Pai e Filha



Por um instante, Bela se deu conta de sua fraqueza, e retirou-se do quarto de repente, sem dar explicações. Júlia ficou perplexa. Foi até a porta, mas a mulher já havia desaparecido no corredor mal iluminado.

– O que houve com ela?- a menina pensou.

Antes que voltasse para dentro do quarto, Narcisa reapareceu dizendo com seu tom de voz seco:

- Vamos! Estão todos a sua espera.

Júlia sentiu medo novamente. Algo dentro dela dizia que estar ali era um grande erro, que devia sair daquele lugar o mais rápido possível. Mas ao mesmo tempo havia algo no ar, uma força que a prendia ali. Sua mente dizia que ela devia ir embora, porém seu corpo a prendia como se estivesse enfeitiçado. Estava confusa.

Todos esperavam pela “ilustre convidada” numa espécie de salão de festas do casarão. Só estavam lá os moradores da casa, exceto Bela que ainda não havia descido.

“Onde Bellatriz se enfiou?” - pensou Voldemort irritado. – “Ela terá que me dar uma boa explicação para esse desaparecimento repentino!”

O Lorde das Trevas estava feliz, muito feliz por rever sua filha, mas claro que vindo dele isso não era um bom sinal, já que seu interesse pela garota era o mais cruel possível. Ele a usaria para ganhar de uma vez por todas a guerra, e desta vez não haveria ninguém para impedi-lo.

Júlia e Narcisa chegaram na porta do salão assustadoramente silencioso.

Voldemort usava um tipo de capa que possuía um capuz. Este lhe cobria parcialmente o rosto.Percebeu a presença das duas do lado de fora e abriu as portas do salão antes que elas batessem.

Ambas entraram, os olhos de quase todos os presentes pousados na figura de Júlia trajando as vestes bruxas.

-Seja bem vinda, minha querida – disse uma voz fria que a garota não conseguia distinguir de onde vinha.

Ela olhou pelo salão e se surpreendeu com o que viu. Só havia três homens lá dentro, ela imaginou que haveria mais gente. Um dos homens era baixinho e tremia tanto que Júlia não entendeu como conseguia ficar de pé. O outro era um garoto de uns 16 ou17 anos, muito louro e pálido, o qual Júlia imaginou que tinha algum parentesco com a antipática mulher que foi buscá-la no hotel. E o último estava encostado num canto, olhando para a taça de vinho que segurava, tão absorto em seus pensamentos que nem notou a chegada dela.

- Nem imagina o quanto esperei por este dia!

Nesse instante a menina percebeu que aquela voz fria não vinha de nenhum dos homens ali presentes.

- Peço apenas que não se assuste – continuou a voz. – Nem sempre a alma habita a mais bela morada.

Uma figura encapuzada saía das sombras.
“O dono da voz” – pensou a garota. “Meu pai!”

O Lorde Negro se aproximava lentamente, mas ela ainda não podia vê-lo.

- Passei por muitas coisas nesta vida, minha filha, e carrego as marcas de cada uma delas. Espero que minha aparência não assuste você. Tenha certeza que ela não faz jus a quem realmente sou.

Quando acabou de falar, já estava de frente para filha. Retirou o capuz.

Ele não era um bruxo comum - foi a primeira coisa que passou pela cabeça de Júlia. Embora tivesse expressões ofídias e olhos viperinos, que emanavam um brilho escarlate assustador, ela não sentiu medo. Parecia que já o conhecia, que já esperava por aquele encontro há séculos.

Voldemort a olhou no fundo dos olhos. Queria examinar sua mente, sua alma, conhecer seus medos, seus pontos fracos, e desta maneira saber como manipulá-la sem que ela percebesse.

Mas surpreendeu-se ao constatar que não conseguia ver nada! Ele não contava com isso. Afinal, quem ensinou Oclumência para a menina? A pergunta martelou na cabeça dele, pois não era qualquer um que conseguia esconder seus sentimentos do grande Lorde Negro.

Contudo, aquela garota não era qualquer uma, e sim uma bruxa poderosíssima, tão poderosa quanto seus pais, e cujos poderes Voldemort nem desconfiava. Aliás, nem ela mesma sabia direito do que era capaz.

“Preciso reverter isso ao meu favor” – pensou o Lorde, que desviou o olhar da menina e voltou a falar. - Vamos às apresentações.

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