Recordações
Quando os dois advogados já se encontravam no gabinete, a juíza Weshtons virou-se para Draco Malfoy:
- Você tem certeza de que cursou Direito, Malfoy? Ou se formou em um circo?
- Peço desculpa, meritíssima. Eu...
- Viu alguma tenda lá fora?
- Perdão?
A voz soou zangada:
- O meu Tribunal não é um circo e não permitirei que o transforme em um. Com que direito faz uma pergunta tão explosiva como essa?
- Peço desculpa, meritíssima. Farei a pergunta de outro modo e...
- Fará mais do que isso! - afirmou Weshtons. - Vai mudar a sua atitude. Estou avisando-lhe, mais uma destas e declaro o processo nulo.
- Sim, meritíssima. - falou Malfoy contrariado.
Quando regressaram à sala de tribunal, a juíza Weshtons disse ao júri:
- O júri irá ignorar completamente a última pergunta da acusação. - E, virando-se para o advogado de acusação: - Pode continuar.
Draco Malfoy tornou a dirigir-se ao banco das testemunhas:
- Doutora Weasley, deve ter ficado muito surpreendida quando foi informada de que o homem que matou lhe havia deixado um milhão de dólares.
Colin Creevey levantou-se:
- Protesto!
- Aceito.
A juíza Weshtons virou-se para Malfoy:
- O senhor está testando a minha paciência.
- Peço desculpa, meritíssima. - Voltou-se de novo para a testemunha: - Deve ter tido uma relação muito amigável com o seu doente. Quero dizer, não é todos os dias que uma pessoa quase totalmente estranha nos deixa um milhão de dólares, não é?
Virgínia Weasley corou ligeiramente:
- A nossa amizade acontecia apenas no contexto da relação medi-bruxo-doente. E não éramos estranhos Malfoy, você bem sabe que nos conhecíamos de Hogwarts.
- Será que não foi algo mais do que isso? Um homem não retira a esposa e a família do testamento para deixar um milhão de galeões a uma estranha, sem qualquer tipo de persuasão. As conversas sobre problemas de negócios que afirmou ter tido com ele...
A juíza inclinou-se para frente e disse em tom de aviso:
- Doutor Malfoy... - O advogado ergueu as mãos em sinal de rendição.
Voltou-se de novo para a ré:
- Assim, a senhora e Neville Longbotton tiveram uma conversa amigável. Ele contou-lhe coisas pessoais. Diria que isto é um resumo justo, doutora?
- Sim.
- E por fazer isso, ele deu-lhe um milhão de dólares?
Virgínia olhou para a sala de tribunal. Não disse nada. Não tinha resposta.
Malfoy começou a caminhar em direção à mesa da acusação e, subitamente, tornou a virar-se para a ré.
- Doutora Weasley, há pouco a senhora afirmou que desconhecia que Neville Longbotton iria deixar-lhe dinheiro ou que iria retirar a família do testamento.
- Sim, afirmei.
- Quanto ganha um medi-bruxo residente no Hospital St. Mungus?
Colin Creevey levantou-se:
- Protesto! Não vejo...
- É uma pergunta correta. A testemunha pode responder.
- Trinta e oito mil galeões por ano.
Malfoy replicou compreensivamente:
- Não é muito para os dias de hoje, ou é? E desse valor são deduzidos os impostos e as despesas do dia-a-dia. Não poderá sobrar o suficiente para fazer uma viagem de luxo, digamos, a Londres, Paris ou Veneza, não é?
- Suponho que não.
- Não. Então, a senhora não planejou fazer umas férias destas, porque sabia que não conseguia pagá-las.
- Sim.
Colin Creevey levantou-se novamente:
- Meritíssima...
A juíza Weshtons voltou-se para o advogado de acusação:
- Aonde é que isto vai dar, doutor Malfoy?
- Quero apenas sublinhar que a ré não podia planejar uma viagem de luxo sem obter o dinheiro de alguém.
- Ela já respondeu à pergunta.
- A testemunha é sua. - disse Malfoy transtornado.
Colin Creevey sabia que tinha de fazer qualquer coisa. Não sentia o que pensava, mas aproximou-se do banco das testemunhas, com o aspecto alegre.
- Doutora Weasley, lembra-se de ter ido buscar estes panfletos de viagens?
- Sim.
- Planejava ir à Europa ou alugar um iate?
- É claro que não. Tudo isso faz parte de uma espécie de brincadeira, de um sonho impossível. Eu e as minhas amigas julgamos que nos iria levantar o espírito. Estávamos muito cansadas... Na altura, parecia uma boa idéia. - A voz foi-se extinguindo.
Colin Creevey olhou disfarçadamente para o júri. Todos os rostos registravam uma descrença total.
Draco Malfoy interrogava novamente Virgínia Weasley:
- Doutora Weasley, conhece o doutor Lawrence Barker?
A imagem veio-lhe subitamente à memória. "Vou matar Lawrence Barker. E vou fazê-lo lentamente. Deixarei ele sofrer bastante primeiro... e depois o matarei".
- Sim, conheço o doutor Barker.
- Com que ligação?
- Eu e o doutor Barker trabalhamos muitas vezes juntos durante os últimos dois anos.
- Diria que ele é um medi-bruxo competente?
Colin Creevey deu um salto da cadeira:
- Oponho-me, meritíssima. A testemunha...
Mas, antes de poder acabar ou a juíza Weshtons determinar, Virgínia respondeu:
- É mais do que competente. É brilhante.
Creevey voltou a sentar-se, demasiadamente estupefato para falar.
- Importa-se de se explicar?
- O doutor Barker é um dos mais famosos cirurgiões cardiovasculares do mundo bruxo. Tem uma enorme atividade privada, mas dispensa três dias por semana ao Hospital St. Mungus.
- Então, a senhora tem grande consideração aos juízos emitidos pelo doutor Barker relativamente a assuntos medi-bruxos.
- Sim.
- Acha que ele seria capaz de julgar a competência de outro medi-bruxo?
Creevey esperou que Virgínia respondesse "Não sei".
Ela hesitou:
- Sim.
Draco Malfoy virou-se para o júri:
- Ouviram a ré dizer que tinha em grande consideração os juízos medi-bruxos do doutor Barker. Espero que ela tenha escutado atentamente o juízo do doutor Barker sobre a sua própria competência... Ou a falta dela.
Colin Creevey levantou-se, furioso:
- Objeção!
- Concedida.
Mas já era tarde. O mal estava feito.
No intervalo seguinte, Colin Creevey empurrou Gina para o banheiro masculino.
- No que você se meteu? - perguntou Creevey zangado. - Neville Longbotton a odiava, Barker a odiava. Insisto que os meus clientes me digam a verdade, toda a verdade. Só assim poderei ajudar. Bem, não posso ajudá-la. Gina, esse caso está em queda livre. Sinto muito.
Nessa tarde, Josh Brigs foi visitar Gina.
- Tem uma visita, doutora Virgínia.
Josh entrou na cela de Virgínia.
- Gina...
Voltou-se para ele, tentando esconder as lágrimas:
- Está feio para mim, não está?
Josh esboçou um sorriso:
- Ainda temos esperança.
- Josh, você não acredita que eu matei Neville por dinheiro, acredita? Eu só quis ajudá-lo. Não agüentava vê-lo sofrer.
- Acredito em você. - disse Josh, baixinho. - Eu te amo.
Tomou-a nos braços. "Não quero perdê-la" - pensou Josh. - "Não posso. Ela é a melhor coisa da minha vida. Tudo vai acabar bem. Prometi que ficaríamos juntos para sempre."
Virgínia abraçou-o com força e pensou: "Nada é eterno. Nada. Como é que tudo começou a correr tão mal... tão mal... tão mal...".
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- Kate Hunter.
- Presente.
- Betty Lou Taft.
- Estou aqui.
- Virgínia Weasley.
- Presente.
Elas eram as únicas mulheres entre o enorme grupo de residentes do primeiro ano, reunidos no amplo e enfadonho auditório do Hospital St. Mungus.
O Hospital St. Mungus era o hospital bruxo de Londres. Era emoldurado por uma feia vitrine que servia para espantar os trouxas. Mais de nove mil pessoas trabalhavam no hospital, incluindo quatrocentos medi-bruxos internos, cento e cinqüenta medi-bruxos voluntários em tempo parcial, oitocentos residentes, três mil enfermeiras, mais os técnicos, unidades auxiliares e outro pessoal ajudante. Os andares superiores continham um complexo de doze salas de operações, abastecimento central, banco de ossos, sala de poções, três enfermarias de urgência, uma enfermaria de primeiros socorros e mais de duas mil camas.
No primeiro dia da chegada dos novos residentes, em Julho, o Dr. Benjamin Wallace, administrador do hospital, ergueu-se para lhes dirigir a palavra. Wallace era um político perfeito, um homem alto de aspecto impressionante, com conhecimentos gerais e charme suficiente para conseguir subir e ocupar a atual posição.
- Esta manhã quero dar as boas-vindas a todos vocês, novos residentes. Durante os dois primeiros anos na faculdade de medicina vocês trabalharam com cadáveres. Nos dois últimos anos trabalharam com doentes hospitalizados e poções sob orientação de medi-bruxos chefes. Agora, vocês mesmos serão os responsáveis pelos seus próprios doentes. É uma responsabilidade imensa e é preciso dedicação total e perícia.
O olhar percorreu o auditório:
- Alguns de vocês pretendem especializar-se em cirurgia. Outros, em medicina interna. Outros em poções. A cada grupo será atribuído um residente mais antigo, que irá explicar a rotina diária. De agora em diante, tudo o que possam fazer poderá ser um caso de vida ou de morte.
Todos escutavam com a máxima atenção, procurando captar cada palavra dita.
- O St. Mungus é um hospital bruxo público. Isso significa que admitimos todos aqueles que nos batem à porta. As nossas salas de urgência estão ocupadas vinte e quatro horas por dia. Irão ter muito trabalho e sentir que são mal pagos. O nosso lema aqui é "Examinar, fazer, ensinar. Temos muita falta de pessoal e quanto mais rápido conseguirmos fazê-los sair daqui curados, melhor. Alguma pergunta?".
Havia milhares de perguntas que os novos residentes desejavam fazer.
- Nenhuma? Muito bem. Oficialmente, o primeiro dia de vocês começa amanhã. Terão de se apresentar ao balcão da recepção principal, amanhã de manhã às cinco e meia. Boa sorte!
A reunião estava terminada. Houve um êxodo geral em direção às portas e um murmurinho de conversas excitadas. Nisso, as três mulheres se viram reunidas.
- Onde estão todas as outras mulheres?
- Acho que somos só nós.
- É muito parecido com a faculdade de medicina, oh? O clube dos rapazes. Tenho a sensação de que este lugar pertence à Idade Média.
A pessoa que falava era uma perfeita e bela mulher negra, com cerca de um metro e setenta de altura, ossos largos, mas bastante graciosa. Tudo nela, o andar, a postura, o olhar frio e irônico que possuía, transmitia uma mensagem de indiferença.
- Chamo-me Kate Hunter. Todos me chamam de Kat.
- Virgínia Weasley. E todos me chamam de Gina.
"Jovem e social, de olhar inteligente e segura de si". - pensou Gina a respeito de Kat.
Voltaram-se para a terceira mulher.
- Betty Lou Taft. Todos me tratam por Honey. - Falou com um ligeiro sotaque do Sul. Possuía um rosto aberto e sincero, olhos cinzentos claros e um sorriso caloroso.
- De onde você é, Gina? - perguntou Kat.
- Ottery St. Catchpole.
- E você, Honey?
- Godric´s Hollow.
- Eu sou de Farmsbellow, Irlanda. - disse Kat.
- Pelo visto estamos todas longe de casa - observou Virgínia.
- Onde está vivendo?
- Estou num hotel barato. - disse Kat. - Ainda não tive tempo de procurar um lugar decente para morar.
Honey afirmou:
- Nem eu.
Virgínia alegrou-se:
- Esta manhã fui ver alguns apartamentos. Um deles era espantoso, mas está fora das minhas possibilidades. Tem três quartos.
Olharam umas para as outras.
- Se as três o compartilhássemos... - disse Kat
- Fechado!
O apartamento situava-se no distrito da Marina, na Filbert Street. Era perfeito para elas. Três quartos, dois banheiros, sala, cozinha, lavanderia. E era bastante limpo.
Quando as três mulheres terminaram de o inspecionar, Honey disse:
- Mas é maravilhoso.
- Eu também achei! - concordou Kat.
Olharam para Virgínia.
- Vamos ficar com ele.
Nessa tarde mudaram-se para o apartamento. Colocaram os malões para cima com um feitiço. O porteiro as acompanhava de perto.
- Então vocês vão trabalhar no hospital - disse. - Enfermeiras, hein?
- Enfermeiras, não! Medi-bruxas. - corrigiu Kat.
Olhou para ela incrédulo:
-Medi-bruxas? Quer dizer, como verdadeiras medi-bruxas?
- Sim, verdadeiras medi-bruxas - respondeu-lhe Virgínia.
Ele resmungou:
- Para dizer a verdade, se eu precisar de um medi-bruxo, acho que não gostaria de uma bruxa examinando o meu corpo.
- Teremos isso em mente.
- Onde está o aparelho de televisão? - perguntou Kat. - Não vejo nenhum. E os caldeirões?
- Se quiserem terão de comprar. Gozem o apartamento, senhoras aff..., doutoras. - Deu um risinho.
Ele foi-se embora seguido de perto pelos olhares indignados das três medi-bruxas.
Kat disse, imitando a voz do homem:
-Enfermeiras, é? - Riu com desdém. - Idiota. Bom, vamos escolher os nossos quartos.
- Qualquer um está bem para mim. - disse gentilmente Honey.
Examinaram os três quartos. O quarto de casal era maior do que os outros dois e tinha uma vista deslumbrante de Londres.
Kat sugeriu :
- Porque você não fica com ele, Gina? Afinal, foi você quem o encontrou.
- Tudo bem.
Dirigiram-se aos respectivos quartos e começaram a arrumar as coisas. Cuidadosamente, Virgínia retirou da mala uma fotografia emoldurada de um homem com cabelos desgrenhados, óculos redondos e olhos extremamente verdes. Era atraente e tinha uma cara esperta, o que lhe dava um ar estudantil. Virgínia colocou a fotografia na cabeceira, juntamente com um monte de cartas.
Kat e Honey entraram:
- Que tal sairmos para jantar qualquer coisa?
- Estou pronta. - disse Virgínia.
Kat viu a fotografia:
- Harry Potter? O que você está fazendo com uma fotografia dele na sua cabeceira? Também é fã dele?
Virgínia sorriu :
- Não. Na verdade sou mais que fã. Este é o homem com quem vou casar.
- Que sorte a sua. - disse Honey, tristonha. - Harry Potter é muito bonito.
Virgínia olhou para ela:
- Você não tem namorado?
- Não. Acho que não tenho muita sorte com os homens.
- Talvez sua sorte mude no St. Mungus - disse Kat.
As três jantaram no Tarantino's, um restaurante bruxo próximo do apartamento.
Durante o jantar conversaram sobre o passado e a vida de cada uma, mas ainda se sentia algum tipo de inibição na conversa, uma barreira. Eram três estranhas examinando-se.
Honey foi a que menos falou durante o jantar. "É envergonhada". - pensou Virgínia. - "E vulnerável. Provavelmente algum bruxo de Godric´s Hollow partiu seu coração."
Virgínia olhou para Kat. "Segura de si. Muita dignidade. Gosto do modo como fala. Vê-se que vem de boas famílias".
Entretanto, Kat estava a estudar Virgínia. "Uma menina rica que nunca teve de lutar por nada na vida. É isso que aparenta ser".
Honey estava a olhar para as outras duas. "São tão confiantes, tão seguras de si mesmas. Vai ser fácil se adaptarem a esta nova vida."
Todas estavam erradas.
Quando regressaram ao apartamento, Virgínia estava demasiadamente excitada para adormecer. Deitou-se na cama pensando no futuro.
Lá fora, na rua, ouviu-se o estrondo de um acidente e depois pessoas a gritar, mas, na mente de Virgínia, tudo se dissolveu na lembrança da guerra contra Voldemort. Foi transportada para aquela mesma Londres há alguns anos atrás.
Virgínia estava aterrorizada:
- Vão nos matar!
O pai a abraçou:
- Querida, ninguém irá fazer nos mal. Estamos aqui para combater o mal. E, sem aviso prévio, um dos Comensais de Voldemort entrou na cabana onde eles estavam escondidos...
Honey deitou-se, pensativa: "Estou muito longe de Godric´s Hollow. Acho que nunca mais vou poder voltar para lá. Nunca mais."
Ainda ouvia a voz do representante do Ministério da Magia dizendo:
- Por respeito à família dele, vamos declarar a morte do reverendo Douglas Lipton como "suicídio por razões desconhecidas" - mas sugiro que saia imediatamente desta cidade e não voltes nunca mais... Sugiro ainda que vá viver como trouxa e se esqueça do mundo bruxo.
Ela podia sim nunca mais voltar àquele local, mas viver como trouxa não. Essa seria a pior humilhação que Honey poderia sofrer.
Kat olhava para a janela do quarto, escutando os ruídos da cidade. Conseguia ouvir a chuva murmurar: "Você conseguiu... Você conseguiu... Provou a todos que estavam enganados. Quer ser medi-bruxa? Uma medi-bruxa negra? E as rejeições das faculdades de medicina". "Obrigada por nos ter enviado a sua proposta. Desta vez, infelizmente, as matrículas estão completas".
"Levando em conta o seu passado, acreditamos que talvez se sentisse melhor numa universidade menor".
Tinha tido notas elevadas, mas das vinte e cinco escolas a que concorreu, só uma a aceitou. O reitor da faculdade tinha-lhe dito :
- Nos dias de hoje, é bom ver alguém com um passado normal e decente.
"Se ele soubesse a terrível verdade."
N/A: Comentem minha fic, por favor!
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