O 17º Aniversário



Uma névoa fria e cinzenta pairava sobre a rua dos Alfeneiros. O tempo estivera sempre assim, desde sua volta... No número quatro, um adolescente de forma triste e doentia estava sentado no hall de entrada, encostado na parede, segurando um objeto de aparência envelhecida, mas que chamava atenção, por ser de ouro, cravado com esmeraldas. Estivera sempre assim, desde sua volta de Hogwarts. Não foi uma experiência boa, ou animadora que tivera há uns meses. Foi uma experiência triste, cansativa, que tinha certeza que ficaria marcada em sua memória para sempre, afinal fora muito doloroso para ele presenciar a morte do diretor da Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts, Alvo Dumbledore. Ainda mais preseciar tamanha traição, que sempre soubera que cedo ou tarde iria acontecer, de Severo Snape e Draco Malfoy.
O relógio de pulso marcava 10:30, e só havia uma coisa o contentava naquele momento...
Harry Potter era não era um adolescente como qualquer outro. Ele era um bruxo. Famoso por ter derrotado o maior e mais temido bruxo das trevas de todos os tempos, Lorde Voldemort. Andava à espreita... Esperando...
Era uma noite fria de verão, e isso era o que mais preocupava Harry naquele momento. Os Dementadores estavam se procriando, e cada vez mais se tornando mais fortes e independentes...
Faltava pouco para atingir a maioridade, porém algo o preocupava. No momento em que fizesse 17 anos, a magia antiga que Dumbledore fizera quando era bebê iria se acabar. Iria-se acabar sua proteção, por mais infeliz que fora. Iria-se por frente a frente ao perigo, ao caminho obscuro e tortuoso que era sua vida. As luzes do hall se ascenderam, e a figura magra e alta de sua tia apareceu em sua direção.
- Você perdeu o jantar. Não vou falar duas vezes, vá para sua cama agora.
- Não estou com sono - respondeu Harry, com simplicidade.
- Se não está com sono, e está com vontade de meditar, vá fazer isso no seu quarto. Ultimamente, você tem andado muito fora de linha. Se é assim que agradece a mim e ao seu tio por estarmos te sustentando, com nosso sangue e suor...
- Com certeza - sussurrou Harry.
- ... Mas nunca esperamos, Válter e eu, que desse o mínimo de valor para o que damos à você...
- Tudo do bom e do melhor... - sussurrou, novamente.
- ... Mas logo tudo isso acabará.
- Não me importa o que vocês...
- Olhe como fala com sua tia, moleque! - tio Valter chegara - Sua tia disse para você ir dormir. Já são 11 horas! – exclamou.
- Já disse que não vou agora! – exclamou Harry.
- O que está acontecendo, papai? - disse Duda, se aproximando do pai.
Estava voltando da casa de seu amigo, Pedro Polkiss. Estava mais gordo do que nunca, e cheirava levemente a cigarro. Seus pais, pensava, eram burros demais, ou inocentes demais, para pensar algo de mal do filho. A turma do Duda se transformara no maior grupo de delinqüentes juvenis do bairro, bem debaixo de seus narizes... Pareciam não querer admitir no que o filho havia se tornado.
- Nada, filho. Vamos entrar – disse, olhando com desdém para Harry – Como o Sr. Potter não quis jantar, ficará sem comida hoje e amanhã. E se não quiser dormir, terá que fazer uma nova visitinha ao seu antigo armário. Vamos ver se isso também lhe causa fome... – disse, com um sorriso maldoso, e foi-se embora.
Os Dursleys... As piores pessoas que alguém poderia se ter como família. Tivera de aturá-los sua vida inteira... Mas um dia lhes daria o troco. O troco por todas as maldades que cometeram com ele.
Também, nem estava com tanta fome , e tanto sono assim... Estava com muitos pensamentos na cabeça naquele momento. Pensava no que acontecera nos anos antecedentes àquele: a morte de Sirius e de Dumbledore; a fuga de Snape, Draco e os Comensais da Morte; o aparecimento das Horcruxes em sua vida e a sua missão: capturá-las e destruí-las.
Faltava mais um pouco...
Sua mão se envolveu pela falsa Horcrux, o medalhão de Slytherin. Aquilo era um enorme peso na consciência. Tinha de achar a verdadeira, mas... Onde estaria? E, o mais importante: quem seria R.A.B.?
Faltavam poucos minutos...
Pensava em todas as fugas dele e de Voldemort... Sabia que, no fim, aconteceria uma batalha final, que um acabaria matando o outro.
“... Nenhum poderá viver enquanto o outro sobreviver...”. Essa era a profecia que Trelawney fizera sobre ele e Voldemort. Ou seja: ou virava assassino, ou vítima. Era um caminho sombrio, mas sabia que um dia esse momento iria acontecer, cedo ou tarde o enfrentaria, e, quando esse momento chegasse, estaria preparado.
Faltava bem pouco...
Pensava em Rony e Hermione. Voldemort ainda não tirara seus amigos de sua vida. Pelo menos uma luz no meio de tanta escuridão.
Apenas alguns minutos...
Pensava em Gina... Mas tivera de fazer o que tinha feito, tinha de terminar com ela. Logo, poderia ter o mesmo fim de seus pais, Sirius, Dumbledore...: todas as pessoas ligadas a Harry.
Faltavam segundos... 10, 9, 8, 7, 6, 5, 4, 3, 2, 1...
Meia Noite.
- Papai disse para você ir para dentro... AGORA!
Era Duda. Chegara o momento de sua vingança...
- O que foi? Eu tô falando grego ou o quê? – exclamou Duda – Eu disse que pa...
Tirara sua varinha do bolso...
- Deve... Deve estar se achando o máximo com essa coisa... Mas não parece ser tão valente de noite!
Parara de andar. Harry também parou, encarando o primo.
- Como assim?
- Falando durante a noite. Gemendo...
- Isso é mentira - disse Harry, com tom de insegurança na voz.
- Não me mate! Não me mate! Professor Dumbledore!
- CALE A BOCA! - exclamou, avançando para o primo, apontando a varinha diretamente para seu peito.
O primo recuara até a parede da casa. O suor escorria-lhe por seu rosto...
- O... O que você vai fazer? - exclamou, assustado - Não pode usar magia fora daquele seu manicômio!
- Antes dos dezessete anos.
- O que tem? - exclamou.
Harry mostrou seu relógio, com um sorriso de desdém no rosto. Era 12:04.
Duda olhara horrorizado para Harry. Conseguira se soltar, e correra pelo jardim, indo em direção à sua casa.
- MAMÃE! PAP...
- Petrificus Totalus!
O garoto se imobilizara, e caíra no chão, com um baque surdo. Seus olhinhos de porco olhavam para todos os lados, aterrorizados.
- O que foi, Dudinha? - exclamou tio Válter, indo para o jardim.
Ao ver o filho imobilizado, parara de andar. Tia Petúnia soltara um grito, capindo no chão ao lado do filho,
Tio Válter soltou um berro, e avançou para Harry,
- O QUE FÊZ?! FAÇA-O VOLTAR AO NORMAL!
- Estou dando o que ele merece! – exclamou, recuando-se do tio.
- Mas você não pode usar magia fora daquela sua escola! - disse com um sorrisinho de triunfo - Será expulso!
- Experimente.
O tio o soltara. Olhava desconfiado para o sobrinho.
- Acho que seria expulso há cinco minutos atrás, talvez..
- O que tem isso? - indagou tio Valter, olhando de Harry para tia Petúnia.
- Ele fez dezessete anos - disse tia Petúnia, trêmula - Pode usar magia.
Houve um momento de silêncio e terror entre os Dursleys. Foi então que tio Valter quebrou o silêncio:
- Você não seria capaz de fazer nada conosco... – disse, com pânico na voz – Não se atreveria!
Harry sacara a varinha, Tio Válter avançara para cima do garoto, tentando impedí-lo,
- Levicorpus!
Inesperadamente, tio Valter virou de cabeça para baixo no ar. Tia Petúnia soltou um grito:
- Solte-o! Seu... Seu anormal!
- Estou dando o que ele mereçe...
- Parece o arrogante do seu pai... E a besta da sua mãe! Ela também era metida como...
- CALE A BOCA!
- NÃO CALO! - exclamou - ATUREI VOCÊ, SEUS PAIS, SEU MUNDO...ATUREI TUDO ISSO MINHA VIDA INTEIRA!
- O que...?
Houve um momento de silêncio entre eles. Harry a olhava, assustado.
- Todos da minha família... Bruxos! Tinha de ter vergonha de uma coisa dessas...
- Bruxos?
- Pensava que Lílian era normal... Mas acabou virando uma também - exclamou, ignorando-o - Era o orgulho de toda a família... E eu... A vargonha de todos...
Harry estava aterrorizado. Era por isso que sentia ódio de Harry e de sua família. Era por isso que não queria ver mais a irmã, depois que saiu de Hogwarts. Era por isso...
- Era como diziam, um "aborto"... A vergonha dos meus pais. A vergonha de todos...
- Mas, como...? – gaguejou Harry.
- Logo que Lílian voltou de Hogwarts, ela virara o centro das atenções... - exclamou, as lágrimas escorrendo-lhe pelo rosto - E eu... Fui deixada de lado... Crescendo à sua sombra...
Harry não conseguia dizer nada... Tinha inveja de sua mãe?
- Deviam pensar que eu não era boa o suficiente, mas aqui estou eu! Casada com um marido perfeito e com um filho perfeito. Minha vida é perfeita sem magia! Não preciso ser um deles...!
As lárgimas escorriam pelo rosto de tia Petúnia. Ela se sentara no hall de entrada, com as mãos na cabeça. Ofegava silenciosamente.
- Eu... Eu não sabia disso... – ofegou Harry.
- Claro que não sabia! – exclamou – Somente Valter e, agora você, sabem quem eu realmente fui. E ninguém, ninguém vai ficar sabendo disso, nunca!
Porém ela se esqueçeu de mais alguém presente. De mais pessoas presentes...
Duda estava lá. Ouvia atentamente cada palavra que a mãe dissera. Tinha um olhar de terror no rosto. Mas não só ele, toda a vizinhança com as cabeças para fora da janela, do lado de fora de suas casas... Todas ouviram as palavras de tia Petúnia.

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