O dilema de Bella



Júlia passou o restante daquela noite em claro. Não conseguia relaxar e dormir, então tomou um banho e ficou sentada numa poltrona perto da janela até o dia clarear.

Mal o sol nasceu e um pássaro entrou com tudo pela janela do quarto. Era uma coruja muito bonita que trazia preso na perna um pedaço de pergaminho. A moça soltou o papel da pata da ave e leu várias vezes enquanto o animal a observava:

Querida Júlia,

É com muito prazer que recebo a notícia de que já está em Londres. Espero que tenha feito uma boa viagem. Estou ansioso para vê-la. Ficarei muito feliz se aceitar jantar comigo esta noite, temos tanto pra conversar. Mandarei uma pessoa de minha confiança para buscá-la no hotel onde está hospedada ao entardecer. Mande a resposta pela mesma coruja.

L. V.


Ela não sabia muito bem o que pensar sobre o que acabara de ler. O bilhete era de seu pai, isso tinha certeza, mas como ele descobriu que ela já tinha chegado, e ainda por cima onde estava hospedada?

Sentiu um frio percorrer a espinha, uma espécie de mau pressentimento, mas mesmo assim aceitou o convite. Seria melhor conhecê-lo logo.

Respondeu no mesmo pergaminho, voltou a prendê-lo na pata estendida da ave, que em seguida voou para longe. Depois, Júlia arrumou seus pertences no quarto, ligou para a irmã para contar sobre a viagem, ou pelo menos parte dela, e deitou na cama para descansar um pouco.


Na casa que esperava a visita de Júlia durante a noite, Snape acordou com uma dor de cabeça terrível. Ainda estava inconformado em ter fracassado na noite anterior. Tudo corria tão bem...se não fosse aquela mulher aparecer do nada no seu esconderijo. Quem seria ela?. A pergunta martelou na mente dele a noite toda.

Como ele, Severo Snape, foi se deixar levar assim? Como foi perder a cabeça, logo ele, que nunca se impressionou com nada, nem com ninguém? Mas ela surgiu de uma maneira tão mágica. Parecia uma deusa, um espírito de luz que o cegou a ponto de perder o juízo e se colocar em risco.

Ele precisava parar de pensar nela, tinha coisas mais importantes para se preocupar. Então tomou um banho, vestiu suas habituais vestes negras e desceu para encontrar seu mestre.

Quando entrou no escritório, avistou Belatriz, Narcisa, Draco e Rabicho sentados em torno de Voldemort.

- Sente-se, Severo – disse o Lorde apontando uma poltrona vazia. – Espere conosco.

Ele sentou e ficou curioso: o que estaria acontecendo ali? Seus companheiros Comensais estavam aparentemente com medo, o que era natural, pois nunca se sabia o que esperar do Lorde Negro.

Porém, Snape e Bella estavam com uma expressão indecifrável. Nem o maior Legilimens do mundo seria capaz de penetrar em suas mentes naquele momento.

Ficaram naquele suspense por algum tempo, até que uma coruja entrou com um vôo rasante pela janela e pousou no braço da poltrona onde o Lorde estava sentado. Ele retirou o pergaminho preso à pata da ave e leu em silêncio. Em seguida ficou de pé e disse:

- Ela virá esta noite.

Voldemort estava com um sorriso triunfante e um ar maligno no olhar, ficando ainda mais assustador.

- Essa noite retomarei meus planos, caros seguidores. Há 20 anos tive uma filha. Meu desejo era passar para ela todo o meu legado, criá-la e educá-la conforme os meus costumes. Mas graças ao Potter e a interferência de Dumbledore, nem tudo saiu como o planejado. Porém, a partir de hoje, recuperarei o tempo perdido. E desta vez não haverá ninguém para me impedirele soltou uma gargalhada fria e prosseguiu. - É claro que deveremos agir com cautela agora. Não sei até que ponto aquele velho interferiu na vida dela. Por isso, a partir desta noite começaremos a encenar nosso “teatrinho”. E NÃO ADMITIREI FALHAS. Entenderam?

Voldemort olhou um de cada vez, e divertiu-se com a expressão que visualizou nos rostos de seus Comensais:..surpresa e medo traduzidos nas feições, pelo menos da maioria deles. Ele se sentou novamente e perguntou:

Alguém tem alguma dúvida?

Enquanto os outros faziam perguntas idiotas, duas pessoas ali presentes estavam totalmente absortas em seus pensamentos.

Bella passava por um conflito interiorpela primeira vez na vida. Parte dela queria ver a filha que estava prestes a chegar para poder abraçá-la, beijá-la, enfim, aproveitar cada segundo ao seu lado. Enquanto isso, a outra parte achava aquele tipo de sentimentos um absurdo. Onde já se viu, ela pensava, uma Black, uma Comensal da Morte, tento sentimentos de gente fraca? Sentia-se parecida com Narcisa, sua irmã fraca e apegada ao filho. Não, ela não podia se deixar levar por isso. O sucesso do plano do Lorde era mais importante que tudo, e esta garota, fosse quem fosse, era apenas uma peça para que tudo corresse bem. Mas até que ponto ela suportaria ver a filha indefesa entregue às armadilhas do Lorde Negro? Isso ela não sabia.

Enquanto Bella ficava em seu dilema silencioso, Snape começou a ligar as coisas em sua mente. Tudo fazia sentido! Só podia ser esta a garota a quem Dumbledore se referia. A filha do Lorde das Trevas! E era ela quem Severo Snape estava destinado a proteger, e era o que faria a partir de agora. Pensou que cumprir sua promessa talvez não seria tão complicado assim, afinal, parecia que o universo havia começado a conspirar a seu favor, levando esta moça até ele. Mas ele mal imaginava o que estava por vir.


No hotel trouxa de Londres, Júlia dormiu a manhã toda e parte da tarde. Quando acordou, recebeu um recado da recepção do hotel que havia alguém a sua espera.

Ela se arrumou depressa e desceu. No hall do hotel avistou uma mulher loura, que vestia uma longa capa de viagem e carregada de embrulhos. Seu pai deveria tê-la mandado para buscá-la. Então a menina se aproximou e disse:

- Boa tarde. Sou Júlia. É a senhora quem me esperava?

Narcisa, com sua habitual expressão de nojo, olhou a garota da cabeça aos pés e a detestou à primeira vista. A beleza de Júlia de alguma maneira a incomodou. Além disso, ela se vestia e se comportava como uma trouxa. A mulher imaginou qual seria a reação do Lorde quando soubesse que sua filha se parecia com o que ele mais detestava no mundo. Ela deu um sorriso de desdém e respondeu.

- Malfoy, Narcisa Malfoy. Vamos, estamos atrasadas.

Dizendo isso ela saiu, deixando Júlia impressionada com a “educação” da mulher. Mesmo assim a menina a acompanhou, e elas caminharam em silêncio pelas ruas de Londres.

- Quer ajuda com os pacotes? – perguntou Júlia, puxando assunto.

- Não – respondeu secamente a mulher.

- Para onde vamos, senhora Malfoy? – insistiu a garota.

- Ver seu pai. Mas acho que isso você já sabe.

A menina respirou fundo e tentou outra vez:

- Sei, sim. Só quero saber onde exatamente ele está, e como chegaremos lá.

A mulher parou, olhou para moça e respondeu:

- Para onde vamos você verá quando chegarmos. Agora, como iremos, é só imaginar um pouco. Você é uma bruxa, então vamos a-p-a-r-a-t-a-r! Pensou o quê? Que pegaríamos o metrô? - dizendo isso, a loira deu as costas à menina e voltou a andar.

Naquela hora, Júlia teve que contar até mil para não mandar aquela mulher para lugares muito feios. Ela pensou se seu pai não tinha ninguém mais agradável para buscá-la.
A antipatia entre as duas foi mútua. Júlia achou Narcisa uma metida e mal educada. A mulher achou a garota bonita, o que já bastava para irritá-la, e trouxa demais. Elas caminharam em silêncio por mais alguns minutos, até que entraram numa rua deserta, onde Narcisa parou e ordenou:

- Pegue no meu braço.

- Sei aparatar sozinha – respondeu a garota no mesmo tom seco da loira.

- Claro que sabe, “lindinha”. Só quero ter certeza de que não vai fugir.

Dizendo isso, Narcisa pegou a mão de Júlia e aparatou puxando-a com ela. Ambas chegaram a uma estrada de terra deserta.Só havia uma mansão a alguns metros dali.
Júlia ainda estava tonta quando a mulher voltou a andar. Caminharam mais um pouco. O sol já estava se pondo quando se aproximaram da casa, um lugar magnífico e sombrio ao mesmo tempo.

Elas entraram na mansão, onde a arquitetura e a mobília mostravam que se tratava de um lugar antigo, um imponente casarão senhorial. Tudo era perfeito, encantador. Mas tinha algo no ar, uma coisa estranha que fez o coração de Julia ficar apertado. De repente ela sentiu o mesmo frio na espinha que havia sentido pela manhã: estava com medo.

- Vai ficar aí? - perguntou Narcis,a que estava parada ao pé da escada.

A garota foi até ela e subiram uma escadaria em espiral, que dava em um corredor imenso e mal iluminado.

- Este é o seu quarto – disse a mulher abrindo uma das portas.

Elas entraram e Narcisa colocou todos os pacotes que carregava em cima da cama. Era um quarto muito bonito e organizado, mas a sensação ruim que a menina sentia permanecia, agravada pelas cortinas cerradas do local.

- Como disse, este é seu quatro. Nestes pacotes estão vestes mais decentes para você. Seu pai não vai gostar de vê-la vestida como uma trouxa. Guarde seus novos trajes, arrume-se e quando for a hora virei buscá-la.

Narcisa saiu do quarto e trancou a porta, deixando Júlia em estado de choque. Afinal, ela havia sido convidada para jantar, mas agora vinha uma mulher loucae mal educada com essa conversa de roupas novas, quarto. Ela não queria aquilo, não desejava ficar ali mais que uma noite. Além disso, seu principal objetivo era encontrar o crápula que assassinou seu querido Dumbledore, e se ficasse presa num lugar no meio do nada ela não obteria resultado nenhum em sua busca.

- Quem essa mulher pensa que é? – disse a garota irritada para si. – E que pai é esse? Fazia tanta questão de me ver e nem se deu ao trabalho de me receber. Não fico aqui nem mais um segundo!

Quando ela apontou a varinha para abrir a porta, outra mulher entrou no quarto. Era dona de uma beleza peculiar, embora castigada pelo tempo, e tinha um olhar familiar. Júlia teve a impressão de que a conhecia há séculos.

- Calma, menina, não precisa me atacar – disse a mulher sorrindo.

- Não vou atacar ninguém, só quero sair daqui, não vou ficar presa enquanto...

- Você deve ser Júlia, a filha do Lorde – falou Bella, interrompendo a moça. – Desculpe se minha irmã te deixou aqui sem explicações, ela não costuma ser muito gentil com garotas bonitas.

A mulher falava pausadamente, tentando não demonstrar a emoção que sentia em rever sua filha. Ela não queria que esse tipo de sentimento, que segundo ela existia apenas nos fracos, a dominasse. Mas quando ela viu Júlia parada na sua frente, muita coisa dentro de Bellatriz Lestrange mudou.

- Seu pai não a recebeu porque está cuidando dos preparativos para o jantar pessoalmente. Ele quer que saia tudo perfeito. Pediu para cuidarmos de você até tudo estar pronto. Ah! Também pediu para comprarmos estas vestes para você, um presente.Ficaria encantado se você usasse uma delas esta noite.

Bella foi até um dos pacotes, abriu-o, retirou de lá uma linda veste azul, e continuou.

- Eu sugiro esta. Combina com você, com seus...

- Perdão – interrompeu a moça. - Agradeço sua atenção, os presentes, mas não quero trocar de roupa, estou bem assim.

- Ah, não se desculpe, é só uma sugestão, você está mesmo muito linda, apesar de se vestir como uma trouxa.

- Você quem é?

- Nossa, que cabeça a minha, nem me apresentei. Sou Belatriz Lestrange. Trabalho para seu pai há muitos anos. Bem, acho que ainda vai demorar um pouco para esse jantar sair, portanto sente-se aqui, vamos conversar um pouco para passar a hora.

Júlia sentou ao lado de Bela na cama, e elas ficaram lá conversando como se conhecessem uma a outra há muito tempo. A menina sentiu uma afinidade inexplicável por ela, o oposto do que sentiu por Narcisa. Gostou tanto de Belatriz que já estava disposta a experimentar a roupa habitual dos bruxos, como a mulher tinha sugerido.

- Ficou perfeita! - exclamou Bela ao ver a filha com trajes bruxos.

De fato a mulher tinha razão, ela ficou muito bonita. As vestes pareciam feitas especialmente para Júlia.

- Não estou acostumada com este tipo de roupa – disse a garota brincando com as mangas da veste. – Mas até que não ficou tão ruim assim.

- Perfeita, linda - a mulher estava cada vez mais encantada com a filha, mesmo contra sua própria vontade. – Vem aqui, deixa eu arrumar seu cabelo.

A menina voltou a sentar na cama, e Bela começou a mexer no seu longo cabelo carinhosamente, fazendo Júlia relaxar. Ficaram assim, mãe e filha curtindo sem saber um dos últimos momentos de paz que teriam dali para a frente.

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