R.A.B.



- Monstro? – sussurrou Harry, virando-se para as escadas e apontando a varinha na direção de onde tinha vindo a voz do elfo.
A luz que saia da ponta da varinha iluminou o rosto velho e carrancudo do elfo; Uns poucos cabelos brancos saiam em tufos de seu couro cabeludo.
- Sim, senhor Potter? – sibilou o elfo, olhando para baixo quando falava com Harry – Há alguma razão em especial para que o senhor tenha vindo para a antiga casa da família Black? A casa da minha – ele ofegou, e continuou – antiga senhora?
- Monstro – sussurrou Harry, a voz ecoando pelo extenso corredor – Estamos nos escondendo aqui. Estamos com problemas. – Antes de o elfo abrir a boca, ele o interrompeu – E te proíbo de dizer ou mencionar qualquer coisa sobre isso a alguém.
Monstro olhou para Harry com pesar nos olhos. E, ainda olhando para baixo, sibilou:
- Sim, senhor Potter.
- Harry – sussurrou Hermione, chamando-o baixinho – Acho que você está sendo duro demais com o Monstro. Quero dizer, tenho certeza que ele nunca falaria algo para ninguém que poderia nos colocar em problemas...
- Já estamos em problemas – interrompeu Rony, olhando para os lados.
- Problemas maiores do que esse – continuou Hermione, como se não tivesse ouvido Rony – Certo, Monstro?
- Não preciso que me defenda, sangue ruim que imunda a casa...
- Como é que é? – exclamou Rony, partindo para cima do elfo. Este pulou dois degraus para cima, fazendo com que Rony caísse onde estava antes. Ele subiu no corrimão e pulou ao lado de Harry.
- Monstro, nunca mais se dirija à Hermione ou qualquer outra pessoa por maneiras ofensivas. Estamos claros? É uma ordem.
Ele emitiu uns grunhidos baixos, reclamando.
- Sim senhor. - Por fim, disse, a voz arrastada.
- Ótimo – disse Harry – Bom, vamos subir e ficar em um dos quartos. Se precisar de alguma coisa...
Hermione subiu e passou por cima de Rony, que estava se levantando. Harry a seguiu, passando pelo lado do amigo, que logo estava atrás deles. Eles subiram as escadas, e foram logo passando pelos quartos. Harry nunca reparara na quantidade deles... Aparentemente deveria haver um quarto para cada membro da família.
Eles entraram no último do terceiro andar. O ambiente estava fechado pelo que parecia muito tempo, pela quantidade de poeira no ar. Eles caminharam para dentro dele, Harry sentando-se na cama.
- Bom, realmente acho que devíamos limpar isso – disse Hermione, com a voz autoritária.
- O quarto inteiro? – reclamou Rony, deitando-se de costas na cama e olhando para o teto, com o rosto entre as mãos.
- Você está louco? – respondeu Hermione, olhando seriamente para ele – Não só esse quarto como a casa inteira.
- COMO É QUE É? – exclamaram Harry e Rony juntos.
- Quero dizer, vocês já viram o estado disso aqui? Está deplorável. Achei que não gostassem muito de imundice.
- Não gostamos – se defendeu Rony, pondo-se de pé – Mas também não temos que trabalhar feito elfos domésticos!
- Rony! – exclamou Hermione, pondo-se de pé também – Isso é um puro preconceito. Será que o F.A.L.E. não fez você pensar um pouco não?
- Pro inferno com o FALE – respondeu ele – Não escapamos da morte para morrermos trabalhando, Hermione.
A garota não respondeu. O rosto estava incrivelmente sério, e ela aproximou-se dele a cada palavra que dizia:
- Primeiro: não é FALE. É F.A.L.E.; Segundo: esse seu comportamento absurdo e preconceituoso tem que acabar, Ronald Weasley; E terceiro: nem que trabalhemos dia e noite, vamos por isso em ordem. Você não se tocou ainda? Estamos foragidos. Logo Você-Sabe-Quem terá dominado o Ministério da Magia, e seremos procurados em todos os cantos do país. Provavelmente, em todos os cantos do mundo. Sabe-se lá quanto tempo teremos que passar aqui!
Rony a encarou com os olhos culpados, e olhou para baixo.
- Bom, não pensei por esse lado...
- É óbvio que não pensou – disse ela, com a voz seca – E agora, trate de frescura e ponham-se para fora do quarto. Os dois.
Harry e Rony se entreolharam, e saíram do quarto silenciosamente. No meio do caminho para a escada, Rony sibilou:
- Essa garota é doente – sussurrou – Só pode ser doida!
Um travesseiro atingiu Rony em cheio na cabeça, e ele tropeçou.
- EU AINDA ESTOU ESCUTANDO! – ouviu-se a voz da garota do quarto.
Harry ajudou-o a se levantar, rindo. Rony espirrou, e jogou a almofada no chão.

***

Harry se atirou na cama, ao lado de Hermione. Tinham acabado de arrumar todo aquele andar, e ele estava incrivelmente exausto.
- Onde está o Rony? – perguntou ela?
- Em algum lugar na casa, provavelmente morto – reclamou Harry, olhando para o teto.
- Ele é tão fresco – sibilou ela, enxugando o suor da testa com um lenço – Isso é tão típico dele. E olha que ainda faltam mais dois andares para arrumarmos. Incluindo a cozinha.
- NOS SEUS SONHOS – a voz de Rony soou abafada, e vinha do outro quarto, ao lado de onde estavam.
Hermione revirou os olhos, e levantou-se da cama, indo até onde ele estava. Harry virou-se para o lado, de frente para um espelho; A aparência estava deplorável, e estava todo sujo. Não era tão a favor de banhos, mas realmente precisava de um. Foi quando notou que, embaixo da cama, havia uma fotografia.
De um salto, ele se pos de baixo da cama, e a apanhou. Estava velha, porém alguns rostos eram conhecidos; Ali estavam Sirius, seu pai – Tiago, e um outro rapaz, que Harry não conhecia. Ele virou a foto, para ver se havia algo escrito ali.


Londres, 1970
Sirius Black, Tiago Potter e Régulo Arturo Black.

- Meu Deus... – sussurrou Harry, para si mesmo – Hermione! HERMIONE!
Ela entrou apressada no quarto, o cabelo caindo pelos olhos.
- Harry! – exclamou – Harry, o que aconteceu?
- Olhe só isso. Acho que encontrei R.A.B.
- O que...? – disse ela, confusa.
Harry eu a ela a fotografia. Ela a olhou por um momento, e a virou – assim como ele tinha feito. E sua boca começou a abrir de espanto.
- É ele... Tem que ser ele! – disse ela, atônita – Mas, como...?
- Acho que tenho a resposta – respondeu Harry, levantando-se. Ele caminhou para o centro do quarto, e sussurrou – Monstro... Venha até aqui.
O elfo aparatou bem a sua frente. Com os olhos baixos, ele murmurou:
- O senhor me chamou, senhor?
- Sim, chamei. Quero que nos conte algo. Por favor – acrescentou, ao olhar furtivo de Hermione.
Ele não respondeu por um momento. Depois do que pareceu ter sido um minuto, ele suspirou e disse:
- Sim?
- Quero que me explique o que Régulo Arturo Black tem a ver com Lord Voldemort. Como ele tem a ver com isso – disse ele, tirando o medalhão falso de dentro da camisa e abrindo-o para ele.
Monstro olhou as iniciais R.A.B. no bilhete, e olhou rápido para Harry, tirando o medalhão da mão dele.
- Aonde o senhor encontrou isso? Não devia mexer no que é do meu senhor Régulo, não devia, não devia...
- Isso não era do seu senhor Régulo – disse Harry, pegando-o de volta – Isso é falso. Mas o bilhete é verdadeiro.
Monstro olhou de Harry, para Hermione. E dela, para o medalhão da mão de Harry.
- Aí diz que ele roubou o medalhão verdadeiro, e que pretendia destruí-lo – comentou Harry para o elfo, com calma – O que espero que ele tenha feito. E que ele faria isso com a esperança que alguém, algum dia, destruísse Voldemort.
O elfo oscilou ao ouvir o nome.
- Quero que me explique, se sabe de alguma coisa. E ordeno que não minta, em hipótese alguma.
Monstro fechou os olhos e segurou o que parecia um ataque de raiva. Depois, virou-se para Harry e sussurrou:
- O meu senhor Régulo era servo devoto de Você-Sabe-Quem. Ele era um Comensal da Morte, mas... Começou a perceber que aquela não era uma vida digna para ele. Que não era aquilo que ele queria.
Ele parou de falar por um instante. Hermione olhou para Harry, preocupada.
- Continue, Monstro – incentivou Harry.
- Ele... Ele já queria se separar de Você-Sabe-Quem há algum tempo, mas uma vez Comensal da Morte, sempre Comensal da Morte – era o que ele dizia.
- Mas algo estranho havia acontecido: Você-Sabe-Quem havia deixado para ele uma tarefa. Ele tinha que deixar esse medalhão que o senhor, meu senhor, está segurando – sussurrou o elfo, olhando para o objeto na mão de Harry – E... Ele precisava de um elfo doméstico para isso. São os mais dispensáveis.
Hermione colocou as mãos na boca, surpresa com a forma que ele dizia aquelas palavras.
- E o que aconteceu?
Monstro olhou para ela, um pouco surpreso. E continuou:
- E meu senhor Régulo tinha um plano: ia me oferecer como servo para esse serviço. Mas iríamos trocar de lugar, caso algo de errado acontecesse comigo.
- Você-Sabe-Quem, então, nos levou para essa tal caverna, onde o medalhão seria escondido.
Harry ia imaginando as cenas, como se a visse, em um flashback.
“Pegamos um barco, pequeno para nós dois”.
Harry e Dumbledore, pegando a embarcação em direção à pequena ilha, no meio do imenso lago negro.
“Atravessamos o grande lago, e descemos em uma pequena ilha, onde havia uma grande bacia de pedra com uma poção que Monstro não conhecia”.
Harry, ao lado de Dumbledore, olhando para a bacia de pedra com a poção e o medalhão dentro.
“Você-Sabe-Quem, então, obrigou Monstro a beber a poção. Foi a pior coisa que Monstro já sentiu na vida...”.
Dumbledore, transtornado, gritando e implorando por água.
“Não consegui agüentar tanta sede, corri para o lago por água... Porém ela parecia não me saciar”.
Dumbledore bebendo mais e mais água; Uma mão cadavérica, saindo das águas profundas e negras da caverna...
“Foi então que eles apareceram e tentaram... Matar Monstro e meu senhor”.
Corpos agarrando os braços e pernas de Harry. Um grande círculo de fogo circundando Dumbledore e ele...
- E quando a Voldemort? – sussurrou Hermione, perplexa.
- Enquanto isso, não vimos o que fazia. Mas não nos ajudou a nos livrar dos mortos – murmurou ele.
- Eles agarraram o meu senhor – continuou Monstro – e o levaram para o fundo do grande lago. Implorei por ajuda, mas Você-Sabe-Quem somente riu e foi embora com a barca, me deixando sozinho ali, com eles.
- E como você foi embora? – indagou Harry, confuso – Não há mais meios de ir embora de lá, sem que atravesse o lago...
- Ele aparatou, Harry – respondeu Hermione, como se essa fosse a coisa mais óbvia do mundo.
- Mas... Eu não entendi uma coisa – sussurrou Harry – Monstro, ele não disse que se algo desse errado, ele trocaria de lugar com você?
O elfo ia dizendo algo, porém isso o atingiu como uma bofetada. Ele ficou calado, os olhos arregalados.
Hermione congelou ao seu lado. Sua respiração começou a ficar mais acelerada.
- Meu... Deus – comentou ela, estupefata.
Harry se levantou e se dirigiu para Monstro.
- Régulo Black? – sussurrou ele, baixinho.

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