Fuga



Harry estava sentado na sala da professora McGonagall, junto de Rony. Hermione havia saído para procurar ajuda, e desde então, não havia voltado.
O corpo de Luna jazia ao chão, de frente para uma grande vidraça, voltado para o luar. Como aquilo podia ter acontecido? Como?
As portas se abriram, e Hermione entrara:
- Ninguém – disse – Não encontrei ninguém! Nenhum professor, nada.
- Como não? – replicou Rony – Quer dizer que estamos sozinhos, ou...?
- Não sei... Realmente espero que não – murmurou, olhando pela janela da sala da diretora – Mas acabei de mandar uma cara para Xenofílio Lovegood.
- Quem? – exclamou Rony, olhando para Hermione.
- Xenofílio Lovegood. Pai de... Luna – disse a garota, com os lábios tremendo – Está vindo para cá, suponho.
Um silêncio se seguiu ao que pequenos pingos de chuva começaram a bater na janela. Harry não conseguia dizer nada. Não podia. Não conseguiria agüentar dizer sequer uma palavra, o que quer que fosse. Uma lágrima começara a escorrer por seu rosto. Luna...
- Ah, Harry...
Hermione sentara-se ao lado dele. Colocara as mãos nas dele. Harry começara a soluçar.
- V-Você não entende, Hermione? Eu a matei, eu... Foi minha culpa, eu nunca...
- Harry, por favor! Harry, não foi sua culpa! Eu já te disse, eu...
- Se eu não a tivesse metido nisso... Se eu não a tivesse...
- Ah, Harry... – soluçou Hermione.
Ela soltou as mãos do garoto, e o abraçou. E os dois começaram a chorar ali, quietos.
De repente, um barulho. Os dois se soltaram. Hermione soltou um gemido.
- O-O que foi isso?
- Não sei – respondeu Rony, se levantando num salto.
O barulho vinha do lado de fora da sala. Rony e Harry saíram do aposento, e olharam pelo imenso corredor escuro, iluminado apenas por luzes bruxuleantes vindas de archotes. Ouviu-se a voz de Hermione, de dentro da sala:
- O que está acontecendo?!
- E-Eu não sei! – exclamou Rony.
- Lumus – sussurrou Harry. A ponta da varinha se iluminara.
- Harry, o que --
- Fiquem aqui – pediu o garoto.
- Você ficou louco?! Nós vamos com você, eu --
Um jato de luz vermelha iluminou o corredor. Harry empurrara Rony, e ordenara:
- ESTUPEFAÇA!
Um jato de luz vermelha saiu de sua varinha, e chocou-se com o feitiço, ocasionando uma explosão de faíscas douradas, destruindo a estátua de Bilbo, o cinzento.
- Hermione, venha!
A garota saíra da sala, correndo. Olhara de Rony para Harry, e do garoto para um jato de luz.
- ARREEEE!
- Hermione! – gritara Rony, correndo para ela.
- VAMOS, SAÍAM DAQUI! – gritara Harry.
Harry e os outros cambalearam pelo imenso corredor, virando em uma bifurcação. Jatos de luz o seguiam, sem os acertar.
- Você está bem?! – exclamou Rony.
- A- Acho que sim, eu... CUIDADO!
Um jato de luz verde viera da direção oposta, atingindo uma grande estátua ao seu lado.
- Venham, aqui! – exclamou Harry.
Os dois entraram na sala onde o garoto estivera segurando a porta.
- Colloportus! – disse, apontando a varinha para a fechadura.
Estavam no silêncio absoluto. Podia se ouvir apenas a respiração ofegante dos três. Hermione sussurrou:
- Lumos Maxima.
O ambiente fora totalmente iluminado pela varinha da garota. Estava com o peito sangrando.
- De novo, não! – agoniara Rony, com um gemido.
- Invadiram o castelo – exclamara Hermione, desesperada – Invadiram, eu --
- Hermione, você escreveu alguma coisa a mais na cara para o senhor Lovegood? Algo do que aconteceu?
Os dois olharam para Hermione, que colocara o rosto entre as mãos.
- Ah, o que vamos fazer agora?! – exclamara Rony.
- E-Eu não sei! – ofegara Hermione – Quero dizer, algo de muito estranho está acontecendo aqui!
- É mesmo? – dissera Rony, com sarcasmo.
- Escuta aqui, eu...!
- Dá para vocês dois pararem de discutir?! – gritara Harry.
Os dois pararam, e encararam o garoto.
- Escutem – continuou Harry – Precisamos estar juntos nessa, não podemos nos desentender!
- Você... Está certo – murmurara Hermione.
- Olhem, haviam mais de duas pessoas. Quer dizer que a escola realmente foi atacada, ou...
- Vocês querem dizer que... Quem tentou nos atacar eram...? – ofegou Hermione.
- Comensais da Morte, sim.
- Ah, que maravilha! E o que vamos fazer agora? – exclamara Rony, com as mãos nos cabelos.
- Não podemos ficar aqui. Vamos voltar para a sala da McGonagall, e pegamos a Luna, e... Vemos o que fazemos.
- OK, então... Alohomora.
A porta se abrira, e eles correram para fora dela.
- Me sigam! – gritou Harry.
Eles correram pelo corredor. Novos jatos o seguiram. Ouviram uma voz:
- Peguem o Potter! Matem os outros se precisarem!
- VENHAM! – exclamara Harry, virando para o corredor seguinte.
- HARRY!
Harry ouvira um barulho. Virou-se, e viu Hermione desabando no chão.
- HERMIONE! – exclamaram Harry e Rony, juntos.
- Protego! – gritara Harry, se protegendo de um jato de luz vermelho – Rony, pegue a Hermione! VAMOS!
- Accio Hermione! – o corpo de Hermione fora arremessado para os dois. Harry a segurou por um lado, e Rony pelo outro, e os dois desabaram para o final do corredor, em direção à sala da professora McGonagall.
- Colloportus.
Rony e Hermione caíram no chão. Harry, ofegante, deixara-se cair ao lado deles. Mas...
- Ora, ora, ora, se não é o pequeno Potter...
Harry se levantara de um salto, sacando a varinha, mas era tarde demais... Cinco varinhas estavam apontadas para eles.
- O que foi? O gato comeu sua língua? – caçoou Lúcio Malfoy.
Os Comensais presentes na sala começaram a rir.
- Como nos encontraram? – perguntou Harry, com desprezo.
- Digamos que... Um passarinho nos contou – disse Malfoy, rindo, olhando para os amigos. Uma bruxa que Harry não conhecia soltara uma gargalhada.
- O que vocês querem? – perguntou Harry, novamente. Precisava ganhar tempo...
Malfoy andara até Harry, encarando-o. Estava a menos de cinco centímetros do rosto dele...
- Você, é claro.
Harry se aproximou mais do homem, e disse:
- E por que o seu chefe não veio me pegar, por ele mesmo? Estava com muito medinho, é? Precisa mandar os cães fazerem o serviço?
E cuspiu na cara de Malfoy.
- Como ousa, seu... – balbuciara Lúcio, virando a mão na cara do garoto.
Harry recuara, e caíra no chão. Rony se afastara.
- Ah, está com os amiguinhos! Acho que vamos ter que mata-los, também... – disse, empurrando o corpo de Luna, com o pé.
- NÃO ENCOSTE NELA! – gritara Harry, se levantando – Você não vai encostar um dedo em nós!
- Veremos – disse Malfoy, chutando o corpo inerte de Luna e levantando a manga das veste, e encostando a varinha na Marca Negra.
- NÃO! – berrara Harry. Sua cicatriz começara a arder como se estivesse em brasas.
Rony sacara a varinha, e apontara para os Comensais.
- REDUCTO! – exclamou.
A sala explodira. As janelas se estilhaçaram, e os Comensais da Morte caíram no chão. Rony pulara por um deles, pegando sua varinha.
- Vamos, Harry! – gritara Rony, pegando Hermione.
- OS GAROTOS ESTÃO FUGINDO! – berrou Lúcio Malfoy – PEGUEM-NOS!
Harry correu até onde estava o corpo de Luna, e a pegara. Rony se encostara à Harry, e eles giraram para a escuridão sem fim.

***

- Onde estamos? – ouviu-se a voz de Rony.
Harry abrira os olhos. Estavam no meio de uma clareira, em uma floresta. A luz da lua embrenhava por entre as árvores, em intervalos, iluminando-os.
- Acho... Acho que estamos na floresta onde foi sediada a Copa Mundial de Quadribol – disse Harry, colocando os óculos que haviam caído no chão – Foi o primeiro lugar que me veio à cabeça.
Sua cicatriz ardia como nunca. Voldemort devia ter chegado... Esteve tão perto...
- O que acha que aconteceu com ela? – indagou Rony, ao lado de Hermione.
- Acho... Que ela deve ter sido estuporada, ou algo assim...
Harry tentara se levantar, porém algo na perna o impedia. Com uma careta de dor, ele viu que estava ensangüentada. Ele se apoiou em uma arvore e, cambaleante, se levantou.
- E agora, o que vamos fazer?! – exclamou Rony, com um tom desesperado na voz.
- Não sei... – sussurrou Harry - Mas não podemos ficar parados aqui.
- Mas... Para onde iríamos?! Quero dizer... Iriam nos procurar onde quer que nós estivéssemos!
- Vamos dormir aqui esta noite – disse Harry, tirando a Capa de Invisibilidade do bolso das vestes – Amanhã de manhã nós decidimos o que fazemos.
- O que você vai fazer? – observou Rony.
- Vamos cobri-las. Se nos acharem, estarão a salvo.
Harry se aproximou de Hermione e Luna. Seus olhos se detiveram nos olhos azuis de Luna por um instante. Com os olhos fechados e lacrimejantes, ele despejou a capa, cobrindo-as. Abaixou-se com cuidado, e se encostou junto ao toco de um enorme carvalho. Rony deitou-se logo ao seu lado, em um monte de folhas secas, há alguns metros.
- Harry? – chamou a voz dele, abafada.
- Sim? – respondeu.
- O que vai acontecer agora?
Harry olhou para o luar que os iluminava. A estranha névoa começava a rodeá-los, novamente.
- Eu... Eu não sei.

***

Harry caminhava por um corredor escuro. Suor e sangue lhe desciam pelo rosto, as pernas estavam cansadas e pesadas. Mas tinha que continuar, tinha que seguir em frente... Uma porta preta e simples se encontrava no final desse longo corredor. Estava quase alcançando...
Sem o menor toque, ela se abrira, revelando uma série de portas, iluminadas por archotes. Encaminhou-se diretamente para uma, logo à sua frente; Uma luz azulada tremeluzia nela.
Como não podia lembrar?
Estava com pressa, tinha que conseguir algo, o que quer que fosse... A porta não abria.
Um barulho, e Harry virou-se para trás.
Acordara totalmente encharcado. Estava deitado no chão repleto de folhas secas da floresta. Rony roncava alto ao seu lado, e Hermione ainda estava onde a tinha deixado. Levantara-se, com esforço. A cicatriz ardia em sua testa.
Encaminhou-se até onde estava Luna, e a carregara, deixando Hermione sozinha por baixo da Capa de Invisibilidade.
Ela não era pesada; A carregara até uma clareira próxima, e deixara seu corpo deitado ao seu lado. Com a varinha, conjurara uma pá, e, então, começara a cavar o chão da floresta. Precisava fazer aquilo, fazer sem a ajuda da varinha; Aquele seria seu sacrifício por ela.
Pois apesar de tudo, a culpa de tê-la levado a morte estaria para sempre em seus ombros.

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