Capítulo XI



Capítulo XI



O segundo dia de aula era uma sexta-feira, e não foi à toa que a maioria dos outros alunos da escola estava mais descontraída. No dia seguinte seria sábado e, finalmente, eles teriam tempo de sobra para colocar os assuntos em dia com os seus amigos. Apenas para os alunos do primeiro ano o dia não era grande coisa. Para eles era apenas mais um dia onde teriam que ser apresentados a coisas novas e complicadas. Bem... Não eram coisas tão novas nem tão complicadas para alguns deles.

- Temos mesmo que ir ver essas aulas? – Sirius gemeu, com a testa na mesa. – Não podemos invadir a aula de algum outro ano?

- Nem parece que ontem era você o super animado! – James riu, enfiando uma torrada com geléia na mão do amigo, para depois preparar uma para si.

- É. Mas ontem eu não sabia que as matérias iam ser tão chatas. – falou, dando uma mordida em sua torrada, olhando para o céu muito vagamente, os olhos cinzentos perdidos.

- Hoje temos aula com o Flitwick. – o pequeno e tímido Peter Pettigrew disse. Desde o dia anterior, o menino parecia querer se esforçar para se aproximar de Sirius e James desde a noite anterior. – Me disseram que ele é realmente legal.

- Se pelo menos pudermos sacar as varinhas dessa vez... – James tomou um gole de seu leite e viu que Sirius prendia a respiração, olhando para cima.

Seguindo o seu olhar, James viu que era hora do correio. Dezenas e mais dezenas de corujas entravam voando pelo Salão Principal, levando para os seus donos a correspondência, o jornal matinal ou qualquer coisa que por algum acaso tenham pedido. James não entendeu a apreensão de Sirius por ter visto o correio chegar até que uma vistosa coruja negra pousou diante dele, deixando um pequeno pedaço de pergaminho cair sobre o prato vazio do garoto. A coruja não demorou muito tempo ali como as outras, e já estava voando novamente e Sirius encarava o pedaço de pergaminho como se fosse alguma coisa muito nociva. Mas, depois de alguns instantes, seus lábios se abriram em um sorriso de lado.

- Demorou pra chegar... Achei que receberia ontem logo de manhã. Não imaginei que Cissy fosse esperar tanto para contar as novidades.

Levou bem um instante para James perceber do que aquele pergaminho se tratava. Obviamente era uma carta da família Black.

Sirius, na verdade, esperava receber aquilo desde que o Chapéu Seletor o colocara em Gryffindor. Em alguns momentos chegara a ter a louca ilusão de que o seu pai ia irromper no Salão Principal, bem em meio ao banquete para arrancar-lhe o couro. Mas demorara mais de um dia para que o senhor Orion Black reagisse. O garoto não sabia se sentia aliviado pela demora ou preocupado. Chegara até a ter a esperança de que o pai tivesse sofrido um infarto ao saber da notícia. Mas não era tão sortudo assim.

Sem hesitar e muito rapidamente, ele pegou o pergaminho que estava sobre o seu prato e o abriu. Nele só havia quatro palavras em letras finas e de certa forma assustadoras:

“Nos acertamos em casa.”


Ele riu amargo, amassando o pergaminho e jogando-o para trás. Esperava que tivesse acertado alguém, mas não ouviu nenhuma reclamação. “Nos acertamos em casa.” Era isso então? isso?! Confessava que estava esperando que tivesse alguma grande maldição no pergaminho que iria matá-lo instantaneamente. Se julgava um cara de sorte por ainda estar vivo naquele momento. Mas, pelo que conhecia do Senhor Orion Black, ele só acabava com a sua presa quando estava olhando bem fundo nos seus olhos. Sirius bem sabia que quando chegasse em casa para as férias de verão, ele...

- E aí?

A voz de James o trouxe de volta de seus próprios pensamentos. Tentando parecer o mais descontraído possível, Sirius deu uma grande mordida em sua torrada e apoiou o cotovelo na mesa.

- Ah, o de sempre... Ameaças ocultas! – disse com voz de mistério, rindo de si mesmo. – Estou decepcionado. Confesso que esperava mais de Orion Black.

- Confesso que eu também. – James riu com Sirius, sentindo-se mais aliviado agora. – Da maneira que você falava dos seus pais, eu esperava que ele lhe empacotasse uma maldição de morte!

- Imagina! Orion Black é um anjo de asas, jamais faria isso!

Mas James não fazia a menor idéia dos verdadeiros temores que assolavam a mente de Sirius Black enquanto ele devorava o seu café da manhã. Não fazia nem a mínima idéia.

– x –


- NÃO QUERO!

Lily suspirou exasperada e pela terceira vez arrancou as cobertas de cima de Natasha. Já fazia quase quinze minutos que ela tentava acordar a garota. Mas Natasha se recusava a sair da cama, agarrando-se ao colchão como se a sua vida dependesse disso. Alice, sentada em seu malão, ria dos esforços da ruiva sem nem mover um dedo sequer para ajudar.

- Eu vou te tacar um balde de água gelada se não sair dessa cama! – a ruiva ameaçou, o rosto vermelho.

Mas Natasha parecia não se importar com isso, porque escondeu a cabeça debaixo do travesseiro, tentando evitar que o sol tocasse seu rosto. Ela já estava começando a se arrepender da idéia de vir morar em um país estrangeiro. Estava exausta! Mal dormia. Maldito fuso-horário. Não se cansava de culpar o fuso-horário por sua péssima adaptação. Alguém arrancou o travesseiro de seu rosto e a luz do sol bateu em cheio em seu rosto.

- Estou cega! – gemeu, cobrindo os olhos com as mãos.

- Agora chega de frescura, Natasha! Temos aula em alguns minutos. LEVANTA!

Vencida pelo cansaço, a garota se levantou e arrastou-se até o banheiro, emburrada e bufando.

- A Inglaterra é um SACO! – gritou, antes de bater a porta.

– x –


O segundo dia de aulas, todos concordaram, foi muitíssimo melhor que o primeiro. A aula de Feitiços era realmente divertida e cada um deles adorou a oportunidade de poder tirar a varinha do bolso e fazer alguns floreios. Mesmo que isso tenha resultado na destruição da escrivaninha do professor, vítima de um feitiço muito mal feito por Peter Pettigrew. Os destaques da aula, entretanto, ficaram a cargo de James Potter, Sirius Black e Gwen Pentice, que muito rapidamente dominaram o feitiço Lumus. Flitwick, como muitos disseram, era um professor muito divertido, ninguém pôde dizer o contrário. Ele era bem mais baixo que a própria mesa e havia desabado magnificamente de sua pilha de livros quando a sua mesa foi explodida.

- Agora eu vou esperar pela sexta-feira todos os dias! – Sirius comentou, durante o almoço, bastante animado, espreguiçando-se.

- Temos feitiços na quarta-feira também. – Peter disse, bastante tímido. Ainda não havia se recuperado do grande papelão da aula.

- Mas não temos toda a tarde de quarta-feira de folga, temos? – James observou, apontando o seu garfo para Peter. – O que vamos fazer com todo o nosso tempo livre?

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- Vou para a biblioteca! – Lily disse, pousando seus talheres ao lado do prato vazio. – Fazer aquele trabalho de Herbologia. Vocês vêm comigo?

- De jeito nenhum! – Natasha exclamou, bebendo um longo gole de água. – Vou aproveitar para recuperar o sono perdido, isso sim! Odeio esse...

- Fuso-Horário. – Alice e Lily completaram por ela, rindo, já prevendo as falas da amiga americana.

- É. – aquiesceu, fazendo bico e resmungando, brincando com a comida. – Preciso me adaptar logo!

- E você, Alice? – a ruiva virou-se para a outra.

A loira deu de ombros, com os olhos fixos na comida, como se a estranhasse.

- Pode ser. Não tenho o que fazer, e Peter não desgruda daqueles dois garotos! – levantou o olhar e sorriu para Lily. – Vamos sim! Aí terei o fim de semana livre.

- Remus? – Lily virou-se para o garoto, que havia ficado quieto até o momento.

Ele tirou os olhos do livro que estava lendo enquanto comia, com expressão confusa, olhando para as três garotas. Estava completamente ausente da conversa que as três tinham entre si.

- O quê?

- Perguntei se quer ir à biblioteca à tarde. – repetiu.

- Oh... Bem. – ele fechou o livro, com uma das sobrancelhas curvadas. Durante a aula de Flitwick, Gwen e ele haviam combinado de passar a tarde juntos, fazendo os deveres. – Já tenho planos para a tarde. Me desculpe.

- Ok, então. – suspirou, com um pequeno bico, mas logo voltou a sorrir. – Somos apenas você e eu Alice. – a ruiva encheu a sua taça de suco, enquanto falava. – Nós duas e Severus, eu acho.

- Severus? - Alice, que havia voltado a admirar sua comida, tornou a olhar para Lily.

- Ele é...

- Onde estão as gêmeas? – Natasha perguntou, muito avoada, interrompendo Lily.

– x –


- A gente podia ficar na biblioteca, sabe?! Mais fácil de pesquisar. – Jean gemeu, deitando a cabeça sobre a mesa que ela e a irmã ocupavam na Sala Comunal de Gryffindor, brincando com a pena por entre os dedos.

- Me senti muito sufocada naquele lugar – Mary disse, folheando o que parecia a ela ser a centésima vez o livro de Herbologia. – Pegue um dos livros que retiramos e comece a procurar!

- Temos todo o fim de semana pra fazer isso, Mary! – reclamou, levantando a cabeça o suficiente para ver a irmã, amassando a pena entre as mãos. – Vamos só dar uma volta esta tarde.

- Damos a volta amanhã.

- Por favoooooooor, Mary! – Jean juntou as duas mãos, como que em prece, fazendo a sua melhor cara de súplica.

- Sua preguiça me irrita! – a gêmea reclamou, batendo a mão na mesa. – Agora pegue um livro e procure!

- NÃO! – respondeu a outra, se levantando, e indo em direção ao retrato da Mulher-Gorda.

- ÓTIMO! – gritou, para as costas da irmã. – DEPOIS NÃO VENHA PEDIR O MEU TRABALHO EMPRESTADO!

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- Hey, Lupin!

Remus levantou os olhos do livro de História da Magia, procurando quem o chamara. Achava que estava sozinho na mesa de Gryffindor desde que as garotas saíram. Mas parecia que estava enganado. Os garotos com que dividia o dormitório se aproximavam, sentando-se nas cadeiras logo a frente dele. Remus deu um sorriso e fechou o livro, tomando o cuidado de deixar um dedo marcando a página que estava lendo.

- História da Magia? – Sirius falou, incrédulo, lendo a capa do livro. – Como consegue ler isso?!

- Ah... É até que bem interessante, sabe?

- Claro... Tenho certeza que é muuuuuito interessante. – o sarcasmo na voz de Sirius era bem evidente, o que deixou Remus bastante envergonhado.

- Quer ir dar uma volta com a gente? – James cortou Sirius, antes que ele lançasse outra indireta desconfortável para o menino. – Vamos dar uma olhada naquele Salgueiro que o Dumbledore falou.

O estômago de Remus deu uma volta completa e ele imediatamente desviou os olhos dos garotos à sua frente, muito desconfortável.

- Nã-não... Obrigado. Te-tenho coisas pra f-fazer. – gaguejou, reabrindo o livro e se escondendo atrás dele.

James e Sirius trocaram um olhar, intrigados com a reação de Remus. Sacudiram os ombros e saíram, sem nem ao menos se despedir dele. Mas Peter não se mexeu. Estava com o queixo apoiado nas mãos, observando Remus atentamente. Embora ele tivesse reaberto o livro, Peter reparou que os olhos dele não se moviam e que uma gota de suor surgia na sua testa. Conhecia aquela reação. Era medo. Peter sentia isso o tempo todo. Abriu a boca para perguntar o que Remus temia, mas deu um salto quando ouviu um grito.

- PETTIGREW! – James chamou, da porta do Salão Principal. – NÃO VEM?!

E o menino se apressou em ir até os outros dois e Remus respirou aliviado. Quanto mais tempo passasse longe daquele maldito Salgueiro, melhor.

– x –


Lily coçou a cabeça com a ponta da pena e fechou o livro que folheava, colocando-o de lado. Professora Sprout realmente havia passado uma tarefa complicada. Nenhum dos livros sobre sementes e plantas britânicas havia sequer algo parecido com a semente que haviam plantado no dia anterior. A garota, que era boa no desenho, havia feito um esboço quase perfeito da semente, anotando todas as suas características e tudo o que Sprout havia dito sobre ela. Mas não havia encontrado nada. Suspirando, Lily pegou outro livro. Havia ainda uma biblioteca inteira para procurar pela resposta.

E, por falar no assunto, uma biblioteca e tanto! Quando colocara os pés pela primeira vez na biblioteca de Hogwarts, sentiu como se estivesse entrando em um santuário. As altas estantes e o cheiro de livro velho era algo bastante marcante e Lily não deixou de se encantar. Sempre apreciara a leitura. Desde que aprendera a ler, anos antes, lia tudo o que colocavam nas mãos com extremo prazer. Era uma fã dos livros. E, para qualquer fã de livros, a biblioteca de Hogwarts era um paraíso.

- É impossível! Sprout só pode ter inventando uma semente nova que ninguém conhece! – Alice exclamou, emburrada.

- Shiuuu... – Lily sibilou, olhando para o lado.

A bibliotecária, Madame Irma Pince, Lily logo viu que era bastante severa. Quando ela e Alice começaram a passear pelas prateleiras, ela logo veio bafejar em seus pescoços, como se soubesse que as duas estavam ali pela primeira vez e temesse que as meninas inexperientes arruinassem a sua perfeita organização dos grossos volumes encadernados sobre tudo o que havia no mundo da magia.

- Mais baixo, Alice. – sussurrou, aliviada que Madame Pince não tivesse notado a ligeira elevação na voz da outra garota. – Ela nos expulsa daqui e não fazemos o trabalho!

- Não tem como fazer o trabalho, Lily! Simplesmente não existe essa semente! – gemeu, num tom bem mais baixo agora, fechando o livro que estava olhando.

- Nós a plantamos ontem, claro que existe! Só não procuramos direito!

- Com certeza é algo muito complicado. – falou, fazendo alguns rabiscos em seu pergaminho. – Algo de uma série à frente da nossa, por isso nós não achamos nada.

- Ela não faria isso! – mas logo depois se pegou pensando se Sprout realmente não faria. Afinal, não conhecia nenhum professor ainda, não podia julgá-los. Balançou a cabeça e se levantou. – Vou pegar livros das outras séries, só por garantia.

– x –


Estavam sentados à beira do lago, fazendo os deveres. Gwen se sentia bem ali, era um lugar fresco, diferente de onde estava acostumada a ficar. Sua pena deslizava suavemente pelo pergaminho, formando palavras em latim, com as quais ela já estava começando a se habituar. Na verdade, não era nada difícil depois que se pegava o jeito. Ela suspeitava que por ter entrado em Ravenclaw talvez fosse mais fácil para ela. O Chapéu Seletor havia dito que apenas os mais inteligentes entravam para a casa, e ela não conseguiu deixar de se envaidecer um pouco.

Mas estava silencioso demais. Havia apenas o som de sua pena escrevendo e de alguns pássaros cantando para quebrar o silêncio. Não ouvia Remus escrever. Ela terminou a frase que formulava em sua redação de História de Magia e colocou a pena dentro do tinteiro, levantando os olhos. Remus não estava escrevendo, nem lendo. O seu pergaminho, apenas com algumas palavras escritas, estava de lado e seu livro estava esquecido sobre o seu colo. O garoto estava olhando o nada, os olhos embaçados.

- Está tudo bem, Remus?

Ele piscou, como se despertasse de um transe e se virou para Gwen, a expressão indecifrável. Se estava tudo bem? Remus não podia dizer que realmente estava. O garoto achava que jamais ficaria realmente bem. Como poderia algum dia estar, levando dentro de si o que levava? Mas não podia confidenciar isso à Gwen. Simplesmente não podia. Então, colocou o seu melhor sorriso no rosto, o sorriso que treinara durante vários dias em sua casa, antes de embarcar para Hogwarts, o sorriso que deveria usar sempre que perguntasse se ele estava bem.

- Claro, Gwen. Só estava pensando no meu trabalho de Transfigurações.

Remus estava mentindo. Ela sabia, mas não ia questioná-lo. Se Remus tinha algum motivo para esconder algo e mentir sobre como realmente estava, não era direito dela questioná-la. Conheciam-se havia apenas dois dias, ela não era alguém a quem ele devesse confidenciar os seus maiores segredos, seus sentimentos. Mas, mesmo se conhecendo havia tão pouco tempo, Gwen se preocupava com o bem-estar do menino. Havia algo estranho com ele. Ela não entendia como, mas sabia. Simplesmente sabia. E não podia fazer nada a respeito, ou saber o que causava essa sensação nela. Então, Gwen sorriu como sempre fazia e voltou à sua redação.

Ele observou a menina escrever durante alguns instantes, e depois focou seus olhos em seu pergaminho, quase vazio, ainda com a mente distante dali. Seu olhar logo se desviou para a direção onde estava o Salgueiro Lutador. Maldita árvore, pensou. Para ele, ela era mais símbolo de sua desgraça. Era algo que jamais o deixaria esquecer o que ele era. Como se fosse possível esquecer...

– x –


Não parecia grande coisa e Sirius não entendia que mal poderia haver em uma árvore. Apenas por insistência de Peter nem ele, nem James haviam se aproximado do Salgueiro. Ainda... O garoto agachou-se sobre os calcanhares, apoiando uma das mãos no chão, olhando para a árvore imóvel, com os galhos de folhas avermelhadas, devido à aproximação do outono. Não havia nada que parecesse ameaçador ali. O que um salgueiro podia fazer contra ele?! Nem frutos a árvore tinha para poder acertá-lo na cabeça!

- Humpf... – James colocou as mãos nos bolsos, balançando-se para frente e para trás. – É só uma árvore!

- Mas Dumbledore disse...

- E você acredita em tudo o que Dumbledore diz, Pettigrew?! – Sirius se levantou, rindo desdenhoso. – Sempre me disseram que o Dumbledore era um velho caduco! É só uma árvore!

- Mas, os acidentes que Dumbledore disse...

- Vai ver algum bobão foi subir na árvore e caiu, é isso! – tirando as mãos dos bolsos, James deu alguns passos à frente, estreitando os olhos. – Mas é uma bela árvore, sem dúvida.

Sirius riu, encarando James.

- Não sabia que você era fã de árvores, James?

- Ah, sou fanático, tenho até uma coleção no meu quarto. – disse, com sarcasmo, olhando para o outro menino. – Vou chegar mais perto.

- Não sei se é uma boa...

- Ah, Pettigrew, fique quieto! – resmungou, indo se juntar a James. – Se soubéssemos que você ia ficar mijando nas calças, nem teríamos de chamado!

- Na verdade, Sirius, acho que nem o convidamos. – James disse, olhando para cima, parecendo pensar.

- Verdade, ele simplesmente veio junto. – o outro concordou, maldosamente.

Peter não soube o que responder. Ficou olhando para os dois garotos, que o encaravam com sorrisos de lado. O menino corou furiosamente e baixou os olhos, fungando. Ele crispou as mãos, se sentindo a menor das criaturas. Virou-se e saiu correndo dali, para longe dos dois. Idiotas. Idiotas...

- Você acha que o deixamos triste? – James disse, com indiferença.

- Ah, ele estava atrapalhando a diversão! – riu, dando as costas para onde Peter havia desaparecido. – Depois ele esquece. – Voltou a encarar a árvore. – Então. É só uma árvore, certo?

- Claro! – concordou, também olhando o Salgueiro agora. – Vamos mais perto.

- Certo. Hum...

Esfregando o nariz, Sirius deu o primeiro passo, com James bem ao seu lado, os dois caminhando muito confiantes, o Salgueiro se aproximando a cada passo. Era só uma árvore, e árvores não eram perigosas. Dumbledore estava exagerando no banquete. Era apenas um Salgueiro inofensivo. Nada mais que uma árvore. Os dois pararam a poucos centímetros do tronco. Sirius respirou, aliviado e olhou para a frondosa copa sobre a sua cabeça. Por um momento, temera que não fosse apenas uma árvore.

- Viu? Não tem nada de mal aqui! – James disse, se apoiando no tronco, sorrindo satisfeito. Mas Sirius ouviu um estalo alto e alarmou-se, procurando a origem. – É apen-...

- ABAIXA!

Mas James não se abaixou. Confuso, ele apenas se virou a tempo de ver Sirius se jogar no chão e um enorme galho vir em sua direção, acertando-o direto no estômago. Estrelas surgiram diante dos seus olhos quando ele foi atirado metros para trás, caindo de costas no gramado, nocauteado.

Extremamente surpreso, Sirius manteve o seu corpo colado ao chão, protegendo a cabeça com as mãos. Ainda ouvia os galhos do Salgueiro se movimentando furiosamente, procurando por um alvo para atingir. Agradeceu por ser pequeno e, naquele momento, inatingível aos galhos furiosos da árvore.

Só quando não ouvia mais os galhos se movimentando tão ruidosamente, foi que ele se permitiu levantar a cabeça, olhando para cima. O Salgueiro ainda balançava os galhos, mas longe do chão. Sirius se levantou e correu para longe do alcance da árvore, o coração aos pulos. Deixou-se cair na grama, ofegando, os olhos vidrados presos à árvore que voltava a ficar imóvel aos poucos.

- Mas quem foi o filho da...

Então se lembrou de James. Levantou-se e viu uma forma imóvel a alguns metros dele. Correu até o corpo do garoto e ajoelhou-se ao seu lado, preocupado. James estava com os olhos fechados e os braços abertos. Mas, para o alívio de Sirius, ainda respirava. Os óculos dele estavam tortos em seu rosto, mas inteiros. Sirius não havia visto onde o Salgueiro o havia atingido. Deu uma sacudida no ombro de James e este fez uma careta, mas não abriu os olhos.

- Hey! – Sirius chamou, chacoalhando-o com mais força.

James gemeu, sentindo-se como se uma manada de elefantes tivesse passado por cima dele. Duas vezes em seguida. Abriu um dos olhos, encontrando Sirius curvado sobre ele, as sobrancelhas quase unidas de tão franzidas. Colocou uma das mãos sobre o estômago, onde a dor estava quase insuportável, sentindo-se muito mal humorado.

- Mas quem foi o filho da... – disse, tentando se levantar, mas logo voltou a cair no chão, bufando. Sirius riu.

- Eu estava dizendo a mesma coisa. – sentou-se ao lado de James, soltando o ar dos pulmões, aliviado que James estivesse bem o suficiente para blasfemar. – Ainda bem que é só uma árvore, hein?

- Árvore?! – James deu uma risadinha, mas parou. Rir também doía. – Achei que fosse um touro me atropelando!

Sirius gargalhou, balançando a cabeça. Na verdade, agora estava até começando a gostar da árvore. Até que ela era bastante simpática. Onde será que podia comprar uma? Tinha certeza que as primas iriam adorar.

- Quê?! – irritou-se o outro, se apoiando nos cotovelos. – Acha engraçado eu quase ter sido morto?! Foi uma visão tão hilária assim?!

- Na verdade, eu não vi. Poderia, por favor, ser acertado de novo pra eu ter uma noção de como é?! – sugeriu, sem conseguir deixar de rir.

- Há-há-há! Você é tão engraçado, Black!

Bufando com a dor, James se jogou na grama novamente, fechando os olhos. Sentia que suava frio. Talvez tivesse quebrado alguma coisa. Ah, mas ia dar o troco naquela maldita árvore, ou fosse lá o que isso fosse! Sirius parou de rir, olhando para o outro, agora voltando a parecer preocupado.

- Quer ir pra enfermaria, cara?

- Não é uma má idéia. – sussurrou, de olhos fechados.

Sirius se levantou e estendeu a mão para James, ajudando-o a se levantar devagar e cuidadosamente. O outro fez caretas e mais caretas, mas não reclamou da dor. Com cuidado, Sirius passou um dos braços do outro sobre os seus ombros, para que ele se apoiasse e juntos, os dois caminharam em direção ao castelo.

– x –


Alice não entendeu a pose de Peter. Não fazia nem cinco minutos ele havia entrado na biblioteca e se sentado ao seu lado, sem dizer nem uma palavra. E estava assim até aquele momento, de cabeça baixa sem mover-se. Ela bem que tentou perguntar o que havia acontecido, mas ele apenas a ignorava, como se ela nem estivesse ali. A loira olhou para Lily que deu de ombros, não querendo tirar os olhos de seu livro.

- Peter? – tentou novamente, tocando o ombro do garoto. Ele não fez menção de que tivesse ouvido ou sentido a sua mão sobre o ombro. – Peter, o que foi que aconteceu?

Nada. Ela detestava quando o amigo se fechava nesse casulo. Mas achava que sabia o que havia acontecido. Conhecia Peter Pettigrew desde sempre, e já tinha certa noção de cada reação que ele tinha a cada coisa. E quando ele ficava recluso daquela maneira era porque alguém havia mexido com ele. Lembrava-se de quase todas as vezes que Peter havia ficado assim. E não foram poucas. Sempre acontecia quando os pais dos dois os colocavam entre outras crianças. Peter nunca conseguia se sociabilizar.

- Peter? – chamou-o novamente. – Quem te provocou?

Peter fungou. Já era um avanço. Depois disso ele iria cair no choro. Era sempre assim. Onze anos de convivência, ela sabia cada coisa sobre Peter Pettigrew. Alice virou-se para Lily, se curvando um pouco para frente.

- Vou ter que tirar ele daqui, logo vai abrir o berreiro.

Lily balançou a cabeça, concordando.

- Ele está bem? – perguntou, enquanto Alice se levantava e Peter não se demorava em imitá-la.

- Vai ficar. – sorriu, juntando o seu material e indo em direção à saída da biblioteca, com o braço sobre os ombros garoto.

A ruiva ficou vendo os dois se afastarem, preocupada com o menino. Peter Pettigrew não parecia o tipo de pessoa que sabia fazer as coisas sozinho, principalmente passar por novas experiências. Ela podia ver nos olhinhos dele que não estava satisfeito com o que estava acontecendo em volta dele. Devia ser triste, ela achou, se voltando para o seu livro.

Tão triste quanto não achar a maldita semente de Sprout!

Fechou o seu décimo livro e suspirou, largada na cadeira. Estava começando a sentir seus olhos arderem de tanto percorrê-los por sobre as letras antigas das páginas amareladas dos livros que estava folheando. Quase sem esperanças de encontrar a resposta, ela se levantou e foi novamente à Seção de Herbologia, procurar por mais livros.

Passou os dedos pelas lombadas dos livros velhos, lendo os seus títulos rapidamente e pegando um volume ao acaso. “Plantas Exóticas das Ilhas Hébridas”. Esperando que finalmente encontrasse ali a resposta, caminhou em direção à mesa que ocupava. Mas, passando por uma seção parou. O nome daquela parte da biblioteca lhe chamou a atenção. “Seção de Adivinhações”.

“A Adivinhação não é muito bem aceita entre os bruxos, minha mãe sempre disse.”, lembrou-se das palavras que Remus Lupin lhe havia dito no dia anterior.

Lily não resistiu à curiosidade e caminhou entre as primeiras prateleiras sobre o assunto, dessa vez bem mais devagar do que caminhava por entre as prateleiras de Herbologia, lendo os títulos mais atentamente, abraçada ao seu volume de plantas exóticas. Profecias, quiromancia, cartomancia, numerologia... Todas as coisas que ela sempre ouvira falar no seu mundo como sendo grandes mentiras para enganar as pessoas. Mas agora que era uma bruxa achava que nada mais era impossível.

Então um volume lhe chamou a atenção. Era um livro bem menor em tamanho e grossura que os outros ao seu redor. E parecia quase intocado. A sua lombada era negra, parecendo veludo e havia finas letras prateadas gravadas na horizontal. “O Mistério por trás das Premonições, pelo Inominável Stradivarius Arcanus”.

“...e aqueles outros são Bode e Croaker... são dois Inomináveis...”

Era coincidência demais. Será que ali ela poderia encontrar algo que esclarecesse o que viu no outro dia? Lily estendeu a mão para pegar o pequeno livro, mas se deteve quando ouviu uma voz muito perto.

- Lily? – A garota se virou e encontrou Severus, parado bem ao seu lado, uma das sobrancelhas arqueadas. – O que você está fazendo na Seção de Adivinhações?! – ela sentiu muito bem o desdém na voz dele. Mas não se importou e apenas sorriu.

- Apenas passando, Severus. – disse, sorrindo e se afastando da prateleira. – Você demorou, achei que ia vir logo que a sua aula acabasse. – comentou, mudando se assunto e passando por ele, indo se sentar à mesa que ocupava.

Ela não havia contado a Severus o que havia acontecido na noite da Seleção, e ficou muito agradecida por ninguém ter comentado a respeito. Não sabia ao certo porque, mas não queria contar isso a ele. Achava que o amigo poderia se preocupar desnecessariamente. Severus tomou o lugar que Alice ocupara momentos antes, agora com um grande sorriso no rosto.

- Tive aula de Defesa Contra as Artes das Trevas, como sabe. – ele se curvou para frente, animado. – E é o má-xi-mo! Fiquei para trás pra tirar algumas dúvidas com o professor Quintin. Você vai simplesmente adorar a matéria, Lily! É fantástico!

Ela sorriu, abrindo o livro e olhando para o amigo.

- Mal posso esperar então. – falou, feliz com a animação de Severus. – Tenho Defesa na terça-feira. Vamos ver se é mesmo tão bom assim como você diz.

- Você vai ver! É tão fascinante, sabe? Quero saber mais sobre as Ar... – parou de falar, olhando o livro que Lily estava folheando. – Isso é pra tal pesquisa que a Sprout passou pra todas as salas?

Lily concordou com a cabeça, sem levantar os olhos do índice do livro.

- Não vai achar aí. – ele disse, e ela encarou-o. – É semente da Vagem da Patagônia.

- Patagônia? – ela arqueou a sobrancelha, finalmente encarando Severus.

- Fica na América do Sul. Nunca vai achar num livro sobre plantas britânicas. – declarou, tirando os seus livros da mochila e empilhando-os a um lado da mesa, estendendo um deles para Lily. – “Um Catálogo de Plantas da América.” Vai encontrar a definição aí.

Ela apoiou o rosto na mão, emburrada, pegando o livro. Nunca iria procurar em um livro sobre plantas estrangeiras, a idéia nem lhe passara pela cabeça. Fechou o volume que estava folheando antes e empurrou-o de lado. Pelo menos não precisaria mais esquadrinhar cada folha de cada livro. Agora já sabia o que era. Mas, em compensação, não iria ganhar os pontos para a sua casa. Os méritos não seriam dela e sim de Severus.

Conformada, Lily abriu a página e procurou pela tal Vagem da Patagônia. E lá estava. Era a mesma semente. Molhou a pena no tinteiro e começou a escrever.

– x –


Desde que saíra furiosa da Sala Comunal, Jean começara a explorar os corredores da escola, começando do alto para ir descendo gradativamente. A cada nova descoberta ela se fascinava e, de certa forma, se assustava ainda mais. Uma jovem mulher de uma dos retratos inclusive acompanhou-a durante algum tempo de sua excursão, contando as últimas fofocas sobre o monge pervertido do quadro do quinto andar.

A menina também parou às vezes à porta de outras salas de aula, querendo ouvir as coisas complicadas que os professores diziam aos seus alunos mais avançados. Confessava que, para ela, estavam falando outro língua. Não conseguia entender com clareza nada do que estavam dizendo. Mas, ainda enquanto andava, Jean começou a se sentir culpada pela maneira com que havia falado com a sua irmã gêmea. Afinal, Mary estava apenas preocupada com as lições e sua irmã sempre fora assim. Mary sempre fora a mais dedicada aos estudos, desde que as duas haviam freqüentado o Jardim de Infância trouxa, anos atrás.

Iria voltar até a Sala Comunal e pedir desculpas a ela, para depois ajudá-la com os deveres de casa. Ela se afastou da porta da sala de aula na qual estava parada e voltou pelo caminho de onde viera. Ao virar um corredor ela estacou. Diante dela estava um trio de garotos completamente desconhecidos para ela. Os três pareciam ser mais velhos e usavam o brasão de Slytherin em seu peito. Jean deu um passo para trás quando o maior e mais esguio deles deu um passo à frente, a sua voz ácida sibilando.

- Olá, Sangue-Ruim.



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N.A.: Olá, pessoal!!! *-* Sua “escritora” aqui está muitíssimo feliz! Motivo? Inacreditavelmente, magnificamente, milagrosamente eu passei na primeira fase da Unicamp! \o/ Sem estudar! xD É, eu sou fodona! :P Mas acho que devo tudo isso à minha redação! ;D Resultado dessa inesperada aprovação: Tenho que pegar muito pesado agora pra tentar passar na segunda fase! Conseqüência: Vou ficar sem escrever para Imortal, para Transfigurando um Coração (TUC)Guia (SIM! Terá continuação!) até o dia 16 de janeiro, que é quando termina a segunda fase! -.-“ Mas, até lá, vou postar esse último capítulo de Imortal (o último de 2007!) e vou tentar postar o segundo capítulo de TUC. E ainda quero escrever uma fan-fic especial de ano novo! Vamos ver se vai dar tempo! ;D E, por favor gurias! Torçam para que eu me dê bem! ;-; Certamente que eu vou escrever ainda melhor se eu passar! Afinal, o curso que eu estou prestando forma roteiristas! *dando saltos de felicidade*

Anyway, deixe-me comentar os Reviews...

**júh** : Está postado! \o\ Boa leitura, espero que esteja gostando! ^^

Mrs. Mandy Black: dhuasduashudu Ainda bem que não vai chamar de Taxinha! xD Eu tenho trauma! O.o Que bom que gostou! *-* Fico muito feliz! :D Espero que tenha gostado desse também! Eu, particularmente, adoro esse capítulo! \o/ Beijos! ;**



Como eu não vou postar mais nada pelo resto do ano, vou deixar aqui o meu muitíssimo obrigada a todas vocês que me acompanharam esse ano. Eu desejo a todas vocês um ótimo e maravilhoso Natal, como muitos presentes, muita amizade, muito amor e muito peru! xD E, para o Ano Novo, muita festa, muita sorte em 2008, muito dinheiro (principalmente! xD Zoeira...), muito amor, saúde e vida! Que todos os nossos sonhos se tornem realidade!!!

São os mais sinceros desejos desta que está por trás da Tash (Jaqueline!) a todos vocês, seus amigos e familiares! ;D Um grande beijo desta que adora todas vocês, mesmo sem conhecê-las, pois vocês já são parte da minha história!

FELIZ 2008!!!

Tash LeBeau (Jaqueline)

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