Capítulo XII



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N.A.: *Tash chega, escondida atrás de um escudo* Okay, gente... Eu sei que eu abusei! Mas foi por uma boa causa, juro! Demorei um pouquiiiinho pra publicar esse capítulo, mas eu tive os meus motivos, verdade! E ele não ficou graaaaande do jeito que eu queria nem nada... Prometo que o próximo será maior...

Tá, eu dou explicações sobre o sumiço de mais de um mês! xD Como já sabem, eu fui viajar no fim do ano. Voltei no começo de Janeiro e fui direto para a tortura com a segunda fase da Unicamp. Depois de torrar meu cérebro lá, voltei pra frente do PC para escrever! :D Mas não para escrever Imortal nem nenhuma das outras já conhecidas! >.< Estou escrevendo umas fics pra alguns Challenge. E eu espero que leiam, não vão se arrepender! Dêem uma olhada nas minhas outras fics. Já tem duas vencedoras lá! *-*

Agora, Review...

Nathana, Muié do James: Primeiramente, dona Nathana... Você pode até ser mulher do James, mas o REMUS É MEU!!! =x hdaushausduashduas A-DO-REI o seu review quilométrico! xD Isso enche o ego do escritor, sabe??? Faz a gente querer escrever mais e mais e mais!!! \o/ Agora... Vamos ver o que eu ainda não te falei pelo Orkut... Sim, eu vou relatar todos os anos deles. Alguns anos mais detalhadamente que os outros. Do segundo ao quarto ano, vai ser bem mais rápido! AH! E você acha que eu vou entregar assim de lambuja como James PERCEBE que está xonado na Lil?? SONHE! xD dhasudhasudhausdhuashduash E eu, TALVEZ, use a Tonks. Vou te confessar que a Detesto, mas... Fazer o que, né? U.ú Se ela aparecer, vai ser só muito pra frente, bem depois que Hogwarts terminar, certo? Agora... xD Você tá inflando o meu ego demais!!! Não é uma das Melhores da floreios! xD Procure melhor e vai achar outras excelentes! Posso até te indicar algumas! :P Anyway, acho que é só! Estou indo te mandar um scrap pra avisar da atualização! Não se esqueça da minha Review aqui!!! *-* Beijos ;*

Bom... De Reviews é só essa. Agora aguardem a minha próxima fic. Uma Remus e Lily que arrancou lágrimas da minha beta! ;_; Puppy, Luv Ya! xD Não, gente, esse não é nome da fic. Não sei se posto outro capítulo de Imortal tão cedo. Mas TUC e o Guia realmente vão demorar um pouquinho ainda.

Espero Reviews desse capítulo, por favor! Não custa nada, custa???

O primeiro capítulo de Imortal em 2008! Enjoy it! ;)


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Capítulo XII



Nunca seria diferente. Seria sempre o excluído. Viveria sempre sozinho. Peter já estava acostumado a sempre ser deixado para trás. Estava acostumado à solidão e ao menosprezo. Durante os onze anos de sua vida habituara-se a apenas ouvir calado as gozações a seu respeito, as risadas, o desprezo.

Olhou para o lado. Alice estava sentada, com um livro aberto no colo, lendo-o. Ela sempre fora a única que ficara ao seu lado, a única que sempre o defendeu, que sempre estava lá para deixá-lo feliz ou fazê-lo parar de temer. Ele não sabia o que seria dele sem ela. Talvez já tivesse desistido há muito tempo.

A porta do retrato se abriu e por ela passaram James e Sirius. Peter logo tirou um livro de sua bolsa e escondeu rapidamente o rosto atrás dele, para que não vissem os seus olhos vermelhos, sem nem ao menos perceber que estava segurando o livro de cabeça para baixo. Que passassem direto por ele! Não queria falar com eles nunca mais! NUNCA!

Mas, para azar do pequeno, os dois se sentaram no sofá logo ao lado do qual Alice e Peter estavam ocupando. Olhando por cima do livro, percebeu que James estava com uma cara nada boa e pegou-se desejando que qualquer coisa de ruim lhe houvesse acontecido.

- Quem seria louco de criar uma aberração como aquela?! – James disse em voz alta, passando a mão pelo abdômen. – Aquele negócio é sanguinário! Assassino!

- Foi uma grande sorte a sua não ter ficado, Peter. – Sirius disse para garotinho, percebendo que ele os observava. – A árvore não é só uma árvore... – riu, dando um tapinha no ombro de James. – Deu uma bela lambada no nosso amigo aqui.

Peter riu, não se contendo. Era muito bem feito para os dois, por terem-no desprezado e ignorado os seus avisos. Pena que não tivera sempre uma árvore maluca que dava lambadas por perto quando alguém o ridicularizava.

- Você levou uma lambada de uma árvore? – Alice disse, descrente, baixando o livro, o riso já se formando em sua garganta.

- Vai, pode rir! Queria ver se fosse com vocês! – ralhou, ajeitando os óculos. – E não era só uma árvore! Era um objeto de destruição em massa!

Alice começou a rir junto com Peter. Ainda achava um pouco difícil alguém levar uma surra de uma árvore. Mesmo estando no mundo bruxo, nunca havia ouvido falar de árvores que batiam nos outros. Mas ali era Hogwarts e tudo podia acontecer.

- Qual é, cara? – Sirius claramente segurava o riso. – Daqui uns dias você também vai estar rindo disso! E olhe para o lado legal. – ele deu um tapinha no ombro de James. – Você é o novo recordista! Acho que nunca em toda a história de Hogwarts um aluno quebrou três costelas logo no seu segundo dia de aula!

- Que tal você ir levar uma surra daquele... daquele Salgueiro Lutador para eu começar a rir agora, hein? – falou, de mal humor. – Não me importo se roubar o meu recorde.

- Esse eu deixo pra você! – sorriu de lado, acomodando-se melhor no sofá, com as mãos na nuca. – Prefiro ser recordista em outras coisas.

- Bem que eu queria ter visto. – Peter disse, guardando o livro na bolsa, quase que completamente esquecido que os dois garotos o tinham desprezado mais cedo.

- Não vai ver tão cedo, a não ser que decida ir você levar uma surra do Salgueiro. – James respondeu, suspirando.

Mas Peter nem iria chegar perto daquela árvore se fosse necessário, jamais. Dumbledore havia avisado e agora ali estava a prova. Esperava que a pancada tivesse doído bastante, assim James aprenderia a ser mais gentil com as pessoas.

– x –


A porta do retrato se abriu e Lily entrou na Sala Comunal de Gryffindor. Ainda estava meio vazia, a maioria da escola ainda estava jantando, mas ela não estava com muita fome. Comeu apressadamente, despediu-se de Severus e voltou para sua Sala Comunal. Queria ler alguma coisa em seu livro de Transfigurações antes de dormir.

Remus também já estava na Sala Comunal e Lily andou direto até ele, sentando-se ao seu lado, em a mesa ao lado da janela. Ele não levantou o rosto do livro; parecia nem ao menos ter percebido que tinha companhia. A menina deu um sorriso malvado e deixou cair seu livro sobre o tampo da mesa, com estrondo, começando a rir quando viu Remus saltar da cadeira, gritando em susto.

- MAS QUE... – gritou, levando a mão ao peito, ofegante, como se tivesse corrido uma maratona. – LILY!

- Me desculpe! – disse, rindo. – Mas não resisti!

- Se me quer ver morto diga logo de uma vez! – ele se abaixou para pegar o livro que havia deixado cair da mesa, o rosto afogueado com o susto e vergonha.

- Já pedi desculpas. É só que você parecia tão concentrado! – sorriu, abrindo o livro de Transfigurações. – E é tão fácil te assustar. Eu não resisti à tentação de te dar um “sustinho”!

- Sustinho? Você só faltou me enfartar! – bateu com o livro no tampo da mesa, procurando a página em que estava.

Lily deu um sorrisinho, apertando a mão do menino. Ele olhou para a mão branca dela sobre a sua e corou, quando ela sorriu de uma maneira bem delicada para ele, a sombra do riso ainda em seus olhos.

- Prometo que da próxima vez vou me controlar.

Ela soltou a sua mão e voltou o olhar para o seu livro. Remus permaneceu olhando a própria mão, a qual Lily havia acabado de soltar, ainda com o rosto corado. Era a primeira vez que alguém o tocava. Tirando os pais, é claro. A primeira vez que alguém lhe estendia a mão e tocava a sua. Sabia que o seu rosto estava completamente vermelho e sua respiração estava um pouco alterada. Estava se perguntando como alguém tinha coragem de tocar um monstro como ele. Mas lembrou-se de que Lily não sabia a verdade sobre ele. Se soubesse jamais o teria tocado. Se soubesse nem sequer se aproximaria dele. Ninguém se aproximaria.

- Está tudo bem, Remus?

Remus libertou-se de seus pensamentos negativos e ergueu os olhos para ela. Lily olhava-o com a testa um pouco franzida e ele teve que compará-la com Gwen. A outra tinha feito a mesma pergunta com a mesma expressão mais cedo. E ele precisava fazer o que havia feito mais cedo. Sorrir falsamente, mas convincentemente e dizer que estava tudo bem.

- Sim. Só estava pensando.

- Pensando, é? – arqueou uma sobrancelha, desconfiada, mas logo sorriu. – Então vamos pensar juntos para desvendar esse maldito dever de Transfigurações, que tal?!

- Combinado! – ele empurrou a cadeira um pouco mais para frente, sorrindo mais sinceramente agora, enquanto tirava o livro de Transfigurações da bolsa, ainda sentindo o levíssimo toque da palma da mão de Lily sobre a sua.

Ele mal tinha aberto o livro na página certa, quando Mary entrou na Sala Comunal e foi logo para o lado deles, parecendo muito afobada. Ela olhava para todos os lados, aflita.

- O que foi, Mary? – Lily perguntou antes que Remus o fizesse.

- Não encontro a Jean! – disse, com voz contida.

- Ela deve estar jantando com os outros, Mary. – Remus disse, com uma das sobrancelhas arqueadas.

- Não, não está... Acabo de vir de lá. Aconteceu alguma coisa! – gemeu, passando a mão pela testa, muito nervosa.

Lily e Remus trocaram um olhar preocupado e a ruiva se levantou, segurando o braço da menina e levando-a até o sofá, fazendo com que se sentasse. Não demorou muito e Remus se juntava a elas.

- Você está se preocupando à toa, Mary. Vai ver ela só está na Biblioteca ou se perdeu! – Remus tentou acalmá-la. Mas foi em vão.

- Não está! Aconteceu alguma coisa, eu sei!

- Como pode saber, Mary? – Lily falou, dando tapinhas na mão da menina, tentando ser compreensiva.

- Eu só sei, ok?- soltou a sua mão da de Lily e voltou a se levantar, começando a andar de um lado para outro.

Remus se aproximou um pouco de Lily. Nenhum dos dois se atrevia a falar qualquer coisa que fosse para Mary. Sabiam que nada funcionaria.

- E se realmente aconteceu alguma coisa? – Remus falou, receoso, em voz baixa. – São gêmeas. Vai ver têm essa ligação que todos dizem.

Até entre os trouxas diziam que os irmãos gêmeos tinham certa ligação inexplicável, que os faziam sentir o que o outro sentia. E isso certamente era mais forte e verdadeiro no mundo bruxo, e Lily não gostou de não ter pensado nisso antes. Mas agora estava mais preocupada com Jean.

O retrato se abriu e Lily, Remus e Mary viraram-se para lá no mesmo minuto, ansiando por ver as tranças rastafári de Jean. Mas eram apenas alguns alunos mais velhos que voltavam do jantar, seguidos por Peter e Alice, que foi até Lily assim que a viu, seguida pelo garoto.

- Você perdeu uma sobremesa e... – mas quando viu a expressão preocupada da garota, ela parou de falar. – O que aconteceu?

- Mary acha que aconteceu algo com a irmã dela. – Lily respondeu, aos sussurros. – Parece que não consegue achá-la.

- Eu a vi, quando estava subindo para cá, de tarde. Mas não depois disso. – a loira disse, mais para Mary que para Lily, mas ela pareceu não ter ouvido, pois continuava andando de um lado para o outro, roendo as unhas.

- Será que ela não foi dar uma volta? Ela pode ter levado um golpe do Salgueiro, como James. – Peter falou muito timidamente, mas ninguém lhe deu atenção.

Os minutos passavam muito devagar enquanto nenhum deles se atrevia a sair do sofá, todos olhando para Mary, esperando que ela fosse abrir um buraco no chão de tanto que andava de um lado para outro. A passagem do retrato abriu três vezes durante esse meio tempo, mas em nenhuma delas era Jean. Apenas veteranos chegando e se espalhando pela Sala Comunal ou subindo para os seus quartos.

Da quarta vez que o retrato se abriu, James e Sirius passaram por ele e já iam caminhando direto para o dormitório, não fosse Sirius ter percebido a pequena “reunião” de alunos do primeiro ano ao redor da lareira. Quando Alice contou a eles o que estava acontecendo, os dois se sentaram nos dois últimos lugares que sobravam, pensando calados.

- A Natasha não a viu? – James perguntou, coçando a cabeça.

- Ela não saiu do quarto a tarde toda, está lá dormindo ainda. – Alice lhe disse.

- Se quiser podemos ir procurá-la. – Sirius se curvou um pouco para frente. – Podemos pedir ajuda ao Mundungus e aos trigêmeos, James, o que acha?

- Não é má idéia, Sirius. Quer que façamos isso, Mary? – perguntou, parecendo muito prestativo.

Mary não respondeu, mas parou de caminhar de um lado para o outro. Seu coração batia e doía, e ela estava se sentindo como que sufocada. Sua irmã não estava bem, onde quer que ela estivesse. E o que mais a incomodava era que ela não podia fazer nada. Não sabia onde Jean estava ou o que estava acontecendo. E isso a estava enlouquecendo! Fechou as mãos e segurou um soluço. Jean ia ficar bem.

Nesse instante a porta do retrato se abriu novamente e o seu irmão, Sigmund entrou, Jean ao seu lado. Mary e todos os outros respiraram aliviados. Mary nem precisou correr até a irmã, pois Jean se encarregou de fazer isso. Ela correu até a gêmea e abraçou-a, soluçando, e Mary começou a soluçar junto.

O irmão mais velho das duas estava com a expressão fechada quando se aproximou do grupo, com as mãos nos bolsos, olhando a cena. Sigmund sentia um aperto no peito. Sabia pelo que a irmã mais nova tinha passado e sabia que elas ainda passariam por coisas piores.

- O que foi que aconteceu?

Sigmund se voltou para os meninos e respondeu à pergunta da menina ruiva com voz baixa e pesada, controlando-se para não começar a berrar.

- Preconceito. – e deu as costas ao grupo, subindo direto para o seu dormitório. Quase seis anos de preconceitos em Hogwarts o haviam ensinado a agüentar tudo calado, não havia como evitar. Havia apenas como se conformar.

Lily não entendeu o que o irmão das gêmeas quis dizer, mas pareceu ser a única. Os seus outros colegas de sala pareciam ter compreendido muito bem, estava estampado em seus rostos. Ela se levantou rapidamente do sofá para que Mary e Jean se sentassem. O mesmo fez Remus, que ficou de pé ao lado de Lily enquanto as duas meninas enxugavam os rostos.

- O que foi que houve, hein? – perguntou uma voz pastosa, sobressaltando alguns.

Ninguém havia percebido a aproximação de Natasha. Ela estava vestida com um robe por cima do pijama e Lily tinha certeza de que ela havia acabado de acordar. A garota esfregava os olhos, sentando-se no braço da poltrona ao lado de James, olhando as gêmeas que estavam agora de mãos dadas, os rostos molhados de lágrimas.

- Jean foi discriminada. – James disse, muito sério.

- Conte-nos como foi, Jean. – Sirius pediu, fechando as mãos em punhos.

- T-três garotos... – ela gaguejou, com a voz tremida. – Slytherin. M-me azararam. Prenderam n-num armário de v-vassouras. P-pernas descontroladas.

Ela falava tudo com palavras desconexas. Ainda parecia muito perturbada com o ocorrido. Lily tampou a boca com uma das mãos, chocada com o que ouvia. Por que fizeram aquilo com ela?

- Cha-chamaram... S-Sangue-Ruim. – e então voltou a soluçar, abraçando-se à irmã.

Lily e Natasha foram as únicas que não se escandalizaram com o que ela tinha acabado de falar. Todos fizeram expressões indignadas, inconformadas ou raivosas. Alice até soltou um gritinho. A ruiva se lembrou bem de que, na viagem para Hogwarts, uma garota havia lhe chamado de Sangue-Ruim. Mas ela até agora não havia entendido o significado disso. Olhando a reação dos colegas, entretanto, percebeu que não era algo bom.

- O que é “Sangue-Ruim”? – Natasha perguntou, intrigada.

Sirius não fez qualquer piada contra a ignorância da garota no assunto. O momento não pedia piadas. Então Remus respondeu a pergunta de Natasha, muito sério.

- É um insulto. É o pior insulto para quem é nascido-trouxa. – Lily boquiabriu-se, voltando-se para Remus.

- Significa sangue sujo. – James acrescentou. – Apenas bruxos muito inescrupulosos usam esse termo.

Seguiu-se um silêncio pesado depois das palavras de James. Mary e Jean sabiam disso já havia algum tempo. Sigmund as havia avisado, mas elas não acreditaram. Agora viam que era verdade. Os outros sabiam bem de tudo isso e nenhum deles jamais ousou usar o termo. Sirius era o único que estava mais do que acostumado a ouvi-lo. Sua família insultava os nascidos-trouxas todo o tempo, suas primas se gabando das maldades que faziam a eles na escola.

Natasha pegava-se pensando se ela também poderia ser chamada “Sangue-Ruim”, afinal, havia sido criada a vida toda por um trouxa, entre trouxas. A sua mãe, que era bruxa, havia falecido no seu nascimento. Que se atrevessem a chamá-la de Sangue-Ruim. Iriam ver só uma coisa.

Mas Lily se lembrava de uma conversa que tivera havia quase dois anos, à beira do rio que corria perto de sua casa. Era outono e ela havia conhecido Severus não havia muito tempo e os dois conversavam debaixo das árvores.

“- Faz diferença, ser nascida-trouxa? – ela havia perguntado a Severus, lembrava-se te ter andado muito preocupada com isso.

- Não. Não faz diferença alguma. – Severus havia respondido”.

Agora Lily descobria que era mentira. Que ele havia mentido para ela naquele dia. E agora ela precisava saber mais. Ele não podia ter realmente mentido, poderia?

- Mas... – ela começou, receosa. – Pensei que não fizesse diferença ser nascido-trouxa.

Sirius deu uma risada seca, virando-se para ela.

- Para alguns bruxos realmente não faz, Foguinho. Mas para outros, os que se orgulham de ter “sangue-puro”, faz toda a diferença do mundo. – falou, com amargura na voz. – Os nascidos-trouxas são vítima de preconceito o tempo todo.

A menina baixou os olhos, sentindo um arrepio percorrer a sua espinha. Severus então havia mentido para ela naquela tarde, meses antes. Fazia diferença ser nascido-trouxa. E já havia começado. Seria ela a próxima a ser trancada em um armário de vassouras, como Jean? .

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- Nós não podemos deixar isso assim. – James disse mais tarde, no dormitório. Peter ainda estava na sala com Alice e Remus havia se trancado no banheiro. Sirius vestia o pijama na cama ao lado.

- É. – concordou, fechando os últimos botões de sua camisa. – Mas o que podemos fazer?

- Ah... Eu sei uma ou outra azaração. – falou, com um sorriso maroto nos lábios.

- Eu também, cara. Mas não sabemos quem azarou a Jean.

- Ah... – murchou, sentando-se na cama. – É verdade.

Sirius enfiou-se debaixo das cobertas, apoiando a cabeça nas mãos, olhando para o teto de seu quarto. Pela primeira vez ele não era castigado por ir contra os preceitos da família Black com relação aos nascidos-trouxas. E não podia negar que estava feliz com isso. E agora ele podia até mesmo repudiar quem discriminava os bruxos filhos de trouxas.

- Mas a gente descobre! – falou, animado. – Se não descobrirmos, azaramos o Ranhoso como aviso!

James riu, entrando embaixo das cobertas também.

- Ótima idéia! Vamos fazer isso então!

- Fazer isso o que? – Remus havia acabado de sair do banheiro, segurando uma toalha nas mãos.

- Nada! – os outros dois disseram, rapidamente, colocando em suas caras a expressão mais inocente possível.

- Ouvi algo sobre azarar. – ele não era bobo. Estava com uma sobrancelha arqueada e olhou os dois garotos com atenção enquanto caminhava para a sua cama.

- Está ouvindo coisas, Lupin. – Sirius falou, com o rosto impenetrável.

- Nós estamos no primeiro ano, nem sabemos azarações! – James complementou, como se encerrasse a questão, o rosto angelicalmente sorridente.

- Claro. – Remus falou, descrente, estendendo a toalha sobre o seu malão e deitando-se. – Não vão arranjar problemas para Gryffindor.

- Sim, senhor! – James bateu continência enquanto Remus estava de costas e Sirius teve que segurar o riso para Remus continuar a achar que os dois eram uma dupla de santos.

Mas Remus havia ouvido cada palavra do que James e Sirius haviam falado e sabia o que estava tramando. Porém, não queria que os dois pensassem que ele estava bisbilhotando. Também esperava que desistissem dessa idéia idiota de devolver o ataque dos Slytherins. O garoto entrou debaixo das cobertas e fechou os olhos. Ouvindo as risadinhas abafadas de Sirius e James, adormeceu.

– x –


Lily novamente não conseguiu dormir direito durante a noite, o ocorrido com Jean Macdonald vivo em sua mente. Tudo o que ela achava que sabia sobre os Nascidos-Trouxas estava errado. Ainda pensava sobre aquilo naquele momento, no café da manhã. Ela brincava com seus ovos, sem realmente sentir fome. Severus havia mentido para ela e ela não entendia porque ele teria feito aquilo.

O Salão Principal estava quase vazio àquela hora. Certamente a maioria dos alunos preferia dispensar o café da manhã de sábado para poderem se demorar um pouco mais em suas camas. Mas nem que quisesse Lily conseguiria ficar na cama. Estava ansiosa demais com toda essa nova informação. Tinha de conversar com Severus.

Olhou para o relógio de pulso. Oito e meia. Era o horário que havia combinado com ele para se encontrarem e irem terminar as tarefas na biblioteca. Olhou para a mesa de Slytherin. Estava vazia. Depois se virou para a entrada no Salão e lá estava ele, entrando, bem como ela esperava. Severus era rigoroso com horários. Ele jamais se atrasava e poucas vezes se adiantava. Na maior parte do tempo ele chegava exatamente em cima do horário, sua pontualidade era incrível.

Mas, daquela vez, Lily não sentiu a alegria de sempre ao vê-lo. Aquele garoto que se aproximava dela com um sorriso nos lábios, animado, que ela sempre achara que jamais mentiria para ela, havia lhe contato uma mentira, e uma mentira grande, que poderia tê-la afetado se não fosse Jean a primeira de sua turma a ser discriminada.

Ele se sentou de frente para Lily, efusivo.

- Bom dia, Lily! – ele disse, jogando a mochila em cima da mesa, e puxando uma tigela de cereais para perto de si. – Acordei animado hoje!

- Por que mentiu para mim, Severus? – perguntou, sem rodeios, a expressão absolutamente séria.

Severus parou com a mão estendida para uma jarra de leite. Mentir? Quando havia mentido para Lily? O garoto realmente não se lembrava se algum dia havia mentido para a ruiva. Na verdade, ele sempre preferia ser muito sincero com ela. Havia contado a Lily coisas que nem a sua mãe sabia, segredos sobre ele e sobre os seus sentimentos.

- Eu nunca menti pra você, Lily. – falou, pegando a jarra de leite, despejando-o em seu cereal.

- Mentiu. Disse que não fazia diferença ser nascido-trouxa.

Sua mão tremeu e ele derramou um pouco de leite para fora da tigela. Então era isso. Ele pousou a jarra na mesa novamente, com medo de derrubar mais leite e, sem olhar para Lily, ele pegou sua colher, jogando açúcar em seu cereal. Ele se lembrou da conversa que tivera com Rabastan e Alecto, e sobre as palavras da garota sobre o irmão Amycus. Teria ele feito algo contra Lily? Mas não era possível. Se fosse, ele certamente saberia.

- E não faz, Lily. – sua voz tremeu e ele quase se bateu por isso.

- Não minta pra mim, Severus! – ela bateu as mãos na mesa, os talheres se chocaram, fazendo barulhos metálicos. O menino levantou os olhos dos cereais, olhando para Lily.

Suspirou, colando a sua colher sobre a mesa. Jamais conseguia agüentar o olhar dela. Era como se ele extraísse dele qualquer coisa, até mesmo sua alma.

- Eu só queria te proteger.

- Me proteger?! Você acha que, me dizendo que não tinha problema, eu ia passar todos os meus sete anos aqui sem perceber, Severus? Intacta? – ela afastou um fio de cabelos que havia caído sobre os olhos e cruzou os braços. – Achou que eu nunca iria descobrir?!

Severus olhou para o teto, passando os dedos por entre os cabelos negros, nervoso. Não era possível que ela estivesse irritada com ele. Só tentara protegê-la!

- Eu só não queria que você se preocupasse, Lily! – respirou fundo, exasperado. – Você estava tão preocupada com isso já, sem nem saber como é! Eu queria te proteger!

- Não preciso que me proteja da verdade, Severus! – os olhos da garota faiscavam. – Aquela garota no trem me insultou e eu nem sabia do que ela estava falando! Uma menina da minha sala foi atacada ontem!

- Não sabia disso.

Lily deu a ele aquele olhar que ele sempre comparava ao olhar que uma mãe de verdade daria ao seu filho quando ele fizesse alguma má criação e esperasse que ele se redimisse. Severus não sabia que uma nascida-trouxa havia sido pega, tão próxima a Lily. E isso fez com que ele temesse pela segurança da amiga. Mas ele teve que se conter para não respirar aliviado. Pelo menos não havia sido ela a azarada.

- Me desculpe, Lily. – pediu, vencido. Esticou as mãos para frente, segurando as mãos pálidas da garota. – É que, para mim, não faz diferença você ser nascida-trouxa ou não. Desculpe por ter te protegido da verdade.

- Não quero que minta de novo pra mim, Severus. – falou, com a voz baixa, olhando as mãos de Severus, tão mais pálidas que as suas. – Somos amigos, não é?

- Melhores amigos! – ele adicionou, com um meio sorriso.

- Melhores amigos não contam mentiras. Não escondem as coisas dos outros. Prometa que não vai fazer isso de novo.

- Eu prometo, Lily.

A garota respirou mais aliviada e soltou as suas mãos das dele, pegando o seu garfo e voltando a mexer em seus ovos. Mas percebeu que ela mesma estava fazendo algo que pedira a Severus que prometesse que não fizesse. Ela estava escondendo dele um segredo. Até aquele dia não tinha contado a ele sobre o seu desmaio. Mas Severus não precisava saber disso. Ele não precisava se preocupar com ela desnecessariamente. Não aconteceria de novo.

Severus a observou enquanto ela levava um punhado de ovos mexidos à boca. Precisava ficar mais atento. Não podia permitir que ninguém fizesse mal a Lily. Talvez fosse uma sorte ele ter ido para Slytherin. Talvez pudesse conseguir evitar que os seus colegas de Casa azarassem pelo menos a sua amiga. Jamais iria se perdoar se algo acontecesse a Lily Evans. Jamais...

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