A porta-voz de Harry
Hogwarts, 27 de outubro de 1997
Tem sido cada vez mais difícil lidar com essa situação. Não pensei que pudesse ser tão complicado ensinar Harry a ser ele mesmo. Naquele dia, quando tudo aconteceu, eu pensei que isso fosse ser bem mais fácil, mas agora vejo que não. É um milagre que ninguém ainda tenha descoberto o que de fato aconteceu com ele, naquela noite em Hogsmeade.
Esse Harry de agora é uma pessoa totalmente diferente do Harry que eu conheci. O verdadeiro Harry Potter é um garoto extremamente independente, senhor de seus próprios atos, sem contar a parte ruim: que ele era bem mais calado e triste. Essa parte não me incomoda; é claro que eu queria que nada disso tivesse acontecido, mas não posso deixar de sorrir também quando o vejo alegre. Mas o sorriso de Harry, agora, tem o seu preço. Ele é extremamente dependente, não faz nada sem perguntar a mim como deve agir primeiro. Isso me incomoda.
Não que eu não goste dessa atenção... ah, não, estou começando a ter esses pensamentos de novo! Tá, vou ser sincera comigo mesma: sim, eu estou gostando de ficar mais perto dele. Mas o ruim é essa "dependência" de Harry... Não posso culpá-lo, sei bem disso. Afinal, eu sou a única pessoa até agora que conhece seu segredo e, conseqüentemente, a única pessoa em que ele pode chegar e perguntar as coisas. É como se eu fosse a única pessoa que ele conhecesse dentro desse enorme castelo.
E eu sei que isso é minha culpa! Se eu não fosse tão medrosa... sim, apesar de ser uma grifinória, tenho que admitir que estou sendo medrosa, mesmo que repita para mim mesma que isso é apenas prudência. Não me sinto segura em contar para alguém o que está acontecendo. Só hoje, perdi a conta de quantas vezes me passou pela cabeça contar para Rony o que está acontecendo. Ou então ir até a ala hospitalar e desabafar tudo para Hermione. Ou até mesmo chamar os dois e contar tudo de uma vez! Mas eu não sei, eu simplesmente não me sinto segura. É como se apenas o fato de repetir em voz alta o que aconteceu pudesse colocar Harry em perigo.
Como se ele não se metesse em perigo normalmente... Mas agora a situação é outra: ele não é o mesmo Harry. Ele não saberia sair de uma confusão, e isso me deixa totalmente sem rumo. Pensei em contar para Dumbledore também, mas desisti... Ultimamente, o professor tem estado cada vez mais abatido e cansado. E todos sabem muito bem o porquê: a Ordem da Fênix. Depois do ataque a Hogsmeade, todos puderam perceber que... ah, eu ainda não consigo falar o nome dele normalmente. O.k., Harry sempre falou o nome dele; Hermione já fala o nome dele há um bom tempo, e até mesmo Rony fala às vezes. Mas eu simplesmente não consigo dizer sem sentir meu estômago revirar horrivelmente. Eu já disse poucas vezes, mas é horrível, e eu não vou escrever o nome dele aqui.
O que importa mesmo é que ele - Tom Riddle - está mais perto do que nunca de Hogwarts. Todos puderam notar isso depois do ataque a Hogsmeade. E isso preocupa Dumbledore, que parece estar cada vez mais cheio de problemas por causa da Ordem. Eu sei que ele gostaria de saber o que se passa com Harry, mas eu simplesmente não consigo ir e falar com ele. Acho melhor esperar... pelo menos mais algum tempo, afinal, tudo aconteceu apenas há três dias, e eu ainda tenho esperanças de que se resolva. Estou pensando em ir à biblioteca ver alguns livros... talvez haja algo lá que me dê alguma luz.
Tenho que admitir: estou perdida... Só espero que consiga esconder o segredo de Harry pelo menos mais algum tempo... Parece que Hermione vai sair da ala hospitalar amanhã. Sei que deveria estar feliz por isso, mas não consigo parar de sentir medo. Hermione é esperta... ela vai desconfiar...
- Escrevendo nesse diário de novo?
Gina sentiu o ar se movimentando às suas costas à medida que seus cérebro decodificava a frase. Assustada, ela fechou o diário com estrépito, tão rápido que o fechou no seu dedo, que latejou fortemente.
- Calma... - Luna disse, arregalando ainda mais seus olhos azuis já arregalados de nascença. - Do jeito que você age, às vezes eu penso que você esconde um segredo terrível aí dentro desse diário. - ela completou, sentando-se ao lado de Gina na mesa da Grifinória.
Gina engoliu em seco, encarando Luna sem saber o que dizer. Às vezes ela achava que Luna sabia mais do que aparentava, mas depois via que não. Gina fechou o diário cuidadosamente, seu dedo ainda latejando, e posicionou-o sobre o colo, o lugar mais seguro que pôde pensar naquele momento.
O Salão Principal ainda não estava tão cheio quanto de costume. Gina foi uma das primeiras a chegar ali, e ainda havia muitos alunos vindo para jantar; dava para ouvir nos andares acima o tropel dos alunos ansiosos por um suculento prato de comida do banquete.
- O que você está fazendo aqui, Luna? - Gina perguntou, tentando soar o mais normal possível.
- Nossa... é proibido agora vir falar com os amigos de outras Casas? - ela retrucou, com aquele seu mesmo tom sonhador de sempre, mas Gina sentiu um leve tom de sarcasmo também. E Luna não era disso, a menos que estivesse muito brava com alguma coisa.
- Você... ainda está chateada comigo?
- Chateada por quê? - ela perguntou distraidamente, catando uma rosquinha da mesa e enfiando-a na boca.
- Hoje... mais cedo... na aula de Herbologia... - Gina tentou se explicar, um pouco sem jeito. Ela não sabia se era uma boa idéia tocar nesse assunto agora com Luna, mas também não queria ficar com aquele clima ruim com a amiga.
- Ah, aquilo... Por que eu ficaria chateada?
Gina observou por alguns instantes a garota engolir a rosquinha, lambendo os dedos em seguida. Só depois de muito tempo foi que notou que devia uma resposta a Luna.
- Bem... fico feliz que não esteja chateada, então.
- Você falou com Colin Creevey sobre as fotos dos Bufadores de Chifre Enrugado? - Luna perguntou parecendo realmente interessada, catando mais uma rosquinha e comendo-a com apetite.
- Ah, falei... - Gina disse distraída, servindo-se de suco de abóbora. - Ele falou que tudo bem, contanto que você compre o filme.
- Certo... vou falar com meu pai.
Ela fez menção de se levantar, mas se sentou novamente muito rápido, seus olhos extremamente arregalados. Gina também se sobressaltou ao ver os garotos que se aproximavam.
- O que a McGonagall tanto quer da gente, afinal? - Rony perguntou indignado para Harry, que caminhava ao seu lado parecendo muito chateado. - Você tem noção de quantos deveres de casa pendentes nós temos?
- É... - Harry disse vagamente. - Tem razão...
- E ainda temos o jogo contra a Corvinal domingo que vem! - Rony continuou reclamando, sentando-se de frente a Gina, enquanto Harry sentava ao lado dele, de frente a Luna. Ele olhou de esguelha para Gina, desesperado, claramente perguntando o que deveria fazer. - Ah, ela nem pra dar uma folga pra gente! Acho que ela quer que a Grifinória vença tanto quanto nós, não?
- O Prof. Flitwick não deu tarefa para a minha turma da Corvinal hoje. - Luna comentou sonhadoramente, mas Gina reparou que ela olhava atentamente com o canto dos olhos para Rony. - Disse que não precisávamos, mas todo mundo sabe que ele fez isso porque o apanhador do nosso time é da minha turma...
Luna tinha razão. Gina sabia muito bem que, depois da saída de Cho Chang no ano anterior, o lugar vago de apanhadora tinha sido preenchido por Kevin Craddock, um sextanista da Corvinal. Exatamente aquele mesmo garoto que Luna insistia que estava a fim de Gina há quase seis meses...
- Não precisa nos lembrar que a McGonagall não é bondosa conosco como o Flitwick é com vocês. - Rony retrucou irritado, servindo-se de pudim de ruibarbo. - Já é ruim o bastante sem ninguém ficar nos lembrando...
Luna não pareceu ficar magoada com ele. Ela apenas continuou observando, como se ele fosse a coisa mais interessante em toda a mesa.
- Aliás, o nosso treino é quinta, não é, Harry?
Harry foi pego de surpresa com a pergunta, e quase engasgou com o suco que tomava. Ele olhou imediatamente para Gina, que entendeu o problema. Primeiro: ele nem sabia direito o que era quadribol. Segundo: ele ainda não entendia o que era ser apanhador e capitão do time.
- É claro que é na quinta, você não ouviu quando o Harry nos avisou disso sexta passada, Rony? - Gina perguntou, fingindo um tom reprovador. Ela viu Harry respirar aliviado, e sabia que, pelo menos por agora, ela tinha livrado a sua pele. Mas isso a lembrava que ela tinha que ensiná-lo a jogar quadribol, e antes da quinta-feira.
- Eu só tava confirmando... - Rony falou, em tom de quem se defende. - Bem, vamos ter que arrumar um horário livre nos estudos nesse dia... Hermione vai ficar doida quando souber...
Luna levantou os olhos para encarar Rony quando ele mencionou Hermione, mas abaixou-os antes que mais alguém além de Gina notasse. Neville sentou ao lado dela e se serviu de salsichas fritas. Rony aproveitou que tinha chegado alguém novo para reclamar de tudo.
- Você também está atolado de lições, Neville?
- Hum... Nem tanto... - o garoto falou, engolindo um pedaço da salsicha. Rony suspirou desolado. - Tive dois tempos de Herbologia agora, a Profª. Sprout só mandou fazer uma redação sobre plantas venenosas, não é muito complicado...
- Sorte sua. - Rony desabafou. - McGonagall nos entupiu de deveres de casa...
- Ainda bem que eu não tenho mais Transfiguração, não é? - Neville disse, seu rosto redondo exibindo um sorriso.
Rony bufou e desviou sua atenção para o pudim de ruibarbo. Gina olhou para Harry e viu que ele observava tudo atentamente, como se estivesse tentando absorver tudo para aprender alguma coisa. Deveria estar sendo mesmo complicado para ele... mas antes que Gina pudesse fazer qualquer coisa, ouviu Neville falar, dirigindo-se a Luna:
- Ah, que bom que você está aqui, Luna! Eu queria mesmo -
- É verdade! - Rony exclamou, tirando novamente sua atenção do pudim. - O que você está fazendo aqui, Loon, quer dizer... - ele corrigiu rapidamente, antes que chegasse a falar "Loony". - Luna?
Ela olhou fundo para Rony e, por um segundo, Gina teve a impressão de que ela se chateara com o que ele disse. Sem pensar duas vezes, ela se levantou e murmurou:
- Eu vou para a minha mesa.
- Ei, Luna, espera!
Mas ela já estava longe quando Gina gritou por ela. Harry parou no meio do seu ato de engolir os ovos, e ficou encarando intrigado Luna, claramente sem entender o que acontecia. Neville parecia desanimado e resmungou:
- Droga, eu queria falar uma coisa para ela!
Gina se virou irritada para o irmão.
- Por que você falou com ela daquele jeito?
- Quim jantoi?
- Dá pra você engolir a comida, por favor? - Gina exclamou nervosa. Por que Rony tinha que ser tão grosseiro às vezes?
Ele mastigou mais algum tempo, engoliu a comida e se virou para a irmã com um ar de indulgência.
- Assim você parece a Mione!
Gina bufou.
- Você não precisava ter falado assim com a Luna!
Harry olhava de Rony para Gina como se estivesse assistindo uma partida de tênis. Neville comia com vontade, mas dava para notar que ele observava os irmãos discutirem por cima de seu prato.
- Eu só fiz uma pergunta! - Rony se defendeu. - Credo, não precisa ficar assim nervosinha, Gina!
Novamente, ela bufou. Harry a encarou com um ar interrogativo, e ela apenas lhe lançou um olhar do tipo "eu explico mais tarde". Gina se virou no banco e olhou de esguelha para Luna, que tinha aberto um exemplar do Pasquim e se escondera atrás dele. Mas ela sabia que Luna estava chateada... ela tinha um segredo, que não contava para ninguém, mas Gina já tinha percebido aquilo há muito tempo, mesmo que permanecesse em silêncio, em respeito à amiga. E o que era pior: ela tinha certeza de que o que Luna queria era impossível...
*******
- Eu não agüento mais...
Gina levantou os olhos do exemplar do "Livro padrão de feitiços (7ª série)", de onde tentava extrair alguma coisa para explicar para Harry, o que estava sendo bem complicado. Naquela noite, depois de todos irem se deitar, Gina começou a dar uma espécie de "aula particular" para Harry, tentando fazê-lo entender pelo menos um pouco de Feitiços, que seria uma das aulas que ele teria no dia seguinte. Mas estava sendo mais difícil do que ela imaginava.
- Mas, Harry...
- Chega, Gina, por favor... - ele implorou, tirando os óculos e depositando-os sobre os livros. Com uma aparência exausta, ele encostou-se à cadeira e começou a coçar os olhos. - Eu estou muito cansado... tudo isso é muito complicado...
Gina fechou o livro. Já tinha passado da uma hora da manhã. Estava realmente tarde, e ela imaginava o quanto ele deveria estar mesmo cansado, contando-se que ela também estava exausta. Depois do jantar, Harry e Rony começaram o dever de Transfiguração, e foi uma sorte que Harry já tivesse uma certa dificuldade natural com a matéria (desmemoriado ou não), pois assim Gina pôde ajudá-lo com o dever como se fosse uma coisa normal. É claro que isso implicou em ajudar Rony também, mas ao menos ele não desconfiou de nada.
Depois que Rony foi dormir, e a sala comunal foi se esvaziando gradualmente, Gina pôde tentar ensinar mais livremente para Harry algumas coisas. Ela decidiu começar pelas matérias que Harry teria no dia seguinte, tentando, ao menos, ensiná-lo o básico para que não desse vexame nas aulas. Harry contou que tinha sido bastante complicado fingir que sabia as coisas durante todas as aulas do dia. Gina calculou que Rony não tivesse desconfiado de nada devido à sua cabeça estar cheia por causa de Hermione, que ainda estava na ala hospitalar.
- Você conseguiu aprender alguma coisa, pelo menos? - Gina perguntou desanimada, começando a recolher os livros.
- Eu sei que Feitiços é basicamente fazer floreios com o graveto -
- Varinha. - Gina corrigiu.
- ...fazer floreios com a varinha... - Harry repetiu chateado. - E dizer umas palavras complicadas em latim.
- Já é um começo... - a garota suspirou.
Ele desencostou a cabeça da cadeira e olhou desolado para Gina.
- Sinceramente, como vocês todos conseguem lembrar de tudo? Essa história de magia é loucura! Acho que vou surtar com tudo isso!
- Você vai se acostumar... - Gina disse, mas não o olhou nos olhos. - É só uma questão de tempo, você vai ver...
- Acho que não. - ele retrucou sombriamente. Gina levantou os olhos e o encarou; Harry a encarava desconsolado. - Eu vou fracassar, Gina... Não vai dar certo!
- Vai dar sim! - ela insistiu, tentando convencê-lo e, o que era mais difícil, convencer a si mesma. - Você é esperto, Harry, vai conseguir!
Ele se encostou novamente na cadeira.
- Talvez eu fosse esperto antes... não sei, não me lembro. Mas agora... eu me sinto um completo idiota, totalmente perdido... em todos os sentidos.
Gina o encarou penalizada, sem saber o que fazer ou dizer. Harry apanhou os óculos, levantou-se, caminhou até uma poltrona próxima da lareira e sentou-se novamente. Gina apenas o acompanhou com os olhos; Harry recolocou os óculos e passou a encarar as chamas da lareira, que se extinguiam. Havia um certo ar nostálgico nele.
- Por que nós apenas não abrimos o jogo?
Gina engoliu em seco. Não, ele estava voltando naquele assunto... Ela se levantou e chegou perto dele por trás. Harry ainda observava o fogo, como se estivesse fascinado. Gina encarou por alguns instantes o ombro dele, hesitando em apertá-lo, para tentar confortar o garoto. Ela desistiu e resolveu colocar a mão apenas no encosto da poltrona.
- É complicado, Harry... - ela murmurou. - E é perigoso.
- Eu não entendo por quê! - ele parou de encarar a lareira e se virou para ver Gina. - Não dá para entender por que você quer continuar escondendo! Gina, seria tão mais fácil se contássemos! Eu não vou conseguir... - ele engoliu em seco, suspirou e virou o rosto. Ficou em silêncio por alguns instantes. - ...fingir... por muito tempo.
- Harry... - ela se abaixou ao lado dele, apoiando as mãos no braço da poltrona. - Por favor, você... tem que confiar em mim!
Ele respirou fundo, e pareceu não querer olhar para ela. Depois de alguns minutos de silêncio, quando o único som na sala era o crepitar sonolento das chamas, ele novamente se virou para encarar Gina.
- Por quê? Por que você quer tanto continuar escondendo?
O tom dele era tão ressentido que, por um segundo, ele a fez se lembrar do antigo Harry. Gina suspirou e abaixou os olhos. Harry pareceu envergonhado depois disso.
- Me desculpe... - ele disse rapidamente. - Eu fui grosseiro com você...
- Não, você... tem todo o direito. - Gina murmurou vacilante, sentindo um nó horrível na garganta. - Eu estou mesmo sendo... horrível com você...
- Não! - ele exclamou, e Gina levantou os olhos ao sentir que ele tocara sua mão. Ela olhou boquiaberta para ele, e viu que ele posicionara sua mãos nas dela, com delicadeza. O olhar dele era arrependido. - Você está sendo maravilhosa comigo, eu é que estou descontando minha... frustração em você...
Gina estava totalmente desconcertada. Ela não conseguia desgrudar seus olhos dos verdes dele, que pareciam tão doces e quase... carinhosos... naquele momento. Ela sentiu aquele friozinho no topo do estômago novamente. Eles estavam tão... próximos... e as mãos dele ainda estavam sobre as suas. Gina não queria que ele as soltasse nunca. O toque dele era tão... quente e confortador. Como ela parecia ter perdido a fala, foi Harry quem quebrou o silêncio.
- E eu nem sei por que você é tão gentil comigo... tão atenciosa...
- Porque... - ela começou, e se amaldiçoou pela voz ter saído tremida. - Porque nós somos... amigos...
Ele suspirou tristemente.
- Eu devo ser mesmo um cara de sorte por ter uma amiga como você...
*******
Hermione saiu da ala hospitalar na manhã seguinte, bem cedo, e Rony não poderia estar mais radiante. Gina nunca tinha visto o irmão sendo tão gentil com alguém - principalmente Hermione - como naquele dia. Ele simplesmente queria fazer tudo que estivesse ao seu alcance para que a garota se sentisse bem. Hermione reclamou uma ou duas vezes que já estava bem, que podia fazer as coisas sozinha, mas depois pareceu gostar da atenção, porque não reclamou mais.
Gina e Harry acompanharam Rony quando ele foi buscar Hermione na ala hospitalar bem cedo, e Harry não poderia estar mais deslocado. Ele quase não falava e, quando falava, era com tanto medo de falar algo errado, que Gina se surpreendeu que nem Rony ou Hermione tivessem notado. Rony, é claro, estava feliz demais pela recuperação de Hermione para notar qualquer coisa. Mas o grande medo de Gina era mesmo da garota perceber alguma coisa; uma ou duas vezes ela olhou para Harry com as sobrancelhas erguidas, mas não disse nada. O que mais deixou Gina assustada foi quando Hermione falou com ela, no Salão Principal, no café da manhã:
- Rony me contou que você e Harry estavam juntos no Sábado, e que foram atacados também...
Gina fez um esforço sobre-humano para não se engasgar com o suco e não parecer assustada demais. Ela olhou por cima do seu prato de bacon com ovos, e viu que Harry e Rony conversavam sobre quadribol. Quer dizer, era um monólogo, pois Rony falava animadamente, enquanto que Harry apenas dizia ocasionalmente "É" ou "Certo". Gina quase olhou para Hermione, mas percebeu que seria perigoso encará-la nos olhos, então se ocupou em colocar mais bacon no seu prato.
- É, foi isso mesmo que aconteceu... Harry e eu estávamos juntos naquele dia, na verdade... eu estava sozinha, mas ele me encontrou.
Hermione olhou de esguelha para Harry, que agora comia, para ter uma desculpa para não falar muito enquanto conversava com Rony.
- Rony também disse que a história do que aconteceu naquele dia com vocês está um tanto... obscura...
- Ele disse, é? - Gina engoliu em seco os ovos, olhando para Hermione com seu melhor ar inocente fingido. - Não vejo nada obscuro...
Hermione riu, e Gina não entendeu o porquê. Ela abaixou o tom de voz para que os garotos não a ouvissem.
- Ele acha que você e Harry estão, sabe... juntos... desde aquele dia.
- Que ridículo! - Gina exclamou alto a primeira coisa que veio na sua cabeça, aliviada por ser apenas disso que Hermione falava. Rony e Harry encararam as duas intrigados depois do gritou de Gina. Hermione riu e acenou para que eles continuassem a conversar.
- Não é? - Hermione continuou, olhando para Gina com um sorriso divertido brincando no rosto. - Eu falei para ele que você... - ela abaixou o tom de voz. - ...esqueceu o Harry há séculos, mas o Rony ainda insiste nessa história! - ela se encostou no banco, dando uma garfada generosa no seu pudim de pão. - É incrível como Rony parecesse convencido disso, às vezes eu até acho que ele sabe mais do que diz.
Gina e Hermione voltaram suas cabeças para ver os garotos, que agora riam de alguma coisa - Harry mais tímido, mas mesmo assim rindo. Elas se entreolharam.
- Você acha que ele sabe? - Gina perguntou, sentindo novamente uma reviravolta na boca do estômago.
- Às vezes desconfio... - Hermione disse com um ar sábio. - Bem, como nós, eles também conversam, não é? E nós não sabemos sobre o que eles estão conversando...
Gina encarou novamente os garotos por alguns instantes. Mas logo seus pensamentos foram interrompidos por Neville, que se sentou ao seu lado e se debruçou sobre a mesa para cumprimentar Hermione:
- Que bom que você já teve alta, Hermione! - ele disse sorrindo. - Me desculpe, eu esqueci de ir visitá-la lá na ala, mas perguntei como você estava para Rony...
E Hermione e Neville começaram uma conversa sobre o estado da garota, o que deu vazão para que Gina comesse seu café, preocupada apenas com seus próprios pensamentos. De vez em quando ela olhava para Harry, mas ele parecia estar se saindo bem conversando com Rony. Talvez, mesmo que não se lembrasse, Harry tivesse uma afinidade natural com o irmão de Gina. Bem, os dois eram amigos há tanto tempo... Ela ficava feliz que as coisas estivessem saindo bem.
- Hem, hem.
Todos se sobressaltaram ao ouvir aquele pigarro. Talvez, como tinha acontecido com Gina, todos se lembraram com horror da época que Dolores Umbridge estava em Hogwarts, usando aquele mesmo pigarro irritante. O único que tinha uma expressão indiferente era Harry, que obviamente não se lembrava de Umbridge. Quando Gina, Hermione e Neville se viraram, e Rony levantou os olhos para ver quem era, eles viram Luna de pé, entre as mesas da Grifinória e da Lufa-lufa. Ela encarava Hermione quase desafiadoramente, mas quando falou, utilizou o mesmo tom sonhador de sempre.
- Então você saiu da ala hospitalar? Legal.
Hermione parecia surpresa, mas logo se recompôs.
- É, saí pela manhã.
- Que bom... - Luna murmurou e se virou rapidamente para Gina. - Você não esqueceu que a gente marcou nos encontrarmos hoje na biblioteca, para respondermos juntas aquelas perguntas de Herbologia, não é?
- Ah! - Gina exclamou, olhando de esguelha para Harry. Tinha esquecido completamente de Luna quando marcou com Harry de ensiná-lo a jogar quadribol depois da aula. - Ah, Luna, não vai dar... Vou... ter umas... coisas para fazer. A gente pode fazer a lição outro dia?
Luna suspirou, parecendo refletir. Deu de ombros.
- O.k., quando você resolver fala comigo.
- Pode deixar! Desculpa mesmo, Luna...
Ela deu de ombros novamente, e murmurou um "até mais", porém, antes de ir, olhou para Rony de esguelha e suspirou lentamente. Hermione a encarou com os olhos estreitos, mas Rony, como sempre, não notou nada.
- Ah, que droga!
Gina, Hermione, Rony e até mesmo Harry olharam assustados para Neville quando ele bateu a mão na testa com força. Ele olhou para os outros e falou, parecendo irritado consigo mesmo.
- Eu queria falar uma coisa com ela! Droga, perdi a oportunidade de novo!
- Ela vai ter aula de Poções agora... - Gina comentou. - Quem sabe você não consegue falar com ela antes de chegar lá?
- Tomara! - Neville falou, levantando-se. - Obrigado, Gina!
- Cuidado para não encontrar Snape no caminho! - Rony riu.
Hermione cruzou os braços, encarando o seu pudim pensativa. Gina olhou de esguelha para ela. Droga, então ela não era a única que notava aquilo?
*******
Luna suspirou tristemente. Ela pescou uma mecha dos seus cabelos loiros com um dos dedos, enrolando-a pensativa. Ela era mesmo uma idiota... uma completa palerma... era ridícula! Como podia ser tão burra sendo da Corvinal?
- Hey, Loony! - Pansy Parkinson chamou, fazendo uma cara de louca varrida enquanto passava próxima de Luna, junto ao seu grupinho irritante de amigas sonserinas. - Cuidado para não tropeçar, mas acho que se bater a cabeça talvez vire uma pessoa normal, não é?
Luna apenas ergueu as sobrancelhas para ela, não se dando ao trabalho de elaborar uma resposta. Seguiu com seu caminho para as masmorras, quando ouviu uma voz conhecida gritar às suas costas.
- Ei, Luna! Espera!
Ela parou. Droga, não estava a fim de falar com ninguém. Mas percebeu que não daria para ignorar Neville Longbottom quando ele se postou ao seu lado, colocando as mãos nos joelhos e arfando de cansaço.
- Ah... ufa... - ele suspirou. - Pensei que não fosse conseguir falar com você antes que entrasse nas masmorras... Eu tava te chamando desde lá atrás, mas você não ouvia...
- Eu estava distraída. - ela comentou desnecessariamente.
Ele assentiu e levantou a cabeça para olhá-la. Alguns fios de cabelo estavam empapados de suor e grudaram ao redor do seu rosto redondo.
- Eu... queria... falar... com você. - ele arfou.
- É, deu pra notar. - Luna comentou sarcasticamente. Estava terrivelmente irritada aquele dia, mas a única pessoa que notava isso era Gina, e ela não estava ali no momento.
Neville sorriu, parecendo ligeiramente sem jeito.
- Bem, eu queria falar com você há um bom tempo, mas não tenho te encontrado...
- Agora você encontrou...
- É... - ele continuou, parecendo animado. - Eu queria te... agradecer.
Por alguns instantes, nenhum dos dois disse nada. Luna ergueu novamente as sobrancelhas.
- Me agradecer? Agradecer... a mim?
- É!
- Por quê?
- Oras... - Neville fez uma careta, parecendo estar buscando as palavras certas. Quase dava para ouvir seu cérebro trabalhando rapidamente. - Porque... você foi me visitar na ala hospitalar quando... eu estava... lá.
Luna demorou algum tempo para processar a informação, mas finalmente se recuperou do choque.
- O.k. Não tem de quê... - ela pigarreou e fez um gesto displicente com a mão. - Afinal... também... nós estávamos juntos naquilo, não é? No... dia do ataque.
- Humhum... - Neville concordou. - Anh, mas foi... legal da sua parte... e eu queria agradecer...
- Certo, está agradecido! - Luna fez um grande esforço para sorrir e já ia seguir seu trajeto, quando Neville falou novamente:
- Você também me ajudou... naquele dia... com os dementadores... Até me ajudou a ir para a ala hospitalar e tudo mais... Obrigado, você foi mesmo... bastante gentil.
Neville sorriu embaraçado, mordendo os lábios em seguida, aparentando estar bastante ansioso. Luna o encarou por alguns instantes, e suspirou.
- Tudo bem... Não foi nada.
- Foi bem legal mesmo. - ele salientou.
- Tá... - Luna respondeu, sentindo-se um pouco sem jeito pela maneira com que ele a elogiava. - Tudo bem, Neville, agora eu realmente preciso ir... - ela apontou as masmorras. - Sabe... aula do Prof. Snape...
- Humhum... Eu entendo... muito bem.
Luna respirou aliviada por ter uma desculpa para ir embora.
- Então, tchau...
- Tchau... - Neville sorriu.
Era engraçado como aquilo foi estranho. Luna respirou fundo, sorriu sem jeito, e saiu na direção das masmorras, deixando um Neville suspirando para trás, encarando-a enquanto sumia na escuridão.
*******
- Vocês anotaram tudo que foi passado ontem, não foi? - Hermione perguntou pela décima vez naquela manhã.
- Anotamos... - Rony resmungou irritado. - Harry teve alguns problemas na aula do Snape, mas mesmo assim conseguiu fazer algumas anotações, não é, cara?
Harry, que estava mais para trás, apenas assentiu. Rony sentiu-se um pouco nervoso ao ver que Gina, que também vinha mais atrás ao lado de Harry, olhou para ele de uma forma um tanto suspeita. Hermione o cutucou brava, e ele se virou, desviando o olhar do amigo e da irmã.
- Pare de ser implicante! - Hermione sussurrou para Rony, em um tom muito parecido com o de Minerva McGonagall.
- O que eu fiz agora?
Eles chegaram no corredor do segundo andar, onde o trio teria que se separar de Gina, que seguiria para sua aula de Defesa Contra as Artes das Trevas. Harry pareceu hesitante na hora de se separar.
- Hum... Será que... vocês podem ir na frente? Eu alcanço vocês depois... - ele pediu, sem olhar diretamente para Rony ou Hermione.
- Por quê? - Rony não conseguiu se controlar, mas já sabia a resposta. Gina olhava para Harry como se estivesse quase esperando aquilo.
- Erm... bem... - ele parecia sem jeito. - Eu queria dar uma palavrinha com a Gina...
Rony fez um barulho de resmungo, mas antes que pudesse abrir a boca novamente, Hermione já estava arrastando-o para a sala de Feitiços, e ele foi obrigado a apenas poder olhar por cima dos ombros para a irmã e o amigo, que conversavam em voz baixa.
- Por que você fez isso?
- Rony, dá pra você parar de ser ridículo?
- Eu, ridículo?
- Não... Minha avó! - Hermione retrucou com sarcasmo.
- Mione, você viu aquilo! - Rony protestou alto, enquanto dois segundanistas reclamavam em um tom alto para que eles ouvissem "Quer dizer que monitores-chefes podem gritar nos corredores, não é?". Rony se virou para eles e rosnou: - Anõezinhos petulantes!
Hermione suspirou desanimada, cruzando os braços. Às vezes simplesmente não acreditava no quanto Rony poderia ser incrivelmente infantil. Ela respirou fundo e olhou bem fundo nos olhos dele.
- Você... é a criatura mais sem noção que eu já cruzei por toda a minha vida!
- Como é que é? - ele retrucou indignado.
- É isso que você ouviu!
- Vai dizer que não notou? - ele não acreditava no quanto Hermione estava sendo cega. - Eles... lá... juntos... os dois, cheios de "segredinhos".
Rony a pegou de surpresa com a palavra "segredinhos". Hermione tinha achado estranho algumas peculiaridades no comportamento de Harry e Gina aquela manhã, mas era óbvio que aquilo estava acontecendo por causa de toda a agitação do sábado. Rony estava completamente equivocado em suas suspeitas. Hermione tinha a mais completa certeza de que nada, absolutamente nada, estava acontecendo entre Harry e Gina.
- Você está sendo... - Hermione pensou por alguns instantes, procurando a palavra correta. - PATÉTICO!
As orelhas de Rony imediatamente ficaram vermelhas - sinal de perigo.
- Patético? - ele repetiu ofendido.
- P-A-T-É-T-I-C-O!
Rony inflou como um balão e depois soltou todo o ar pela boca, prestes a dizer algo bastante ofensivo para Hermione, mas incrivelmente se deteve, porque apenas a olhou extremamente bravo e saiu na direção da sala de Feitiços, batendo os pés.
- Ótimo... - Hermione suspirou. - Não conseguimos passar nem ao menos um dia sem discutir... Um recorde!
Algum tempo depois, já na sala de Feitiços, Harry, bastante constrangido e parecendo completamente confuso, estava sentado entre Hermione e Rony, que não estavam se falando. Naquele dia, os alunos tinham apenas que revisar o feitiço convocatório - sempre útil sendo matéria de qualquer exame, até dos N.I.E.M.s, como fez questão de lembrar o Prof. Flitwick.
Harry estava tendo uma certa dificuldade com o feitiço (estava pronunciando incorretamente), o que Hermione achou muito estranho, porque ele sabia aquele feitiço quase tão bem quanto ela. A garota ensinou-o pacientemente e, depois de mais algumas tentativas, Harry conseguiu atrair corretamente uma almofada.
- Erm... - ele começou, novamente com aquele mesmo tom hesitante de antes. - O que aconteceu, hein?
Hermione olhou para ele intrigada. Rony bufava constantemente do lado de Harry, o que a irritava profundamente, e também estava tendo problemas com o feitiço, porque floreava a varinha desnecessariamente.
- Como assim? - ela perguntou, convocando com perfeição uma almofada. Não se preocupou em conversar normalmente com Harry, já que a aula de Feitiços sempre fora a melhor aula para um bate papo.
Harry apontou Rony, um tanto quanto sem jeito.
- Ele... e você também. Estão bravos com alguma coisa? Não estão se falando...
Hermione olhou para ele intrigada. Harry estava esquisito. Ele geralmente reagiria de duas formas a uma situação como essa: ou gritaria com eles por novamente estarem discutindo, ou então fingiria que nada acontecera, de tão acostumado que estava com esse tipo de comportamento dos amigos. Mas nunca, nunca mesmo, perguntaria o que tinha acontecido, ainda mais daquele jeito... como se não estivesse entendendo o que estava se passando.
- Hum... o de sempre, Harry... - Hermione falou displicentemente, convocando mais uma almofada, mas ainda com os olhos atentos à expressão de Harry. - Você sabe... nós discutimos.
- Mas por quê? - ele insistiu.
Hermione olhou para ele, estudando-o. O garoto se assustou ligeiramente, mas sustentou o olhar da garota corajosamente.
- Coisa banal... como de costume.
- Ah... - ele se limitou a dizer, e tentou convocar uma almofada, que bateu em cheio na cara de Rony.
- Ei, cuidado aí, Harry! - ele resmungou irritado para o amigo.
- Ops, foi mal...
Hermione não conseguiu segurar o riso. Rony olhou bastante emburrado para ela, mas Hermione nem ligou. Estranhamente, não conseguiu tirar da cabeça que Harry estava esquisito...
*******
- Eu realmente não acredito... - Gina exclamou, quando estava jantando no Salão Principal. - Não dá pra entender vocês dois!
- Pra você ver... - Hermione lamentou, tentando soar indiferente.
Gina estava escutando a história da discussão de Hermione com Rony pela manhã, enquanto comiam seu jantar. Do seu lado, estava Harry, e do outro lado dele, Rony. Isso significava pelo menos dois lugares de distância entre Rony e Hermione, e parecia que era neste ponto que os dois estavam desde a manhã: mantendo distância.
Para alívio de Gina, parecia que Harry tinha se saído bem no seu segundo dia de aulas no seu atual estado. Ele até parecia mais descontraído perto de Rony, quase como se estivesse se entrosando nas conversas dele. Por isso, naquele momento ao menos, Gina não estava preocupada com Harry, mas sim em escutar Hermione.
- Vocês dois não têm jeito! - exclamou veementemente, postando com tanta força o copo de suco de abóbora na mesa, que um pouco do líquido derramou. - Sinceramente, vocês dois são completamente malucos! Uma hora, estão todos cheios de "dengos" um com o outro. Dois minutos depois, estão se xingando pelos corredores!
- Eu sei, Gina! - Hermione falou chateada. - Mas eu não pude evitar!
- E pensar que o motivo da discussão de vocês foi apenas aquela conversa de cinco minutos entre eu e Harry antes das aulas! É o que o me deixa mais doida da vida! Que motivo bobo!
Hermione se virou para olhá-la inquisidoramente no fundo dos olhos.
- Afinal, o que tanto vocês conversaram naquela hora que não podia ser na frente de mim e do Rony?
Ela claramente não se importou em ser direta para com Gina. E Gina foi pega de surpresa. Naquele momento, Harry tinha ido tirar algumas dúvidas suas sobre como deveria se comportar durante o dia, algo que, horrivelmente, estava se tornando um hábito seu. Era exatamente esse o problema, o que tanto Gina temia: Harry estava se tornando dependente dela.
- Não foi... nada de mais...
- Gina, eu sei que estou sendo chata, mas... - Hermione tomou um gole do seu suco. - Você se importaria de dizer o assunto? Por que até eu estou ficando com a pulga atrás da orelha depois de tanto ouvir o Rony reclamando no meu ouvido!
Gina não sabia o que dizer. Pensou rápido e, milagrosamente, uma idéia lhe acudiu:
- Ora, Hermione... - ela tentou soar o mais verdadeiramente divertida com aquilo. - Não vá me dizer que você está acreditando nas desconfianças totalmente estúpidas do meu irmão?
Hermione a encarou por alguns instantes, parecendo tentar encontrar a verdade nos olhos de Gina.
- Eu... ah... sei lá.
Gina sentiu alguém cutucar seu ombro. Quando se virou, viu Harry.
- Ei... você não disse que nós íamos... treinar? - ele sussurrou o mais baixo que pôde, mas não o suficiente para que Rony ou Hermione não o ouvissem.
- Treinar? - Rony repetiu sem entender. - Como assim? Estão se referindo a quadribol?
- Ué, pensei que o treino era só na quinta... - Hermione comentou.
- E é só na quinta! - Rony insistiu e, então, rapidamente percebeu que estava falando com Hermione, porque logo se virou emburrado no banco e olhou para qualquer lugar do Salão Comunal que não fosse o lugar onde estava a garota. Então, subitamente, ele se virou para Harry, com um olhar ameaçador no rosto. - Explique-se!
Harry engoliu em seco, e Gina interceptou por ele.
- Eu estou com alguns probleminhas, e Harry concordou em me dar um treinamento extra!
Rony não pareceu muito convencido, porque logo ia começar a resmungar novamente, mas foi interrompido por Hermione.
- Bem... - ela começou, dirigindo-se exclusivamente a Harry e Gina. - Mas é melhor não se demorarem muito... Harry tem vários deveres de casa para terminar, não é?
Rony fez um barulho de impaciência com a boca, mas não disse nada. Gina sorriu, levantando-se e puxando Harry pela manga para que ele se levantasse também.
- Não se preocupe, Hermione... não vou alugar o Harry por muito tempo...
- Ei, Gina! - Rony chamou, antes que ela e Harry tivesse ido embora. Os dois se viraram. - Sabe que às vezes você me dá a estranha impressão de ser... como eu poderia dizer... "a porta-voz de Harry"?
Harry engoliu em seco. Gina, ao contrário, olhou muito irritada para o irmão. Ele e aquele seu ciúme idiota, o pior era que o que ele tinha dito não estava totalmente errado. Hermione bufou exasperada.
- Hermione tem razão, sabia? - Gina não conseguiu se controlar. - Você é patético às vezes, Rony!
E ela saiu batendo os pés, acompanhada por um Harry mais confuso do que nunca, deixando um Rony boquiaberto e uma Hermione imersa em gargalhadas para trás.
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