Entrando no Véu da Morte (edit

Entrando no Véu da Morte (edit



Gente, talvez tenha passado um errinho ou dois... mas resovi postar sem uma segunda revisão, porque estou saindo de férias...

calma, vou tentar postar mais um na sexta que vem...

vamos lá, que todas estamos ansiosas pra saber se o tal feitiço deu certo...
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Cap 7
Entrando no Véu da Morte

Num minuto, estava na sala circular, olhando para aquele véu misterioso e apavorante, rodeada pelas seis bruxas que repetiam o encantamento, enquanto a taça contendo os doze sangues necessários para a realização do ritual era derramada em torno do arco. No segundo seguinte, já o atravessava, sem nem mais ouvir as palavras murmuradas em uníssono pelas outras. Não via mais as outras, nem seus companheiros, nem seu irmão.E estava só, dentro do véu da morte.

Ainda sentia sua cintura fortemente envolvida pela corda de prata que Gina conjurara, que seria puxada para trás a qualquer sinal de que algo dera errado ou, quando ela conseguisse alcançar seu objetivo.
Uma névoa espessa e fria a envolveu, como a tudo naquele lugar. Serenna não via nada à sua volta, não importando para onde olhasse. Instintivamente, segurou seu medalhão, e seu gesto provocou um jorro de luz que, partindo dele, se irradiou por metros à frente.
Aos poucos, começou a ouvir sons indistintos, que logo se tornaram vozes, vozes reconhecíveis. Pensando que estava ficando louca, Serenna chorava silenciosamente. Mas uma voz carinhosa lhe disse:
- Não chore, filha. Viemos ver você.
- Sim. Nos contaram que havia outro “fantasma” entre nós.
Serenna ainda não acreditava. Assim como seus ouvidos, seus olhos lhe pregavam uma peça: via seus pais, bem à sua frente, estendendo os braços para um abraço repleto de saudade. No instante seguinte, jogando às favas qualquer prevenção ou receio, Serenna atirou-se nos braços de Martinho e Beatriz, chorando abraçada a eles por um tempo que lhe pareceu infinito.
- Ora, ora – Martinho ralhou com ela – O que é isso? Pra que desperdiçar este momento bendito com lágrimas? Conte-nos como vão as coisas. Seus irmãos e irmãs? Soube que você achou sua família biológica...
- O senhor soube? – ela se espantou, fitando-o com os olhos ainda rasos d’água.
- Sim, aqui nós acompanhamos de certa forma o que acontece. Não o tempo todo. Mas somos informados de como andam aqueles que amamos. Por isso, soubemos que você estava entrando por aquele véu.
- Mas... vocês não estavam muito longe pra isso?
- Aqui não existe distância ou tempo como você entende, minha filha. É... um pouco... diferente. Então, digamos que já esperávamos você. – Beatriz sorriu.
- Sim... e eles também. – Martinho apontou para um casal que se aproximava.
Eram jovens ainda, não aparentavam mais de 20 anos, talvez. A mulher era ruiva, profundos olhos verdes, e o homem... Serenna reconheceu num segundo, afinal, o filho dele estava lá, do outro lado do véu, aflito, esperando que ela tivesse sucesso em sua missão. E era uma cópia fiel do homem à sua frente, exceto pelos olhos...
- James? James Potter?
O homem balançou a cabeça, afirmativamente. Lílian sorriu para ela.
- Nós temos tentado protegê-lo, esse tempo todo, mas ele se julga enlouquecido e de volta a Azkaban... Não pudemos fazer muito...
Serenna pareceu confusa, por um minuto. De quem estavam falando? A visão de seus pais parecia nublar-lhe os pensamentos, a saudade que sempre mantivera seu coração apertado se transformara numa alegria incomensurável. E ela quase se esquecera de porque estava ali... aquilo parecia apenas um sonho. Um sonho maravilhoso.
- Não, filha, não é um sonho. É uma missão. Um resgate. Lembra-se?
Ela olhou para seu pai, depois para o casal que parecia aflito com sua hesitação. Então, se lembrou de tudo. Das bruxas reunidas na sala do Departamento dos Mistérios, juntamente com Harry, Snape e Lupin, além de pelo menos metade dos homens da família Weasley. E de porque elas haviam feito aquilo. E de porque ela havia sido indicada para ser quem entraria naquele lugar misterioso. Ela, somente ela, poderia alcançar Sirius Black.
- Onde ele está? – Ela perguntou, a voz já firme, novamente.
- Vamos. – James acenou para frente.

Era estranho poder andar, pois não havia propriamente chão, mas uma camada pegajosa e estranha em que, entretanto, seus pés não afundavam. Aqui e ali, vultos solitários ou pequenos grupos, em situações de sofrimento que não conseguiria descrever, chamavam sua atenção, mas James a alertava para não se desviar por nada. Alguns corriam ao se aproximarem, e Serenna percebeu, muda de espanto, que fugiam por medo... dela!
Outros pareciam loucos delirantes, juntando lama de encontro ao peito como se fosse um tesouro inestimável.
- Nem todos atravessam o véu da morte em paz consigo mesmos e colhemos o que plantamos, lembra-se? – Em voz baixa, seu pai recordava as conversas que tinham há muitos anos. – Eles permanecem infelizes e loucos por longo tempo...
Sem lhes dar tempo para mais considerações, James apontou para uma pequena elevação no “terreno”.
- Ali está ele. Está mais aflito, acho que pressentiu sua presença.
Serenna olhou na direção indicada, pensando ver um homem, mas ao invés disso, viu um enorme cão, como em seus pesadelos e recuou, assustada. O animal rosnou ameaçador, à sua aproximação.
- Por favor – Lílian pediu-lhe – resista à sensação de medo. Sabemos que ele tem assombrado seus sonhos. Quando ele sonha, também, ele a vê. E tenta alcançá-la. Deixe que ele a reconheça, então, vai reagir e voltar ao normal.
- Ele... está assim o tempo todo?
- No começo, sim. Atravessou o véu muito ferido, o feitiço de Bellatrix quase o matou realmente. Só não o fez porque algo que ele trazia, acho que era nosso velho espelho, amorteceu o impacto. Havia estilhaços em sua roupa. Porém, ele estava muito fraco, e associou a névoa e o frio com os dementadores. Febril, passou a delirar e acreditar estar de volta àquele inferno. Por isso, assumiu a forma de cão por muito tempo. Nós conseguimos que ele retorne à forma humana, quando se acalma, mas ele não se mantém assim por muito tempo, pois acredita que enlouqueceu de vez e por isso está nos ouvindo.
Serenna o fitou, comovida e penalizada. Chegava a ser doloroso vê-lo daquela forma. Como sentir medo de alguém em situação de tamanha penúria? Com um gesto determinado, balançou a cabeça, como se com isso espantasse para longe as lembranças terríveis de seus pesadelos de uma vez por todas.
Procurou ver, além da forma animalesca e ameaçadora, o homem sofrido, que passara metade da vida preso em locais terríveis, afastado de todos os amigos, impedido de viver a vida como deveria. Procurou imaginá-lo livre de tudo aquilo, conversando alegre com Harry, Lupin e Tonks, como se a distância de todos aqueles anos não existisse.
Assim, corajosamente, fitando-lhe os olhos claros, aproximou-se lentamente. Ele já não rosnava, embora não desviasse o olhar canino.
- Então, Almofadinhas? – Ela falou baixinho, docemente como a uma criança – Pronto para voltar pra casa?
Ele ainda a olhava, desconfiado, mas não mais como se estivesse acuado. Ela caminhou um pouco mais, estudando cada gesto, atenta a toda reação dele. Seus pais e também o casal Potter se mantinham à distância, como se montassem guarda.
Já a menos de dois passos de distância, ela estendeu a mão. Ele rosnou, em sinal de alerta, mas Serenna não recuou mais. Não tinha mais medo. E o levaria de volta, nem que demorasse um século para arredá-lo dali.
- Sirius – ela o chamou com voz doce, mas firme – volte à forma humana, vamos. Precisamos conversar, preciso te levar de volta.
- Você não vai me levar pra lá! – Ele era um homem novamente, porém ainda mais agressivo que o cão. – Escute aqui, Bella...
Entendendo rapidamente o que ocorrrera, ela retrucou:
- Sirius, olhe bem! Não sou Bellatrix Lestrange! Preste atenção!
Mas ele a fitava, transtornado. Via os longos cabelos negros, via uma bruxa com um medalhão de Slyterin no pescoço. Em seu desvario, imaginava ser Bellatrix, a buscá-lo para Azkaban, ou algo pior. E, como não tinha varinha, tentou atacá-la com as mãos. Mas James agiu a tempo, pulando à sua frente. Isso só piorou seu estado.
- Estou louco! Estou vendo fantasmas que me atormentam dia e noite! O que digo? Já nem sei se é dia ou noite, aqui é tudo sempre igual!
Serenna afastou James com um gesto suave. Cuidaria daquilo, ele podia ficar tranqüilo.
- Sirius, me escute. Sou... amiga de Remus, e de Harry. Eles, e mais alguns amigos, estão esperando por nós, por você. Estão com saudades suas, precisam de você ao lado deles... Harry quer que conheça seus filhos. Ouviu? Ele e Gina se casaram, e têm dois lindos filhinhos. Nasceram há poucos meses. Venha. Venha conhecê-los.
Sirius a olhou, aturdido.
- Harry... é só um garoto. Como pode já ter filhos?
Serenna suspirou. Isso seria difícil.
- Ele... não é mais um menino... Já faz algum tempo... que você veio pra cá. A guerra acabou. Harry venceu e... a única coisa que deseja agora é poder mostrar os filhos ao padrinho. Se ele pudesse, estaria aqui, no meu lugar. Mas só eu podia vir, por isso, ele me pediu. Você quer que eu volte e diga a ele que você preferiu ficar aqui? – Ela fez um gesto à sua volta. Viu os pais a lhe sorrir, viu o casal Potter... e pensou que talvez ele preferisse mesmo ficar com os amigos. Isso foi doloroso, e ela não entendeu bem porque. Imaginou que era por desejar poder fazer o mesmo... Ficar ao lado dos pais.
Mas afastou para longe o pensamento, e insistiu:
- Sirius. Por favor, acredite em mim. Eu posso tirá-lo daqui, devolvê-lo ao mundo dos vivos. Atravessar de volta aquele véu... Só não posso.. voltar no tempo com você. Os anos que você perdeu... – ela se entristeceu, mas continuou – Eu sei bem o que é isso, me tiraram oito anos também, e uma vida inteira com isso... mas houve compensações – ela sorriu para os pais, que lhe sorriram de volta, compreensivos.
- Você quer dizer... que estou aqui há anos? Quantos?
- Quase doze anos. – ela respondeu, depois de curto silêncio.
Sirius soltou uma risada rouca, que ela constatou parecer mesmo um latido, como lera nos livros. E sentou-se no chão, os cotovelos apoiados nos joelhos, segurando a cabeça, expressão atônita e infeliz.
Sarah hesitou. O que mais precisaria dizer para fazê-lo entender? Foi quando uma voz soou em sua mente:
- Serenna, você tem pouco tempo. Já está quase amanhecendo, e o feitiço perderá seu poder. Faça-o se lembrar de você.
- Como? – Ela sussurrou. A voz da Mestra dos Sonhos vinha de tão longe e ao mesmo tempo de tão perto... mas ela ainda se sentia perdida.
Seus pais se aproximaram e a abraçaram em despedida.
- Temos que ir, agora. Mas fique certa de que estaremos sempre ao seu lado. Dê um abraço em todos os seus irmãos por nós. E também nos nossos netos queridos, todos eles. Ah, claro, não esqueça do Prof. Smith! – Seu pai lhe deu uma piscadinha.
Sem dizer nada, ela deixou-se abraçar e os olhou se afastarem, até que a névoa os envolvesse e... desapareceram. James e Lílian também pareciam prestes a partir, mas Sirius permanecia alheio a tudo isso. James se aproximou do amigo, dizendo com firmeza:
- Sirius, lembra-se de quando corríamos pela floresta? Do fantasma que você teimava em perseguir?
Enquanto Serenna o fitava, surpresa pela revelação que adivinhava naquelas palavras, Sirius olhou para James, e depois para ela. Percebeu que as vestes da bruxa se transfiguravam, transformando-se em um vestido de baile, um vestido verde, suave e diáfano como as vestes de uma ninfa das lendas. A própria Serenna se admirou da mudança em sua aparência, contemplando o vestido de baile de seus sonhos.
Ele olhou para ela, tentando compreender o que acontecia. Era mesmo ela? A mulher que via em seus sonhos? A mesma garota que pensava encontrar correndo e se escondendo na floresta? Ela estava ali, à sua frente? Finalmente ao alcance dos seus braços? Então, pensou que a reconhecia, embora estivesse diferente, mais velha, ainda vestia aquele vestido verde.
- Sim, estou aqui. Por muito tempo, não entendi o que você fazia em meus sonhos... ou pesadelos. Mas descobri a tempo, para vir buscar você. Daqui para frente, estarei sempre perto de você.
- Sim, agora me lembro! – ele se virou para o velho amigo - Vocês teimavam em dizer que eu estava sonhando acordado. Mas ela estava lá... ainda está. Ainda sonho com ela, quando consigo dormir... mas ela foge de mim, tem medo de mim.
- Não. – Serenna disse, aproximando-se mais um pouco e ajoelhando-se à sua frente – Não fugirei mais. Não tenho mais medo.
- Então, você existe! Não era alucinação ou fantasia... e todos zombando de mim daquele jeito! – ele fitou James novamente – Pontas, você me deve alguns galeões por isso!
A risada dos dois amigos pareceu dissipar qualquer apreensão que ainda persistisse. Lílian se aproximou de Serenna e disse suavemente:
- Nós teríamos sido boas amigas, se tudo tivesse acontecido diferente... mas estou feliz que você esteja aqui, agora. Diga à filha de Elizabeth... que estou feliz por ela também. E diga ao nosso filho... que continuamos ao lado dele. Sempre.
Serenna assentiu, depois, decidida, tomou as mãos de Sirius entre as suas e fitou-o nos olhos.
- É agora, temos que ir. – ela murmurou, tentando dominar a sensação de choque elétrico que a invadira ao tocá-lo.
- E o que devo fazer? – Sirius indagou, já completamente indiferente a tudo à sua volta, até mesmo ao sorriso e às lágrimas de seus amigos, que já se afastavam dentro da névoa. Seus olhos estavam presos nos olhos negros de Serenna, e ele podia até dizer que ouvia seu coração descompassado.
- Eu preciso repetir o feitiço que me permitiu entrar aqui, precisamos completar o voto dos doze sangues e...
- O que você disse? É um feitiço com sangue? Eles são muito perigosos e... inquebrantáveis!
- Sim, eu sei disso. – ela tentava parecer segura, mas sua voz tremeu por um instante.
Sirius observou calado e pensativo, enquanto ela tirava de algum bolso escondido um pequeno objeto: uma faquinha de prata em forma de meia-lua.
- Você é uma sacerdotisa de Avalon? – ele gracejou – Morgana das Fadas?
- Deixe de ser bobo! – ela ralhou com ele, mas sorria, e seu sorriso lhe pareceu a coisa mais doce que já vira. – Pronto?
Ele balançou a cabeça, e ela tomou sua mão, fazendo um pequeno corte na palma, enquanto recitava o feitiço e fazia o mesmo em sua própria palma, deixando as gotas de sangue caírem juntas e se misturarem no solo. Depois, fitou-o intensamente, dizendo num sussurro:
- Agora, você... precisa me beijar. Pra selar o ritual...
- Mas isso... Você sabe o que significa?
- Sei que é o que tem que ser feito pra levá-lo de volta comigo.
O gesto de agradável surpresa do bruxo não lhe passou despercebido, assim como seu comentário de que não era um “belo adormecido”... mas recusou-se a ficar ressentida com isso. Não era hora pra isso. Tinha algo mais urgente a fazer.
Serenna murmurou novamente as palavras retiradas do Livro de Fausto e a voz das seis bruxas que do lado de fora também repetiam o encantamento se juntou à dela, enquanto a névoa se adensava em torno deles e, sem hesitação, ela envolveu-o num abraço delicado. Quando se calou, Sirius segurou seu rosto e, meio hesitante e achando aquilo tudo muito estranho, a beijou. Uma luz dourada os envolveu. E foi como ser atirado em um furacão...


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Gente, duas coisas que me inspiraram este capítulo:

- aquele episódio de "Profissão Perigo" em que McGyver fica entre a vida e a morte e se encontra com os pais no barco de Hórus (ai, é Horus mesmo, esqueci agora...)
- Um dos capítulos finais cujo nome esqueci também (aff...) do livro "No Mundo Maior" de André Luiz, psicografado por Francisco Cândido Xavier.

ah, e não descrevi o encantamento completo né? é que.. nessas coisas a Sally é que é a especialista!
mas precisei fazer uma ediçãozinha e de quebra incluiuma pequena homenagem a uma amiga... descubram o que!

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