Olhinhos de besouro



Hagrid entrou na gruta acompanhado pelo seu cão de caça, olhou por todos os lados e viu Júlia sentada no chão, aparentemente atordoada. Ele se aproximou dela, ofereceu a mão e ajudou-a a se levantar, ao mesmo tempo em que perguntava:

- O que faz aqui, menina? Não parece bem, o que aconteceu?

Ela demorou um pouco para responder. Não sabia o motivo, mas seu coração dizia que não deveria contar a verdade sobre o homem que encontrou há pouco, embora não lembrasse bem do que havia acontecido. Lembrava-se apenas do unicórnio, da gruta, do olhar, dos abissais olhos negros daquele desconhecido.

- Desculpe, Hagrid. Sei que devia ter esperado em sua casa, mas vi um unicórnio e fiquei encantada. Segui ele até aqui, só que me senti um pouco tonta e caí. Estou bem agora.

Júlia sentia seu rosto arder, por isso evitou olhar para Hagrid, pois estava muita sem graça. Logo ela, que detestava mentiras por mais inocentes que fossem, estava mentindo para alguém que foi tão gentil com ela até aquele momento.

- Júlia, esta fogueira – disse o meio gigante - Já estava aqui quando você entrou?

A garota corou mais ainda, e com esforço respondeu:

- Não sei. Acho que sim, mas não prestei atenção.

O que a preocupava não era o fato de Hagrid ter percebido a fogueira, e sim se ele se desse conta dos objetos que estavam perto dela. Estes deviam pertencer ao homem que ela conheceu há pouco. Então, mais uma vez seguindo seu coração, desviou a atenção de Hagrid do amontoado de lenha para ela.

- Não estou muito bem, Hagrid. Acho que é esse lugar...

Mais que depressa o meio gigante saiu da gruta com a moça em seu encalço. Sem fazer mais perguntas, para alívio de Júlia, eles caminham com Canino até a cabana dele. Chegando lá, Hagrid acendeu a lareira e preparou um chá para ambos, enquanto Júlia permaneceu calada, perdida em seus pensamentos.

Tome este chá, menina, vai te fazer bem.

-Obrigada, Hagrid. Está sendo tão gentil comigo...mal me conhece. Nem sei como agradecer.

O gigante apenas sorriu para ela, até que o sorriso morreu quando ela o questionou:

O que aconteceu ao professor Dumbledore? Como ele morreu?

Os olhos do grande homem se encheram de lágrimas antes dele responder:

- Foi triste...muito triste, sabe. Dumbledore, um grande homem, um grande bruxo. Confiava demais nele. Todos dizíamos...

Apesar da aparência bruta, Hagrid era um homem sensível e não conseguia falar mais, chorando feito uma criança desesperada. A situação deixou a menina aflita, pois ela não sabia o que fazer, o que dizer para consolá-lo. Então ela colocou as mãos suavemente sobres as do gigante e esperou em silêncio até ele se acalmar.

Alguns minutos depois o pranto de Hagrid cessou, ele fitou Júlia com seus olhinhos de besouro inchados de tanto chorar, e voltou a falar.

-O professor Dumbledore foi covardemente assassinado. Morto por ordens dele, daquele-que- não-pode-ser-nomeado. Ele foi morto por um covarde, um traidor! Harry tinha razão, sempre teve. Nós achávamos que era implicância, mas não. Se tivéssemos dado ouvidos ao que Harry dizia, a esta hora aquele verme imundo estaria em Azkaban!

Depois desta revelação, o meio gigante ficou em silêncio, deixando Júlia em estado de choque. Era óbvio que ela havia entendido poucas coisas da explicação de Hagrid, o que deixou claro ao perguntar:

_ Hagrid... pode ser mais claro? Não estou entendendo nada. Quem não se deve nomear, quem é Harry e quem...quem matou o professor?

A dor e o choque causados pela morte de Dumbledore foram substituídos no coração de Júlia por um desesperado desejo de vingança. Ela sentia seu corpo queimar de ódio, olhava para Hagrid de maneira assustadora. Naquele momento ela seria capaz de lançar uma maldição imperdoável no primeiro que cruzasse seu caminho.

Aquela notícia fez com que ela esquecesse o que foi fazer em Londres. Em sua mente, o único objetivo era caçar os culpados pela morte de seu querido protetor.

Dumbledore era muito especial para ela, um homem que admirava, respeitava. Ele esteve muito presente em sua vida, ensinou tudo o que ela sabia sobre magia, sempre a protegeu. Até mais que o necessário. E agora ele estava morto, mas não uma morte natural, a qual todos nós estamos destinados, e sim uma morte cruel, covarde. Ela estava disposta a por as mãos nesse frio assassino, fazê-lo pagar pelo crime que cometeu. Queria que ele sofresse como ela estava sofrendo agora.

Mas antes que Hagrid lhe revelasse o nome deste homem, batidas na porta da cabana fizeram com que ambos se assustassem. Afinal, ela tinha sido escorraçada do castelo pela diretora algumas horas mais cedo, e o bondoso homem que a acolheu em casa estaria em sérios apuros se ela fosse encontrada ali.

- Fique calma, vou ver quem é.

Hagrid saiu para atender à porta. Enquanto isso, Júlia permaneceu em silêncio, pensando nas novas descobertas e no que ela faria. Uma coisa já sabia: esta viagem a Londres seria bem menos tranqüila do que ela imaginava.

- A diretora quer me ver agora, parece que houve um roubo na sala dela. Mas você pode ficar aqui me esperando até...

Antes que ele terminasse a menina o interrompeu.

- Obrigada, Hagrid, por tudo, mas não posso ficar, já está muito tarde. Vou ficar hospedada num hotel trouxa, no centro de Londres. Gostaria muito de revê-lo, para que me explique melhor o que aconteceu a Dumbledore. Você pode ir me encontrar lá?

- Posso, sim. É só me avisar que vou. Mande-me uma coruja. Mas tem certeza que não prefere ficar? Está tão tarde para andar sozinha por aí. Estamos em tempos difíceis, é muito perigoso.

- Não, eu tomo cuidado. Mesmo assim, obrigado por tudo, foi um prazer te conhecer.

- Tudo bem, então. Mas todo cuidado é pouco, menina. Vamos, levo você até o portão.

Júlia despediu-se de Canino e saiu acompanhada por Hagrid, que a levou até a saída do castelo e ficou observando até que ela sumisse de vista.

Júlia seguiu pela estrada que levava até Hogsmead, encontrou um local seguro e aparatou, coisa que ela detestava fazer, próximo ao hotel trouxa onde ficaria hospedada.

Depois do encontro com a misteriosa mulher na gruta, e de quase ser descoberto por Hagrid, Severo Snape não teve outra escolha, senão retornar à mansão onde estava escondido com Voldemort e alguns Comensais.

Chegando lá, entrou sorrateiramente para não chamar a atenção de ninguém. Mas quando faltava apenas alguns passos para alcançar seu quarto, foi surpreendido por um garoto de voz arrastada, que disse:

- Você pensa que me engana. Sei que está aprontando algo, vou descobrir o que é! Então te denunciarei, aí o Lorde verá quem é seu servo mais fiel.

Snape deu um meio sorriso e respondeu ironicamente:

- Esta noite nem vou dormir de tanto medo, Draco. Ah! Você descobriu meu segredo. Agora só o que me resta, é esperar por um triste e doloroso fim.

O ex-professor lançou ao seu ex-aluno um olhar mortal, daqueles que ele costumava dedicar exclusivamente para o Potter, e continuou:

- Vá para cama, menininho. Antes que sua mamãezinha venha atrás de você!

Depois disso ele se virou, caminhou até seu quarto e entrou, deixando Draco com uma expressão de ódio misturado com despeito no rosto.

-Por Merlin! Só me faltava essa – falou Snape para si mesmo enquanto se aprontava para dormir. – Como se não bastasse todo esforço que fiz ter sido em vão, agora me vem esse pirralho bancando o detetive.

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