De volta ao Largo Grimmauld
Hogwarts, 13 de dezembro de 1997
Cheguei a uma conclusão, e ela definitivamente me assusta.
Foi tão fácil me apaixonar por Harry Potter pela primeira vez. Foi tão assustadoramente simples me apaixonar novamente por ele... Tanto, que eu tenho medo do que possa acontecer agora.
Eu sei que vou me machucar, tenho certeza disso. Não sei por quê, mas tenho. No entanto, eu perco a razão ao encarar aqueles olhos verdes brilhantes, e tudo que eu pensava ser certo escapa da minha cabeça como água entre os dedos.
Ainda sinto o gosto do beijo que ele quase me deu...
Não sei se seria certo tê-lo beijado ontem. Não sei se devo agradecer por Dobby ter aparecido ou se devo sentir muita raiva por ele ter interrompido aquele momento.
Eu sinto que não sei de mais nada... Só sei que amo Harry, e isso me apavora.
Às vezes, ou melhor, todo o tempo, paro e imagino o que deva passar na cabeça dele. Será que ele sente algo, nem que seja pouco, por mim? Mas depois percebo que, mesmo que ele sinta, não há como esse sentimento ser verdadeiro. Harry nem sabe quem realmente é, como poderia me amar? Eu sei que, se isso tudo não estivesse acontecendo, ele não estaria tão próximo de mim, não diria o que diz... ele nunca tentaria me beijar.
Essa é a verdade.
E eu não entendo por que justo eu tenho que passar por isso! Por que eu tinha que estar naquele penhasco, naquele momento? Por que Harry teve que aparecer? Por que ele teve que tentar me ajudar, e por que ele teve que perder a memória? Tantas pessoas em Hogwarts que poderiam estar lá, naquele momento, mas justamente eu estava naquele lugar e presenciei tudo aquilo!
Tudo seria tão fácil se nada disso tivesse acontecido...
Mas, também, eu não teria visto novamente aquele sorriso... o brilho daquele olhar... Eu não teria ouvido suas palavras, nem sentido seu toque e seu abraço... o calor de seu corpo e o seu cheiro...
Eu não teria me apaixonado.
E, ao mesmo tempo, vejo dias à minha frente em que terei que conviver com ele, na mesma casa, muito mais perto que estava em Hogwarts. Eu temo pelo que possa acontecer.
Eu queria fugir, mas também quero estar perto dele.
Sinto que preciso estar...
Eu não sei o que fazer.
Virgínia Weasley
- O que está fazendo?
Gina deu um sobressalto no banco onde estava sentada. Como se uma força invisível o impelisse, o seu diário praticamente voou de suas mãos para o chão, caindo aberto, e a pena escorregou de seus dedos, deslizando sobre o papel e fazendo um enorme risco sobre ele, parando somente ao encontrar o tapete, produzindo uma minúscula mancha preta ao tocá-lo.
Ela levantou o rosto, assustada, e enxergou o rosto do seu irmão Rony; a luz opaca de inverno que entrava pela janela da cabine do Expresso de Hogwarts iluminava as suas várias sardas. Ele encarava a irmã com um misto de curiosidade e irritação no rosto. O distintivo de monitor-chefe reluzia nas suas vestes, sobre seu peito esquerdo.
- O que é isso? - Rony perguntou, abaixando os olhos e apontando o diário caído no chão.
Como se aquela frase fosse um alarme soando em seus ouvidos, Gina levantou-se num sobressalto, e pôs-se a recolher desastradamente o diário caído no chão, fechando-o com estrondo e manchando-se com a tinta fresca da ponta da pena. Ela abraçou o diário, como se estivesse protegendo-o, e olhou furiosa para Rony.
- Nada que seja de seu interesse. - respondeu com grosseria.
Rony não se abalou. Seus olhos, vigilantes, correram do rosto dela para o caderno em seus braços, e novamente para seu rosto. Gina sentiu que suava na nuca e na palma das mãos - seus principais sintomas de nervosismo - , apesar do frio intenso e da neve lá fora.
- Espero que não esteja se metendo em nenhuma encrenca, Gina. - Rony disse com sincera preocupação na voz. - Eu lembro muito bem que as coisas não deram certo da última vez que você andava por aí com um diário.
Gina não conseguiu esconder um tremor involuntário. Ela também se lembrava daquilo. No entanto, dessa vez, o diário que ela carregava não lhe respondia (e isso ela tinha se preocupado em verificar), era somente um caderno onde ela escrevia o que não tinha coragem de dizer em voz alta. Sentindo a palma da mão umedecer-se ainda mais pelo suor intenso, ela, tensa, virou-se de costas para o irmão, para que não fosse necessário encará-lo, e demorando-se o máximo que pôde, guardou seu diário no canto mais fundo e escondido de seu velho e surrado malão.
Era uma manhã sonolenta e fria de sábado. Gina tinha acordado cedo, ou melhor, quase não tinha pregado os olhos. As memórias daquele momento na noite anterior ao pé da lareira do Salão Comunal não paravam de surgir em sua mente, como se estivessem impregnadas nela. E Gina sabia que estavam.
Ela não tinha visto nem Rony, Hermione ou Harry - pelo menos até aquele momento. Aliás, tinha preferido ficar longe das pessoas, pois sua maior vontade era ficar sozinha. Ela até preferiu sair sorrateiramente da mesa da Grifinória pela manhã, assim que viu Luna sentar-se à mesa da Corvinal, pois sabia que a amiga perceberia seu estado de espírito e lhe encheria de perguntas desagradáveis.
Quando Gina se virou, viu que Rony tinha cruzado seus braços e, inexplicavelmente, sua expressão severa no rosto dava a impressão de que ele era maior do que realmente era. Seus olhos perfuravam Gina, estudando seus movimentos, como se tentasse ler o que se passava na sua cabeça, ao mesmo tempo em que remexia os lábios, demonstrando que estava muito, muito nervoso.
- Você escreve aí sobre seus namorados, Gina?
Ela sentiu seu sangue ferver, aquecendo rapidamente seu rosto. Como Rony podia ser tão... estúpido? Ela torceu com força seus dedos, tanto que pressionou suas unhas na carne das palmas de suas mãos dolorosamente, e seus olhos se estreitaram com tamanha fúria, que se pudessem matar, Rony cairia duro bem à sua frente, naquele exato instante. Ela admirou Hermione em pensamento por suportar Rony todos os dias e, ainda por cima, amá-lo.
Tinha que gostar muito mesmo para agüentar uma daquelas...
- E se escrever? - Gina retrucou impulsiva e agressivamente, saboreando a sensação de vitória ao ver as orelhas do irmão avermelharem-se instantaneamente - sempre um sinal de raiva contida. - O que você vai fazer a respeito?
Ele descruzou os braços, incrédulo, porém enfurecido, e seu queixo caiu tanto, que poderia ter encostado com facilidade no chão, bem como o nariz enorme de Dobby na noite anterior.
- O... o que você disse? - ele perguntou, sua voz elevando-se a um tom quase histérico.
Gina riu, somente para provocá-lo.
- O que você escutou, Roniquinho... - ela retrucou sarcasticamente, chamando-o daquele jeito só para se deleitar com a vermelhidão das orelhas dele. - E agora, se não for pedir muito, você poderia parar de se meter na minha vida?
Dizendo isso, ela caminhou batendo os pés na direção da porta, esbarrando com força no irmão ao passar. Porém, ele foi mais rápido e segurou seu braço esquerdo com brutalidade, encarando-a profundamente nos olhos. Gina virou-se rapidamente para olhá-lo, raiva estampada no seu rosto, fúria irradiando dos seus olhos semi-ocultos por algumas mechas vermelhas dos seus cabelos que caíram à frente deles. Rony não parecia menos furioso.
- É o Harry, não é? - ele disparou.
Gina sentiu o estômago dar três voltas e retornar ao seu lugar com um baque digno de causar espasmos de enjôo. Seu cérebro fervilhava, assim como seu sangue, e ela tentou desesperadamente não demonstrar isso em seu rosto ou seu olhar. Corajosamente, tentou revelar indiferença e apenas ergueu as sobrancelhas. A sua mão começava a formigar devido à falta de oxigenação em seu braço, tamanha era a força com que Rony o apertava.
- Como disse?
- Vocês andam muito juntinhos... - Rony insinuou; uma ruga fina apareceu em sua testa. - Sempre com segredos... Confesse, Gina: você sempre gostou dele, que eu sei.
- VOCÊ NÃO SABE NADA SOBRE MEUS SENTIMENTOS! - ela gritou esganiçada, perdendo totalmente o controle; algumas gotas de saliva saltitaram de sua boca, alcançando o rosto do irmão, que não se abalou.
A respiração da garota era inconstante, rápida e superficial. Ela e o irmão permaneceram alguns instantes longos e tensos apenas se encarando com raiva. Rony não sabia absolutamente nada sobre ela! Ele não fazia idéia, ele e suas idéias ridículas, sua superproteção idiota! Ele não mandava nela, ele não era seu pai, não tinha o direito de tratá-la daquela maneira!
Ela percebeu o olhar do irmão, como se estudasse cada movimento dela, desde o tremor de suas mãos até a respiração descompassada. Naquele momento, Gina temeu que Rony pudesse desconfiar de algo... Mas depois se lembrou - e mais tarde se arrependeu de todas as palavras feias que pensou naquele momento - o quão estúpido Rony era para sequer imaginar tudo pelo quê ela estava passando.
- O que está havendo aqui?
Eles se viraram ao mesmo tempo e viram a expressão intrigada de Hermione ao lado deles. Ela trazia, em um braço, a cesta de Bichento e, no outro, a gaiola de Pichitinho, que piava alegremente, alheio a tudo que estava acontecendo. A garota encarava, alternadamente, Rony e depois Gina, sedenta por uma resposta às suas dúvidas.
- Não está acontecendo nada. - Rony disse rapidamente, um tanto envergonhado, e soltando o braço de Gina ao ver que Hermione observava exatamente isto. Gina segurou o machucado, sentindo o braço mole devido à pressão que Rony fizera. - Nada... - ele repetiu, seus olhos fugindo dos de Hermione.
- Gina?
- Não aconteceu nada. - Gina murmurou depressa, também desviando o olhar de Hermione, com muita vergonha. Ela sentiu quando Rony a olhou, incrédulo, porém ainda furioso. - Tá tudo bem, Hermione.
- Não parecia.
- Eu vou procurar Luna.
Dando essa desculpa esfarrapada, a garota precipitou-se pelo corredor apressadamente, esbarrando de leve em Hermione ao passar. Ela sentiu os olhares do irmão e da amiga acompanhando-a, porém seu coração saltou assim que ela estancou no meio do corredor; Harry, que se aproximava, também parou. Ele carregava várias coisas nos braços e, no alto daquela pilha, estava empoleirada a sua coruja branca como a neve, Edwiges. O garoto inclinou a cabeça para um lado, meigamente, e olhou para Gina exatamente da mesma maneira que ela o olhou: totalmente sem ação. Pareceu que para ambos, no mesmo instante, ocorreu a lembrança da noite anterior; e, também ao mesmo tempo, eles desviaram o rosto, evitando se olhar. Por sua vez, Gina virou-se para trás e viu Rony encarando-a com um olhar estreito e Hermione, ao lado dele, sem entender nada. Gina respirou fundo e, a passos decididos, afastou-se dali.
Ela não viu quando Harry olhou-a de esguelha ao se afastar e jamais poderia imaginar que passavam pela cabeça dele um turbilhão de pensamentos confusos e angustiantes naquele mesmo instante...
Mas Rony não deixou de registrar o olhar que Harry dirigiu a sua irmã. Assim que o amigo se aproximou, ele o encarou com raiva estampada no rosto.
- É tudo culpa sua!
Os olhos de Harry se arregalaram, mas ele não disse nada. Hermione sentiu mais do que percebeu que aquelas palavras feriram Harry com muita força. Ela encarou Rony, sem compreender por que ele estava fazendo aquilo, mas muito indignada com a atitude dele. Por sua vez, Rony nem deu tempo a ela para que dissesse algo e, rapidamente deu as costas aos dois, murmurando com raiva que iria buscar o resto das coisas. Hermione observou-o se afastar no sentido contrário ao que Gina tinha tomado anteriormente, sentindo-se impotente e furiosa por não estar entendendo o que acontecia. Então, ela se virou para Harry, que também observava Rony, porém com uma expressão diferente no rosto: parecia muito magoado. Hermione sabia que era pelas palavras que ele acabara de ouvir.
- Não ligue para o Rony... Você sabe que ele é assim mesmo, diz as coisas sem pensar... Mas logo ele se arrepende.
Harry piscou, chateado, e abaixou os olhos. A sua franja negra e despenteada caía sobre seus olhos verdes, impedindo que Hermione interpretasse sua expressão. Antes de entrar, desolado, na cabine, ele apenas murmurou:
- Talvez ele esteja certo...
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TRONQUILHOS SÃO A NOVA TENDÊNCIA PARA ANIMAIS DE ESTIMAÇÃO
"Corujas estão ficando fora de moda", revela Lility Garbon, especialista em animais mágicos. "Por incrível que possa parecer a muitos, tronquilhos serão a mais nova sensação entre as crianças bruxas nos próximos anos", ela afirma. Apesar do aspecto
Luna parou de ler seu exemplar de dezembro do Pasquim assim que sentiu o banco onde estava sentada afundar bruscamente. Ela não se moveu; permaneceu de pernas cruzadas, segurando sua revista, mas olhou de soslaio para a esquerda e viu, surpreendentemente, Gina sentada ao seu lado, com o olhar fixo à frente e prestes a espumar pela boca de raiva.
Calmamente, a corvinal fechou sua revista e colocou-a de lado. Virando-se, ela encarou a amiga por alguns instantes: seu rosto estava tão vermelho que competia com os cabelos cor-de-fogo, sendo que os mesmo caíam desajeitados sobre seus olhos cintilantes de fúria. Ela cruzou os braços e, inesperadamente, disparou contra Luna:
- Você tem sorte de não ter irmãos.
Falava aquilo como se Luna fosse culpada por isso. A garota ergueu uma única sobrancelha e encarou a amiga intrigada.
- Parece que você está muito calma hoje...
Gina fuzilou-a com o olhar, mas se limitou a apenas voltar a encarar com raiva o banco da frente, como se desejasse despedaçá-lo somente com os olhos. Luna suspirou profundamente fazendo o mesmo que a amiga, mas ao invés de estar furiosa, estava cansada e desolada.
- Você quer dizer o que aconteceu?
- Ah, o que mais poderia ter acontecido? - Gina perguntou exasperada. - Foi o meu irmão! Ah, Rony é impossível! Ele não tinha o direito, ele não...
Luna revirou-se incomodada na cadeira, sem dizer palavra alguma. No entanto, foi o bastante para que Gina percebesse que tinha acabado de tocar num ponto fraco da amiga. Ela olhou de esguelha para ela, mais calma e um pouco sem graça.
- Oh... desculpe, Luna.
A garota apenas deu de ombros, como se não se importasse, o que era uma mentira deslavada. Era óbvio que ela se importava. Sabia que deveria esquecer Rony, que ele era um caso perdido antes mesmo que começasse, mas ainda não conseguira tal façanha. E ainda tinha Neville, e era só lembrar do garoto que ela se sentia terrivelmente culpada.
- Ora, vamos, Luna! - Gina exclamou com repreensão. - Você não pode ficar assim! Olha, se quer saber minha opinião, o Rony não te merece!
Luna a olhou de lado, arregalando seus olhos azuis já arregalados.
- Ele deve ter feito algo realmente grande pra você se irritar dessa maneira...
- Ele foi um completo idiota! - Gina desabafou. - Sempre se metendo na minha vida, como se tivesse alguma autoridade sobre mim só porque é meu irmão! Ele não sabe nada sobre mim!
Luna soltou outro longo suspiro e, assim que levantou a cabeça, seus olhos se encontraram com os de Neville, que estava passando pela porta e parou ao reparar que Luna tinha lhe visto. Por alguns instantes, eles apenas se entreolharam e pouco depois, como se percebesse o que estava fazendo, Neville desviou o olhar e voltou a caminhar pelo corredor, a passos muito pesados e rápidos.
Gina mordeu o lábio inferior e encarou Luna de maneira compreensiva.
- Você ainda não falou com ele?
Luna apenas negou, abaixando a cabeça e procurando não olhar para Gina. Por sua vez, a garota suspirou e também ficou em silêncio como Luna; seus pensamentos correram para o que estava por vir. Passar as férias no Largo Grimmauld descortinavam uma série de problemas que Gina teria que enfrentar; estaria na sede da Ordem da Fênix, bem mais próxima dos acontecimentos da guerra contra Voldemort e, mais do que isso, Harry estaria próximo disso tudo, sendo que ele era um dos personagens principais dessa trama... E ainda tinha tudo que quase acontecera na noite anterior... Naquele momento, a garota entendeu exatamente o que sentia a amiga ao seu lado; assim como Luna, Gina também tinha necessidade de conversar sobre o assunto com Harry, mas sentia uma incrível incapacidade de falar...
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Se havia uma palavra para descrever como Hermione se sentia naquele momento (e durante toda a viagem) era "constrangida".
Mas "de saco cheio" também era uma fantástica expressão para o momento.
Rony estava completamente insuportável! Harry parecia que tinha entrado na cabine por acaso (o que fazia Hermione se lembrar de Luna Lovegood, irritando-a ainda mais), de tão perdido em pensamentos que se encontrava. Se não fosse pelo livro que tinha trazido na mochila, Hermione não saberia o que fazer para se distrair naquela viagem.
Grande parte do tempo, Hermione ficou matutando o que raios poderia ter acontecido para que Rony ficasse tão chato, Gina saísse dali como se tivesse sido atingida por algum ataque súbito e Harry ficasse tão aéreo. Depois de um tempo, Hermione se lembrou da única coisa que faria Rony brigar com a irmã e depois descontar em Harry sua raiva.
Provavelmente, Rony novamente deveria ter desconfiado de que algo estivesse acontecendo entre Harry e Gina. Mas Hermione suspeitava de outra coisa: de que algo estivesse acontecendo com Harry e Gina.
Não seria muito difícil para Rony notar isso também, se ele não estivesse tão completamente interessado em achar que sua irmã e seu melhor amigo estavam namorando escondidos e se agarrando pelos cantos do castelo (o que era completamente impossível, na opinião de Hermione - nem Gina ou Harry tinham temperamento para fazer tal coisa). Na realidade, as desconfianças de Hermione percorriam um caminho totalmente adverso.
Desde aquele ataque dos Comensais de Voldemort em Hogsmeade que Gina e principalmente Harry estavam estranhos. Até o momento, Hermione tinha esperado para ter certeza e até pensara que um dos dois fosse comentar com ela e Rony alguma coisa. Contudo, nada tinha acontecido.
E Hermione definitivamente estava perdendo a paciência.
Ah, ela iria descobrir o que estava acontecendo mais cedo ou mais tarde! Não era chamada de sabe-tudo, intrometida e mandona por bobagem; apesar de não gostar de ser chamada assim, ela sabia que era tudo isso. Descobriria qual era o mistério que envolvia aqueles dois ou não se chamava Hermione Granger!
- Parece que chegamos... - Harry disse distraído, observando a janela da cabine com um olhar perdido.
Hermione parou de coçar a orelha de Bichento e se levantou. Harry começou a juntar seus pertences. Rony, parecendo muito contrariado, arrastou-se até as suas coisas e depois as de Gina (que ainda estavam na cabine), e juntou tudo para saírem do trem.
Estava caindo uma neve fina na Plataforma 9 3/4, e Hermione precisou ajeitar seu cachecol ao redor do pescoço, bem como sua capa. O vento fustigou seu rosto, e ela viu um grupo crianças do primeiro ano se encolhendo e tremendo de frio a alguns metros. Próximo a ela, Rony parecia ainda tão irritado, que o frio não lhe afetava, diferente de Harry, que estava com o nariz vermelho por causa do vento gelado.
- É a sua mãe que virá nos buscar, Rony? - Hermione perguntou, mais para quebrar o silêncio que ainda reinava entre eles do que por realmente querer saber.
- Não. - ele disse distraído, virando a cabeça de um lado para outro como se estivesse procurando alguém. - Mas ela não me disse na carta que me mandou semana passada quem virá.
E ele continuou apertando os olhos à procura de "sabe-se lá Deus quem".
Hermione suspirou profundamente. Desejou que Harry não estivesse tão absorto para poder conversar com ele, porém parecia que ele não estava muito a fim de papo. Seus olhos focavam um ponto distante da estação, totalmente vidrados. Hermione percebeu que não adiantaria interrompê-lo; quando ele ficava pensativo assim era perda de tempo tentar tirá-lo desse estado.
Neville acenou para eles e desejou boas férias antes de ir ao encontro da avó, que ralhou com ele assim que o garoto chegou perto dela. Hermione os observou se afastarem e, por um instante, lembrou-se de um dia distante, em que viu Neville visitando seus pais no Hospital St. Mungus. A garota sentiu um arrepio na espinha; estavam vivendo em plena guerra... Quantos ainda não sofreriam como Neville e seus pais?
- Onde está Gina? - Rony perguntou emburrado, ainda levantando a cabeça para tentar achar a irmã.
- Bem ali. - Harry indicou com a cabeça e, afinal, Hermione se tocou que o ponto que o garoto focava todo aquele tempo era Gina.
Rony olhou aborrecido para Harry, como se ele tivesse culpa por ter dito onde estava a garota. Então, o ruivo acenou para a irmã, que estava a alguns metros, despedindo-se de Luna. Ela olhou não menos furiosa para Rony e, depois de alguns minutos, aproximou-se.
- Onde você estava? - Rony perguntou de supetão.
- No trem. - ela respondeu completamente enfadada.
- Isso eu sei!
- Então por que perguntou?
Hermione e Harry se entreolharam e rapidamente desviaram o olhar, abafando risadas. Rony os encarou com muita raiva, mas não disse mais nada. Gina olhou ao seu redor e, depois de muito observar, comentou:
- Ainda não apareceu ninguém?
- Era exatamente o que eu estava pensando. - Hermione falou. - Perguntei para o Rony se a Sra. Weasley viria nos buscar, mas ele disse que não.
- Ah, sim... - Gina fez um gesto displicente. - Provavelmente, será qualquer outro membro da Ordem...
Harry lançou um olhar rápido para Gina e recebeu um outro olhar, bastante significativo, da garota. Hermione os observou com cuidado, mas não conseguiu entender o que poderiam estar querendo dizer um ao outro. Gina percebeu o olhar da garota, pois se virou para ela, sorriu e se encolheu na sua capa, murmurando algo a respeito do frio que estava na estação.
Não foi preciso esperar muito mais. Poucos minutos depois, alguém bateu nos ombros de Harry, que deu um sobressalto e se virou intrigado para ver quem fizera aquilo. Hermione também levantou sua cabeça e viu, atrás de Harry, o rosto desfigurado de Alastor "Olho-Tonto" Moody encarando muito aborrecido os jovens, o que fazia com que suas cicatrizes se acentuassem ainda mais. O seu olho mágico girava loucamente, como se estivesse à procura de algum movimento escuso na estação; porém, a única movimentação estranha que Hermione localizou foi a perseguição de um gato amarelado a um pombo que tinha pousado em cima de um malão.
- O que estão esperando aqui, sozinhos? - o ex-auror perguntou abruptamente. - Alguém lhes lançar uma maldição pelas costas? Não se dá sopa para o azar, garotos! Ah, se todos se importassem com sua própria segurança não teríamos tanto trabalho!
- Concordo! - disse uma voz atrás de Hermione, em um tom brincalhão. Ela se virou e reconheceu Nimphadora Tonks, com um sorriso divertido nos lábios. - Aquela lata de lixo dali parece realmente suspeita, Olho-Tonto!
- O quê? - ele se virou rapidamente, sua mão cheia de cicatrizes correndo para a varinha, e seu olho mágico alcançando o lugar a que Tonks tinha se referido em menos de um segundo.
Tonks, com uma expressão completamente desolada, apenas suspirou profundamente e murmurou:
- Era uma piada...
Porém, Moody continuava observando a lata de lixo com desconfiança. Hermione e Gina trocaram um olhar cúmplice e disfarçaram um sorriso.
- Mas e vocês? - Tonks, que, naquela ocasião, estava com cabelos verde-limão na altura do ombro e espetados, cumprimentou simpaticamente. - Beleza?
Enquanto Moody ainda procurava algo estranho na lata de lixo, Tonks tentou ajudar Gina e Hermione com suas coisas, mas fracassou como sempre e deixou a cesta de Bichento cair no chão, o que fez o gato pular direto na perna de pau de Moody, quase a arrancando. No entanto, antes que Moody lançasse uma azaração no gato, Harry se adiantou e conseguiu tirá-lo da perna e, a partir dali, Bichento não mais saiu do colo do garoto, parecendo aterrorizado demais para mudar de posição.
Eles cruzaram a passagem entre as plataformas nove e dez em grupos de três: Hermione, Gina e Tonks em um, e Harry, Rony e Moody no outro (este olhando tanto para os lados que dava a impressão de que adquiriria um torcicolo). A estação, como de costume, estava apinhada de trouxas, e não foi novidade que Moody, com um chapéu enorme para esconder seu olho mágico, e Tonks, com seu cabelo verde fluorescente, tivessem chamado atenção.
Foi Hermione quem teve que ajudar Tonks a pagar as passagens do metrô com dinheiro trouxa. Durante todo o caminho, Rony tinha permanecido muito calado e emburrado, lançando de vez em quando olhares nervosos para Harry ou Gina, sempre como se estivesse observando cada movimento dos dois. Hermione foi obrigada a dar uma cotovelada forte no garoto quando sentaram lado a lado nos bancos do metrô, alertando que aquela situação estava começando a ficar ridícula.
- Ridículo, eu? - o garoto perguntou indignado, com um olho grudado em Hermione e o outro ainda prestando atenção em Harry e Gina, que estavam sentados juntos do outro lado, cochichando algo, ao mesmo tempo em que Tonks se sentava ao lado dos dois. - Será que você não percebe, Hermione?
Ela ergueu as sobrancelhas para Rony, fazendo um bico irritado.
- O que há para perceber, Rony? - perguntou pacientemente.
- Ora, o que há? - ele retrucou, seus olhos se arregalando de espanto. - Hermione, os dois não se desgrudam! Você viu que Harry fez questão de sentar ao lado dela assim que entramos aqui? E ele sempre costumava sentar ao meu lado nas viagens!
Hermione abriu um sorriso maroto.
- Então, é isso? Você está com ciúmes da sua irmã e seu melhor amigo? Não se preocupe, meu bem, porque eu não vou te deixar sozinho... - ela zombou, piscando para ele. - Mas só se você parar de ser tão idiota.
- Isso não é motivo pra piada! - ele respondeu com suas orelhas tão vermelhas que pareciam estar próximas do ponto de ebulição. - Eles estão tendo algo, eu sei disso!
- E se estiverem? Eles já estão bem grandinhos para saberem o que querem da vida, não?
Dava a impressão de que Rony estava com vontade de bater em algo para descontar sua raiva e frustração. Hermione tentou acalmar os ânimos, mesmo que soubesse que não adiantaria muita coisa.
- Olha, Rony... - ela disse, baixando a voz, já que Moody tinha acabado de se sentar ao lado deles. - Eu tenho certeza de que nada está acontecendo entre eles, mas mesmo que estivesse, não é isso que mais me preocupa.
- E o que pode ser mais preocupante?
Hermione suspirou longa e profundamente, ao mesmo tempo em que lançava um olhar exatamente para Harry e Gina. Rony também o fez, e ambos observaram Gina, com um olhar tenso e preocupado, murmurar algo para Harry.
- O que pode ser mais preocupante, Rony... - ela falou, virando-se para observar novamente o garoto. - ...é o que talvez esteja acontecendo com eles.
- Aonde você quer chegar? - ele perguntou, franzindo as sobrancelhas com um ar de preocupação.
- Eu estou dizendo, Rony... que eu estou com a sensação de que algo grave aconteceu com Harry, e só Gina sabe o que é.
- E por que ele falaria isso só para Gina, justo para ela, se é conosco que ele sempre dividiu as coisas?
- Talvez tenha sido algo tão grave, que ele não possa ter contado para nós. - Hermione disse lentamente, expondo pela primeira vez suas suspeitas. - Talvez Gina tenha sido sua única opção...
Rony virou o rosto para ver a irmã e o amigo, bem como Hermione, e os dois observaram quando Harry encontrou também seus olhos e, por segundos intermináveis, transmitiu algo incompreensível naquele brilho dos seus olhos verdes. Porém, passados esses segundos, Harry desviou o olhar, povoando de dúvidas as mentes de seus dois melhores amigos.
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- Largo Grimmauld, número doze. - Harry murmurou, virando-se para Gina. - Então, é aqui?
A garota, que como Harry e os outros mais à frente, também observava atenta à materialização da casa velha e suja, a qual, magicamente, tinha "inflado" entre os números onze e treze, virou-se para ver o garoto. Eles sempre tentavam de todas as maneiras ficar um pouco distantes do grupo, para poderem conversar livremente, o que era muito complicado, já que Tonks e Moody estavam os escoltando. Entretanto, naquele raro momento, Gina poderia responder a mais uma das dúvidas de Harry. E ela sabia que era importante para ele entender aquelas coisas.
Eles não tinham comentado nada sobre o assunto da noite anterior. Era óbvio que Gina tinha notado como Rony os observara durante toda a viagem, mas no momento ela não estava se importando nem um pouco com a rabugice de seu irmão; na realidade, ficara muito mais apreensiva depois de ver o modo como Hermione tinha cochichado com Rony no metrô. Sim, se Gina estava preocupada por causa de alguém, era por Hermione.
Por sorte, tanto Moody quanto Tonks estavam tão ocupados cuidando da segurança dos jovens, que não notaram diferença alguma em Harry. Contudo, Gina estava com medo do momento no qual que sua mãe visse o garoto; Molly Weasley era bastante observadora e apegada a Harry para notar que alguma mudança séria tinha se operado nele. Mas Gina não queria sofrer por antecipação e preferiu responder à pergunta de Harry:
- Sim, é aqui, Harry... Essa é a sede da Ordem da Fênix, eu lhe expliquei o que isso significava ontem.
- Eu sei... - ele murmurou, ligeiramente esquivo. - Gina, é aqui... você disse ontem... aqui era a casa de... Sirius?
Ela tentou não demonstrar pena no olhar.
- É aqui mesmo. Essa casa pertencia à família Black, e Sirius, como último herdeiro, cedeu-a como sede da Ordem. - ela engoliu em seco e prosseguiu. - Depois que ele se foi, essa casa ficou sendo da pessoa que ele mais gostava... você.
Gina sentiu que Harry a observou por alguns instantes antes de desviar o olhar para o chão e não dizer mais nada.
- O que estão fazendo aí atrás? - Moody perguntou irritado, voltando e fazendo Harry e Gina andarem aos empurrões. - Vamos, vamos entrar antes que alguém nos veja!
Eles subiram os degraus de pedra gastos, e Gina preferiu não olhar muito nem para Hermione ou Rony, que estavam observando tanto ela quanto Harry depois que Moody os censurou. Tonks, olhando para os lados com ligeira apreensão, sacou a varinha e deu algumas batidas na porta.
Depois de alguns instantes, entrecortados por ruídos metálicos, a porta abriu com um rangido fino e agudo, e Gina entrou na casa depois de Rony e Hermione, sendo seguida por Harry e bem atrás ficaram Tonks e Moody. A garota cochichou com Harry para que ele não fizesse barulho - ela sabia que, por mais tentativas que tivessem sido feitas, ninguém conseguira descobrir o segredo do quadro da Sra. Black, que continuava escondido por cortinas de veludo - no entanto, não foi nenhum deles que despertou o quadro.
POW.
Os quatro jovens se viraram ao mesmo tempo para verem o que tinha acontecido e viram Tonks, que carregava o malão de Hermione, caída sentada no chão, e ela tinha levado junto Moody, que xingava alto uma variedade impressionante de palavrões, mexendo a sua perna de verdade para todos os lados, chutando a perna de pau que estava em um ângulo esquisito depois que Tonks deixou cair o malão sobre ela.
Os palavrões de Moody, dois segundos depois, começaram a competir com uma voz histérica e guinchos que Gina conhecia muito bem. As cortinas de veludo que escondiam o quadro da Sra. Black se escancararam, e com seus olhos girando nas órbitas de fúria, ela começou a gritar:
- Seus mestiços imundos, emporcalhando a casa de minha família, como ousam pisar no mesmo chão onde pisaram os nobres mais distintos dos Black? Sangues-ruins, traidores sujos, vergonha para os bruxos!
- OLHA O QUE VOCÊ FEZ! - Moody gritou, ainda tentando colocar sua perna de pau no lugar certo, mas sendo atrapalhado por Tonks, que não parava de pedir desculpas, só contribuindo para aumentar a confusão.
Rony bufou muito irritado e se adiantou para o quadro, tentando fechar as cortinas. Depois de lançar um olhar completamente intrigado para Gina, Harry também foi tentar ajudar, no entanto, a sua presença perto da Sra. Black só piorou as coisas. Ela arregalou os olhos para ele, babando como um animal raivoso:
- Você, seu mestiço! Filho daquele traidor dos sangues-puros que se uniu ao meu filho abominável! Desgraçado, peste -
Um jato de luz atingiu a pintura da Sra. Black bem no peito e, após um suspiro, ela desmaiou. Todos os olhares se concentraram em Hermione, que mantinha a varinha apontada para o quadro. Eles ouviram o baque seco quando Moody deixou sua perna cair, tal fora seu espanto.
- Uau! Isso foi incrível, Hermione! - Tonks exclamou, quebrando o silêncio que tinha se formado.
Sorrindo presunçosa, a garota guardou a varinha nas vestes, tentando parecer modesta.
- Onde você aprendeu isso? - Rony perguntou surpreso.
- Se dedicar aos N.I.E.M.s tem suas vantagens. - ela se limitou a dizer, encarando com repreensão tanto Rony, quanto Harry, que se entreolharam e fecharam as cortinas do quadro.
- Oh, por Merlin! - uma voz disse atrás deles. - O que aconteceu aqui?
Gina viu sua mãe se aproximar, limpando as mãos no avental. Naquele momento, a garota esqueceu qualquer outro problema que lhe afligisse e sentiu uma mão torcer fortemente seu coração. Sua mãe, que sempre fora uma mulher tão risonha e alegre, muitas vezes também severa e preocupada com seus filhos, nunca mais fora a mesma desde que perdera Percy. Naqueles anos de guerra e sofrimento, ela tinha emagrecido tanto, que nem parecia mais a mesma Molly Weasley que Gina se lembrava desde criança; era agora uma mulher sempre pálida, abatida e preocupada.
- Ah, esse quadro de novo... - ela suspirou cansada. - Eu ouvi os gritos da cozinha e vim o mais rápido que pude... - ela observou Moody e Tonks ainda no chão, de olhos arregalados em espanto. - Mas, quem o silenciou?
- Hermione! - Tonks exclamou animada, levantando-se e chutando sem querer o olho mágico de Moody, que tinha se desprendido da órbita dele. - Ô, desculpa aí, Olho-Tonto... ai, que nojo! - e virando-se para Molly. - Ela fez um feitiço da hora para calar a boca da velha!
Corando ligeiramente, Hermione apenas esboçou um sorriso. Rony revirou os olhos. Foi aí que Molly percebeu a presença dos jovens.
- Ah, vocês estão todos aí, meninos! Que saudade de todos vocês!
E a matrona dos Weasley abraçou cada um dos garotos, com seu carinho de mãe que Gina conhecia muito bem. Quando a mãe a abraçou, foi quando a garota realmente percebeu como ela tinha emagrecido, e novamente uma pressão forte se fez na sua garganta - se havia uma coisa que deixava Gina sem rumo era ver que sua mãe, a pessoa que ao lado do seu pai ela mais tinha como duas muralhas na sua vida, estava desmoronando com todo aquele sofrimento. E Gina se sentia impotente perante a isso.
Molly deu um abraço bem demorado em Harry que, apesar de estar um pouco confuso, pareceu gostar bastante daquele carinho. Enquanto isso, Moody recolhia seus "pedaços" perdidos, tentando recolocá-los todos no lugar, murmurando novas imprecações contra Tonks, que ele chamava de "desastre ambulante".
- Molly, eu vou precisar de um copo d'água para ajeitar isso. - ele disse, mostrando o seu olho mágico girando na palma da mão direita. Hermione e Tonks fizeram caretas de nojo ao ver isso, e Harry arregalou os olhos.
- Ah, claro, vamos para a cozinha e você poderá pegar o que quiser, Olho-Tonto. - a mulher disse distraída, muito mais preocupada em ralhar com Rony, dizendo que ele precisava cortar o cabelo urgentemente, o que o garoto respondeu com um resmungo.
- O cheiro está ótimo, Molly. - Tonks comentou assim que entraram na cozinha. - Está preparando o jantar sozinha?
- Ah, sim, estamos só eu e Monstro aqui. Vocês sabem, mesmo no sábado há muito trabalho. - ela explicou cansada, acenando com a varinha e fazendo facas picarem sozinhas os pepinos. Perto dela, Moody apanhou um copo e encheu com água da pia, olhando-o desconfiado para em seguida, enfim mergulhar nele seu olho mágico, que girou em todas as direções. - Arthur está ainda no Ministério, parece que houve um incidente estranho em um shipping trouxa em... ai, onde, era mesmo?
- Shopping. - Hermione murmurou inconscientemente, sentando-se à mesa, de frente a Rony. Gina se sentou ao lado da garota e observou Harry, que por sua vez parecia muito absorto olhando as pratarias da família Black, dispostas em uma prateleira de pedra negra.
- Sim, eu soube... - Moody comentou, cutucando com o dedo o olho na água. - Foi coisa de Comensais.
Rony, Hermione e Gina aguçaram os ouvidos, mas Harry permaneceu de costas, ainda observando a prataria.
- Foi mesmo? - Molly perguntou assustada. - No Ministério ainda não tinham certeza...
- Ah, foram Comensais sim. - Tonks falou penosamente. - E, pelo que eu me lembre, esse shipping era em Little Whinging... - ela continuou, enrugando as sobrancelhas. - Ei, Harry, é por lá que seus tios trouxas moram, não é?
Eles ouviram o som metálico de algo se espalhando pelo chão; Harry tinha acabado de deixar cair uma travessa. Ele deu um sobressalto, assustado, e olhou instantaneamente para Gina. Ela engoliu em seco; já tinha dito a ele sobre seus tios, mas não esperava que algo assim fosse acontecer.
- Oh, Harry, querido... deixe que eu apanho isso... - a matrona dos Weasley se adiantou, abaixando-se para pegar a travessa. - Vocês todos devem estar cansados, além disso, essas conversas não são para crianças!
- Ah, mãe, deixa disso! - Rony reclamou. - Nós já somos maiores de idade!
- Mas, ainda estão na escola! - ela retrucou severamente, levantando-se com a travessa nas mãos. - E Gina ainda é menor de idade!
Gina bufou exasperada. Por que tinha que sempre sobrar para ela?
Dois minutos depois, ela, Rony, Hermione e Harry subiam as escadas para o primeiro andar da casa. As horrendas cabeças dos elfos domésticos que serviram os Black por gerações tinham sido retirados no ano anterior, na última limpeza total da casa. Depois disso, tudo o que ainda restava era impossível remover, assim como o quadro da Sra. Black.
- Será que aconteceu alguma coisa com seus tios, Harry? - Hermione perguntou no alto da escada.
Gina gelou; teve medo da forma como Harry fosse responder à pergunta. Entretanto, antes que ela ao menos tentasse disparar alguma frase para tirá-lo daquela enrascada, o garoto murmurou, um pouco sem jeito:
- Anh... tomara que eles estejam bem...
Gina respirou aliviada. Pelo menos Harry não estava mais tão dependente dela... No entanto, uma vozinha egoísta no fundo do seu peito dizia que aquilo não era nada bom. Gina tratou de calar logo essa voz.
- Não seria ruim se eles levassem um susto. - Rony disse com selvageria. - Do jeito que você dizia que eles te tratavam...
- Credo, Rony, também não é assim! - Hermione exclamou horrorizada.
Antes que Rony pudesse retrucar, eles ouviram uma voz rouca e sonora, porém baixa, resmungando:
- ...de volta esses pirralhos, sujando a casa da senhora de Monstro... Todos traidores do sangue, envergonhando os mestres dignos, ah, pobre do velho Monstro... A senhora ficaria muito, muito brava com o Monstro, mas Monstro não pode fazer nada... De novo essa sangue-ruim pisando na casa da nobre senhora de Monstro, e esses pirralhos insolentes e desagradáveis, mal-educados e traidores... ah, se a senhora soubesse...
Monstro, o velho elfo doméstico dos Black, passou pelos garotos no corredor, mais encurvado, enrugado e careca do que nunca. Hermione o encarou com uma certa piedade, mas Rony estreitou os olhos com raiva.
- Falando sozinho como sempre, Monstro? - ele insinuou. - Estou enganado ou você estava se referindo a nós quando citou os "pirralhos insolentes e desagradáveis"?
- Monstro não falou nada, nada, não... - fazendo uma reverência, mas em seguida resmungou: - Quem ele pensa que é esse sujo, traidor, um intrometido... é isso que ele é, é sim...
Rony fez um barulho de indignação, mas antes que pudesse dizer algo, Hermione falou:
- O Monstro não teve a intenção, não é? Ele só está chateado...
- Sangue-ruim enxerida, é isso que ela é, suja... é sim. - ele resmungou rápida e furiosamente. - Ah, o que a senhora de Monstro diria? Ah, ela daria roupas para Monstro se soubesse... pobre senhora...
- Como ousa, seu filho da mãe? - Gina exclamou furiosa, com vontade de jogar a mochila que carregava na careca do elfo.
- Vamos, vamos para o quarto... - Hermione pediu, segurando o braço de Rony, que parecia prestes da dar um soco em Monstro.
- Pirralha suja, sempre se achando melhor que Monstro, quem ela pensa que é?
- Ei! - Harry disse subitamente, manifestando-se pela primeira vez, surpreendendo a todos, principalmente Gina. - Veja lá como fala!
Monstro levantou os olhos e os arregalou ao enxergar Harry. Fez uma profunda reverência, quase encostando a careca no chão, e disse alto:
- Oh, jovem Harry Potter, Monstro não teve a intenção... - e resmungando: - Sempre se achando superior porque derrotou o Lorde das Trevas, mas Monstro sabe, sabe sim que o fim dele está próximo, ah, Monstro sabe disso sim... E Monstro fica contente, porque ele terá um fim pior do que o outro senhor de Monstro... ah, sim, terá o fim que merece...
- Vamos, vamos para os quartos agora! - Hermione empurrou todos, principalmente Gina e Rony, que estavam prestes a estrangular o elfo com as próprias mãos se fosse preciso.
Pouco tempo depois, os quatro estavam no quarto sombrio, de teto alto, que sempre era ocupado por Harry e Rony. Assim que entraram no quarto, nervosos e tensos, eles ouviram uma risadinha e uma voz vinda da parede:
- Ora, ora, quem apareceu?
- AH, NÃO, NEM VEM! - Rony exclamou, dirigindo-se ao quadro de Fineus Nigellus e cobrindo com uma tira de lona o artefato. As risadinhas não pararam. - VAI EMBORA!
Gina olhou para Harry; ele observava Rony, que chutava a parede. A garota sentiu medo por ele; era óbvio que Harry estava boiando completamente naquela história, mas ela sabia que o que Monstro dissera não era nada impossível, e era exatamente por isso que Rony e Hermione também estavam tão nervosos, pois todos tinham a mesma sensação.
Hermione se sentou em uma das camas, chateada, ao mesmo tempo em que Rony continuava xingando o quadro de Fineus, ameaçando jogá-lo pela janela se ele não fosse embora. Harry atravessou o quarto e foi observar a janela, de maneira que não possível ver seu rosto e tentar interpretar o que ele estava sentindo.
- Aquele elfo filho da mãe! - Rony xingou, tão nervoso que suas orelhas estavam passando de vermelho para roxo. - Um merdinha, como ousa dizer aquelas coisas?
- Vocês têm que entender... - Hermione começou, tentando sempre apaziguar a situação quando o assunto envolvia elfos domésticos. - Ele está velho, caduco, ele...
- Ele sabe muito bem o que diz, Hermione. - Gina replicou sombriamente, e correu rapidamente seus olhos para Harry, que permanecia de costas, em silêncio. Era óbvio, o que ele poderia dizer naquela situação? Provavelmente sua cabeça estava um emaranhado de pensamentos confusos, e Gina sabia que precisava conversar com ele, mas o momento não era adequado... Rony e Hermione estavam presentes. Se ao menos ela conseguisse dizer a eles o que estava acontecendo... mas Rony tinha estado tão nervoso com ela o dia todo... Poderia piorar as coisas ainda mais...
- Pára com isso, Hermione, você sabe que ele fala tudo aquilo de propósito! - Rony retrucou furioso. - E nem ao Harry, que é agora o mestre dele, ele tem respeito!
- Ele também não tinha com Sirius... - a garota lamentou, olhando apreensiva, com o rabo do olho, para Harry. - Vocês sabem, ele não sentia real lealdade ao Sirius, e é assim com Harry também...
Gina viu Harry se virar ligeiramente e olhar Hermione, mas logo ele voltou a observar a janela, em silêncio.
- O que ele quis dizer com aquilo, Harry? - Rony se virou para o amigo, bem como Hermione, ao mesmo tempo.
Gina levantou a cabeça; era a segunda vez no dia que faziam um comentário perigoso para Harry responder. Ela pensou novamente em interferir, mas Harry apenas respondeu com sinceridade, sem olhar para eles:
- Eu não sei...
- Talvez... - Hermione começou nervosa. - ...ele estivesse se referindo a Voldemort.
- Ele não pode saber de nada. - Gina afirmou, seu coração batendo muito depressa. - Ou pode?
Todos se entreolharam e, em seguida, voltaram sua atenção para Harry, ainda de costas. Como ele não disse absolutamente nada, Rony comentou:
- Ele saiu daqui uma vez, não é? Foi no quinto ano...
- Só se for mandado, Rony. - Hermione falou. - E o único que poderia fazer isso agora seria Harry.
Nesse momento, Harry saiu da janela, parecendo confuso e preocupado. Ele se sentou na barra da cama, cruzando os dedos sobre os joelhos; levantou os olhos rapidamente para encarar novamente Gina, mas rapidamente os abaixou de novo.
- Mas Dobby saiu da mansão Malfoy sem permissão uma vez. - Rony lembrou. - Monstro poderia muito bem fazer isso também e nem se castigar, pois como você mesma disse, Hermione, ele não sente lealdade verdadeira ao Harry. - ele se virou para o amigo; Gina gelou novamente. - O que você acha, Harry?
Lentamente, Harry deixou seu corpo cair sobre o colchão, puxando vagarosamente a ponta do travesseiro e encostando sua cabeça nele. Como se aquilo estivesse custando muito a ele, o garoto fechou os olhos e apenas murmurou:
- Eu acho que estou muito cansado...
Gina se sentiu egoísta ao observá-lo daquela maneira. Ela ali, preocupando-se com seus pequenos problemas... deixando-o daquela maneira, quando o que ele precisava mesmo era voltar a entender quem ele realmente era. O que não deveria estar passando em sua cabeça, o quão confuso não deveria ser enfrentar tudo aquilo, sentindo-se tão sozinho?
Não havia escapatória para Harry: com ou sem suas lembranças, o peso de suas responsabilidades, de seus problemas, de seu nome, continuava a curvar seus ombros, exaurindo-lhe as forças.
Gina só queria que ele não tivesse que passar por tudo aquilo...
Agora a fic alcançou as atualizações nos outros lugares... hehe... tomei vergonha na cara finalmente, huahuahaua :D Espero que tenham gostado ;) Bjusss
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