixa e firme.


Automaticamente, sem pensar sobre essa ação, o rapaz se levantou e começou a caminhar ao lado da amiga. Não conseguia pronunciar qualquer palavra e Hermione respeitava aquele seu silêncio.


Enquanto caminhavam, pela primeira vez Ron parecia conseguir organizar os pensamentos confusos que o atormentavam. Na noite passada, ele e a amiga precisaram assumir um difícil trabalho sozinhos. Lembrava de Harry entregando o Mapa do Maroto e o frasco com Felix Felicis para eles depois de explicar, muito rapidamente, que tinha uma tarefa a cumprir com Dumbledore: encontrar e destruir um objeto que continha fragmento da alma do Lorde das Trevas, também conhecido como Horcrux.

Pela primeira vez, Ron sentiu-se responsável por liderar uma missão. Sabia que Hermione, por ser muito racional e ter facilidade em memorizar feitiços, era ótima para traçar planos. Mas por vezes ficava tão nervosa que não conseguia agir. Ron, ao contrário, diante dos maiores desafios adquiria uma coragem que o levara a não considerar os riscos e surpreendia depois a ele próprio. E foi exatamente assim naquela noite.


No momento que Harry desapareceu pelo buraco do retrato, o ruivo falou para a amiga. “Mione, não podemos perder tempo. Você ouviu Harry dizer que o Malfoy estava comemorando na Sala Precisa. Seja qual fosse seu plano, parece que teve sucesso”, disse. A menina, com a respiração mais pesada que o normal, olhava para o amigo sem conseguir falar.


“Mione? Tudo bem?”, voltou a insistir. Ela respondeu que sim e perguntou o que deveriam fazer. Ron sugeriu, então, que a amiga mandasse uma mensagem para os galeões dos antigos membros da Armada de Dumbledore. “Estou levando o mapa comigo para não perder Malfoy de vista e vou procurar Gina. Acho que preciso falar com ela pessoalmente sobre Harry”, anunciou. Combinaram de se encontrar em 15 minutos no salão comunal.


No horário combinado, estavam todos lá. O grupo era menor do que esperavam. Apenas Luna e Neville, além de Gina, haviam respondido à convocação do galeão. “Precisamos vigiar Snape e Malfoy. O que você sugere, Ron?”, perguntou Hermione “Deixa Malfoy comigo, Mione”, respondeu. A morena então disse que levaria Luna com ela enquanto Gina e Neville ajudariam o ruivo.


O rapaz tirou o vidrinho com a Felix Felicis do bolso e pediu para Hermione convocar cinco recipientes e dividir a poção em partes iguais. Ele observou com admiração que, mesmo quando Mione estava nervosa, não errava um feitiço. Quando ia se afastar da garota para distribuir a poção da sorte, a amiga o segurou pelo braço.


- Ron, eu estou com medo... – disse a menina.


- Temos um grande desafio. Mas precisamos nos concentrar. O medo só atrapalha – falou o ruivo com voz suave.


- Mas tenho medo de acontecer algo com você e eu não estar por perto. Nós dois vamos precisar nos dividir para liderar o grupo...


- Agradeço por sua preocupação, mas eu sei me cuidar, Hermione – respondeu um pouco agitado.


- Eu sei disso. Você é um bruxo fantástico. Mas só tem 17 anos e os Comensais da Morte...


O rapaz a olhou com expressão preocupada. Apenas agora se dava conta que não poderia proteger a amiga, como sempre gostava de fazer.


- Você também só tem 17 anos... E eu queria estar do seu lado, para cuidar de você. Sei que não precisa de mim, é a jovem bruxa mais extraordinária que conheço. Mas eu me sinto mal se não estou perto quando sei que você corre perigo.


- Oh, Ron! Eu fico até emocionada com o seu cuidado comigo – disse a menina quase chorando.


Neste instante chegou Gina, sempre decidida, para lembrá-los que tinham uma tarefa árdua pela frente. Ron assumiu mais uma vez a liderança, distribuindo a Felix Felicis e repassando o plano com todos. “Nosso ponto de encontro será aqui, na sala comunal”, anunciou.


Quando foi tomar a sua parte da Felix Felicis, o ruivo não conseguiu evitar um comentário espontâneo. “Preferia usar a poção da sorte em outra ocasião, para conquistar uma menina especial. Mas se é preciso ser agora, tudo bem”.


Hermione ficou vermelha na hora e chamou Luna para partirem logo em direção à Masmorra, onde estava Snape. Mas ainda teve tempo de ouvir o comentário de Neville. “Você não precisa disso. Essa menina especial já é apaixonada por você”.


Tudo parecia estar dando errado e Ron se questionou se a poção da sorte funcionava mesmo. Primeiro Malfoy conseguiu escapar da Sala Precisa usando – por ironia do destino – uma das Gemialidades Weasley, o “Poder Peruano de Escuridão Instantânea”. O ruivo percebeu, pelo som de vozes, que ele não estava sozinho. Deveria ter conseguido abrir algum portal, apesar de todos os feitiços defensivos existentes no castelo.


Logo precisaram enfrentar os Comensais da Morte, mas nem tudo estava perdido. Chegaram Tonks, Lupin e Gui, representantes da Ordem da Fênix, para lutar ao lado deles e Ron estava conseguindo se defender de todos os feitiços lançados pelos bruxos das trevas. “A sorte líquida funciona”, chegou a pensar. Toda a sorte do mundo, no entanto, não foi suficiente para evitar o ataque de Gui pelo Lobo Greyback.


Ron precisava estar totalmente concentrado na luta. Não podia se distrair com um único pensamento para não correr o risco de ser morto. No entanto, na fração de segundo que separava o comando da execução do feitiço, uma única palavra brotava em sua mente. “Hermione, Hermione, Hermione”. Esse nome era como uma prece dirigida a Merlin e todas as entidades mágicas pedindo que nada acontecesse com a amiga. E assim sentia coragem para continuar duelando.


Ao ver em um relance seu irmão ser atacado pelo Lobo Greyback, Ron queria correr para socorrê-lo. Mas estava no meio de um duelo com um bruxo muito poderoso e, se parasse, dificilmente conseguiria escapar. A única ação que podia fazer – e a qual se entregou com toda força – era gritar por socorro. Lupin conseguiu afastar Greyback de Gui, mas o rapaz já estava muito ferido e foi levado rapidamente para a enfermaria.


Pouco depois Snape e Malfoy desceram correndo as escadas da Torre de Astronomia, logo sendo seguidos pelos outros comensais, que bateram em retirada. Neville, atingido por um feitiço, foi direto para a enfermaria e a professora McGonagall disse que todos os envolvidos na batalha também deveriam ir para lá, para serem examinados pela medibruxa. “Alguns feitiços agem silenciosamente, sem efeitos aparentes, e podem matar”, argumentou.


O ruivinho não iria para a enfermaria, não antes de encontrar Hermione. Será que Snape tinha estupefato ela e Luna? Só podia ser isso porque o professor havia saído da Masmorra há mais de meia hora e as meninas ainda não tinham aparecido. Com o coração sobressaltado por esse pensamento, o ruivo correu pelos corredores que levavam à sala de Snape.


Mais rápido do que imaginava, encontrou Hermione igualmente aflita. “Ron!”, gritou a menina, disparando em direção ao amigo, que abraçou com toda força. Ron sentia-se muito aliviado. O perfume adocicado dos volumosos cabelos da amiga, que já lhe era tão familiar, trouxe uma sensação de conforto ao ruivo.


- Estava preocupado com você – falou Ron logo que se separaram – Onde está Luna?


- Luna foi levar o professor Flitwick na enfermaria. Ele desmaiou quando foi à sala do professor Snape avisar da invasão dos Comensais – explicou a menina.


- Desmaiou?! Com certeza ele foi estupefato pelo Snape – falou Ron que nunca confiara no atual professor de Arte das Trevas.


A menina notou que Ron tinha os olhos e a ponta do nariz vermelhos. Devia ter chorado e ela perguntou o que havia acontecido. Com a voz sofrida, ele contou sobre o ataque de Gui. “Eu estava duelando com um comensal e não consegui fazer nada para ajudar o meu irmão. Sinto-me tão mal por isso”, disse voltando a derramar algumas lágrimas.


Ela olhou para o amigo, que tinha a cabeça baixa. “Ron, não fica assim! Você estava lutando com comensais, não podia ajudar o seu irmão”, falou com carinho. “Gui é um cara tão bonito. Estou sem coragem de ir à enfermaria e ver o rosto desfigurado dele”, disse o rapaz quase num sussurro.


- Ron, me dá a sua mão. Nós vamos juntos até lá. Eu vou estar ao seu lado - garantiu.


Os dois entram silenciosamente na enfermaria e veem Gina, Tonks e Lupin rodeando a cama na qual Gui está deitado. Madame Pomfrey, que os aguardava para examiná-los, logo observa que estão de mãos dadas.


- Estão vocês finalmente decidiram assumir o namoro? Muito bem. Já não era sem tempo – falou a medibruxa.


Tonks, caminhando em direção aos amigos, também teve a sua atenção voltada para as mãos entrelaçadas dos dois e deu um sorrisinho. A menina largou a mão de Ron, muito sem graça.


- Não, não! Fiquem assim. Vocês formam um casal lindo – suplicou Tonks.


Ron fez aquela cara de quem diz “o que você tem a ver com isso?” enquanto Hermione, apavorada, parecia suplicar “para, por favor”.


Depois de ser examinado e medicado – Ron estava com um ferimento no braço esquerdo – o casal de amigos se juntou aos demais ao lado da cama de Gui. Com a chegada de Harry, puderam rever cada passo daquela noite tão difícil. Mas o sofrimento maior estava por vir: Dumbledore tinha morrido.


Apesar da grande dor e peso a oprimir o seu coração, Ron ficou intrigado com duas realidades, que antes provavelmente passariam despercebidas ao ruivinho. A primeira era o fato de Fleur nem sequer cogitar a possibilidade de cancelar ou adiar o casamento com Gui. Continuava amando o rapaz e parecia não se importar com as cicatrizes que para sempre marcariam o rosto dele. O segundo fato que o interpelava era a insistência de Tonks, uma jovem bruxa com seus encantos, em seu amor por Lupin. Não se sentia incomodava por ele ser um lobisomem e, nas noites de lua cheia, ter as atitudes violentas típicas daqueles seres.


Entendendo, pela primeira vez, que as motivações do verdadeiro amor fogem a qualquer lógica, Ron não reprimiu uma recorrente intuição. Permitiu-se finalmente acreditar que Hermione correspondia ao seu sentimento por ela. “As mulheres têm maior capacidade de sacrifício e conseguem ver além das aparências”, dizia Molly com frequência. Por isso entendeu que, mesmo se ele não tinha grande talento para magia, excelentes notas, boa condição financeira ou uma notável performance como goleiro de quadribol, por razões que ele próprio desconhecia poderia ter conquistado a menina a qual já pertencia o seu coração.


xxx


O dia amanheceu cinzento e triste. Hermione se arrumou lentamente, como que desejando adiar ao máximo o acontecimento que em poucas horas presenciaria. Grossas lágrimas rolaram pelo rosto da menina. Ela tinha dormido mal a noite toda, acordando sempre assustada por terríveis pesadelos. Enquanto penteada o cabelo, renovou a decisão de tentar ter coragem. Precisava ser o sustento de Ron, que estava tão abatido também com o ataque sofrido pelo irmão, e de Harry.


Ao descer as escadas do dormitório, avistou Ron, Harry e Gina sentados junto à lareira. Logo os olhos dela se encontraram com os do ruivo, que ensaiou um sorriso tímido.


- Bom dia! – disse por força do hábito – Acordaram cedo...


- Na verdade, eu e Harry nem dormimos. Passamos a noite conversando... – contou Ron.


A menina observou que os dois tinham a fisionomia cansada e o ruivo, especialmente, estava abatido e com olheiras.


- Eu também dormi mal e, quando cheguei aqui, achando que era a primeira a levantar, eles já estavam – falou Gina, com a voz rouca.


Mione pensou em falar que também tivera uma noite terrível, de muitos pesadelos. Mas achou melhor não ser mais um peso para os amigos. “Bem, penso que todos nós precisamos de uma boa xícara quente de café”, convidou.


Harry e Gina seguiram na frente, enquanto Hermione e Ron ficaram alguns passos atrás, caminhando mais lentamente. Para a surpresa de Mione, o ruivo pegou a mão dela e com delicadeza a beijou, soltando-a em seguida. Com o rosto levemente corado, a bruxinha olhou para o amigo. “Sabe que eu admiro muito você por sua coragem”, disse ele simplesmente.


Ron e Hermione passaram aquele dia todo juntos. Sentaram um ao lado do outro no sepultamento e foram os ombros do amigo que a menina procurou para chorar quando a tristeza pela perda do maior bruxo de todos os tempos voltou a calar fundo em seu peito. O rapaz, que estava muito pálido, abraçou a amiga e acariciou os cabelos dela com grande ternura no momento em que o corpo do diretor de Hogwarts foi colocado no túmulo.


Naquele dia, Hermione percebeu com maior clareza que era ao lado de Ron que encontrava renovada força e conforto nos momentos mais difíceis. O sentimento do ruivo pela amiga não era muito diferente.


“Preciso muito da Hermione e não é a sua inteligência, ajuda nas tarefas e provas que me fazem falta. Eu poderia passar muito bem sem isso. Eu preciso do sorriso, do olhar, da voz, do perfume, da presença de Mione”, concluiu o rapaz.


Depois de testemunhar, na enfermaria, que é possível superar as limitações para viver um grande amor, permitiu ao seu coração acreditar que Hermione gostava dele. Tinha essa desconfiança desde o quarto ano, mas sempre a reprimia. Achava essa ideia patética e pretensiosa demais.


“Quem sabe... Tenho que ao menos tentar. Vou dizer a Hermione que a amo, mas não simplesmente como amiga. Quero que seja a minha namorada”, pensava com uma decisão que jamais tivera antes. Temia, no entanto, que essa coragem durasse pouco.


No final da tarde, o casal de amigos foi junto para a beira do lago. Ron e Mione já haviam conversado com Harry e se comprometido a acompanhá-lo na busca das horcruxes. Antes disso, os dois tiveram um demorado diálogo, no qual Ron tentou convencer a menina a continuar em Hogwarts.


“Você ama tanto estudar. Deixa que eu sigo nesta jornada com Harry. Claro que você fará muito falta, mas é perigoso demais”, dizia o ruivo. Nada convenceu Mione. “Já estou envolvida por completo com essa missão. Vou até o fim”, ela garantiu.


Agora, após terem assumido diante de Harry o compromisso de procurar as horcruxes, os dois se encontravam novamente sozinhos. Relembraram a batalha contra os comensais, que acontecera há dois dias e já parecia distante demais.


- Você foi muito corajoso. Como sempre - disse a menina com jeito carinhoso.


- E você foi brilhante. Como sempre – respondeu o rapaz com segurança


Seguiu-se um longo minuto de silêncio e os dois se permitiram mergulhar cada um no olhar do outro.


- Mione, eu sei quanto você ama estudar. Tem mesmo certeza de que vai desistir de Hogwarts para se juntar a mim e a Harry nessa perigosa jornada? – voltou a insistir o ruivo.


- Ron, por favor, não quero falar mais desse assunto. Está decidido. Eu vou continuar a ajudar Harry. Junto com você – apressou-se a completar.


- Que bom que me incluiu em seus planos. Eu também não tenho outra escolha além de acompanhar Harry, seja lá onde for. Tomei essa decisão quando o escolhi como o meu melhor amigo, ainda no primeiro ano – falou com um leve sorriso.


- E eu escolhi vocês dois... – disse a menina espontaneamente.


- Você considera a minha amizade e a do Harry da mesma forma, não é?  Preferia até que você dissesse que Harry é o seu melhor amigo. Pelo menos assim você me olharia de forma diferente, para o bem ou para o mal – concluiu.


- Ron! Por que você precisa ser sempre tão ciumento? – queixou-se a menina.


- Tudo bem, eu reconheço que sou ciumento. Mas e daí? Isso não muda nada. É sempre você, Harry e eu, exatamente nessa ordem – falou olhando-a profundamente.


- O que você quer dizer com isso, Ron? – perguntou a morena com o coração repleto de expectativa.


- Eu já falei o que tinha a falar. Imaginei que você diria alguma coisa...


- Ah, Ron, por favor. Eu não sei o que dizer. Você e Harry são amigos muito queridos. Mas é claro que são diferentes, entende?


“Sim, eu entendo perfeitamente bem, Hermione. Você me considera apenas o seu amigo. Jamais vai pensar na gente como namorados. Eu não devia ter enganado a mim mesmo alimentando falsas esperanças”, pensou o rapaz.


Se olhasse para Hermione veria o desespero estampado no rosto da menina. Será que ela tinha estragado tudo? Não, não era possível. Precisava fazer ou dizer alguma coisa para mostrar que Ron era único em sua vida. Enquanto pensava nisso, Neville chegou chamando os dois à realidade.


- Ron? Hermione? A professora Minerva está convocando todos os alunos da Grifinória ao salão comunal. Quer falar sobre a saída do Expresso de Hogwarts amanhã pela manhã.


xxx


Harry e Ron voltaram a trocar um olhar apreensivo. Já fazia uma hora que estavam viajando e Hermione continuava com o rosto voltado para a janela, chorando silenciosamente.


- Acho que apenas você pode ajudar Mione agora – disse Harry com a voz muito baixa – Vou procurar pela Gina e deixar vocês dois sozinhos.


Ron não sabia o que fazer. Mas tinha a convicção, assim como Harry, de que poderia consolar a amiga de alguma forma. Começou com um pequeno, mas significativo, gesto.


- Hermione... Toma este lenço. Está limpo – falou com tranqulidade.


A menina estendeu a mão, mas continuou olhando pela janela do trem. Ao enxugar as lágrimas com o lenço, sentiu o perfume de Ron, do qual tanto gostava, e algo se acalmou dentro dela. Ainda assim, não conseguia encarar aqueles olhos azuis.


Tinha passado por tantas dores naquele ano... Lembrava com pesar o período que Ron a tratou muito mal e a desprezou, tudo isso depois de terem vividos momentos tão ternos à espera do baile no qual iriam juntos. Seu coração ficava ainda mais pesado quando recordava o instante em que viu Ron e Lilá se beijando pela primeira vez e, invadida por grande angústia, provocou o ataque dos pássaros, ferindo o rapaz que tanto amava. Sem falar nos longos três primeiros meses do namoro dele com Lilá, quando Hermione deixou-se conduzir pela mágoa.


Mas a pior dor, com certeza, foi o envenenamento do ruivo. Como teve medo de perdê-lo, de nunca mais completar seus olhos azuis tão lindos e iluminados. Àquelas horas de espera, no corredor da enfermaria, com o coração suspenso. Quando se reaproximaram e voltaram a ser amigos, próximos como jamais haviam sido antes, foi a vez da situação em Hogwarts se complicar ainda mais. Houve a invasão dos Comensais da Morte, o assassinato de Dumbledore, no qual ela colocara toda a sua confiança como líder na batalha contra Voldemort...


Todos esses acontecimentos passados viajavam por sua cabeça enquanto o futuro parecia ainda mais sombrio. Como ela e os dois amigos, todos três adolescentes, poderiam enfrentar o mais poderoso bruxo do mundo e ainda encontrar as horcruxes, das quais não possuíam qualquer pista?


No entanto, mesmo se não tinha consciência disso, era a eminente separação do ruivo que a fazia sofrer mais. Quando chegassem a Londres, precisariam mais uma vez se afastar um do outro. Ela iria para a sua casa com os pais, que a aguardavam com tanta ansiedade, o ruivinho para a Toca.


A menina temia pela vida dela mesma, dos seus pais, de Harry, dos membros da família Weasley e, especialmente, de Ron. Não suportaria vê-lo ferido mais uma vez, não sobreviveria à perda do rapaz pela qual há muito tempo era enamorada.


- Mione... – chamou o ruivo do jeito carinhoso com o qual só ele sabia pronunciar o nome da amiga.


Apenas naquele momento Hermione conseguiu virar o rosto para o rapaz e o encarou com um semblante sofrido, marcado por lágrimas. Encontrar os olhos azuis de Ron foi a melhor coisa que aconteceu a menina desde que haviam embarcado no expresso de volta a Londres. O rapaz continuou:


- Eu só queria lembrar que estou aqui. Se precisar de mim...


Não era necessário lembrá-la disso. A menina sentia fortemente a presença do ruivo e essa era seu único consolo e força naquele momento.


- Obrigada, Ron. Eu preciso muito de você.


Incentivado pelas palavras da menina, envolvido pelo forte sentimento que tinha por ela, Ron pegou as duas mãos de Hermione e perguntou, com a voz suave:


- Você não quer dividir comigo o seu sofrimento?


Aquelas palavras de Ron tocaram o coração de Hermione com uma intensidade que ela jamais experimentara. Percebeu naquele momento não existir nada que desejasse mais do que partilhar tudo, alegrias e dores, toda a sua vida, com o ruivo. Finalmente tomou coragem para começar a se abrir.


- Ron... Você sabe tudo que estou sentindo. Este ano foi difícil demais para todos nós. E não falo apenas da morte de Dumbledore, do ataque sofrido por Gui e da invasão dos comensais. Teve o seu envenenamento, o seu... é... o tempo que ficamos sem nos falar...


- Já superamos algumas dessas coisas, não é? Nós dois voltamos a nos falar e eu não estou mais envenenado ou correndo risco de vida. Só não sei se isso é para sorte ou azar seu...


- Ron! Não fala assim.


Ele deu uma gargalhada e a menina abriu um fraco sorriso. Como gostava do jeito do amigo que sabia usar o humor nas horas mais difíceis.


- Fica tranquila. Eu não vou permitir que nada de mal aconteça com você – disse com segurança.


Guiada pelo coração, ela se permitiu abraçar o ruivo. Ele retribuiu, abraçando-a com força. Depois do longo um minuto que durou aquele abraço, os dois se separaram e Mione, conduzindo-se mais uma vez pelo sentimento, encostou a cabeça no ombro de Ron, que a envolveu com seu braço.


Ela não saberia dizer quanto tempo se passou. Despertou ouvindo vozes. Com o coração sereno, repousada no ombro do amigo, Mione havia adormecido. Ron ainda a abraçava. Com certa relutância, abriu os olhos e levantou a cabeça. Sentados no banco em frente ao seu, Harry, Gina, Luna e Neville os observavam.


Mione deu um sorriso sem graça para os amigos. “Olá, Hermione”, saudou Luna. “Desculpe-nos por tê-la acordado. Já estamos chegando a Londres”. A morena os cumprimentou de um jeito mais tímido que o normal. Tinha certeza que qualquer troca de olhar ou palavra entre ela e Ron seria cuidadosamente estudado pelos quatro, por isso tentou ignorar a presença do ruivo.


Luna fez com que os 15 minutos restantes da viagem passassem rápido ao começar a falar de seu interesse pelas criaturas mágicas. A conversa se tornou divertida com Neville relembrando o sufoco que passaram na aula de Lockhart, quando precisaram aprisionar os diabretes. Ron deu uma de suas gostosas gargalhadas e Mione finalmente teve coragem de se virar para o amigo. A troca de olhares aqueceu o coração da menina.


xxx


Para ouvir antes, durante ou depois de ler o capítulo:


You'll Be In My Heart


http://irpra.la/m/200977


Come stop your crying
It'll be all right
Just take my hand
Hold it tight

I will protect you
From all around you
I will be here
Don't you cry

For one so small,
you seem so strong
My arms will hold you,
keep you safe and warm
This bond between us
can't be broken
I will be here
Don't you cry

'Cause you'll be in my heart
Yes, you'll be in my heart
From this day on
Now and forever more
(…)


 



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Comentários (12)

  • Samantha Gryffindor

    Lindo esse capítulo.Pena que está acabando ... Snif :( 

    2012-11-06
  • Morgana Lisbeth

    Lily, estou megafeliz com a sua volta! Aliás, vc é citada na minha lista de leitores especiais no agradecimento. Espero por você no último capítulo, que vai estar on line amanhã, dia 26/05. bjs! :)

    2012-05-25
  • Lily_Van_Phailaxies

    Ola, tudo bem? Bom voltei após longos dias sofridos carregando doutrinas de um lado ao outra da cidade! =SMuito bom voltar e ter capítulos para ler, amei esse Rony mega fofo...Oh céus ele quer dividir os sofrimentos? Aguém sequestra esse ruivo, eu preciso de um desses!!!Bom parabéns e aguardo o próximo e último capítuloObs: Vc fara do sétimo livro?

    2012-05-25
  • Morgana Lisbeth

    Geeeeeego, você apareceu! Já tinha lhe procurado na Divisão Anti-Sequestro de Leitores, na Seção de Leitores Achados e Perdidos e estava pegando minha vassoura para dar uma busca em Hogwarts... Está tudo bem? Senti sua falta :)

    2012-05-24
  • Gego

    *-*Eu senti o conforto da Hermione, sério. Mulher, como você escreve bem! kkkkkkkkkkkkkkA propósito, a imagem tá linda. Excelente escolha!

    2012-05-24
  • Morgana Lisbeth

    Cedrella, eu também estou :( com o fim da fic... Quando concluir a revisão geral que estou fazendo nos capítulos já postados, vou inserir o epílogo. Não deve demorar... A imagem da capa é mesmo muito fofa :) 

    2012-05-21
  • Cedrella Weasley

    Uma pena estar terminando... Estou gostando muito da fic!!! Achei linda a imagem da capa! Qdo vai postar o último capítulo? :*

    2012-05-21
  • Morgana Lisbeth

    Olá, Lumos! A insegurança de Ron faz com que deixe de enxergar o obvio... E pensar que vai ser assim ate o sétimo ano! Obrigada por me fazer companhia :)

    2012-05-20
  • lumos weasley

    Capítulo perfeito! Achei mesmo que o Ron ia conseguir se declarar, mas ele tem essa mania de achar que a Mione acha o Harry mais importante. Eu acho que o Ron precisa de óculos para enxergar o que tá na cara dele. rsrsrsBjs! 

    2012-05-19
  • Morgana Lisbeth

    Oi, meninas! Entrei na FeB apenas para responder vcs... Lulu, fico feliz em saber que continua acompanhando e curtindo a fic :) Vivika, muito bom ter agora, na reta final, a sua companhia. Você tem razão: um chá talvez ajudasse Ron a evitar nova cena de ciúme :))

    2012-05-18
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