Adivinhe quem vem para o café

Adivinhe quem vem para o café



Antes que o calendário me alcance (a ação deste capítulo ocorreneste sábado, dia 08 de março) estou postando pra vocês, já que a Belzinha disse que estava tudo certo...

AVISO IMPORTANTE: neste capítulo, surgem spoilers do Livro 7, pequenos mas significativos, então, se não leu, pare agora!


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Adivinhe quem vem para o café da manhã

Os cinco bruxos aterrisaram tranquilamente em um corredor às escuras. As cortinas abertas na janela da sala próxima deixavam ver um céu ainda escuro e uma tênue claridade prenunciando o nascer do sol.
- Façam silêncio, as crianças ainda devem estar dormindo. – Snape recomendou em voz baixa, enquanto avançava pelo corredor, que tinha algumas portas e um painel pintado ao fundo, com a facilidade de quem conhecia o lugar, abrindo uma das portas, depois de verificar um pedaço de papel colado nela.
- Sua tia é realmente prevenida. – Snape sorria para seu filho, enquanto apontava para duas portas alternadamente – Aqui está: quarto dos rapazes, quarto das meninas.
Os três jovens o acompanharam, locomovendo seus malões silenciosamente. Sirius sorriu, mas antes que pensasse em seguir Snape em sua exploração, um ruído, como se algo caísse ao chão, veio da sala, e ambos retrocederam, varinha a postos.
No momento em que pisaram na sala, as luzes se acenderam, e Sirius olhou para Snape, mas ele não fizera nenhum feitiço.
- Sensor de movimento. Um mecanismo puramente trouxa. – Snape explicou num sussurro, apontando para a luminária sobre suas cabeças.
Sirius ia comentar alguma coisa, mas sua atenção foi para um objeto tocado pela ponta de sua bota, e abaixou-se para pegar o que tinha sido a causa do barulho, um livro caído ao lado do sofá. O que viu foi um choque.
- Merlim! – exclamou, identificando na capa alaranjada o desenho de um garoto que lembrava vagamente seu afilhado erguendo as mãos para o céu, e o nome em letras vermelhas e brilhantes: “Harry Potter e as Relíquias da Morte” – Mas que diabos…
Mas Snape já retirava o volume de sua mão, avaliando-o por si mesmo, e ele voltou sua atenção para o corpo adormecido no sofá.
Então, reteve a respiração, chocado. Deitada ali, apoiada no braço do sofá verde, vestindo uma espécie de roupa curtíssima que lhe deixava muito pouco para a imaginação – ou a lembrança – estava Serenna, dormindo ainda. Abaixou-se devagar, contemplando-a em silêncio, e quando estendia a mão para tocá-la, inundado pela forte saudade e pelo desejo de tê-la novamente em seus braços, a exclamação de Snape foi como um jato de água fria.
- Ela ficou louca! – Snape já estava empurrando-o para trás e aproximando-se da irmã, sacudindo seu ombro – Serenna, acorde, vamos! O que significa isso?
Ele brandia o livro ante os olhos da mulher que, acordando assustada, olhava de um para o outro e depois para o livro. Ela sentara-se abruptamente, baixando as longas pernas para o chão.
De repente, Serenna pareceu compreender que estava realmente acordada e dois bruxos a observavam, cada um assombrado por um motivo bem diferente do outro.
- Severus… você… - ela balbuciou, jogando-se nos seus braços, chorando copiosamente – Você está vivo!
- Claro que estou! Não aconteceu nada nos últimos trinta dias que poderia mudar esse fato, por mais cabeças-ocas que ainda insistam em tentar explodir minha sala de aula…
- Mas… ela… o livro… - ela apontou o livro em sua mão e voltou a chorar.
- Meu Merlim… - Snape deixou o livro de lado e abraçou sua irmã. – Por que você foi ler isso?
- Eu… estava curiosa. Ninguém me contou em detalhes o que aconteceu, então… Mas alguma coisa está errada, ela… não está contando a verdade. Aí no livro, você… você…
- Eu o que? – ele pergunta, mas já sabendo a resposta.
- MORRE! Mordido por aquela cobra horrível!
Snape soltou um grande suspiro, enquanto Sirius, curioso pelas palavras dela, pegava o livro novamente, virando-o de um lado para o outro, pensando se lia ou não o que ele continha.
- Você também.
- O que? – ele a fitou, vendo que se dirigira a ele.
- Você é… Sirius Black, não é? Lembro-me de você.
- Sim? – ele sentiu a esperança crescer, mas suas palavras seguintes o desanimaram novamente
- Você ia ao hospital, me visitar com a Ana e o Remus, de vez em quando... Mas no livro, você também morreu… - e ela encheu os olhos de lágrimas novamente – Foi muito lindo, mas… tão triste…
- Serenna, eu avisei você. Aqui, as restrições do Ministério da Magia não funcionam. Você deveria evitar esse livro.
- Eu o vi ontem, numa livraria, e não resisti… - ela se recompôs rapidamente, como se fosse possível alguém estar composto naquele tipo de traje, e lhes sorriu - Mas vocês devem estar cansados da viagem, que bobagem a minha. Sr. Black, que surpresa, você faz parte da comitiva também?
- Comitiva? – Sirius estranhou a pergunta, mas pela primeira vez se perguntou por que Snape estava visitando a irmã na companhia de três alunos de Hogwarts.
- Estamos aqui em missão acadêmica, Black – foi Snape quem respondeu – Eu e os garotos viajamos amanhã para o Centro Rio Negro, a escola de magia e bruxaria do Brasil, para uma visita de uma semana.
- Você não me disse…
- Não houve tempo. Mas, acredito que minha irmã não se oporá a lhe hospedar por esses dias, até que retornemos.
- Mas… os meninos não estão de férias?
- Não aqui no Brasil. As escolas daqui, pelo menos as trouxas, funcionam normalmente, só parando na quinta-feira. Em compensação, eles têm a folga de quatro dias no carnaval, coisa que não acontece na Inglaterra – Serenna apressou-se em explicar. – Rio Negro, por ser em regime de internato, dá o recesso de uma semana inteira. Mas só a partir da próxima sexta-feira. E isso já é muito, levando em consideração que serão apenas quarenta dias de aula até lá.
- Vejo que você resolveu tirar o atraso sobre o conhecimento do mundo bruxo daqui – Snape sorriu, satisfeito, ao que sua irmã respondeu, mostrando-lhe a língua, e sorrindo depois.
- Eu tinha me esquecido completamente do fuso horário e de que vocês chegariam de madrugada, ou não teria ficado lendo até tarde na sala… Onde estão as crianças?
- Em seus quartos, já que você tinha marcado as portas. Foram guardar suas coisas. E talvez eu deva fazer o mesmo e descansar um pouco. Ou sentiremos a diferença do fuso daqui a algumas horas.
- Muito bem, então. Sr. Black, como meu irmão disse, ficarei feliz em hospedá-lo. Meu irmão André e sua esposa também vieram da Inglaterra, então, você não será o único com status de “turista”.
- Não quero tomar seu tempo servindo de cicerone para mim… - ele começou num tom polido.
- De maneira nenhuma. Estou aqui de férias, por conta mais de passeio mesmo. Será agradável ter alguém além dos meus filhos por aqui, para variar.
Sirius sorriu em resposta, enquanto Snape os observava discretamente. Serenna estava agindo um pouco fora do seu natural, ela não era dada a ser formal como agora, mas ele pensava que isso era passageiro, pelo inusitado do momento. Se ela conseguisse aceitar com naturalidade a presença de Sirius Black naqueles dias, talvez sua memória finalmente começasse a voltar, ou pelo menos, o homem teria uma chance de reconquistá-la do jeito certo.
- Meu quarto é o mesmo? – ele perguntou, com um leve tom de saudade.
- Sim, mas acho que você terá que dividi-lo com o Sr. Black, ou então…
Antes que ela completasse o pensamento, Snape, que ainda não sabia sobre a “expansão” do apartamento, respondeu:
- Sem problema, será apenas por hoje. Uma noite no mesmo quarto não será capaz de matar nenhum de nós dois. A menos que você tenha pulgas, Black, não vim preparado para isso.
- O que você quer dizer? – Serenna perguntou inocentemente, e os dois homens se olharam, inquietos. Ela se esquecera até mesmo de sua animagia? Então, era mais grave do que pensavam.
- Ah, aproveitando. Não se esqueçam de que aqui todo mundo me chama de “Sarah”. Me chamar de Serenna vai deixar o povo confuso. Espero que não seja difícil para vocês.
- Tudo bem, minha irmã. Foi por este nome que eu lhe conheci, não vejo problema. E você, Black?
- Eu também não vejo problema, Sarah. – Ele falou lentamente, experimentando o nome, fitando-a com ar inocente.
Mas ela já pedia licença e se dirigia para seu próprio quarto, a fim de se trocar antes de preparar um café para todos. Ela não quis que percebessem que a fala de seu irmão provocara uma lembrança muito curta e a tradicional fincada na testa. E, de repente, ela percebeu que a presença de Sirius Black poderia sim, ajudá-la a recuperar o período de sua vida que parecia ter evaporado de sua mente.
Encostada à porta, os olhos fechados, ela soltou um longo suspiro. Só precisava aprender a controlar aquele impulso maluco de pular nos braços dele, quando o ouvira murmurando seu nome com aquela voz rouca e quente. O que ele iria pensar?
- Que é o único lugar onde você quer estar? - uma voz estranha falou em sua mente, e Sarah conteve a respiração. Devia estar mesmo ficando louca! Mal conhecia o homem, que coisa!

Quando Sarah deixou seu quarto, já não viu nenhum dos dois homens. Ela percebeu que conversavam no quarto, e foi direto para a cozinha. Eles podiam já ter tomado seu café em Hogwarts, mas para ela, eram apenas sete horas da manhã, e estava com fome.
Em pouco tempo, a mesa estava posta, com café, leite, bolo de milho, pães. Ela pensou que não faria mal algum se eles decidissem comer mais alguma coisa, e foi chamá-los em seus quartos. Os meninos logo acudiram, Lucy se oferecendo para ajudar em algo, mas Sarah a tranqüilizou. Depois de um leve toque na porta do quarto, ela chamou também o irmão e seu “hóspede”.
Quando eles abriram a porta, ela sorriu um sem jeito, e, como se só agora se lembrasse do fato, mostrou-lhes o painel.
- Preciso chamar André e Susan pro café.
Ante o olhar curioso de todos, ela sacou sua varinha e tocou num ponto do arco de pedra pintado na parede. Então, a imagem de um jardim antigo foi desaparecendo, e em seu lugar uma abertura se formou. Eles puderam então, ver o outro apartamento, que possuía, inclusive, uma lareira na sala.
- Eu nem pude acreditar quando vi que estava à venda. Meu pai sempre quis fazer isso, estender nosso espaço. Agora, pude fazê-lo, e ainda, transformar em um espaço adequado. Já consegui a licença internacional, está ligada com a Inglaterra.
Snape observou a sala com atenção. Sua irmã nunca deixava de surpreendê-lo. Sarah seguira por um corredor que, como em seu apartamento original, levava aos quartos. Ela bateu à porta de um, chamando em tom brincalhão:
- Acordem, seus dorminhocos. A “galera” já chegou de Hogwarts, e o café está pronto!
Sarah abriu outra porta, levando à copa, que era agora a soma dos dois apartamentos, assim como a cozinha.
Logo, estavam todos à mesa, incapazes de resistir, como ela bem imaginou. Quando André e Susan se juntaram a eles, Sarah notou o olhar curioso que trocaram com Sirius Black, e o embaraço de seu irmão caçula não lhe passou despercebido. Então, o que ele fez a seguir lhe tomou completamente de surpresa:
- “Eu resolvi aceitar o seu convite, Professor”. – ele disse, em um português carregado de sotaque, mas ainda assim, bem compreensível.
- Fico feliz por isso. – André respondeu, também em português – Mas pode parar com essa história de me chamar de “professor”, certo?
- Certo.
- Ótimo, então! – Sarah exclamou, refeita da surpresa – Podemos então adotar a língua oficial do país dentro e fora de casa, assim, os meninos vão treinando também até amanhã.
Todos concordaram, rindo, que a equipe do Centro Rio Negro ficaria muito feliz em constatar que feitiços tradutores não estariam n a ordem do dia.
Só então, Sirius se sentiu à vontade para pedir mais detalhes sobre essa visita à escola bruxa brasileira. Snape respondeu às suas questões, os meninos comentaram suas expectativas e curiosidades, levando Sarah a comentar que eles teriam uma surpresa na hora de embarcar, piscando com diversão.

A manhã seguiu num ritmo que poderia ser chamado de normal para Sarah, com sua família bruxa quase toda à sua volta. Era como estar de novo no Lar de Elizabeth, a não ser pela presença de Sirius Black, mas ela decidiu não se preocupar tanto com ele, mesmo que aquela história de “treinar seu português” estivesse muito mal contada…
Após o almoço, ela apresentou-lhes sua nova aquisição: uma mini-van, com a qual levou a todos para o orfanato, onde se encontraria com seus filhos e sua irmã Berenice, para uma festa de Páscoa antecipada com as crianças.
Sirius sorriu satisfeito ao saber que Murilo também estaria lá e que, pela reação de Sarah à notícia de que ele estava estudando português com seu irmão, sua amizade com o músico não precisaria mais ser um segredo.

***

- Eles estão usando feitiços de petrificação nas crianças? – Sirius indagou, surpreso por ver todas imóveis subitamente.
- O que? – Murilo observou rapidamente o grupo e entendeu – Não, claro que não. Eles estão brincando de “Batatinha frita 1, 2, 3”.
Ante o olhar confuso do outro, explicou:
- Batatinha frita, 1, 2, 3. Nunca brincou disso? É assim: uma pessoa fica de costas e grita a frase, enquanto os outros tentam se aproximar o máximo dela. Quando ela termina, vira-se e todos têm que parar, como estátuas. Aquele que tocar nessa pessoa primeiro toma o seu lugar na brincadeira.
Enquanto ele explicava, uma rodada havia terminado. Sarah alcançara o garoto que há pouco alcançara Berenice.
Vendo que ela agora começava a se preparar para continuar a brincadeira, teve uma idéia súbita e avançou para o meio do grupo de garotos. Sarah o viu apenas de relance e continuou o jogo.
Os garotos ingleses haviam se aproximado de Murilo, e Alan perguntou:
- O que ele está fazendo?
- O que lhe parece? Brincando, oras! – ele respondeu dando de ombros, mas tinha um sorriso zombeteiro pairando nos lábios.
Alan observou a cena com preocupação. Às vezes, ele sentia-se mais maduro que todos os adultos à sua volta, como naquele instante. Sua tia gritara a palavra de ordem da brincadeira e estava se virando. Sirius dera passadas rápidas de tal forma que, agora, estava a poucos centímetros dela.
Então, o inevitável: estavam cara a cara no segundo seguinte.
Alan balançou a cabeça, murmurando:
- Meu pai ainda pediu a ele que não fosse impulsivo, mas pelo visto... impulsividade é a marca registrada do Sr. Black...
- Ou, trocando em miúdos – Murilo ria abertamente – Foi o mesmo que dizer a macaco pra não querer banana.

O casal, entretanto, parecia não notar que tudo parara à sua volta. As crianças, curiosas com aquele estranho que entrara no jogo de repente, os adultos – pelo menos os que sabiam da história dos dois – apreensivos sobre como Sarah reagiria. Mas ela permanecia parada e muda, presa àquele olhar, que trazia uma torrente de lembranças vagas de momentos semelhantes. Sentindo o coração disparar subitamente, e a força das lembranças crescendo como ondas que tentavam derrubar um dique poderoso, ela fechou os olhos. Sua testa ardia como fogo, sua cabeça doía como nunca, mas ela tinha que resistir.
Sirius respirou fundo, também tomado por forte emoção. Há muito não a tinha assim tão perto... e sentiu ímpetos de abraçá-la e aparatar dali, para algum lugar onde pudessem estar a sós e discutirem o que fosse preciso, mas as palavras de Snape voltaram à sua mente. Não poderia se precipitar.
Ele se afastou um pouco, murmurando um pedido de desculpas. Sarah abriu os olhos e o fitou, indecisa por alguns segundos. Vira-se momentaneamente deitada em um lugar estranho e sombrio, acordando de um sono estranho com um beijo daquele homem. Então, respondeu:
- Tudo bem, Sr Black, ainda estou viva. Mesmo com esse seu bafo...
A sensação de “deja vu” foi intensa pra ambos, mas durou pouco. As crianças reclamavam da interrupção do jogo, e tudo recomeçou, sob o comando de Berenice, porque Sarah se desculpou e saiu para o lado.
Sirius foi atrás, sentindo que tinha que fazer algo para tirar aquela impressão de invasão que provavelmente deixara:
- Ser... Sarah, me perdoe. Não quis ser inconveniente. Só queria...
- Tudo bem. – ela o fitou com olhar dolorido – Está tudo bem... Sirius.
Ele sorriu, esperançoso. Ela o tratara pelo primeiro nome, isso era um bom sinal. Mas suas palavras seguintes o fizeram desanimar. Ela o tratava como uma visita sem maior importância:
- Posso tratá-lo assim, não? Nós os brasileiros não somos tão formais quanto os ingleses, e fica muito esquisito tantos “senhor” ou “senhora” para lá e para cá…
- E aí, “Bananinha”? O que vai ser agora?
Sarah espantou-se com a aproximação de Murilo, e notou Alan ao seu lado, balançando a cabeça de forma significativa, tendo certeza de que o repentino “apelido” fazia parte de alguma piada que os dois pareciam compartilhar.
Mas não deu atenção ao músico, preferindo abraçar o sobrinho, mexendo nos cabelos dele, enquanto o levava para junto dos outros.
- Hum... estou vendo que resolveu mudar um pouco o visual de “morceguinho”. – ela sorria para o garoto, que corou levemente.
- Ah, tia, você sabe que fora de Hogwarts eu... “relaxo”.
- O que é sempre muito bom. Você precisa ser você mesmo.
- Estou sendo eu mesmo, quando me orgulho de parecer com ele... – ele apontou com a cabeça para o pai, que ouvia alguma coisa que André falava, um pouco distante.
- Você sabe que não é disso que estou falando...
O garoto a fitou, encabulado, mas capitulou:
- Está bem. Vou tentar mais vezes. Mas só fora da escola, por enquanto! Nós os Snape temos uma reputação a zelar!
Sarah riu da pretensa cara de mal do sobrinho, enquanto novamente bagunçava seus cabelos curtos.
O diálogo sussurrado causou estranheza em Sirius, atento a tudo que Sarah fazia, mas ele resolveu não comentar nada. Era evidente que tia e sobrinho tinham seus segredinhos...
Mas as brincadeiras continuavam, e Sarah participou ativamente de todas, aparentemente esquecida do incidente com seu “hóspede”.
O resto da família foi apresentado aos jovens ingleses e também a ele.
Durante o lanche, em uma mesa comprida no mesmo refeitório que as crianças do orfanato – Aline e Leo haviam se sentado em meio aos antigos amigos – a conversa era tranqüila e alegre. Berenice havia trocado de roupa, tirando a incômoda fantasia de coelho que usara no teatrinho apresentado para os pequenos.
- Minha nossa, achei que ia assar dentro daquilo! Por favor, esse foi meu pior mico com toda certeza!
- Ah, você não viu nada! Tinha que ter estado em Londres, na festa de ano novo do... – André titubeou por um segundo, atraindo ainda mais a atenção de todos sobre si. Sem remédio, emendou – No nosso trabalho. O Murilo fez a Sarah pagar um micão, ela e suas amigas.
- Mesmo? E o que fizeram? – Berê estava curiosa e voltou-se para a irmã adotiva, que pareceu confusa e perdida por algum tempo.
- Ela está se fazendo de esquecida... - Murilo comentou, tentando salvar a situação – Mas eu ajudo.
E cantarolou a introdução de “Dancing Days”, gesticulando os braços numa pequena coreografia, fazendo Berenice entender imediatamente do que se tratava o tal mico, enquanto Sarah levava a mão à testa, esfregando-a impaciente, num gesto que estava se tornando conhecido de todos, quando ela tentava se lembrar de algo que ainda não voltara claro à sua mente.
Susan, que olhava feio para o marido e para Murilo, comentou de forma a desviar a atenção de todos.
- Ela se apresentou muito bem, e eu sinceramente acho que vocês dois é que deveriam estar lá fora vestidos de coelho, só para pagarem na mesma moeda. Aliás... está valendo, não é, cunhada? – ela se voltou pra Berê – Que tal fazer esses dois cantarem aquela canção do coelhinho que você me ensinou? “De olhos vermelhos, orelhas bem grandes...”
- Ah, mas a fantasia não serve em nenhum dos dois...
- Touché! – Murilo exclamou - Andrézinho, meu amigo, estamos salvos...
- Você pode dar um jeito nisso facilmente, Susan – Sirius comentou, para desagrado de Murilo e apreensão de Alan, que revirou os olhos pensando: “Lá vem ele de novo”, enquanto Snape fixava o rosto de sua irmã, atento a qualquer sinal.
- Vocês esqueceram de um simples detalhe: nada de... certas coisas! – Sarah retrucou em tom velado. Ela pedira a todos para evitarem referências ao mundo mágico e, principalmente, manterem as varinhas escondidas e “quietas”.
- Somente dessa vez, Bananinha, não vou acusar você de ser “desmancha prazeres”. Muito obrigado.
- Estou tentada a mudar de idéia, só por causa desse apelido ridículo que me arranjou agora. De todos, definitivamente, no correr desses anos... foi o pior! – Sarah retrucou com falsa zanga.
- Mesmo? – Murilo piscava com cara de inocente.
Mas Berê já estava elogiando a educação e a meiguice de Lucy, e a educação de Peter e Alan, dois rapazes de ouro.
Os garotos baixaram a cabeça, tímidos, e Sarah sorria, dizendo o quanto era feliz por ter sobrinhos tão fofos.
- Ah, somos todos uma família de fofos! – Berenice comentou, rindo pra valer.
- E você está parecendo uma amiga minha. – Sarah, riu. Acabara de lembrar-se de Ana, e o aperto que sentira agora fora de pura saudade.

***

O dia terminara com todos cansados, mas felizes.
A diferença de fuso horário finalmente se fizera sentir pelos recém-chegados, ainda mais que partiriam cedo no dia seguinte.
Assim, um lanche bem reforçado substituiu o jantar e todos se recolheram cedo, a pesar da excitação de Leonardo e Aline.
Sirius Black parecia completamente entrosado com as duas crianças, e também não queria saber de se recolher tão cedo, mas um olhar de Snape foi o suficiente para ele cair em si. Repetindo mentalmente seu novo mantra – não posso me precipitar – ele despediu-se de Sarah, desejando-lhe boa noite com um sorriso maroto, e acompanhou Snape para o quarto, murmurando algo sobre aquilo ser uma situação delicada para sua “reputação” e que ninguém soubesse que ele “dormira com o Ranhoso”… Snape murmurara uma ameaça de azaração forte, e o Maroto se calara, não sem antes dar uma piscadinha para Sarah, que conteve o riso, sob o risco de ser tornar também um alvo de seu irritado irmão.

Depois de um longo suspiro, ela fez seus dois filhos travessos irem também para a cama, com a ameaça de não lhes chamar quando a “visita” da manhã seguinte chegasse.
Somente quando estava sozinha em seu quarto, ela permitiu-se pensar naquele sorriso e naquele olhar, cheio de significados… e promessas.
No fundo de sua mente uma canção de amor parecia ecoar, e ela adormeceu pensando em seu charmoso hóspede, que chegara sem aviso para o café, mas parecia querer ficar para sempre…

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Taí, gente, eles finalmente se reencontraram. Agora, vamos ver no que dá isso...
ah, e obrigada pelos coments de todos, eu realmente os aprecio muito, mas ainda não consigo a proeza de responder a cada um.
mas prometo tentar fazer isso com mais afinco no próximo, se conseguir ir sem tanta aflição com o tempo

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