Partida



- O que está acontecendo aqui?
- Não sei... Estão falando coisas esquisitas...
- Ouvi que tem bruxos...
- É, eu também!
- Mas os Dursley?
O murmúrio era geral. Todos se perguntavam o que estava acontecendo. Harry sentiu o corpo gelar, e o pânico tomou conta do garoto: e se eles acabassem descobrindo a existência dos bruxos? Tudo já estava feito... Teria que arcar com as conseqüências.
De repente... CRAQUE. Alguém aparatara. Quem seria?
Harry saíra correndo da Rua dos Alfeneiros, indo até a rua seguinte, a Alameda das Glicínias. Os postes de luz iluminavam fracamente a rua, a noite estava muito escura, e a estranha neblina parecia se tornar cada vez mais densa.
Caminhou um pouco, procurando a origem do barulho. Foi então que se viu cara a cara com um homem com as vestes roxo escuro e que se parecia com um velho leão: fios grisalhos no meio de sua juba alourada e sobrancelhas espessas; olhos amarelados e argutos por trás dos óculos de arame...
Rufo Scrimgeour, o ministro da magia, estava ali.
- Sr. Potter! – exclamou Scrimgeour – É um prazer vê-lo! Mas... O que está acontecendo?
- Hum... – Harry estava muito ofegante... Hesitava em falar a verdade - Acho que uns trouxas da minha rua, hum... Descobriram a nossa... A nossa existência, e...
- Como? – perguntou, com um tom de preocupação na voz.
- Eu disse que uns trouxas... – ia respondendo Harry, até que Scrimgeour o cortou.
- Não, eu perguntei como descobriram.
O coração de Harry palpitou forte.
- Minha tia... Descobri que é um aborto. Acabou explodindo comigo. Os trouxas vizinhos devem ter ouvido toda a conversa.
- O que acabou de acontecer foi muito grave, Sr. Potter – disse, com tom enérgico na voz – Me leve até lá. Preciso alterar suas memórias, antes que... Bem, apenas me leve até o local.
Harry e o ministro caminhavam pela estreita ruazinha que dava acesso à Rua dos Alfeneiros. As árvores farfalhavam a sua volta, enquanto passavam. Pelo chão molhado, Harry podia ver sua forma apavorada andando ao lado do Ministro.
Scrimgeour parara, abruptamente. Harry o imitara, confuso.
- Creio que vamos precisar de ajuda. Vou chamar uns colegas do departamento de obliviações, se me permite.
Levantou a varinha para cima, e, segundos depois apareceram na frente de Harry aproximadamente dez ou quinze homens. Deviam trabalhar em altos cargos do Ministério, pois estavam tão bem vestidos como Scrimgeour.
- Senhores, já devem conhecer o garoto, mas... Apresento-lhes Harry Potter – pigarreou, teatralmente.
Todos fizeram um breve aceno com a cabeça. Um deles apertou com energia a mão de Harry, como se nunca houvesse visto nada igual.
- Bem – continuou Scrimgeour – Me parece que uns trouxas na rua do Sr. Potter acabaram ouvindo mais do que deviam. Precisamos alterar suas memórias... Leve-nos até lá, Harry.
Seguiram até a Rua dos Alfeneiros, onde ainda havia um grande número de trouxas do lado de fora de suas casas. Faziam um movimento com sua varinha, realizando o feitiço obliviador. Eles ficavam como se tivesse entrado em um transe, mas logo voltavam ao normal. Harry observava o trabalho, curioso. Quando todos os trouxas e suas famílias voltaram ao que parecia, normal, Scrimgeour voltou-se a Harry:
- Faltam seus tios, mas acho que não será necessário. Já sabem da nossa existência, suponho. – disse.
Harry sentira um enorme alivio no peito. Escapara por um triz...
- Sim – concordou.
- Bem, creio que nosso serviço aqui acabou – exclamou Scrimgeour – Vamos embora rapazes!
- Com licença – chamou Harry, se dirigindo a Scrimgeour e os representantes ministeriais – O que o senhor veio fazer aqui em Little Whinging?
- Ah, sim! – exclamou – Vim justamente lhe entregar algo, Harry.
- Entregar algo? – indagou, curioso.
- Sim – disse – É sobre Hogwarts. A Professora Mcgonagall disse para lhe entregar isto – e deu a Harry uma carta em folha de pergaminho, lacrada com o brasão de Hogwarts. Embaixo, podia-se ler "Draco Dormiens Nunqüam Titillandus"...
Harry já ia abrindo, quando Scrimgeour interveio:
- Não! Não abra agora... Aqui não é seguro. O nosso mundo e o seu está em perigo, Sr. Potter.
- Em perigo? – perguntou, confuso - Você está se referindo ao Voldemort, ou...
- Sim. Mas, procure não pronunciar esse nome, sr. Potter... – acrescentou, olhando ao redor como se Voldemort fosse saltar em cima deles a qualquer momento - Temos de prestar bem atenção nas pessoas em quem confiar, Sr. Potter. Temos de estar atentos a tudo e a todos. Temos de estar preparados, prestar atenção nas pessoas ao nosso redor, Sr. Potter. Lembre-se disso.
Ia embora, quando se lembrou:
- Ah, Sr. Potter, desfaça o feitiço de seu tio e seu primo: de acordo a seção 13 do Estatuto de Sigilo da Confederação Internacional dos Bruxos, fazer magia na frente de trouxas é uma infração grave no Ministério, o que poderia ocasionar na sua expulsão. Mas, na presente situação – disse, olhando para Harry com uma expressão muito séria – melhor abafar o caso.
E, com um CRAQUE, desaparatou. Colocara a carta no bolso de trás do blusão largo de Duda, e caminhara de volta à casa dos Dursley. Duda ainda se encontrava imobilizado no chão e tio Valter, ainda estava levitando. Tia Petúnia estava sentada no hall de entrada, ainda com as mãos na cabeça...
Imediatamente, Harry desfez os seus feitiços. Duda parecia estar voltando a sua cor normal e tio Valter caiu de uma altura razoavelmente alta, mas parecia estar bem - a seu modo -. Uma veia latejava na parte direita do seu pescoço, e começava a adiquirir uma cor púrpura. Mas não implicou com Harry naquela hora. Apenas ficou junto de Petúnia e o filho, e entraram para dentro da casa, sem trocar ao menos uma palavra com Harry.
Foram para a cozinha, onde se sentaram, juntos, do lado oposto ao de Harry. O garoto continuava de pé, encarando os tios. O silêncio era mortificante, até que tio Valter resolveu falar:
- Escute aqui, cumprimos o nosso trato. Cuidamos de você como nosso filho até hoje. Você já fez 17 anos. Terá de sair da nossa casa imediatamente!
- Eu sairei. Mas não agora – disse, tentando não notar a cara de seu tio ficando vermelha - Mas não se preocupem, sairei amanhã pela manhã.
- Assim espero, por que depois disso, você nunca mais irá por os pés dentro dessa casa, está me entendendo?! – respondeu tio Valter.
Harry não respondera. Não queria piorar mais a situação. - Vá para sua cama – disse tio Valter – AGORA!
Harry olhou para sua tia. Encontrava-se em um canto, derramando lágrimas silenciosas.
E Harry, sem desobedecer ao tio, foi para o seu quarto.
Não conseguira dormir pensando no que acontecera durante a noite. Tia Petúnia, um aborto? Depois de tudo o que ouvira durante aquela noite, em vez de sentir raiva pelo que os Dursleys fizeram com ele durante toda a sua vida, ele agora sentia pena...

***

Passaram se quase duas horas, e Harry, sentado na cama, ainda não conseguira dormir. Lembrou-se, então, do bilhete da Prof. McGonagall. Tirou-o do bolso da jeans e o abriu.
Nele, havia uma mensagem, escrita com a caligrafia fina e inclinada.

Prezado Sr. Potter,
Espero que o senhor tenha recebido esta mensagem. Como o Senhor pôde presenciar no final do seu sexto ano letivo, o nosso diretor Alvo Dumbledore infelizmente faleceu. A escola ficou de fechar, porém, continuará. Sou a nova diretora, e peço para que o senhor volte esse ano para completar o seu sétimo ano e fazer seus exames de NIEMs.
Precisará de todo o conhecimento possível sobre magia para que, no fim, tudo dê certo.

Harry parou aí. “... para que tudo dê certo...”? Será que a professora sabia da existência da profecia? Ou das Horcruxes?
Continuou a ler:

Em breve, o senhor receberá a sua carta, informando a data de início do ano letivo, juntamente de sua lista de materiais. Espero que o senhor volte a Hogwarts.
Afetuosamente,
Minerva Mcgonagall – diretora.

Lera o bilhete várias e várias vezes. Uma parte de Harry queria voltar, mas outra parte não. De um lado, não fazia mais sentido a escola sem Dumbledore, mas de outro, sabia que precisava acabar o seu sétimo ano em Hogwarts. Chegara até ali para desistir?

***

Na manhã seguinte, Harry se decidira: iria para Hogwarts. Mas, antes, precisaria resolver assuntos pendentes em um outro lugar, primeiro.
Acordou bem cedo, se trocou, e passou mais meia hora reunindo seus pertences e colocando-os no seu malão. Era estranho dizer adeus. Era estranho se despedir do que fora, apesar de tudo, o seu lar por tantos anos. Fechara o malão, pegara a gaiola de Edwiges e descera para despedir-se dos Dursley.
Já deviam ter acordado fazia tempo. Até mesmo Duda que, nas férias, costumava acordar tarde, estava sentado ao lado do pai, comendo uma fatia de grapefruit. Encontrou-os na cozinha, tio Válter sentado ao lado de Duda, lendo um jornal, e tia Petúnia sentada na outra extremidade da mesa, observando a fina chuva cair do lado de fora. Harry resolvera se manifestar, já que ninguém havia percebido sua presença.
- Bom dia.
Ninguém lhe respondeu, a não ser tio Valter:
- Você já vai? – perguntou, secamente.
- Vou – respondeu.
Inesperadamente, uma coruja irrompera pela cozinha, pousando no ombro de Harry. A veia de tio Válter começara a pulsar do lado esquerdo de seu pescoço...
- CORUJAS! – exclamou o tio, irritado - Você vai embora ou não vai, garoto?!
Harry ignorara o comentário do tio, e tirara a carta da perninha da coruja. Abrira a folha de pergaminho, curioso, onde leu a pequena mensagem que reconheceu ser de Rony.

Olá Harry!
Como vão as férias? As minhas estão boas...
Hermione acabou de chegar aqui. Não faz nem uma hora, e já a quero longe daqui!
Gina não parou de falar de você o verão inteiro... Quando você vem para cá? O casamento do Gui e da Fleur são daqui alguns dias!
Esperando sua resposta.
Afetuosamente, Rony Weasley.

Era bom conversar com alguém que não fosse seus tios e Duda. Não conseguira enviar nenhuma das três mensagens que Rony e Hermione haviam lhe mandado, já que Edwiges estava nervosa, pois não a deixava mais sair de noite para caçar como deixava antes. Pichitinho o olhava ansioso, saltitando de um ombro para o outro.
Ao ver a impaciência do tio, rabiscara rapidamente na folha de pergaminho:

Oi. Estão como sempre.
Estou indo para aí em breve. Logo nos falamos.
Harry.

Amarrara a carta na perninha da coruja, e olhou para os tios.
- Hum... Já estou indo.
Ninguém lhe respondera. Harry caminhara até a porta da frente. Aquilo era muito estranho. Não parecia que iria seguir em frente, sem nunca ver os tios novamente... Era como se fosse dar uma volta ao parque, e logo voltasse...
- Adeus – disse, mas não obteve resposta.
Saiu e fechou a porta de entrada. Ouvia apenas o barulho de seu coração...
Soltou a coruja no ar frio da manhã. Observou ela desaparecer no meio das nuvens, e, virando-se, começou a caminhar para o que parecia ser o sombrio e tortuoso caminho que seria a sua vida dali em diante.

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