Um lugar para se esconder



- Harry?
Harry abrira os olhos, porém não conseguia enxergar nada além de um borrão a sua frente. Estendeu a mão para os lados e alcançou seus óculos, colocando-os.
Hermione estava a sua frente, parecendo apreensiva; Havia galhos e folhas em seus cabelos e vestes, e havia um corte realmente fundo em seu rosto. Os olhos estavam inchados e vermelhos, como se ela estivesse chorando por horas...
- Hermione... – murmurou o garoto - Hermione, você está bem?
- Sim, estou – ela respondeu, com a voz angustiada – Mas parece que você não está.
Harry olhou para ela, não conseguindo entender.
- O quê você quer dizer?
- Harry, você esteve gritando e... Gemendo a noite toda – disse ela, franzindo a testa.
Harry se levantou rapidamente, apoiando-se com os cotovelos no chão.
- O quê eu dizia, exatamente? – indagou, com suspeita na voz.
- Eu não entendi direito – respondeu ela, tirando uma mexa de seus cabelos do rosto – Parecia que você queria alguma coisa... Mais do que tudo. E você sussurrava o nome de Gina o tempo todo.
- O que mais eu falei? – exclamou Harry, com pânico na voz.
- Harry, eu não sei! – exclamou Hermione exasperada – Você é quem devia saber, não é? Quero dizer, você teve o sonho.
Ele olhou para ela, e logo para a figura de Rony a uns metros de distância. Ele pousou os olhos nele por um momento, e disse, ainda sem olhar para Hermione:
- Eu... Não me lembro.

***

Ele levantara cedo na manhã seguinte. Olhara para o céu, porém a leve brisa e os intervalos de luzes que escapavam das grandes folhas das árvores denunciavam que acabara de amanhecer.
Ele se levantou com cuidado, procurando não acordar os amigos. Hermione dormia quase ao seu lado, encostada ao tronco de uma árvore; Rony se encontrava a alguns metros de distância – obviamente não voltara a falar com ela.
Levantou-se e juntou umas pedras no centro da clareira onde estavam; fez um círculo, preenchendo-o com folhas e gravetos. Tirou a varinha das vestes, e ordenou:
- Incendio – murmurou. O fogo logo se alastrava, e o frio da manhã foi substituído por um clima mais agradável; a estranha névoa ainda pairava ali.
Sua cicatriz formigava incomodamente. Havia algumas horas, desde que sua cicatriz explodira em dor.
Desde que esteve cara a cara com Voldemort.
Desde que Luna...
Inesperadamente, um vulto negro passou voando na outra orla da floresta; com rapidez, ele ergueu a varinha instintivamente para lá, porém o vulto também era rápido demais.
- PROTEGO! – ordenou.
Rony acordara atordoado com seu grito.
- Mas que diabos...?!
- FIQUEM ATRÁS DE MIM! – exclamou Harry. Hermione acabara de acordar.
- O que está acontecendo, Harry? – sussurrou Rony?
Hermione já estava de pé ao seu lado, murmurando feitiços ao seu redor que Harry não conseguia identificar.
- O que você está fazendo? – indagou o garoto, ofegante.
- Você não acha realmente que somente esse feitiço que você conjurou vai nos manter a salvo, acha? – exclamou ela, ainda sem olhar para ele, movendo os braços – Estou conjurando mais feitiços de proteção, é claro. Os únicos que eu conheço, pelo––.
O vulto, então, materializou-se diante deles; era Fenrir Greyback.
- Ora, ora, ora. Veja só quem eu estou encontrando novamente? – cantarolou ele, com um sorriso malicioso nos lábios.
- Seu desgraçado... DESGRAÇADO, FILHO–– – gritou Harry, apontando a varinha para ele; um jato de luz vermelha saiu da ponta dela, porém ricocheteou no escudo invisível e acertou a árvore onde segundos antes estiveram Rony e Hermione.
- Que feio, olhe só que boca suja! Lílian e Tiago nunca te ensinaram a respeitar os mais velhos? A respeitar os seus... Superiores?
- Superiores? Não deve estar falando de você, eu acho – sibilou a voz de Hermione, atrás dele.
- E quem realmente liga para o que uma pirralhinha de sangue ruim acha? – arfou Greyback, que virara suavemente seu rosto peludo de Harry para Hermione - Fique quieta, garota. Antes que sobre mais para você e o seu namoradinho.
Ela ficou quieta, e olhou para os pés. Rony, ao seu lado, soltou um sussurro, que Harry interpretou como algo do tipo “que diabos acha que estava fazendo?”.
- Na verdade, vai ser fácil acabar com vocês. Todos, sem exceção – disse o lobisomem, andando um pouco mais para frente. – Vocês acham realmente que isso vai proteger vocês? Que isso vai deter um Comensal da Morte? – ele soltou um sorrisinho, mostrando seus afiados caninos amarelos.
- É isso que Voldemort anda dizendo pra você? Que você é como eles? – sussurrou Harry, com ironia. – Você não passa de mais um capanga, que faz o serviço sujo. Não passa de um bicho. Não passa de um monstro.
Greyback urrou de fúria e jogou-se sobre a barreira de proteção, que imediatamente o jogou para longe. Hermione agarrou-se ao braço de Harry.
Ele caiu a uns cinco metros de distância deles, mostrando as garras e os dentes; mostrando a sede por seu sangue.
- Nunca... Jamais...
- Deixe-os Greyback. Chamei reforços.
Uma voz vinha atrás de Harry, Rony, e Hermione, por meio das sombras das grandes árvores. Por entre elas, caminhava Lúcio Malfoy.
- O lorde das Trevas já está a caminho? – sibilou Greyback para Malfoy.
- Não. Disse para levarmos Potter e os outros para ele. – disse ele, olhando para os três com desdém – Chega de brincadeiras; Potter vivo.
- Você não ouse encostar um dedo neles, seu desgraçado filho-da-mãe – arfou Harry.
Lúcio soltou uma risada baixinha.
- Está falando sério mesmo, Potter? – riu – Porque só pode estar de brincadeira – sibilou ele, desaparecendo com o sorriso no rosto.
- Nunca falei mais sério em toda a minha vida – sussurrou ele, agora sentindo ódio e desprezo em cada palavra que dizia.
Um jato de luz vermelha irrompeu da varinha de Lúcio Malfoy, porém a barreira invisível pareceu absorver a maldição; Aparentemente, ele não havia visto o feitiço que os rodeava.
- Esperto... Muito esperto – sibilou Malfoy, uma gota de suor descendo por sua testa – Mas não o bastante, Potter. IMPERIO! – ordenou.
Harry sorriu.
- Isso não vai funcionar.
- Não? – Malfoy retribuiu o sorriso, porém logo o fez desaparecer e concentrou seu olhar em Hermione.
Harry ouviu atrás de si um gritinho abafado. Um estremecimento. Virou-se, e viu Hermione parada, olhando para ele. As pupilas de seus olhos estavam dilatadas.
- Como...?
Ela apontou a varinha para o alto e, inesperadamente, a barreira sumiu.
- Filho-da-mãe... – sussurrou Harry – CORRA!
Hermione caiu no chão ao seu lado, Harry e Rony já estavam a dois ou três metros de distância.
- Temos que voltar e buscá-la! – ofegou Rony.
Mais vultos voaram entre eles. Mais Comensais haviam chegado...
- ACCIO HERMIONE! – exclamou Harry; o corpo de Hermione voou para eles.
- NÃO! PEGUEM-NOS! – ordenou a voz de Lúcio Malfoy – MATE OS DOIS, SE PRECISAREM. MANTENHAM POTTER VIVO!
O corpo de Hermione chegou onde estavam, e juntos, os três mergulharam mais uma vez na escuridão sem fim.

***

- Esse negócio de fugir o tempo todo não está sendo nem um pouco legal – comentou Rony, se levantando.
Harry esfregou a mão na cicatriz; Ela formigava e ardia constantemente.
- Onde estamos? – sussurrou Rony, dando a mão para ajudar Hermione a se levantar - Harry?
- Para o primeiro lugar que consegui pensar. Venham.
Eles caminharam por uma estreita ruazinha, iluminada pelo pôr-do-sol. As casas eram exatamente iguais, com um quê de antiguidade.
- Largo Grimmauld? – disse Hermione, olhando para Harry – Harry, esse será o primeiro lugar em que irão nos procurar!
- E para onde mais poderíamos ir? – exclamou Harry, virando-se para o espaço entre os números 11 e 13.
- Qualquer lugar, menos aqui, Harry! – sussurrou Hermione, olhando para os lados para ver se não tinham sido seguidos ou sendo observados – Podíamos ter ido para a château dos meus avós em Toulouse, na França, ou para algum lugar realmente deserto no Caribe ou na Nova Zelândia... Qualquer lugar, Harry, que não fosse esse! Daqui a algumas horas, se não daqui a alguns minutos, vão nos achar aqui. E você sabe qual será o final disso.
- Quero mais é que nos achem – vociferou Harry – Gostaria que Snape nos achasse. Quero ver ele na minha frente.
Eles olharam novamente para as casas, porém estavam olhando agora para uma única, com o número 12 escrito na porta de mogno envelhecida.
- Além do que – continuou o garoto, sem olhar para Hermione – Preciso verificar algo primeiro.
Eles entraram na casa. Rony fechou a porta, logo atrás deles, e logo estavam envolvidos pela escuridão e pelas trevas.
- Lumus – disse Rony, apontando a varinha para o alto.
O longo corredor estava deserto, exatamente como da última vez em que estiveram lá.
- Acho que ainda não encontraram aqui – sussurrou Hermione, atrás deles.
- Logo vamos saber. – respondeu Harry – Venham.
Eles andaram um pouco, porém logo ouviram um barulho ensurdecedor. Hermione deu um passo para trás.
- Seus traidores, traidores do sangue, COMO OUSAM ENTRAR NA CASA DE MINHA FAMÍLIA NOVAMENTE? – urrou ela – Saiam daqui, pestes, achem o seu lugar...
Harry fechou a cortina de seu quadro, e sussurrou “Abaffiato”.
- Então o senhor Harry Potter e seus amigos traidores do sangue voltaram para a casa da minha antiga senhora? – sussurrou uma voz, vinda das sombras.

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