O Diadema de Ravenclaw



- Harry, nós já perdemos muito tempo.
Harry não estava ouvindo, estava absorto em seus pensamentos, pois completara um mês desde a invasão dos Dementadores em Hogwarts e, conseqüentemente, do desaparecimento de Gina.
- Ahm? – Harry respondeu, vagamente, virando-se para Hermione.
- Harry - chamou Hermione - Você não acha que já está na hora de você se concentrar nas Horcruxes?
- Sei que devemos procurá-las, Hermione - disse o garoto - Sei que devo procurá-las, mas... Nem ao menos sabemos onde estão, e...
- Ninguém sabe, Harry, e é por isso que estão tão bem escondidas, essa é a função delas, não é?
- Bem... É, mas...
- Calma, Hermione! - disse Rony, deixando a pena de lado e olhando para a garota - Nós vamos procurá-las, mas não precisa ser necessariamente agora, precisa? Quero dizer... Nem ao menos sabemos o que fazer!
- Já perdemos muito tempo. Temos que começar a pesquisar, pois quando mais cedo começarmos, mais cedo tudo isso vai acabar.
A garota se levantou da poltrona confortável em frente à lareira na Sala Comunal. Fazia uma noite fria e Harry, Rony e Hermione estavam sentados na sala comunal, onde julgaram ser o melhor lugar para terminarem a tarefa que o professor Slughorn passara como dever de casa.
- Acho que você e Rony realmente deviam terminar o trabalho que Slughorn passou - disse a garota, voltando-se para Harry e Rony - A Felix Felicis... Pode ser útil.
Ela reuniu seu material, e rumou para o Buraco do Retrato.
- Aonde você vai? - perguntou Rony, se desconcentrando do que estava fazendo.
- Eu vou à bibl...
- Sei, sei, vai à biblioteca! - disse Rony, com voz entediada – Pergunta besta a minha, não? Você não se cansa de passar o dia todo lá não?
Hermione ignorou o trocadilho de Rony e, voltando-se para Harry, disse:
- Vocês precisam preparar essa poção atentamente. Sei que pode parecer só um dever de casa - acrescentou, ao observar a expressão de tédio dos garotos - mas quem sabe ela não nos dá sorte, outra vez?
E, dizendo isso, rumou direto ao Buraco do Retrato, e saiu, deixando os dois amigos sozinhos.
- Nunca vi uma poção tão complicada... - disse Rony, que estava sentado ao lado de Harry, picando uma quantidade de ervas - Aquele livro nos ajudou pra caramba ano passado, não é não? Quero dizer... O Príncipe Mest...
- Não-fale-o-nome-desse-homem - exclamou Harry, cortando o dedo com a faca que cortava as ervas para a poção - Targeo!
Uma parte do sangue foi aspirada pela varinha. Harry pegou uma folha de pergaminho e amarrou a mão, que agora latejava, como sua cicatriz, que ardia como nunca...
- Tá bom, ele - disse Rony, horrorizado com a expressão de Harry por ter mencionado o dono do velho livro de poções - nos ajudou muito, por pior que seja... O que você fez com o livro, Harry?
Harry não tinha parado para pensar nisso. Tinha deixado o livro na Sala Precisa, quando Snape queria revistar seu material. Não o pegara de volta...
- Eu deixei na Sala Precisa - disse lentamente - Lembra quando pedi seu livro de poções, pro Snape, ano passado?
- Sei... O que tem?
- Antes de mostrar a ele, deixei o meu na sala... Não o peguei de volta...
- Não acha que devíamos tê-lo de volta? Quero dizer... Vai ser útil, e tudo o mais...
- Não mesmo - disse Harry, despejando as ervas no fundo do caldeirão.
- Ah, qual é? Então me diga, Harry: porquê você ganhou a Felix Felicis ano passado? Onde foi que você aprendeu a usar alguns feitiços que até hoje são úteis pra nós?
- Sei, mas... Na época eu... Quero dizer, nós não sabíamos de quem era o livro! E muito menos que o dono dele seria o assassino de Dumbledore...
- Mas foi útil, não foi? - disse o garoto.
- Rony, vê se entende: eu não quero nada que venha nem do Snape, nem do Malfoy ou de qualquer outro Comensal, esteja ele vivo ou não.
- Mas foi a Felix Felicis que você ganhou por ter preparado corretamente uma poção daquele livro, que nos salvou ano passado e... - a voz de Rony tremeu um pouco ao dizer aquelas palavras - ajudou a salvar a Gina, também!
Harry não chegara a dizer o que ia falar a Rony. O quadro da Mulher Gorda girou, admitindo uma cansada Hermione, que trazia consigo um enorme livro preto nas mãos.
- Voltei - disse a garota, largando o livro negro no chão e sentando-se na poltrona, ao lado dos de Harry e Rony - E com isto.
- O que é isso? - perguntou Harry, curioso, olhando para o livro negro ao seu lado.
Era feito de couro, e as páginas, roxas. Harry folheara o livro, mas...
- "Horcruxes"? - exclamou, lendo a capa do livro - Onde você achou isso, Hermione?
- Bem... Eu fui à biblioteca procurar algo sobre as Horcruxes, mas não havia nada, absolutamente nada... – disse, com um tom desapontado na voz. Sempre achava tudo que queria na biblioteca – Apenas algumas menções, como “... Horcruxes, a pior magia das trevas que já existiu"... Então pensei...
- Pensou...? - disse Harry, após a garota ficar um tempo sem dizer nada.
- Pensei... Que Dumbledore, talvez, pudesse ter tido algo a respeito, sabe...
- Você roubou o livro?! - exclamou Rony, surpreso, sentando-se e olhando para ela, com uma expressão de riso.
- Não! Claro que não! - exclamou a garota, parecendo ofendida com o que Rony dissera - Eu apenas peguei emprestado, foi só...
- Ah, sim, posso imaginar... "Professor Dumby, será que o senhor não podia descer do além e me emprestar esse livro? Vai ser divertido!".
Harry riu, porém Hermione se levantou.
- Nem brinque com uma coisa dessas, Ronald! - exclamou ela, sombria - "Divertido"... Isso não é nem um pouco divertido, não mesmo... Se você lesse... Há coisas horríveis nesse livro, coisas que você nem pode imaginar.
- Que... Que tipo de coisa? - perguntou Harry, voltando-se para ela.
- Todo o tipo de coisa. O que são Horcruxes, como se faz uma, como se destrói, como faz a alma voltar para si... Realmente, se você lesse as coisas que estão aqui... Não entendo como Voldemort - ah, pelo amor de Deus, Rony! - pôde ter conseguido ter feito sete! Fazer uma já é horrível...
- Estamos falando de Voldemort, Hermione - disse Harry, fechando a mão na falsa Horcrux, que estava em seu bolso.
- Mudando de assunto - disse Rony, ao ver a expressão dos amigos - Estava falando para o Harry ir pegar o livro do Príncipe...
- Já disse, Rony, nem pensar!
Rony explicou a idéia para Hermione, quem tinha certeza que iria reprovar. Porém a resposta da garota foi positiva.
- Mas até que sua idéia faz sentido, Ronald - disse a garota, pensativamente - Harry, também acho que temos que ter o livro. Quando formos atrás das Horcruxes, acho que vai ser fundamental sabermos Poções e todo o resto. Por mais horrível que possa soar, o Príncipe Mestiço pode nos ajudar nessa.
Harry olhou para Rony, com um sorriso de aprovação para Hermione. Harry olhou novamente para a garota, mas não havia escapatória... Realmente, iriam precisar da ajuda do Príncipe. Da ajuda de Snape...
- Mas... Não lembro onde pus, o lugar era enorme...
- Vamos procurar – exclamou Rony, se levantando e reunindo seus materiais – Podemos usar o feitiço convocatório, ou algo assim...
Ele olhou de Rony para Hermione.
- Ok – disse – Vamos logo.
Levantou-se do chão, coberto por carpete vermelho, e subiu para o dormitório dos meninos, descendo logo depois com a Capa de Invisibilidade nas mãos.
Os garotos deixaram a Sala Comunal, quente e confortável, para um corredor frio e escuro. Pelo caminho, podiam ver a neve caindo suave lá fora...
- Ai, Rony! Meu pé! – exclamou a voz de Hermione, por baixo da Capa.
- Desculpe...
- Psiu, vocês dois! – murmurou Harry, virando o corredor e parando em frente a uma parede lisa e sólida.
“Muito bem... Quero um lugar onde pus o livro do Príncipe” pensou.
Passou três vezes pelo lugar, mas nada.
- Funcionou? – perguntou Rony.
- Claro que não, está vendo alguma coisa? – exclamou Hermione, baixinho.
- Não entendo por que não funcionou... – murmurou Harry, mais para si mesmo do que para os amigos.
“Por favor... Quero... Quero um lugar para esconder algo” pensou, tentando lembrar o que disse quando deixou o livro lá.
Três vezes eles passaram por lá. Nada acontecera.
- Mas...
De repente, a lisa parede deu origem a uma pequena porta.
- Isso! – exclamou Harry, sorrindo.
- Harry...?
Harry se virou, abruptamente, pisando na barra da capa e caindo, junto com Rony e Hermione. Luna Lovegood estava parada diante deles, ainda usando suas vestes. Estava com uma aparecia cansada, porém ainda sonhadora.
- Ah, vocês dois também! – exclamou, apontando para Rony e Hermione, que tentavam se levantar.
- Luna...? O que... O que você está fazendo aqui? – exclamou Harry, assustado.
- Ahm, é por que é o primeiro dia de lua cheia do mês – disse, olhando pelas vidraças a grande lua cheia, encoberta por nuvens e neve.
- Ah, sim... – disse Harry, olhando para Hermione. A garota levantou os ombros, como um sinal de que não sabia de nada.
- Sabe? É a noite dos Nargulés! Se não estou certa... Mas, o que vocês estão fazendo aqui?
- Nós... Ahm... – o que iria dizer a ela?
- Não é uma reunião da AD, é? – perguntou, com a voz sonhadora – Infelizmente não pude ver nas moedas. Acabei perdendo a minha na viajem com papai ano passado...
- Não, não é nada da AD – disse Hermione, olhando confusa da garota para Harry e Rony – Ahm, viemos pegar algo que esquecemos, foi só.
Naquele momento, eles ouviram um ruído. Olharam para o fim do corredor, e viram a sombra de Filch e madame Nor-r-ra, surgindo pela luz dos archotes nas paredes.
- Venham!
Harry pegou a mão de Luna, e se vestiram rápido com a Capa da Invisibilidade. Entraram na porta, que foi se fechando aos poucos, abafando a voz de Filch, que conversava com a gata.
- É, minha querida? Também acho que esses nojentinhos deviam apodrecer nas masmorras, isso sim...
A imagem do corredor se deu para a visão de uma outra sala, do tamanho aproximado de uma imensa catedral. As altas janelas iluminavam corredores e corredores do que parecia uma verdadeira cidade de elevadas muralhas construídas pelos objetos de gerações e gerações de habitantes de Hogwarts.
- Isso é assustador – sussurrou Rony, por baixo da capa – Realmente assustador...
Harry tirara a capa, e a pusera no canto. Não podiam ouvir mais nada, a não ser sua própria respiração. A luz do luar pairava sobre eles, porém o lugar ainda estava escuro o bastante para não enxergarem dois palmos à frente do nariz. Harry sacou sua varinha, e murmurou:
- Lumus.
Rony, Hermione, e Luna o imitaram. Agora podiam ver um longo corredor, que dava acesso a vários outros corredores. Aonde pusera o livro?
- Vamos.
Harry e os outros avançaram por uma das travessas entre tantos tesouros escondidos... Virou a esquina, e deu de cara com um trasgo empalhado.
- Está por aqui, me lembro disso... – disse, tentando se recuperar do susto.
Rony mirava tudo com assombro. Hermione caminhava lentamente ao seu lado, olhando séria para os objetos ao seu redor.
Viraram para uma outra esquina, e lá estava ele. O armário sumidouro. Estava no fim do corredor, uns dez metros adiante...
- Ali... – disse, e correu para o armário. Abriu a porta, e lá estava ele: o livro, atrás de uma gaiola de metal, onde havia o esqueleto de algum animal.
- Achei!
- Vamos... Vamos embora, Harry – disse Hermione, olhando ao redor, e depois, para o livro – Pegue o livro, e vamos dar o fora daqui...
- Nossa, olhem só para isso – disse Rony, pegando o busto do homem que Harry colocara em cima do armário – Sinistro...
A tiara caíra de cima do busto, o som ecoando pela sala.
- Nossa! Mas... Essa é a tiara de Rowena Ravenclaw! – exclamou Luna, inesperadamente.
- Tiara? – sussurrou Harry, com o livro nas mãos.
- Bem, um diadema. Segundo a lenda, nos dá toda a sabedoria do mundo... Mas possuí outros poderes, também... Alguns horríveis, segundo papai...
- O diadema de Ravenclaw? Isso é ridículo! O diadema, segundo a lenda, está perdido, ninguém nunca soube dele, seria impossível ele estar aqui...
- O nome dela está escrito aqui, Hermione – murmurou Rony, pegando o diadema da mão de Luna, e mostrando as iniciais RR gravados na pequena tiara.
Hermione se calara, e, quase imperceptivelmente pela luz do luar, Harry percebera ela corar.
- Estou sendo realista, Ronald. Além do mais, não passa de uma lenda. Como um objeto pode dar toda a sabedoria para uma pessoa?
- Olhem, não estou nem um pouco preocupado com isso – disse Harry, tomando dianteira – Melhor irmos.
Rony olhou para Hermione, e a garota olhara para Luna. Rony correu para acompanhar Harry. Hermione e Luna o imitaram.
Viraram um corredor, e outro, e outro... Não tinha a menor idéia de onde estava a saída.
- Estou com um pressentimento ruim – disse Hermione, olhando para trás.
- Paranóia... – exclamou Rony – Luna, mas o que é esse dia...
Ele parou, abruptamente.
- Onde ela está?!
- Quem? – exclamou Harry.
- A Luna!
Harry se virou. O corredor onde estavam estava deserto. Apontou a varinha mais para frente, a fim de ver se podia identificar algum vulto ou sombra.
- Luna! Luna! – exclamava Hermione, desesperadamente.
Harry correu para o fim do corredor, parando numa encruzilhada. Apontou a varinha para os corredores, mas nada... Não podia perdê-la como perdera Gina... Simplesmente não podia...
- Ela está aqui! Luna, onde você...
Um jato de luz vermelha veio da direção de Luna, não acertando Rony por pouco.
- O QUE...?!
Outro jato.
- Protego! – gritou Hermione.
O feitiço ricocheteou na parede invisível, acertando Luna. A garota caíra imóvel, no chão. Eles correram para ela, o pânico invadindo o lugar.
Estava desacordada. Harry se aproximou mais dela, tirando o cabelo de seu rosto. Tinha algo estranho...
De repente, seus olhos se abriram. Porém estavam esbranquiçados, sem pupila. Aquela não era Luna...
- ARRE! Harry, cuidado!
Um feitiço estuporante acertara Harry bem no estômago. Ele foi arremessado para trás, derrubando uma estante de livros.
Ela se levantou, e murmurou:
- Accio.
Uma adaga voou até sua mão. Ela se aproximava, lentamente, de Rony e Hermione, imobilizados pelo pânico e pelo terror.
Harry se levantara, e sacara a varinha do bolso.
- Estupefaça!
Ela correu para o outro corredor, e o feitiço estuporante acertara uma estante de pequenos objetos de vidro.
- Vamos logo!
Harry, Rony e Hermione correram na direção oposta. Ouviram um ruído, e maldições da morte começaram a ser disparadas em sua direção. Harry abaixou, o feitiço não o acertara por pouco: sentira seus cabelos esvoaçarem.
- Estupefaça! – exclamava Hermione, correndo, ora se abaixando ou se desviando de feitiços e maldições.
Correram em direção ao fim do corredor, e viraram uma esquina. Localizaram um armário de vassouras e, com um pouco de dificuldade, entraram dentro dele.
- Colloportus! – exclamou Harry, após Hermione entrar pela porta do armário. Ficaram sob a escuridão total.
- Lumus – sussurrou a voz assustada de Rony.
A luz se acendera pela ponta da varinha de Rony. Estava com um corte muito fundo no rosto, o sangue manchando suas vestes; Hermione estava com o lábio sangrando; e ele, Harry, sem nem ao menos perceber, estava com um corte ao lado dos olhos. Ele pegou a manga das vestes e limpou o sangue do rosto. Olhou intrigado e, ao mesmo tempo, assustado para ela.
- Mas... O que...?
- Ela está sob o efeito de alguma maldição, como a Imperius. Não fez nada por mal...
- Ela tentou nos matar! – exclamou Rony.
- Não foi exatamente ela. Tenho um palpite...
- E qual seria, exatamente? – disse Rony, pondo o dedo no corte em seu rosto.
- Acho... Acho que é o diadema.
- O diadema?! – exclamaram Harry e Rony, juntos.
A garota confirmou com a cabeça.
- Por mais impossível, e, realmente... Bem, acho que... Aquele realmente é o diadema perdido de Rowena Ravenclaw.
Harry e Rony se entreolharam, mas não responderam nada à Hermione.
- Acho que ela o colocou, ou algo do tipo...
- Mas, pelo o que eu saiba – o que ela me disse, pelo menos -, o diadema só nos dá a sabedoria. Não um desejo psicopata, ou... – exclamou Rony, com a voz assustada.
- Não, vocês estão entendendo tudo errado! Não estão percebendo?
- Percebendo o que? – indagou Harry.
- Acho... Acho que o diadema é uma Horcrux.
O mundo pareceu parar ao redor de Harry. Como não tinha percebido antes? Era uma relíquia de um dos fundadores, possuía poderes mágicos...
- Uma Horcrux? Qual é, Hermione... – começou Rony.
- Harry, qual era a opinião de Dumbledore sobre as Horcruxes?– continuou Hermione, interrompendo Rony – Quero dizer, o que ele achava?
- Ele me disse que, fora o diário e o anel, ele suspeitava da cobra, da taça de Helga Hunfflepuff e de alguma coisa de Godric Gryffindor ou de Rowena Ravenclaw...
- É isso, tem que ser isso! – exclamou Hermione – Quero dizer, não há mais nenhuma relíquia deixada por Ravenclaw a não ser, supostamente, o diadema...
- E vocês pretendem destruí-la hoje? – perguntou Rony, como se estivessem conversando sobre o tempo.
- Bem, não é tão fácil quanto parece! – disse Hermione, como se aquilo fosse a coisa mais óbvia do mundo – Bem... De tudo que eu li, o que Harry fez com o diário de Riddle foi um dos poucos jeitos de destruir uma Horcrux.
- Quê? Perfurar com uma presa de basilisco? - perguntou Harry.
- Bem, que sorte que nós temos um estoque tão grande de presas de basilisco, então - disse Rony, olhando para o alto - Eu estava imaginando o que a gente iria fazer com elas!
- Não precisa ser presa de basilisco - disse Hermione, olhando com veemência para Rony - Tem que ser alguma coisa tão destrutiva que a Horcrux não possa reparar a si própria. Veneno de basilisco tem apenas um antídoto, e é incrivelmente raro.
- Lágrimas de fênix - disse Harry, balançando a cabeça.
- Exato - disse Hermione - O nosso problema é que existem muitas poucas substâncias destrutivas como veneno de basilisco, e elas são todas perigosas de carregar por aí com você. Esse é um problema que a gente vai ter que resolver, pense, porque rasgar, amassar ou amaldiçoar a Horcrux não fará o truque, você tem que pensar além de reparos mágicos.
- Mas mesmo que se arranque a coisa que vive lá dentro - disse Rony - Porque o pedaço de alma não pode simplesmente fugir e ir viver em outra coisa?
- Porque uma Horcrux é exatamente o oposto de um ser humano – disse, com simplicidade – Quero dizer, qualquer coisa que aconteça com seu corpo, sua alma irá sobreviver, intocada. Mas não é assim com as Horcruxes. O fragmento de alma dentro, depende do que a contém, é um corpo encantado, para sobreviver. Não pode existir sem isso...
- O diário meio que morreu quando eu o perfurei - disse Harry, lembrando a tinta surgindo como sangue das paginas perfuradas, e os gritos dos pedaços da alma de Voldemort sendo banida.
- E uma vez que o diário foi propriamente destruído, o pedaço de alma guardado nele pode não mais existir.
- Espere um momento... Quer dizer que Luna está sendo possuída pelo pedaço de alma, assim como a minha irmã?
- Exatamente.
Rony olhou com pavor para Harry, que estava ao lado de Hermione, ouvindo toda a conversa, perplexo.
- Mais alguma coisa para uma Horcrux ser destruída? – perguntou Harry.
- Sim – respondeu Hermione, hesitando – A pior parte, na minha opinião.
- E...?
- Para uma Horcrux ser destruída... Tem que haver uma morte.
Harry engoliu em seco. Como iriam destruir o diadema? Não podiam matar Luna...
- Vamos logo. No três, nós corremos e arrumamos um jeito de sair daqui. Depois pedimos ajuda. Vai dar tudo certo – acrescentou, olhando a expressão de Hermione.
- Um. Dois... Três. Alohomora!
A porta se abriu. E eles deslizaram para fora do armário. Jatos de luz avançaram para eles.
- CORRAM!
Harry correu como nunca correra antes. Jatos de luz o acompanhavam, ora batendo nas estantes, ora acertando uma vidraça.
- Estupefaça!
O feitiço atingira Luna no peito. Ela atirara a adaga. Harry sentiu o sangue escorrer pelo peito... Tirara a adaga de prata, e a atirara no chão. Não podia suportar a dor...
Caíra de quatro no chão. Luna já havia se levantado, os olhos esbranquiçados causando uma aparência assustadora... Ela apontara a varinha diretamente para o seu peito.
- Avada...!
- IMPEDIMENTA!
- INCARCEROUS!
O feitiço atingira Luna, e a varinha voara de sua mão. Cordas invisíveis começaram a amarrá-la.
Rony pegara a sua varinha, enquanto Hermione corria para Harry, que sangrava muito.
- Harry... Ai, meu Deus!
- Estou bem... Ali, ali tem presas de basilisco! – exclamou, apontando para as presas no chão.
Hermione se levantou, e apanhou uma.
- Isso vai segurar seu ferimento por uns minutos – disse, apontando sua varinha para o ferimento. Uma luz dourada saíra dela, e linhas douradas costuraram seu ferimento.
Ela estendeu sua mão e eles correram para ela e Rony. Luna jazia inconsciente no chão.
- Está bem presa? – perguntou Hermione, a Rony.
- Acho que sim...
- Tire o diadema. Ande, rápido!
Rony tirara o diadema de Luna. As cordas se desamarraram, e ela levitou no ar, graciosamente. Algo estava errado...
Foi então que Harry se lembrou de Cátia Bell, no ano passado.
- O que...?
Inesperadamente, Luna soltou um grito pavoroso. Era estridente, e ecoava por toda a sala. Seus olhos, já no tom azul normal, estavam arregalados, apavorados... Gritava sem parar, com angústia na voz.
- LUNA!
Hermione agarrara seus tornozelos, e Harry e Rony tentavam agarrar seus braços. Inesperadamente, ela desabou em cima deles. Contorcia-se de tal modo que era impossível contê-la.
- Socorro! – gritava Hermione, inutilmente.
- Pegue a Horcrux! – gritou Harry, apontando para o diadema, largado no chão.
Rony largou Luna e correu para o diadema. Estava com a presa de basilisco nas mãos...
- ANDE LOGO, DESTRUA ELA LOGO!
Rony fechara os olhos, e ergueu a presa no ar. Desceu-a com força, e enterrou-a bem no centro da tiara. Ela se quebrou. Uma ventania repentina na sala, e Luna soltou um novo grito, maior e mais forte do que os anteriores.
Harry sentira uma enorme dor na cicatriz. Sentira Luna parar de se debater. Voldemort estava nervoso com algo...
Caminhava por celas escuras. A tempestade caia forte lá fora...
Os dedos longos abriram a cela, e ele ficara de frente para um homem idoso, com os cabelos longos e os dois olhos cor de âmbar olhando-o com súplica e medo.
- Não tinha me dito que a varinha do menino era feita com a mesma pena de fênix que foi feita a minha varinha, Olivaras – disse, com voz fria.
- Mas, o senhor não...
- Basta. Não pretendo derramar sangue puro hoje. Diga-me: foi isso que causou o Priori Incantatem?
O Sr. Olivaras olhava para Harry com tom de súplica.
- Responda-me... Crucio!
Ele soltara um grito de dor. Seu grito ecoara por toda a prisão. Três Dementadores se aproximaram deles, a respiração pesada...
- Agora não, já lhes disse.
Eles começaram a dar voltas em torno dos dois. Harry podia perceber a agonia de Olivaras. Parecia gostar disso...
- Crucio!
A maldição cessara. O Sr. Olivaras estava a seus pés, ofegando...
- Está disposto a me responder agora?
Fez um aceno com a cabeça, baixa. Ainda ofegava, aos pés de Harry.
- S... Sim.
Voldemort ficara calado por um momento. Em seguida, perguntou:
- Como faço para isso não acontecer mais?
- Tente... Outras varinhas...
- Outras varinhas? Não a minha, a mais poderosa de todas?
- A sua e... A de Harry... Se juntas...
- O que?!
Não conseguira responder. Usara seus últimos esforços para dizer isso...
Ele soltara um grito. Um grito de fúria, de ódio... Seus planos tinham acabado...
- ARRRRRE!
Harry estava deitado no chão, ainda gritando. Rony e Hermione estavam ao seu redor, olhando-o horrorizados.
- Calma, Harry... Harry!
Ele se calou. A cicatriz ardia como fogo...
- O que aconteceu?! – exclamou Rony.
- Olivaras... Voldemort... Olivaras está morto...
Harry olhou de esguia para a figura imóvel de Luna no chão.
- E a Luna? – perguntou, tentando esquecer o sonho.
Ninguém lhe respondeu. Os dois se entreolharam. Hermione começou a chorar.
- Harry... – começou Rony – Quando destruímos a Horcrux...
- O QUE ACONTECEU?! – exclamou, sentando-se. Arrastou-se até a garota. Estava com uma aparência tranqüila e sonhadora.
- Luna... Acorde...
- Harry, ela está...
- Não... NÃO...
O mundo pareceu desabar. Ela não podia estar morta... Não podia...
- Acorde, Luna. Por favor...
As lágrimas queimavam-lhe o rosto. Hermione agachou-se e abraçou-o.
- Estava muito conectada com a Horcrux. A... A alma f-foi destruída, e o corpo ligado a ela...
Hermione recomeçou a chorar. Harry olhara para a figura inocente e tranqüila da garota. Fora tudo sua culpa...
- Melhor pedirmos ajuda... – sussurrou Rony.
- NÃO, VOU FICAR AQUI! – exclamou Harry, abraçando o corpo frio da amiga.
- P-precisamos, Harry! – soluçou Hermione.
Ela e Rony ergueram o corpo da amiga. Harry ainda estava no chão. Não conseguia se levantar mais...
- Harry, por favor...
Ele não dissera nada, apenas se virou, e murmurou:
- Foi minha culpa.
- O que?
- Ela... A Gina... O Cedrico, o Sirius... Dumbledore, Lupin... Tudo minha culpa.
- Harry, você não é responsável por isso! – exclamou Hermione.
- Ela não estaria aqui conosco se eu não a tivesse colocado embaixo da capa... Ela não teria sido possuída, e não teria morrido.
- Harry, p-por favor...
Hermione se levantara, soltando as mãos de Harry. Rony a abraçara, e juntos, eles começaram a andar em direção à saída. Harry olhara para o diadema destruído no chão. Levantou-se, com dificuldade pelo ferimento e pela dor na cicatriz, e recolheu os pedaços da Horcrux. Olhou para ela, e ficou imaginando quantas vidas inocentes seriam destruídas por causa das Horcruxes, por causa da sua missão... Quantas vidas inocentes seriam destruídas por sua culpa.

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