Missão



O homem se materializara inesperadamente na estreita ruazinha.
Andava rapidamente sub a chuva, as vestes esvoaçando, em direção a uma imensa casa, ladeada por uma sebe alta e malcuidada, que se estendia para além de um imenso portão de ferro.
Sacara a varinha, e murmurou:
- Alohomora.
O portão rangera, e a figura encapuzada de Severo Snape avançara para dentro dos jardins, o som dos passos abafados pelas folhas de um imenso carvalho. Apressara o passo em direção à porta da frente, que se abrira sem nem ao menos tê-la aberto.
O hall de entrada era grande e suntuoso, apesar de muito sujo. Snape passara por ele, se detivendo em frente a uma pesada porta de madeira, que levava à grande sala de estar. Hesitando um pouco, abrira a porta, que o levara a uma sala mal iluminada, apenas por um candelabro em cima da lustrosa mesa de madeira.
- Mandou me chamar, milorde?
A figura pálida de Voldemort se destacava em frente à lareira, ao lado de uma grande janela, onde a tempestade caía forte do lado de fora.
- Sim. Venha até aqui, Severo.
Snape se aproximara da figura ofídica de Voldemort, e seu rosto, antes coberto pelas trevas, se iluminara. Seus olhos encararam as fendas vermelhas de seu mestre.
- Alguma novidade? – sibilou.
- Por enquanto, só as que já sabemos – disse Snape – Consegui lançar a maldição Imperius em um dos homens de Scrimgeour. Em pouco tempo, o ministério será nosso.
- Bom – disse, virando a cabeça e estudando Snape – Muito bom... Fiz o que te pedi?
- Sim. Thicknesse já está com Yaxley, Greyback e Dolohov. Não devem se demorar.
- Conversou com o garoto?
- Como? – indagou o homem.
- O filho de Lúcio. Conversou sobre o que estávamos discutindo há alguns dias?
- Sim – disse – Mas não acredito, milorde, que o garoto realmente deva ser um de nós.
- Concordo em parte, Severo – sibilou Voldemort, as fendas fechando-se como se fosse atacar uma presa – O garoto não conseguiu realizar com uma simples tarefa que o incumbi, quanto mais participar de algo importante como isso... Mas por outro lado, o garoto já sabe muito para sair por aí.
- Concordo. Mas... Não entendo por que o senhor não o matou antes, milorde – disse – Dumbledore. Oportunidades não faltaram.
- Tinha de tirá-lo do caminho, mas não o podia matar. Acabaria com todo o plano se o matasse. Pedi para o garoto matá-lo, o que também teve muitas oportunidades. Mas acabou falhando em sua missão...
- Acabei fazendo isso por ele, milorde – interveio Snape - Pensei que estivesse satisfeito.
Voldemort virou-se para Snape, os olhos ofídicos mirando-o com ferocidade.
- Era prova de que o moleque seria digno de servir a mim! – exclamou, seus olhos vermelhos cintilando no meio da escuridão – E acabou falhando, assim como Lúcio. E isso, jamais esquecerei...
Inesperadamente, voltou-se para trás.
- Mas agora, a morte de Dumbledore foi inútil... Potter já deve saber de tudo! – murmurou, nervoso - Espero que minhas conclusões estejam erradas...
- Também não entendo por que ainda não acabou com Potter – disse com desdém – Ele já escapou muitas vezes...
- Nisso você está certo – sibilou Voldemort, mais para si mesmo do que para o servo – Cometi muitos erros em relação à Harry Potter. Que ele ainda esteja vivo se deve mais aos meus erros do que seus êxitos! Mas aprendi... Agora compreendo coisas que antes não podia compreender. Sou eu quem deve matar Harry Potter, e assim o farei na primeira oportunidade.
- Quanto tempo mais teremos de continuar aqui, Snape?
Um garoto loiro saíra das sombras do lugar. O jovem estava com as vestes sujas e ensangüentadas; possuía os olhos frios e cinzentos, e um rosto fino, porém sujo.
- Já lhe disse que ficaremos aqui por mais algumas semanas – respondeu Snape, com um tom impaciente na voz.
- Já estou cansado de ficar aqui – disse, olhando para as paredes e o teto do lugar, com expressão de nojo – Não entendo por que vim para cá...
E havia razão para Draco Malfoy não querer ficar ali. Era uma casa em ruínas. O único aposento que podia se considerar decente era a sala, mas que também estava se deteriorando. A lareira estava acesa, mas o fogo que crepitava não os esquentava. Havia sangue e poeira nas paredes, o chão, de madeira, estava rangendo, juntamente com todas as portas e a escada do lugar. Quadros de bruxos, entre eles de uma moça particularmente muito bonita, estavam sendo habitação de traças e teias de aranha.
Havia uma única janela no aposento, cujo das vidraças sujas e quebradas, vinha um vento terrivelmente forte, e a estranha neblina que estava invadindo qualquer lugar que fosse, tomava conta do lugar. O carvalho, alta e imponente, completava a aparência do lugar, apesar dos galhos estarem quase sem folhas, contribuindo a uma aparência sombria.
- Já disse que ficaremos aqui o tempo que precisarmos! – exclamou – Mas algumas semanas será o suficiente... Afinal, para onde você queria ir? Para sua mansão, tomar um banho de banheira? Ou preferia estar em Azkaban, junto do papai? Isso posso providenciar muito facilmente...
Draco olhara aterrorizado para Snape. Lançou um brevíssimo olhar de relance para Voldemort, aterrorizado demais para encará-lo.
- Vou embora – disse, virando as costas para Snape. Ao chegar à porta de entrada, a voz fria e sibilante de Voldemort o chamara novamente.
- Tenho uma missão para você, Malfoy.
Draco, que estava subindo as escadas, parou abruptamente. Desceu vagarosamente as escadas, fazendo-as ranger mais alto a cada passo. Tinha uma expressão de quem temia algo, apavorado com que poderia acontecer...
- Que... Que tipo de missão? - perguntou o garoto, nervoso.
- Você terá a sua tão esperada segunda chance. Mas vou avisando: caso falhe, pode ter certeza que não terá uma terceira.
Draco o encarava, aterrorizado.
- Se falhar – continuou, os olhos brilhando – Considere-se morto. Você, e seus pais. Se falhar... Fui suficientemente claro?
Draco não respondera. Estava com medo demais para fazer qualquer tipo de sinal.
- Muito bem... Quero que você me traga Potter. Se for preciso, os outros também. Faça com que ele confie em você, ganhe a sua confiança.
- Mas... Não posso chegar assim em Hogwarts ou no Potter e os outros – exclamou Draco, com a voz confusa – Depois do ano passado... Como vão me aceitar novamente?
Voldemort encarou Draco, e seus lábios descarnados se curvaram num aparente sorriso. Os olhos vermelhos cintilaram...
- O momento certo chegará.
Os olhos cinzentos de Draco se detiveram, por uns segundos, nas fendas vermelhas ofídicas de Voldemort, mas logo os desviou. De repente, um pigarro. Voldemort e Draco olharam para Snape, que estava sentado um sofá sujo e mofado.
- E... Sabe se Potter irá retornar à Hogwarts, milorde?
- Não tenho certeza. Talvez não, se minhas conclusões não estiverem erradas. Mas, mesmo que vá, tenho tudo sobre controle... – disse, olhando para o fogo crepitando na lareira.
Nisso, algo pesado começou a deslizar pelo chão de mármore. A enorme cobra apareceu e subiu vagarosamente pela poltrona onde Voldemort estava sentado. Foi emergindo, como se fosse interminável, e parou sobre os ombros do mestre. Ela silvou para seu mestre, que virou-se para Snape e disse, num sorriso:
- Boas notícias Severo. Contate Greyback; parece que nosso querido sr. Potter finalmente chegou à Godric’s Hollow!
Inesperadamente, soltou uma risada. Uma risada fria, maligna... Harry Potter estava em perigo.

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