Capítulo - V
Capítulo – V
Agora estava feito. Ela havia aceitado a insana proposta de Malfoy e nada poderia mudar aquilo. Não tinha a menor idéia de onde estava se metendo... Mas nem pretendia ter. Simplesmente queria se ver livre de toda aquela pressão. Ela queria coordenar todos os seus pensamentos, sentimentos, fazer o que bem entendesse. Ela só não imaginava tudo que poderia acontecer depois. Só que estava disposta a arriscar.
Uma coruja com asas muito cinza bicou a sua janela. Ela já sabia do que se tratava e ansiava por aquilo.
“Encontre-me às 14hrs no Matisse, para acertarmos tudo. Não se atrase, você é quase uma Malfoy e Malfoys nunca se atrasam.
Draco A. Malfoy”.
“Ele só pode estar ficando louco! Eu? Uma futura Malfoy! Só pode ser piada muito da engraçada! Eu apenas aceitei me casar com ele! Nossa... mas se eu me casar com ele... querendo ou não... vou me tornar uma Malfoy... Merlin, no que você quer me transformar? E ele ainda pirraça... Ai, ai... eu aposto que ele só faz isso pra me tirar do sério! Mas agora que eu estou lendo ‘Aprenda a controlar seu humor’ do Walter Mercado, eu duvido que ele vá conseguir! Ahaha... eu vou simplesmente deixar o Malfoy impressionado! Mas vem cá? Quem disse que eu quero impressionar o Malfoy... Ai, eu preciso fazer terapia, nem sei mais o que estou dizendo.”
A noite chegou e o sono nada de acompanhá-la. Revirou-se na cama, tomou inúmeras xícaras de leite quente, contou carneirinhos, orou para seu anjinho da guarda. E nada! A única imagem que não saía de sua mente era ela toda de branco ao lado de Malfoy, que estava simplesmente impecável em seu smoking. Uma visão dá pura tentação! E como ela queria se perder naquele sabor de pecado. E era isso que mais a incomodava, ela não sabia o porquê, mas agora pensava em Malfoy quase todos os momentos. Isso não era certo. Não poderia acontecer! Porque eles estavam apenas fazendo negócios... apenas negócios... e com esse pensamento ela conseguiu adormecer.
As seis, como eram de se esperar, seu despertador começou a tocar. Gina levantou, espreguiçou-se, andou até o banheiro ligou o chuveiro para a água fria descer e dar lugar a uma quente extremamente relaxante, tirou seu roupão de seda, e sentiu uma corrente descer por suas costas... Depois do banho vestiu-se e encarou o espelho.
– Tenho um longo dia pela frente – pensou alto. – E Malfoy vai me pagar por aquela carta, imbecil.
Foi até a loja e Fred já estava lá. Terminando de restaurar um vaso chinês lindíssimo que ela havia conseguido comprar por um preço não tão bom, mas aquela peça chamava por ela. E quando isso acontecia, ela tinha certeza que não importava o preço, teria que comprar, pois com certeza faria um excelente negócio. “Gina querida, não é você quem escolhe a peça, é ela que te escolhe, jamais se esqueça disso.” Lembrou-se de um dos conselhos de seu pai. Mas agora não era hora de nostalgia e sim de decisões.
– Fred, vou dar uma saída, não me espere.
Gina encaminhou-se para o mais famoso salão bruxo da cidade, onde as mais nobres e fofoqueiras estariam de plantão. Ah, ela não deixaria barato os insultos desmedidos de Malfoy.
– Bom dia – falou a secretária, olhando-a como se tivesse um ovo podre embaixo do nariz.
– Bom dia – responder Gina. – Eu gostaria de uma hora com o Mariano.
– Bem querida, geralmente marca-se uma hora para ter a honra dos cabelos tocada pela magnífica varinha dele, mas hoje é seu dia de sorte, uma das nossas clientes desmarcou e eu vou te encaixar. Seu nome, por favor?
– Ginevra Weasley. E Obrigada por sua gentileza e ótimo atendimento - falou Gina, e encaminhou-se para a cadeira mais próxima.
Umas três horas depois de revirar todas as revistas de fofoca bruxa e saber da vida de todo mundo, Gina foi chamada pela atendente.
– Senhorita, me acompanhe.
Gina levantou-se, não sabia se realmente deveria fazer isso. Mas valia tudo para tirar um sarro do Malfoy.
– Ah querrrida! Como está? Você nunca mais me apareceu? O que houve? Esqueceu do seu gatinho aqui? – falou Mariano naquela voz assustadoramente gay.
– Ah, Mary, você sabe que eu só apareço aqui em casos especiais, normalmente não preciso disso, minha beleza exala naturalmente, não é, meu bem? – Gina gargalhava.
– Essa sua modéstia me deixa louca! Mas me diga, que ocasião é essa tão especial para você me fazer uma visitinha?
– Bem, Mary! Quero que fique entre nós, por favor! Eu quero ficar loiríssima por uma tarde! Tem como fazer isso por mim? Quero parecer uma dessas atrizes americanas, loiríssima, sem sardas, olhos claros. De preferência cinza-azulados. Tem como você me fazer isso? Mas é um segredinho nosso.
– Ahhh, mas esse bofe deve ter uma fantasia louca, pra querer fazer você mexer na cor desses seus cabelos, você nunca me deixou fazer isso, por mais que eu tentasse. Ah, esse Senhor Malfoy enlouquece as mulheres.
Gina ficou estupefata. Como ele sabia? Não tinha como ele saber... Há não ser que...
Ao olhar a cara estupefata de Gina Mariano gargalhou...
– Ah meu bem, apesar de você ser uma falsa e não aparecer muito aqui, eu sei de tudo que acontece nessa cidade. Sem contar que você quer melhor informante que Adelle? – disse ele muito descarado.
– Ah, mas aquela cachorra me paga.
– Humm, então é verdade, não é? E o pobrezinho do Harry? Nossa como você é sortuda! Dois gatões na sua e você não me dá nenhum?
– Seu sem vergonha, vou dizer isso ao Jerome.
– Ah, você não faria isso – falou com aquela cara de anjo fingido.
– Ah, eu faria sim. Mas eu não tenho muito tempo, dê um jeito nesse meu cabelo.
– Você sabe que eu posso tudo!
E depois disso Mariano começou a trabalhar no cabelo dela, Gina nunca vira alguém tão habilidoso com feitiços de estética, e em menos de uma hora estava ela lá como uma perfeita Malfoy deveria ser. Linda, com as maçãs do rosto um pouco rosadas, seus cabelos num louro platinado, meio ondulados e os olhos num tom cinza gélido. Exatamente como ela pedira. Agradeceu a Mariano por tudo e pediu à Merlin para sua mãe não ir lá por esses dias, se não estaria frita! Mas agora estava feito. Ela se direcionou ao Beco Diagonal onde se encontrava o Matisse, um dos restaurantes mais finos da Inglaterra bruxa, perdia apenas para o Fabulous.
Encaminhou-se até o maitre do restaurante e ele a indicou à mesa. Enquanto andava sentiu que muitos homens a olhavam, desejando-a. E o que será que Malfoy acharia disso tudo.
Pensava que ele ainda não estaria no restaurante, pois ainda faltava meia hora para o encontro, mas ele estava lá. E agora ela estava totalmente sem jeito. Malfoy a olhou dos pés a cabeça, ele parecia surpreso e estarrecido, mas isso durou apenas uns segundos. Depois com sua voz arrastada e sua face sem expressão disse:
– Ah, Weasley, é você? Não havia te reconhecido. Você levou bem a sério essa história de virar uma Malfoy. Foi apenas uma brincadeira não era pra você acreditar.
Gina estava fervendo de ódio. Aquilo era para fazer com que ele ficasse chateado. Não ela! Mas ela não perderia o autocontrole. Lembrou-se do livro e vidente escritor. E mandou-os irem caçar sapo com bodoque.
– Malfoy, para o seu governo, eu vim desse jeito disfarçada. Não gostaria que as pessoas me vissem conversando com você. Logo isso chegaria aos ouvidos de minha mãe e em conseqüência de meus irmãos. Então nosso acordo não poderia existir mais. Por isso estou assim, pois esse é o tipo de garota com quem você sairia.
– Ah, então você quis ser o tipo de garota com quem eu sairia?
– Não, Malfoy, apenas achei que daria muito na cara se você aparecesse com uma pessoa em público que não fosse lá muito o seu tipo.
– Para sua informação, seria muito mais fácil. Pois todos sabem aqui que estou montando uma empresa e isso poderia ser um jantar de negócios, sem contar que você está chamando muito mais atenção dessa forma. Mas infelizmente você não acertou o tipo de mulher que eu me envolveria, pois eu realmente prefiro as morenas, Weasley, as morenas.
Gina se contorceu toda.
– Não me interessa o tipo de pessoa com quem você sairia Malfoy.
– Não foi o que você aparentou – alfinetou.
– Quer saber Malfoy, estou aqui por causa daquela droga de proposta, mas pode acreditar que já estou imensamente arrependida de ter aceitado.
– E nada de você controlar seu temperamento, hein?
– Ah, vai pro inferno... – disse, levantando-se.
– Não vá, desculpe. Realmente não quis lhe aborrecer. Vamos ao nosso trato então?
– Tudo bem. Fico apenas porque dei minha palavra.
Então eles acertaram como seria o casamento. Ninguém precisava saber, seria apenas no cartório. Gina insistiu. Para ela cometeria sacrilégio recebendo a benção de Merlin por uma mentira, sem contar que precisava ser rápido, pois ela não agüentava mais a pressão, e o avô moribundo de Malfoy já estava quase na outra vida.
Casaram-se três semanas depois. Discretamente. Mas logicamente que ao saírem do cartório a cidade em peso já sabia, inclusive sua mãe.
– GINEVRA CLAIR WEASLEY! Você está dominada pela maldição Imperius? Ah, Merlin o que eu fiz para merecer isso? Você nem ao menos me convidou.
Gina se encaminhou até sua mãe, ela sabia que mais cedo ou mais tarde teria que enfrentá-la. Mas não esperava que fosse tão cedo.
– Mamãe, se acalme... – sussurrou Gina. – Eu não falei pra você justamente por causa desse escândalo.
– Lógico que faria um escândalo, minha filhinha casando-se com um Malfoy... ah, seu pai deve estar revirando no túmulo.
– Não blasfeme. Você sabe que papai apoiaria minha decisão se soubesse que eu estou perdidamente apaixonada por Draco.
Aquele nome soou altamente estranho em sua boca, mas agora que eram casados e precisavam fingir que estavam apaixonados, não poderiam se tratar pelos sobrenomes.
– Oh! Você está apaixonada por ele? – disse apontando para Malfoy, que estava um pouco distante observando a cena.
– Obviamente, mamãe. Por que acha que eu me casaria então?
– Para fazer birra, lógico!
– Mas mamãe – fez sua infalível carinha de choro...
– Oh, minha filhinha, desculpe sua mãe! Eu só quero o seu bem, e se sua felicidade está ao lado do Malfoy agora que estão casados não posso realmente fazer mais nada.
As duas abraçaram-se. Estava sendo árduo enganar sua mãe daquela forma, mas era preciso e seria por bem pouco tempo.
– Então deixe-me apresentá-la ao meu marido... – disse – Draco, por favor, venha até aqui.
Então Malfoy se encaminhou até as duas e até Molly se hipnotizara com o seu olhar sedutor.
– Olá, senhora Weasley – falou ele, sensualmente.
– Ah! Humm, olá, Sr. Malfoy. Quer dizer que agora somos da mesma família?
– Creio que sim. Sua encantadora filha conseguiu arrebatar meu coração – falou Draco mansamente, estudando cada palavra. – E agora vejo a quem puxou sua tamanha beleza.
Molly ruborizou. “Pronto, agora mamãe está no papo! Como ele consegue fazer isso!”
– Eu gostaria que a senhora nos acompanhasse a um almoço. Já que Gina não gostou muito da idéia de darmos uma festa.
– Ah, eu adoraria.
Então Malfoy segurou o rosto de Gina com as duas mãos e beijou seus lábios, em princípio superficialmente, depois com alguma insistência, o que logo a deixou amolecida. Era a primeira vez que ele a beijava e o efeito tinha sido um tanto surpreendente, algo parecido como entrar em transe. E logo percebeu que ele havia feito isso apenas para mostrar a sua mãe como deviam ser apaixonados um pelo outro. Mas também deveria ser a última vez.
Gina estava meio aturdida e envergonhada. Envergonhada da forma como se deixara afetar por um beijo que não passava de encenação. E ainda tinha de enfrentar o almoço que viria em seguida. Como é que ele podia sorrir e fingir estar feliz?
A adrenalina começava a subir perigosamente. Gina estava a ponto de sair correndo. Mas Draco segurou seu braço, amparando-a, como se soubesse o que estava se passando atrás dos seus olhos.
Seguiram para o Matisse, onde Draco havia reservado uma mesa. Gina estava surpresa de como Malfoy conseguira conquistar sua mãe. Ela simplesmente passara a idolatrá-lo. Ainda bem, porque só eles falavam e ela apenas concordava, com certeza não fingia tão bem quanto ele e se demorassem muito ali sua mãe desconfiaria. Ele parecia entender seus pensamentos e com jeito demonstrou que queria curtir bem a lua-de-mel. Meia hora mais tarde Molly os deixou e eles seguiram para um hotel lindíssimo à qual Draco havia escolhido para passar dois dias. Só dois porque como Malfoy tinha explicado para a mãe de Gina, ele não podia ficar mais que isso longe do trabalho. Não enquanto a nova unidade de produção que ele estava montando não ficasse pronta. Mais tarde, sairiam para outra lua-de-mel.
Só mentiras. Como tudo nesta imitação de casamento que estavam vivendo. Ele não via motivo para passar o tempo com a noiva e deixar o trabalho esperando em casa. Dois dias na companhia dela era o máximo que podia suportar.
Com ela acontecia a mesma coisa, claro. Mal-humorada, Gina jogou-se sobre a imensa cama da pousada, a pequena valise que trouxera, pensando se valia a pena abri-la e arrumar as coisas na gaveta.
– Confortável? Você tem tudo que precisa?
Apenas ao vê-lo ali, ouvir o som de sua voz, deixava Gina perturbada. Ele tinha entrado sem bater, o que era intolerável. Recostado na porta, Malfoy a observara com um sorriso quase imperceptível no canto da boca sensual. Estava de calça cinza e suéter preto. Havia trocado de roupa. Ela também podia estar se trocando quando ele invadiu seu quarto, não podia? Só de pensar na possibilidade Gina ficou furiosa, mesmo sentindo um ligeiro tremor nas pernas e um estranho calor por todo o corpo. Tudo culpa dele.
– No futuro é melhor bater antes de entrar.
– Algo que eu não pudesse ver? – Malfoy ergueu as sobrancelhas. – Não seria nada que eu não tivesse visto antes. E duvido que ver você sem roupa pudesse me excitar.
“Tudo bem, ele não me acha nem um pouco atraente. Mas precisa ficar jogando isso toda hora na minha cara!”
– Mesmo assim – Gina resmungo. - Precisamos esclarecer algumas regras básicas – mordeu os lábios quando ele sentou na cama, testando a maciez.
– Parece boa – Draco comentou, ignorando o que ela acabara de dizer. – Mas você não respondeu... Está confortável? Tem tudo que precisa?
– Tudo, exceto minha privacidade.
– Por que você esta tão brava? A gente vinha se dando bem até agora...
Mesmo sem olhar para ele, Gina podia sentir-se sendo observada por aqueles olhos. Percebeu o sarcasmo naquela voz. Era verdade, eles tinham se dado bem até agora. Ele fora uma companhia agradável. E um dos poucos homens que não a haviam assediado sexualmente. Mas alguma coisa parecia ter mudado.
– Isso foi até eu aceitar sua proposta abominável...
– Compreendo... eu aqui achando que você estava agradecida pela minha proposta salvadora, e você estava me abominando o tempo todo – Draco deitou-se na cama, recostou-se nos travesseiros e entrelaçou as mãos atrás da cabeça.
Gina abriu a valise, começou a jogar o conteúdo nas gavetas de um móvel, ignorando-o. Mas era impossível deixar de ouvi-lo.
– Você também abominou a si mesma quando se livrou do Potter? Ou estava muito ocupada me abominando por tornar isso possível? Tão ocupada que não podia recusar minha proposta?
Onde ela estava com a cabeça quando concordou com esta farsa?
Até conversar com Malfoy “civilizadamente” ela nunca tomara atitudes insanas. Será que estava enfeitiçada? Sempre soubera resistir a pressão para se casar com Harry. Claro que algumas vezes chegou a pensar em arrumar as malas e ir embora para bem longe, mas foram poucas. Então por que concordara com aquela saída fácil, que talvez não fosse tão fácil assim?
Gina já pensava em sair do quarto, deixá-lo sozinho com seu sarcasmo, descer e procurar uma xícara de chá. Em algum lugar na pousada.
Malfoy se levantou da cama e foi até a janela.
– Venha cá.
Mas Gina não se moveu, parecia grudada no chão. Draco então estendeu o braço, abraçou-a pela cintura e a trouxe mais perto.
Perto assim ela se sentia vulnerável. O calor da mão dele parecia queimar sua pele através da roupa de seda. Só depois que ele a soltou, foi possível ver o que ele queria mostrar: a paisagem cinematográfica. Da janela via-se uma baía lindíssima, cercada de rochedos que desciam até o mar azul. Mais além havia um vale verdejante com chalés aqui e ali.
– Este lugar já foi o paraíso dos contrabandistas, segundo o pessoal do hotel. Podemos andar por ai e respirar um pouco de ar fresco. Para relaxar a tensão do dia.
Então a farsa daquele dia fora motivo de tensão para ele também. Será que ele tinha se arrependido de ter ido tão longe para garantir sua herança? Será que Malfoy tinha alguma consciência afinal?
– Acho que sei o que você quer dizer... todos vão pensar que nosso casamento foi o romance do século, quando não foi nada disso. Eu me sinto mentirosa. E odeio isso.
Draco olhou nos olhos dela. Parecia que ia dizer algo para confortá-la. Gina estava tão certa disso que até se sentia confortada. Mas tudo que ele disse foi:
– As pessoas acreditam no que querem acreditar. E nosso casamento é problema exclusivamente nosso. Seu e meu – Malfoy já ia em direção à porta. – Porque você não muda de roupa? Temos tempo de sobra para dar uma olhada neste lugar e jantar. Espero que você esteja lá embaixo.
Desapontada, Gina ficou algum tempo ali parada. Estava tão segura de que ele ia confortá-la. Sentindo-se irritada, começou a tirar a roupa que usara no casamento. Que idéia mais absurda. Ela não queria que daquela situação brotasse nada mais profundo, claro que não. Por uma razão muito simples: ela não estava disponível para um compromisso permanente. Porque já estava compromissada com seu trabalho. E, mesmo se estivesse, tal compromisso não seria com Draco Malfoy.
Enquanto isso, eles teriam de conviver durante algumas semanas, talvez meses, tanto quanto demorasse para o avô de Malfoy deixar aquela maldita herança. Melhor para ela era para de pensar nesses assuntos. Seria mais fácil agirem cordialmente um com o outro o tempo que passassem juntos.
Por isso Gina tinha no rosto uma expressão cordial ao descer para encontrá-lo no saguão. Como ele, também havia se vestido informalmente: calça jeans e suéter creme. Embora reconhecesse que o jeans fosse um pouquinho justo, realçando em demasia seus quadris, muito insinuante.
Talvez fosse melhor rever seu estilo de vestir para ele não pensar que ela estava tentando seduzi-lo.
– Quer tomar um chá antes?
– Não obrigada – Gina respondeu num tom áspero, quase rude, do qual se arrependeu logo em seguida. Vestida como estava, teria chamado atenção de qualquer homem desse planeta. Mas Malfoy parecia estar olhando para um saco de batatas.
Ele já tinha dito que não a achava atraente, e isso era muito bom. Significava que poderiam viver em paz sobre o mesmo teto.
Respirando fundo, Gina fechou os olhos e prometeu a si mesma melhor comportamento. Ele a tratava com cortesia e devia tentar fazer o mesmo.
– Quem escolheu seu nome, Ginevra? Você não é uma mulher tão calma quanto seu nome sugere.
Gina estava irritada, mas havia se prometido. E para piorar a situação seu salto enterrava na areia. Fechou os olhos e começou a contar. Engoliu a raiva e se voltou, tentando sorrir.
– Vamos deixar o estilo de cada um fora disso, tudo bem? Assim os próximos meses serão bem mais fáceis de suportar.
Malfoy soltou o braço dela.
– Como você quiser – respondeu, sem nenhum sentimento.
Gina o seguia, furiosa. Será que devia manter a cabeça baixa? Talvez usar véu sobre o rosto? E, quando ele se dignasse a notar a presença dela, se o fizesse, como devia reagir? Com uma reverência?
Chegaram ao fim da praia e a uma escadaria talhada na pedra. Malfoy voltou a estender a mão para ajudá-la a subir degraus. Numa direção os degraus levavam à trilha que circundava o penhasco. Na outra ao vilarejo.
Gina dispensou a ajuda. Podia muito bem subir sem ajuda de ninguém.
– Puxa, isso deve ser emocionante.
Malfoy ignorou o comentário e seguiu pela estreita ruazinha que atravessava todo o vilarejo. Seus comentários sobre a idade da pequena capelinha de pedra ou a singularidade da única loja do lugar, que parecia vender de tudo, eram irritantemente gentis.
Em condições normais, Gina teria se encantado com o charme do vilarejo, seus chalés de pedra, todos os jardins floridos. Mas, naquele momento, no dia mais desastroso de sua vida, nada parecia capaz de melhorar seu humor. Nem o jantar, acompanhado de um vinho excelente, quando voltaram ao hotel onde estavam hospedados.
O comportamento dele era irrepreensível. Gentil até demais. E se ele fizesse mais um comentário sobre o sabor do peixe ou sobre a atual situação do país, ela lhe daria um soco.
Olhando ao redor da sala aconchegante, Gina se sentia numa prisão. E se perguntava se os outros, bem poucos, que também estavam ali jantando sentiam o mesmo.
– Você vai acabar furando a xícara...
– Foi um dia cansativo, Se você me dá licença, acho que vou para cama – disse, fazendo grande esforço para não explodir. E saiu. Bem devagar. De cabeça erguida.
Mas, assim que deixou a sala, disparou escada acima. Entrou no quarto correndo. Bateu a porta.
Que homem mais detestável. Ela sugerira manterem certa distância, era verdade, mas ele estava levando a coisa muito a sério. Sua cortesia achegava a ser irritante. Que chatice! Que coisa mais antiga. Se aquele casamento durasse mais que algumas semanas, ela na certa ia ficar doida.
Gina suspirou fundo, recomendando-se sensatez. Ela sabia o que estava fazendo quando concordou em se casar. Tudo o que precisava era de algum tempo apara aprender a lidar com a situação.
No andar só havia um banheiro. Gina pegou sua camisola, seu nécessaire, e foi até lá. Entrou. Trancou a porta. O banheiro era confortável. Tinha uma banheira enorme... Se essa fosse uma lua-de-mel de verdade poderia testá-la. Descartou a idéia no mesmo instante. Abriu as torneiras. Despejou na água quente um pouco de espumas de banho, suas preferidas. E ficou ali um tempão.
Talvez agora pudesse dormir. Saiu da banheira e começou a se enxugar numa toalha imensa. Por que tinha trazido na bagagem aquela camisolinha de cetim branco ela não sabia. Fora presente de Natal de Adelle, bem a seu estilo. Mas Gina nunca a usara. Era o tipo de roupa que mulher alguma usaria sozinha. Algo que em condições normais passaria a noite embaixo na cama.
Limpou o vapor do espelho. Olhou para si mesma. Corou. Na verdade, sua aparência sensual lembrava uma mulher à espera do amante.
Mas, infelizmente, sobre isso não havia nada que ela pudesse fazer. E, como havia poucos hospedes na pousada, com certeza poderia voltar ao quarto sem ser vista. Seria bobagem vestir a roupa que tinha usado durante o dia só para andar uns poucos metros pelo corredor.
Gina pegou suas roupas. Abriu a porta. Saiu apressada em direção à segurança de seu quarto. Trombou com uma muralha de músculos. Nem precisou olhar para saber quem era, cada célula do seu corpo já sabia.
– Estava começando a achar que você pretendia passar a noite no banheiro – disse Malfoy lacônico. Mas não havia nada de lacônico na forma como as mãos dele tocavam seus ombros nus. Na reação de Gina muito menos.
Gina estava paralisada. Não por aquelas mãos, mas por uma sensação estranha. E por aquele olhar, que examinava cuidadosamente a forma como o cetim aderia às curvas de seu corpo.
Ao sentir os seios enrijecerem, Gina ficou desesperada. Abriu a boca para dizer um terminantemente boa noite, mas não conseguiu falar nada. Apenas sentir o coração bater mais forte, enquanto tentava desviar o olhar do tórax branco que o roupão azul marinho deixava ver.
Finalmente, conseguiu olhar nos olhos dele, sentindo um estranho calor por todo o corpo, incapaz de resistir enquanto mãos viris deslizavam por suas costas, até a cintura, parecendo queimar seu corpo trêmulo através do cetim, levantando-a de encontro ao corpo dele.
O calor que consumia era cada vez maior. Gina já não conseguia mais pensar.
– Você esteve uma pilha de nervos o dia inteiro. Era isso o que queria? – as mãos de Draco desceram mais abaixo, acariciando suas nádegas, trazendo-a ainda mais perto. – Será que isso pode ajudar?
Petrificada, Gina não conseguia dizer nada. Até que, de repente seu cérebro pareceu voltar a funcionar. Que homem detestável. Quase em pânico, ela o empurrou furiosa.
– Não, fizemos um acordo, lembra? Apenas tropecei em você no escuro, só isso – respondeu. – E você se aproveitou. Nunca mais faça isso.
Afastando-se rapidamente, com toda altivez que sua minúscula camisola de cetim permitia, Gina entrou no quarto, batendo a porta.
Draco foi atrás. Abriu a porta.
– Você esqueceu suas coisas, minha viborazinha – jogou sobre a cama as roupas e o nécessaire que ficaram no corredor. – Alguém poderia tropeçar nelas no escuro.
Ele estava se divertindo. Não declaradamente, mas por dentro estava, ela tinha certeza. Era visível nos olhos dele. Como ela o detestava. Um dia o mataria.
– Fora daqui – Gina berrou, cerrando os dentes, inferiorizada pela camisolinha. Um dia mataria Adelle também.
– Claro, Sweety, claro. Tudo que você quiser... – Draco inclinou a cabeça numa reverencia irônica. – Desculpe se me enganei. Durma bem, doçura.
E fechou a porta. Gina ficou ali, olhando a porta fechada, imaginando se um dia esqueceria o que ele a havia feito sentir.
N/A: Bem, bem bem... espero que vocês tenham amado esse cap tanto quanto eu gostei de escrevê-lo..
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