Capítulo III



O restaurante estava lotado àquela hora da tarde, repleto de mulheres sofisticadas fazendo uma pausa nas compras, todas conversando e rindo, criando um ambiente de elegância refinada e perfumes exclusivos. Hermione estava lá, numa mesa com Jennifer St. John, tomando lentamente seu café, os olhos castanhos passeando pelo salão, com uma ponta de cinismo.
Jennifer acabara de se servir da segunda fatia de bolo com chantili e olhava com ar crítico para as curvas de seu corpo elegante.

- Realmente, preciso controlar esta minha atração por doces. – Comentou complacente, mergulhando a colher na espuma macia. – Eu odiaria virar uma gorducha simpática. A moda, hoje em dia, simplesmente não combina com proporções exageradas.

Hermione apenas sorriu. Então, Jennifer perguntou:

- E Draco, como vai?

- Muito bem, imagino. Está viajando.

- Viajando? Outra vez? – A ironia da voz de Jennifer era evidente.

Hermione correu o dedo pela borda da xícara.

- Ele está no norte da Inglaterra. Foi visitar o complexo químico de Lees Bay, em Northumberland.

Jennifer escutava atentamente.

- Entendo. – Observou pensativa e depois perguntou: - O que aconteceu naquela noite? Depois da recepção na Embaixada? Ele ficou muito aborrecido porque Harry apareceu lá?

Os olhos de Jennifer mostravam um estranho interesse. Depois do que Draco dissera de Jennifer, a dúvida povoava a mente de Hermione.

Então respondeu cuidadosamente:

- Como poderia ficar aborrecido se ele mesmo insistiu para que eu fosse ao concerto com Harry?

- Quer dizer... – Falou Jennifer, parecendo ligeiramente desapontada. – que ele não se incomodou?

Hermione suspirou.

- Não disse exatamente isso. Eu disse que Draco não devia se incomodar, pois ele mesmo insistiu para que eu fosse.

- Acho que você permite que ele a domine de uma maneira absurda. Eu não deixaria que Giles fosse tão tirano comigo!

- Draco não é tirano comigo. – Hermione falou, com aparente tranqüilidade. – Vivemos muito bem...

- Como? Ele sempre foi um tirano e você sempre ficou em casa o tempo todo feito uma boba! – Protestou Jennifer. – Você acha que eu deixaria Giles ir a todos esses lugares maravilhosos sozinho?

- Sua situação é um pouco diferente da minha. Você ama Giles... e ele ama você.

- Não é bem como você pensa... – Jennifer tomou um gole de café e disse: - Sabe, Hermione, não entendo como você pode suportar a infidelidade de seu marido!

Como Hermione não respondesse, Jennifer suspirou e depois perguntou:

- O que há de errado com você, Hermione? Não sei... Você parece esquisita! Costumava não se abalar tanto com os casos de Draco. O que está errado? O que aconteceu? Está começando a perceber que dinheiro não é tudo?

- Mas nunca achei que fosse!

- Bem, – Disse Jennifer. – pare de ficar chocada com o que digo. Só fiz uma pergunta...

Hermione tomou o café, tentando parecer calma. Sem querer, as palavras de Draco voltaram à sua cabeça, e ela se flagrou observando a amiga sob um prisma diferente. E se Draco estivesse certo? E se Jennifer estivesse madura para ter um caso? Com ele?

A palma das mãos de Hermione estava úmida. Depois de três anos de casada já devia estar habituada às inclinações sensuais de Draco, mas ainda não estava. E a idéia de Jennifer estar interessada nele era algo que não conseguia encarar. Mesmo Hermione não sendo mulher de verdade de Draco!
Procurou desesperadamente alguma coisa para dizer e quebrar o silêncio constrangedor que havia caído entre as duas. Se não falasse alguma coisa depressa, Jennifer começaria a suspeitar que havia outras razões para Hermione ter tido tanta dificuldade em falar sobre o marido naquela tarde.
Mas, felizmente, Mary Sullivan se aproximou. Sentou por um momento, conversando sobre o tempo e as novas modas de outono. Quando levantou, já era hora de Hermione ir também.

Enquanto se dirigiam para a porta, Jennifer perguntou naturalmente:

- Draco disse quando ia voltar? Gostaria de convidar vocês para jantar conosco, antes que ele suma novamente para mais uma viagem.

- Muito obrigada, Jennifer. Acho que Draco estará em casa no fim de semana. – Disse com calma aparente.

- Ah, que bom! – Exclamou Jennifer enquanto colocava as luvas de pelica. – Domingo, então, está bem?

- Não me esquecerei!

Hermione sorriu e as duas se despediram na porta do restaurante. Jennifer tomou um táxi e foi embora, enquanto Hermione seguiu a pé, vagarosamente, pela Oxford Street. Já passava das seis e ela dissera à Sra. Latimer que queria o jantar às sete, mas perdera totalmente a fome. A conversa com Jennifer estava atravessada na sua garganta. Como Draco conseguira ver, em tão pouco tempo, o que ela em anos não havia percebido? Mudou de direção e, impulsivamente, atravessou a rua e entrou no parque. O sol tentava furar as nuvens baixas e, embora soprasse um vento frio, sentia-se revigorada. Gostava do vento agitando seus cabelos.
Estava dando importância demais a tudo aquilo, pensou. Só porque seu relacionamento com Draco tinha se tornado mais pessoal ultimamente, não significava que alguma coisa tivesse mudado. Era apenas por causa do tempo de convivência. Não podia simplesmente querer passar a vida inteira sem mudança de algum tipo. Afinal de contas ela havia escolhido aquele modo de vida. Ninguém a tinha obrigado. Quando seu pai morreu, tivera de fazer sua escolha... E ela o fizera!


Quando voltou para casa, sentia-se mais relaxada. Quando a Sra. Latimer foi servir o jantar, informou-lhe que o Sr. Potter havia ligado.

- Ele disse o que desejava?

- Não, senhora. – Disse a Sra. Latimer. – Pediu apenas que a senhora ligasse para ele assim que chegasse.

- Muito obrigada, Sra. Latimer. – Falou, com um meio sorriso. – Vou ligar mais tarde.


Ligou para Harry no dia seguinte, por volta das cinco horas e encontrou-o em casa. Pareceu encantado em falar com ela e, depois das frases convencionais, disse:

- Jennifer me contou que Draco está fora, por isso quero saber se gostaria de jantar comigo hoje.

Hermione suspirou, irritada. Jennifer não tinha perdido tempo, pensou. Se Harry tinha ligado para ela à noite, Jennifer devia ter telefonado para ele assim que saiu do restaurante. – Sinto muito, Harry, mas eu não pretendo sair hoje à noite.

- Olhe, Hermione, existe um novo lugar em Henley. Podíamos jantar lá, é só. Não precisamos voltar muito tarde, se preferir.

Hermione hesitou diante da perspectiva de mais uma noite sozinha, as horas arrastando-se diante dela. A Sra. Latimer serviria o jantar e depois se retiraria. E ela teria de preencher sozinhas as horas vazias, até resolver finalmente ir para a cama. Já não estava dormindo tão bem e não via vantagem em tentar dormir mais cedo. A imagem de Draco subitamente apareceu diante de seus olhos. O que estaria ele fazendo esta noite? Será que passaria a noite sozinho na suíte do hotel? Duvidada muito...

Impulsivamente, concordou:

- Está bem, Harry, eu vou. A que horas você bem me buscar?

- Será que às sete é muito cedo?

- Está ótimo, Harry. Até daqui a pouco.

Harry desligou e Hermione colocou o fone no gancho. Um certo remorso começou a ecoar em sua mente: iria se distrair, sair com um homem que, embora fosse um companheiro divertido, poderia lhe trazer problemas pessoais. Harry, assim como Jennifer, não aceitava que o envolvimento atual deles era completamente diferente do que tinham tido anos atrás.


O restaurante com vista para o rio era magnífico. Moderno, inteiramente envidraçado e decorado com madeira sueca, impressionava pela modernidade e beleza.

A noite foi agradável, e eles conversaram sobre os mais variados assuntos: desde moda até carros. Quando Harry a levou de volta passava um pouco das dez da noite.

Ele parou o carro em frente da casa e, voltando-se para Hermione, perguntou:

- Não vai me convidar para um café?

- Acho que não... É um pouco tarde, e a Sra. Latimer já deve ter-se retirado para seus aposentos.

- Eu sei. – Harry olhou-a de maneira insinuante.

- Harry, – Hermione suspirou desanimada – não vá tirando conclusões a meu respeito. Só porque saí com você algumas vezes não quer dizer que...

- Eu sei. – Disse Harry, impaciente. – Sei que você é casada! Bem, e daí? Que diferença isso faz para nós? Todos sabem...

- Não quero saber o que todos sabem. – Hermione falou, saindo do carro. – Muito obrigada pelo jantar. Ligue para combinar sobre o concerto na semana que vem.

- Não vai mudar de idéia?

- Sobre o concerto? Não. Por que mudaria?

- Não estava falando do concerto. Eu acho que você sabe disso. – Respondeu Harry friamente. – Está bem, Hermione, boa noite.

- Boa noite, Harry.

Hermione tirou a chave da bolsa e abriu a porta. Tirou o casaco e dirigiu-se até a cozinha e viu um bilhete da Sra. Latimer avisando que deixara café e sanduíches na sala. Hermione sorriu, contrariada. Obviamente, a governanta pensou que eles voltariam para cear. Franziu a testa. Será que Draco pedira à Sra. Latimer que o informasse sobre o que ela fazia?

Hermione virou-se e voltou para a sala de estar. Sentou-se, ligou a cafeteira e ficou observando o café ser coado. A noite havia se tornado amarga para ela. Olhou para o relógio. Passava um pouco das onze. O que Draco estaria fazendo? Onde estaria?

Pegou uma xícara e serviu-se de café. Por que estava se fazendo tais perguntas? Hermione não se importava com ele. Nunca tinha se importado. Ou seria mais correto dizer que, quando começou a conhecê-lo melhor, passou a se interessar um pouquinho mais a cada dia? Quando se casaram, era bem diferente. As longas ausências de Draco e seus súbitos regressos eram verdadeiras marcas em sua vida. Agora, um elo se havia rompido... E ela já não sabia mais o que sentia por Draco... Apesar de saber que para ele, ela era apenas mais um objeto de decoração da casa!

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