Desentendimentos e intrigas

Desentendimentos e intrigas






A aula de poções com o prof Slugworn correu como sempre.

Harry Potter era o aluno com os resultados mais espetaculares.

Na primeira aula ele tinha ganho a poção Felix Felicis que proporcionaria à pessoa que a ingerisse sorte e sucesso em todas as suas acções durante um certo período de tempo.

Todos tinham ficado estupefactos com o rapaz. Draco Malfoy, por sua vez, detestáva-o mais do que nunca.

No fim da aula Quimy dirigiu-se à mesa de trabalho de Hermione Granger sob os olhares reprovadores dos seus amigos Slytherins.

>Olá,tudo bem contigo?

A rapariga que parecia estar a conversar em surdina com o Potter e o outro rapaz ruivo virou-se de repente quase como se tivesse apanhado um susto.

Quimy podia jurar que tinha ouvido as palavras Malfoy e suspeito numa mesma frase antes de Harry engolir em seco ao notar a presença dela.

>Ah, olá sim obrigada. Então aproveitas-te o texto?
>Sim a tua tradução estava espetacular mais uma vez obrigada.

Hermione sorriu de orelha a orelha.

>De nada!

Os dois rapazes olharam curiosos para a Slytheriniana e ela sorriu-lhes também.

>Então até à próxima.
>Tchau.

E Quimy andou até Blaise e deu-lhe a mão para sair da sala, Malfoy olhou-os com um ar venenoso.


Passou-se a terça e a quarta-feira e Quimy nunca mais se dedicou ao mistério de Malfoy e das cabines.

Os professores tinham atulhado todos os alunos com trabalhos de casa e como se não bastasse, aproximava-se o jogo de Quidittch dos Slytherin contra os Gryffindor.

Andavam todos muito entusiasmados com o jogo. Entretanto a chaser dos Gryffindor ainda não tinha recuperado da maldição da pulseira.

Às vezes Quimy pensava se o seu fio e o pendente possuíam algum tipo de encantamento porque algumas vezes quando ela não sabia a resposta a uma pergunta ou como resolver um determinado problema, se segurasse a pequena seta com força conseguia ouvir a voz fina e sussurante a ajudá-la a encontrar uma solução.

Estranhamente, isto só parecia funcionar de vez em quando. Nunca conseguia ajuda durante as aulas de runas ou na biblioteca, por exemplo.

Draco Malfoy continuava com comportamentos estranhos. Era dele e de Malcolm que a rapariga mais suspeitava. No entanto, até agora não tinha acontecido nada de estranho a não ser a antipatia repentina do professor Snape em relação ao seu aluno favorito, Draco.

Nessa noite tinham a festa no gabinete do professor Slugworn e os alunos convidados para o evento andavam radiantes. Cada pessoa com convite podia levar um acompanhante consigo.

Tanto Blaise como Quimera tinham convites, entregues pessoalmente pelo professor. Quimy discutira com o namorado a hipótese de cada um deles escolher uma pessoa para trazer consigo já que era um desperdício não oferecer a oportunidade de gozar o momento a outra pessoa para além deles próprios, é claro.

Blaise propôs que convidassem o Draco Malfoy e a Pansy Parkinson. E assim foi

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Três horas depois as raparigas subiram para os quartos.

Era hora de se prepararem para a festa Slugworn.

Pansy já tinha começado quando Quimy chegou e saudou-a com um olá apressado enquanto corria com o vestido rosa numa mão e a poção de beleza da nova gama de produtos Weasley «Embalagem Especial para Bruxas Vaidosas» na outra.

Quimera abriu o malão aos pés da cama e ia desmaiando horrorizada ao deparar-se com o espetáculo: as suas roupas, o uniforme de Hogwarts e algumas peças informais estavam completamente reduzidas a farrapos todos enrrolados uns nos outros como se se tratasse de um conjunto de trapos velhos.

Primeiro, ficou muito fria e lívida com a confusão mas rápidamente cresceu dentro de si uma fúria indignada e a sua face começou a escaldar muito vermelha. Instintivamente levou a mão direita ao pendente de ouro. “Ela sabe quem foi, pergunta-lhe” susurrou levemente um fio de voz dentro da sua cabeça.

Quimy necessitou de muito auto-controle para não arrastar pelos cabelos uma Pansy verdadeiramente assustada pelo chão do quarto comum.

>AAAHGh, raios partam Quim o que é que te deu??
>EXPLICA ISTO!

E apontou com um dedo trêmulo para as roupas destruídas, agora espalhadas pelo chão.

>Eu...eu não sei!
>MENTIROSA! QUEM FEZ ISTO? FOSTE TU?

Quimy queria controlar a raiva mas era mais forte que ela, não sabia se havia de chorar e sair porta fora ou se devia forçar a outra rapariga a dizer a verdade com um feitiço.

Enquanto Pansy enrrugava o rosto com confusão e raiva, Quimy baixou-se junto dos seus pertences destruídos e procurou furiosamente pelo livro que ela tinha trazido da biblioteca às escondidas. A sua expressão foi de alívio ao retirar um espelho de mão em moldura azul de entre as roupas rasgadas.

Era o livro que ela tinha transfigurado num objecto que não levantasse suspeitas antes de o guardar dentro do malão. “Obrigado prof. Macgonagal” suspirou ela para si um pouco mais aliviada.

Pansy continuava muda e muito vermelha a olhar para o espetáculo, parecia um pouco chocada mas também satisfeita para horror de Quimy.

>Pansy eu sei que tu fizeste isto sozinha, agora quero que me digas como e porquê. O que é que aconteceu?
>Eu não sei do que estás a falar.

Mentiu Pansy, virando costas com um sorriso trocista. Quimy puxou a varinha do bolso do manto atirando-o violentamente para cima da cama.

>Não te pergunto duas vezes. Responde ou eu faço questão de te ver sofrer as consequências.

Friamente, Quimera apontava a sua varinha com a mão direita com os olhos colados à nuca de Pansy. Esta voltou-se lentamente, uma expressão incrivelmente satisfeita alegrava-lhe todos os traços rudes da face, também tinha a sua varinha perigosamente pronta a atacar.

>Rictusempra!

Berrou Pansy antes que a outra rapariga pudesse agir. Quimy sentiu uma forte dor no abdómen e caiu sobre os joelhos mas forçou-se a colocar-se de pé novamente e enquanto o fazia gritou um feitiço contra Pansy que ria desalmadamente.

>Petrificus Totalus.

Mas Pansy já tinha pulado para o lado e consegui esquivar-se do feitiço correndo na direcção da porta. Numa última tentativa quimy gritou, desta vez com mais firmeza,

>Tarantallegra!

As pernas de Pansy começaram a agitar-se numa dança frenética sobre o soalho de pedra, a rapariga estava chocada por não conseguir controlar os movimentos.

>Expeliarmus!

A varinha de Pansy voou da sua mão na direcção de Quim que a apanhou em pleno ar com a mão livre.

>Que te sirva de lição Pansy.

Disse para a outra enquanto esta ainda lutava contra as próprias pernas e pés.


>Agora conta-me tudo e eu acabo com o feitiço. Despacha-te.

Pansy abriu a boca mas para gritar por ajuda num ataque de histerismo.

Quim ficou um pouco alarmada ao ouvir passos apressados a descer a escada para o quarto.

No mesmo instante, a porta abriu-se e duas raparigas inrromperam pelo quarto com tanta força que iam colidindo com uma Pansy afogueada, deitada no chão sem controlo sobre os movimentos bruscos da parte inferior do corpo. Quim admitiu que ela agora estava com um aspecto miserável.

>Essa, essa louca atacou-me! Ajudem-me!
>Finite Incantatum!

Pronunciou Millicent Bulstrode entre dentes na direcção da rapariga e o efeito do feitiço cessou. Agora as três raparigas olhavam inquiridoramente na direcção de Quim que pôs um ar altivo.

>Ela atacou-me primeiro, eu só me defendi como pude. Agora quero que ela me explique porque é que resolveu rasgar todas as minhas roupas. A louca aqui é ela.

Millicent e a outra rapariga, Ostricia Nott, repararam então no espetáculo de farrapos e tecidos rasgados no chão.

>Parece que alguém se deu ao trabalho de arruinar o teu guarda roupa mas acredita que não fui eu, mas não me importava de ter sido porque tú és uma falsa, traidora e oferecida!

Pansy parecia outra vez fora de si, Quim deixou-se cair sem forças na cama de dossel olhando incompreensivamente para ela.

>Eu sei do teu encontro com o Draco, o meu namorado! Andaste enrrolada com o meu namorado, bem debaixo do meu nariz...

Um rasgo de compreensão assaltou-a. O Draco tinha falado à Pansy sobre aquela noite, ela não podia acreditar “O grande imbecil, troll das montanhas, floberworm nojento...”.

>Isso é verdade Quimera?

Ostricia olhava para ela interrogativamente com um ar entre o chocado e o deliciado. “Ainda hoje, toda a alma penada vai ficar a saber disto (literalmente)...«suspiro»”, Quim sentiu-se verdadeiramente exausta.

>Não teve nenhum significado. Foi um teste à fidelidade da Pansy e eu aceitei participar porque também queria ver se o Blaise era capaz de aguentar o boato.

Mexendo as mãos nervosamente no colo, Quim não podia acreditar na mentira que tinha elaborado tão rápidamente e sob pressão. Para seu desagrado ultimamente estava a ficar cada vez mais perita em arranjar desculpas plausíveis.

>Um teste?

Gaguejou Pansy entre dentes. Parecia abismada com a descoberta.

>Por Merlim! Será que perdi a capacidade de comunicação juntamente com as blusas Dolce e Gabanna?
>Ai! Então eu falhei, ele vai pensar que eu não sou de confiança, vai ficar furioso.
>Se queres saber, quem faz uma coisa dessas não merece sequer segundas intenções. Mas ele é parvo ou quê? E tu Quim, devias ter vergonha para aceitar fazer parte de um plano tão estúpido. Até é bem feito o que a Pansy fez.

Opinou Millicent com um ar arrogante como se fosse a mãe e elas duas filhas mal comportadas.

>Argh!

Resmungou Quim, enquanto mordia a língua para não dizer alguma asneira. Ostricia estava deitada na sua cama assistindo divertida ao desenrrolar dos acontecimentos.


>Mas eu não destruí nada que fosse dela, no máximo substituí a loção de beleza dela pelo xarope furunculoso das Genialidades Weasley.

>O quê?? Pansy Parkinson eu juro que enfeitiço o próximo troll das montanhas que aparecer em Hogwarts para se sentar na tua cara!
Pronto, ela tinha perdido a cabeça e dito o que não devia. Mas as outras raparigas desataram às gargalhadas.

>E vocês não estão a ajudar!
>Sinto muito mas os trolls estão em falta, posso sugerir a lula gigante, também é um belo espécime de duas toneladas e meia.
Ostricia imitou uma vendedora de loja, até podia ter sido engraçado noutra ocasião se Quim já não estivesse furiosa, o que não era o caso.

>Olha Pansy, se não foste tu a estragar a minha roupa então quem foi? Duvido que tenha sido o Barão sangrento porque até ele sabe reconhecer peças de roupa de boa qualidade quando as vê! Isto foi desumano.
>Sim foi mesmo “desumano”...eu dei a palavra passe ao centauro Firenze.
As três raparigas viraram as cabeças em simultâneo para uma Pansy da cor do tijolo.

>Depois da nossa aula de Adivinhação ele chamou-me para uma conversa particular. Eu nunca o tinha visto fazer aquilo com ninguém. Ele perguntou-me pelo segredo para aceder à nossa sala comum e disse que tinha algo importante a tratar com uma colega do nosso ano, minha companheira de quarto. Como ele é um professor eu achei que não tinha mal dizer. Não vejo outra explicação para isto.

Finalizou apontando com a cabeça para as roupas arruinadas da colega.

>Será que ele andava à procura de alguma coisa?

Inquiriu Ostricia levemente curiosa na direcção de Quim.

>Tens alguma coisa escondida dos professores Quim?

Perguntou Millicent com um sorriso maroto.

>Não. E mesmo que tivesse isso não justificava este tipo de comportamento.

Depois Quimy pensou no livro que tinha roubado da biblioteca e sentiu uma leve náusea percorrer-lhe o corpo. Será que devia confessar o roubo ao professor, pedir-lhe para não ser expulsa de Hogwarts?

Os seus pensamentos foram interrompidos pelos gritos de exclamação e surpresa das outras. Ali, aos seus pés jaziam as peças de roupa agora perfeitamente normais apesar de dessarumadas e atiradas pelo chão.

>É inacreditável! Os rasgões desapareceram e o tecido da roupa voltou a unir-se.

Pansy parecia extasiada com surpresa e alívio.

>Ele deve ter usado um feitiço de rompimento e depois um de junção. É claro que exige um domínio de magia incalculável, mas ele é um centauro e centauros são criaturas mágicas extremamente inteligentes e poderosas.

Ostricia parecia pensativa mas o que ela acabara de dizer fazia sentido. Quim entendeu aquilo como um aviso para devolver o livro à biblioteca, o mais rápido possível. Não queria sofrer uma punição por isso.

O Malfoy já andava a arranjar muita confusão para o seu lado, ela não queria ser expulsa.

>Quim, agora que está tudo bem, por favor não fales nisto ao Draco nem vocês meninas...eu não quero que ele pense que eu não sou madura e compreensiva.

>Ai, Pansy, vocês os dois realmente merecem-se.

Disse Millicent com irritação e voltou-se para sair pela porta para a sala comum.

>Suponho que também posso guardar segredo. Não vejo nada de mais nisto mas tu é que sabes.

E Ostricia levantou-se para seguir Millicent. Pansy voltou a cara com os olhos muito vermelhos do choro e as maçãs coradas em aflição.

>Pronto Pansy, vamos esquecer este assunto e prepararmo-nos para a festa no «Slug Club».
>Quim?

Perguntou ela com os olhos muito brilhantes e um sorriso de deboche parecido com o do Malfoy.

>Sim?
>Acho que não era capaz de rasgar uma camisa D&G, por mais furiosa que estivesse contigo!
>Nem eu!

Disse Quim e as duas sorriram afectadamente.

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Começava a achar que o seu plano tinha sido extremamente imprudente.

O velho Dumbledore olhara para ele da mesa dos professores ao jantar de uma forma muito suspeita do cimo dos seus óculos de meia-lua. Mas mesmo assim, Draco não pensava em desistir, não podia.

A segurança dos seus pais dependia do que ele fosse capaz de fazer enquanto devorador da morte. E depois tinha o Potter...como ele odiava aquele cabeça de cicatriz.

Agora ele ainda se tinha tornado mais popular por descobrir o ressurgimento do Lord das trevas o ano passado e também porque se tinha tornado capitão da equipe de Quidditch. Sim, dentro dele crescia uma raiva imensa por aquele rapaz.

Draco teve de abdicar de todas as actividades em prol de planear o assasínio de Dumbledore. “Mas vai valer a pena...Hogwarts passará à história se eu conseguir acabar com o velho Dumbledore e o Potter idiota vai ficar branco de medo depois de ver o seu feiticeiro favorito debaixo de sete palmos de terra!” pensou Draco sombriamente enquanto tentava ignorar Zabini que passava a correr no quarto comum com conjuntos de roupa diferentes.


>Então, então Draco não te despachas? Olha que nós não vamos esperar por ti para descer.
>Cuidado Blaise...pareces mesmo uma miudinha caloira dos Hufflepuff a se preparar para lamber o chão que o cabeça rachada pisa.
>Eu? Quem tem obcessão pelo Potter aqui se bem me lembro és tu!

Draco virou-se lentamente na direcção de Blaise, os seus olhos de um cinzento tempestade prestes a trovejar.

>É a festa do Slugworn...e é óbvio que o ferido de guerra vai andar por lá ele é o preferido do velho barril.
>Sim lá isso é verdade...até mete nojo a adulação toda à volta daquele insignificante que nem sequer é Slytherin...francamente o prof Slug mancha a honra da nossa casa com as bajulações todas que presta ao Potter.

Draco ficou mais satisfeito mas mesmo assim estava desanimado para ir a uma festa naquela noite. Muito contra a sua vontade lá tomou um novo duche e vestiu um traje mais elegante todo preto com alguns detalhes a prateado.

Gostou do que viu no espelho. Estava muito distinto. Ele era o mais bem parecido de Hogwarts, brilhava mais que o Potter, no entanto, desde o ano passado que este se havia tornado no rapaz mais apetecível da escola de magia. Isso também irritava profundamente o rapaz.

Draco arranjou-se mais depressa que Blaise e pegou no profeta diário dessa manhã que ainda não tinha tido oportunidade de ler. Discretamente avançou para a página dos óbitos esperando encontrar a tradicional mensagem em latim do seu pai para si mas para seu espanto não encontrou nada.

Não pôde pensar muito neste assunto porque Blaise já o chamava da porta do quarto para descer.

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Draco apreciou a chegada de Pansy e Quimy.

Estavam bastante elegantes nos seus trajes especiais para jantares do Slug Club. Os seus olhos brilharam significativamente no curto espaço de tempo que os cruzou com o olhar frio de Quimera. Não tinham voltado a falar a sós desde aquela noite.

Parecia ter sido há muito tempo, mas as coisas entre eles sempre foram assim meio estranhas.

Ele sentia-se atraído pela rapariga por uma série de factores desde o facto dela ser incrivelmente bonita até ao da sua família ser tal como a dele, abastada e de renome.

Tinham tudo para dar certo, no entanto, na hora H as coisas acabavam sempre por murchar e o ambiente entre eles gelava. Eram ambos demasiado orgulhosos para dar o braço a torcer.

Mas a ele isso pouco importava agora. Ela vivia um romance medonhamente meloso com o Zabini que nem ele, Draco, sabia sequer possível.

Zabini sempre fora frio, calculista e racional mas de há um ano para cá assim que começou a ser amigo de Quimy, havia mudado radicalmente. “A não ser que ele tenha alguma na manga” refletiu Draco com um sorriso trocista.

>Vamos Draco, querido!

Pansy estava exuberante num vestido rosa-choque, um palmo acima do joelho e muito justo.

Draco sorriu afetadamente para a rapariga antes de lhe colocar o braço por cima dos ombros e lhe dar um beijo suave nos lábios. Ao seu lado Zabini também presenteava Quimy com um beijo e um abraço.

Draco detestava saídas em grupo, especialmente casalinhos, mas a curiosidade em relação à festa era maior.

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Snape tinha tudo arranjado, a poção estava segura, presa a uma pulseira feita de cordão prateado, escondida por baixo da comprida manga do seu traje de gala negro.

Não se olhou no espelho antes de sair decidido do seu gabinete de DCAT na direcção do do Prof Slugworn. Estava meia hora atrasado mas não se preocupou com isso, tinha outras coisas bem mais importantes a realizar.

Dumbledore não desconfiava de Draco, ou pelo menos não lhe disse nada em relação a ele.

Mas Snape também soube pelo director que Potter andava desconfiado do rapaz porque o tinha visto na Borgin and Burques, a ter uma conversa suspeita com o dono do estabelecimento.

Snape tremeu face às suspeitas que o jovem tinha atraído sobre si e pensou na promessa que fizera a Narcissa com um sabor amargo na boca.

Quando Narcissa, uma mulher sempre tão fria, altiva e superior a ele até por sangue, se arrastara aos seus pés como uma serviçal em desespero ele sentira prazer em conceder-lhe o que ela pedia.

Sentira necessidade de se afirmar perante Bellatrix para a rebaixar e assim, ganhar a confiança de uma puro-sangue.

Ele sabia o quanto Bellatrix o desprezava e o mal dizia pelas costas. Provar-lhe que estava errada, fazendo-a parte da promessa também alimentou a sua coragem.

Mas esse isntante parecia agora perdido no tempo. Num acto impensado ele tinha aceite indirectamente assasinar Dumbledore caso Draco falhasse. E ele agora não tinha dúvidas de que o rapaz poderia falhar.

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Com ananasses dependurados nas armaduras e decorando de amarelo-ouro as mesas do buffet, Quim nunca pensou que o gabinete do Slugworn pudesse estar tão grande e tão transformado.

Logo localizou a face rosada de Slugworn sorrindo com veemência para as caras dos alunos à sua frente.

>Quimera, minha cara! E Blaise! Que prazer ter-vos aqui hoje. Então o que vos parece o salão? Jeitoso não?
>Muito original professor.

Sorriu charmosamente Quim enquanto entregava um embrulho verde ao Prof.

>É uma lembrança para festejar esta ocasião.

Acrescentou Blaise. Estavam a ser terrivelmente graxistas mas isso combinava na perfeição com o Slugworn. Draco sorriu afetadamente para Pansy que continha um risinho nervoso com custo. Sugworn desembrulhou rapidamente o presente.

>Ah, mas que delícia, Licor de Ananás elaborado por elfos dos Açores! Um dos meus prediletos.
>Tentámos ser originais.

Sorriram Quimy e Blaise desconcertantemente. O professor parecia muito satisfeito e lisonjeado.

>Consta que o seu estimado avô possui uma vasta adega na velha Flandres, Quimera.
>Sim professor, todos os vinhos que vende na loja são provenientes desse local.
>Fascinante. E Blaise, a sua mãe é como eu sei uma apreciadora d vinhos raros.

Blaise pareceu incomodado mas respondeu a Slugworn sem deixar de sorrir. Quimy sabia o quanto ele detestava que o professor referisse a sua família embora nunca tenha perguntado ao rapaz porquê.

>Temos uma colecção de garrafas em casa que data do século XIII.
>Com certeza meu rapaz! Agora divirtam-se por aí, hoje temos uma convidada especial a capitão da equipa de Quidittch «Holy Harpies», Gwenog Jones, foi minha aluna e excelente no seu ano. Adeuzinho!


Com isto o prof Slugworn abriu caminho entre a multidão de alunos para receber mais convidados e deixou para trás Quimy, Blaise e Pansy que estava cheia de vontade de conhecer a personalidade do Quidittch nacional.

Blaise dizia já ter conhecido a mulher no fim de um jogo e por isso dispensou acompanhar Quimy e Pansy até onde ela entregava autógrafos. Era uma mulher esguia e atlética apesar dos trajes muito femininos que utilizava nessa noite.

Cumprimentou as duas raparigas com um sorriso seco. Satisfeita a curiosidade, elas dirigiram-se a Blaise que se empanturrava com umas esferas do tamanho de cabeças de alfinete mas que aumentavam de tamanho consideravelmente quando se lhes tocava.

>São óptimas, provem.
>Onde está o Draco, Blaise?

Pansy estava ansiosa por andar pelo braço do namorado pela festa. Ela já tinha localizado um grupo de raparigas Gryffindor que gostava particularmente de atormentar o que com os comentários ácidos de Draco ficava ainda mais interessante.

>Não sei dele desde que deixamos o Slugworn.

Quimy também estava curiosa com o súbito desaparecimento do rapaz.

Enquanto pensava no que Draco andaria a tramar, ela ia comendo uma esfera cor de laranja extremamente doce que sabia como chocolate quente numa noite realmente fria de inverno.

>Então a que te soube?

Ela virou-se para Blaise que a olhava com curiosidade e um sorriso leve nos lábios.

>Soube mesmo muito bem, ao chocolate quente da manhã de Natal. Mas porque é que perguntas?
>É que estes são globos que permitem saborear por alguns instantes o que de mais delicioso a nossa memória guarda.
>Já tinha ouvido falar nelas mas nunca tinha experimentado. Ao que é que sabem as tuas?
>A um belo naco de bife de dragão mal passado com ovo estrelado e batatas fritas.

Disse Blaise prontamente com um ar carnívoro e deliciado. Quimy contorceu-se desagradada mas depois riu-se com gosto da cara inquiritiva do rapaz.

>Não me digas que não gostas de carne...era cá um desgosto.
>Eu como carne mas está longe de ser um dos meus pratos favoritos.

Ele deu de ombros e continuou a comer os globos uns atrás dos outros.

Quimy olhou em redor mas não viu sinais de Pansy nem de Draco por ali.

Um rapaz que ela se lembrava ser Longbottom do Gryffindor experimentava um globo ao seu lado. Ela riu-se da expressão maravilhada do rapaz, que inspirou profundamente o ar com os olhos fechados enquanto murmurava “tão delicioso como o da avó!”.

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>Como está senhor Malfoy? Posso ter uma palavrinha consigo em privado?

Draco não tinha como fugir de Snape, ele aparecera sorrateiramente por detrás de um dos reposteiros cheios de frutas tropicais.

De repente pensou atirar-lhe um ananás de plástico à cabeça mas isso seria verdadeiramente estúpido.

Assim acompanhou o proessor de poções até à mesa menos frequentada do local onde uma grande taça de prata fervia com um líquido verde escuro de aspecto duvidoso.

>Gostaria de ter esta conversa num sítio que não fosse um evento social com metade de Hogwarts presente mas tu não me deste alternativa Draco.
>Não sei do que está a falar Professor.
>Não sejas cínico. Estão coisas demasiado importantes em risco e tu andas a brincar deliberadamente com o fogo. Por uma vez vais dar-me ouvidos. Mas não aqui. Temos de marcar um encontro noutro local.
>Eu não estou interessado.

Quando ouviu estas últimas palavras de Draco, Snape passou de um tom ligeiramente ansioso para um ríspido discurso em que se percebia a sua impaciência em cada palavra que pronunciava.

>Não brinques comigo rapaz. Eu sou teu professor e se assim entender posso dar-te uma detenção quando bem me apetecer. Se não falas comigo de livre vontade então terei de recorrer à força.

Enquanto falava Snape encheu dois copos altos com a bebida que fervia na mesa.

Pequenas bolhas de vapor cresciam e rebentavam à superfície esverdeada do líquido.

Snape estendeu um copo a Draco e pegou no outro para si. Estendeu o copo ao rapaz enquanto bebia o líquido que estranhamente não era quente mas gelado e sabia intensamente a abacate verde e figos.

O professor de DCAT conteve uma expressão de nojo depois de provar a bebida. Desde pequeno que ele era muito alérgico a figos, ficava cheio de comichões pela pele. Só de pensar naquilo, Snape mexeu-se desconfortávelmente sob as suas botas.

Tinha de tomar uma poção anti-alérgica apesar de não ter ingerido quase nada sabia por experiência que era melhor prevenir que remediar.


>E então rapaz, como ficamos?
>Está bem. Marque um dia e uma hora que lhe der jeito. Eu tenho tido, como sabe, muito tempo livre.
>Então vou consultar a disponibilidade que tenho e na próxima aula espere até ao fim da classe para discutirmos isso.

Draco achou estranho que o prof não tenha resolvido o assunto logo ali.

Agora ele observava a figura negra do prof esquivar-se de um aperto de mão com Slugworn que lhe perguntava se ele já tinha provado as bananas flambé que estavam, segundo o próprio, de comer e chorar por mais.

Snape parecia ligeiramente verde antes de sair de rompante da sala quase atropelando um casal de Hufflepuffs que vinha a entrar.

“Estranho...muito estranho” pensou Draco franzindo as sobrancelhas duvidosamente. Olhou pensativo para o copo que Snape lhe deixara nas mãos.

Depois um restolhar de tecido cor de rosa ocupou-lhe momentaneamente o ângulo de visão.

>Oh, Draco querido, então foi aqui que te escondeste! Vem comigo, vamos dar uma volta pelo salão.
>Claro Pansy, mas antes experimenta um pouco deste cocktail, está divino.

E estendeu-lhe o copo com elegância e um sorriso irresistível no canto dos lábios. A rapariga deu um grande gole na substância debaixo do olhar aprovador do namorado.

>Então gostas?
>É delicioso amor.

Ele pareceu desconcertado. Pensava que Snape lhe tinha colocado algo na bebida para fazê-lo falar mas aparentemente o professor não fizera nada. Ele deixou a rapariga beijá-lo ao de leve antes de lhe dar o braço e sair dali.

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Snape chegou ao seu gabinete muito mais depressa do que imaginara.

Sentia-se esquisito por causa da bebida.

Pensava naquilo que tinha dito ao professor Slugworn e mal podia acreditar: “Não não as experimentei, duvido que venha a gostar disso como gosto de pudim de beterraba gratinado no forno”.

Felizmente o outro professor parecia um pouco embriagado e não fez caso da sua resposta anormal. Naquele instante foi como se não conseguisse arranjar uma resposta inteligente e escapara-lhe aquilo.

Ele tinha deitado Veritas num dos copos mas acabara por dar o copo sem poção a Draco e bebido o outro ele mesmo.

Agora Snape pensava na sorte que tinha tido em perceber aquilo a tempo de não falar de mais a ninguém. Tinha de procurar pelo antídoto contra a poção Veritas no meio de outras poções e simultâneamente tomar uma poção anti-alergia.

Subitamente, ele ouviu alguém bater à porta do seu gabinete.

Desesperado, quase ia partindo uns frascos mais frágeis na ânsia de encontrar as poções certas. Verificava um a um os rótulos ordenadamente colocados por si enquanto as batidas na porta aumentavam.

>Professor Snape, está aí?

Era uma voz estridente que ele não recordava mas que para seu horror se viu obrigado a responder.

>Sim, estou agachado atrás da secretária em frente ao baú onde guardo as minhas poções.

Ele praguejou para si mesmo, mordendo a língua.

>Ahm...OK professor. O professor Slugworn mandou-me entregar-lhe isto.

Snape olhou furiosamente por entre as madeixas de cabelo preto para o embrulho em papiro rugoso com um grande laço verde brilhante preso por um autocolante que tinha “Obrigado pela sua presença no Club do Slug” estampado por cima de um retrato do Slugworn que mostrava o polegar para cima enquanto piscava o olho.

A rapariga Hufflepuff que lhe estendia o pacote pareceu reparar no olhar apreciativo do professor. E disse num tom superficial:

>Bastante original não é?

Snape tentou morder a língua mas só conseguiu produzir um som sufocado bastante cómico antes de responder àcidamente.

>Oh sim, é espantoso como esse barril ambulante atulhado de ananases em calda consegue surpreender-me desagradavelmente até dentro do meu próprio gabinete.

As mãos de Snape percorriam febrilmente as prateleiras de frascos coloridos que desapareciam no fundo do baú, agora tinha a porção superior do corpo totalmente enfiada no seu interior. A aluna estava sem palavras.

>Está à espera de quê para se retirar? Que chovam ananasses em lata?
>Desculpe professor vou já sair...vai tirar pontos à minha casa?

Snape ouviu-se a si mesmo rir com gosto.

>Mas será que estou rodeado de idiotas? Será que ontem me deitei em Hogwarts para acordar na idiotolândia? É óbvio que vou tirar pontos indevidos à sua casa de qualquer maneira porque sou um Slytherin e nós somos maus como as cobras!

“Arrrgh, argh, argh” resmungou Snape para consigo enquanto a porta batia atrás dos passos atrapalhados da rapariga. E ali, mesmo em frente do seu nariz adunco, num recipiente minúsculo, estava a poção que revertia o efeito Veritas.

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A noite acabou tarde para os quatro alunos que voltavam do Slug Club. A meio das escadas principais, Peeves arremessava rolos de papel higiénico aos alunos que passavam pelos corredores a caminho das respectivas salas comuns.

Quimy, como prefeita parou imediatamente a brincadeira ameaçando Peeves com uma visita às catacumbas privadas do Barão Sangrento, o fantasma da casa Slytherin. Depois disso chegaram inteiros e exaustos à sala comum vazia nas masmorras.

Os dois rapazes desceram para os dormitórios masculinos e as raparigas para os femininos.

Quimy só relaxou depois de um demorado banho quente que lhe tirou todo o cansaço de cima dos ombros mas para sua infelicidade não ajudou da mesma forma com as feridas nos pés. Prometeu a si própria não voltar a calçar saltos altos tão cedo.

Antes de adormecer pensou no dia e em tudo o que tinha acontecido. Para sua surpresa a última imagem que recordou antes de adormecer foi a de um rapaz loiro platinado de olhos prateados resplandecer elegantemente num conjunto todo em negro e prata.

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Finalmente o dia da partida de Quidditch tinha chegado.

A maioria dos alunos no campo ainda estava a cumprimentar a equipe de Quidditch cujo capitão, um rapaz enorme do sétimo ano, Urquhart, fazia um discurso pomposo cheio de termos técnicos para quem quisesse ouvir.

Mas a maioria da atenção sobretudo feminina estava centrada no novo seeker Harper que ia jogar pela primeira vez, ocupando a posição de Draco Malfoy.

Blaise também ia jogar mas estava muito confiante ou pelo menos aparentava. Ria-se divertido das piadas maldosas dos colegas a cerca da equipe adversária e estava muito atraente no seu uniforme verde escuro, botas e protecções de cabedal.

Quando Urquhart chamou a equipe para a última conversa nos balneários antes do jogo, a maioria dos Slytherins já tinha ido para as bancadas. Quimy despediu-se de Blaise com um beijo apaixonado e ele, como sempre, jurou atirar muitos Gryffindors das suas vassouras em seu nome.

Quimy ia começar a subir as bancadas quando reconheceu a figura alta e o cabelo claro de um vulto que se dirigia na direcção contrária do campo para o castelo.

Era muito estranho que Draco Malfoy não assistisse ao jogo mais importante para a sua casa, mas pensando bem, ainda era mais esquisito o facto dele ter desistido do seu lugar na equipe.

“Talvez esteja cansado de ser humilhado pelo Potter” pensou Quim com um sorriso maldoso nos lábios. Mas depois desistiu da ideia “não, o Malfoy pode ser muitas coisas mas não se pode dizer que seja medroso”.

Franzindo as sobrancelhas em dúvida, ela apertou na mão direita o medalhão em forma de seta. “Ele tem a resposta para as tuas dúvidas” susurrou-lhe a voz ao ouvido.

Esquecendo-se do jogo e de tudo o resto ela decidiu seguir o rapaz para descobrir o que é que ele ia fazer enquanto a maioria dos alunos e professores estava no campo de Quidittch.

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Draco movia-se com rapidez através dos corredores de Hogwarts, a sua capa negra flutuando violentamente sobre o chão.

Ela não deixou de reparar que o rapaz parecia aborrecido com alguma coisa porque não parava de girar a sua varinha entre os dedos e estava carrancudo.

Mas mesmo assim, Quimy teve de admtir, que ele conseguia andar com bastante charme e distinção.

Desde o ano passado que Draco tinha mudado bastante a sua maneira de ser. Deixara de se comportar como os rapazes da sua idade e parecia estar mais maduro o que ajudava a criar toda uma orla de mistério em torno de si.

“Ele sabe muito bem disso” pensou ela enquanto se escondia atrás de uma moldura particularmente grossa contendo um quadro com um feiticeiro em trajes renascentistas a transfigurar um bloco de prata num ganso branco e vice-versa.

Quim ficou um pouco desapontada quando percebeu que aquele trajecto era apenas um atalho que levava o rapaz mais depressa até à sala comum da sua casa.

Se calhar Draco ia apenas descansar e ela perdera tempo correndo atrás dele, mas o pendente disse-lhe exactamente o contrário: “Estás mais perto de obter as respostas às tuas questões, segue o rapaz moreno”. Assim que a pequena voz lhe acabara de dizer aquilo ela viu Malcolm sair apressadamente do dormitório masculino.

Quimy não conseguia perceber porque é que tinha de segui-lo quando quem realmente interessava era Draco e ele ainda não tinha descido. Mesmo assim resolveu fazer como lhe fora aconselhado. “Ainda ei de descobrir como é que tu funcionas” disse ela num murmúrio apertando o pendente contra o peito.

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Blaise tinha evitado ser atirado da vassoura por uma Bludger violenta arremessada por um dos batedores dos Gryffindors.

Ele sentira o pesado objecto rasar a poucos centímetros da sua cabeça. Com a raiva a crescer dentro de si, perseguiu a bludger e com uma forte tacada arremessou-a à chaser da equipe adversária que se conseguiu desviar mas largou a quaffle para Urquhart.

Este avançou pelo campo evitando os ataques da outra equipe mas não conseguiu marcar pontos porque esta foi defendida pelo Weasley morto de fome. Blaise estava a ferver por dentro e muito corado para condizer com o seu estado de espírito.

Até ali a sua equipe não tinha marcado pontos de jeito e os Gryffindor iam claramente na frente.

Para piorar ainda mais as coisas, a sua equipe estava a perder a concentração e levados pelo desespero de vencer a todo o custo tentavam praticar faltas sobre os outros jogadores mas com efeitos contraditórios como Urquhart que tentou pontapear um chaser vermelho e acabou por perder equilíbrio e altitude abrindo caminho mais uma vez para os Gryffindor.

“Agora é que o jogo não pode ficar muito pior que isto” pensou Blaise tentando chegar ao chaser da outra equipe para o impedir de marcar um jogador verde.

“E o seeker dos Slytherin avistou a snitch” disse a voz amplificada da torre de controlo do jogo. Blaise instintivamente procurou a figura esquia do seeker da sua equipa.

Ele fazia um sprint renhido com o Potter, estavam lado a lado. Depois, Blaise nem soube dizer como mas o seu seeker pareceu perder controlo da vassoura e o Potter avançou agarrando a snitch com toda a segurança muito longe do chão ou das bancadas.

“Incompetentes, são todos uns miseráveis incompetentes” rosnou Blaise debaixo da sua repiração acelerada. Estava muito fatigado e doía-lhe o corpo todo, sobretudo os braços que seguravam com força o bastão.

“Ainda faço outra cicatriz para condizer com a que ele já tem” disse Blaise apertando com força a pega em couro.

Mas ninguém o ouviu, todo o campo se agitava em vivas e assobios, ondulava em ouro e vermelho na direcção da equipe vencedora.

Os Slytherins, cansados e cheios de lama caminhavam furiosos na direcção dos balneários. Ninguém trocou uma palavra enquanto se mudavam e tomavam duche.

À saída do campo estava um grupo de Gryffindors à espera da equipe perdedora para assobiar e gozar com eles. Blaise, Urquart e um Harper cor-de-tijolo avançaram na direcção dos miúdos do quarto ano de varinha em punho.

Os outros fizeram umas caretas e desapareceram na caminho que levava ao castelo.

O ambiente entre jogadores era de cortar à faca. Desapontado e de mau humor, Blaise pensava agora em outras coisas para além do jogo:“Onde raios está a Quimera?”

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Mais uma vez Quimy seguia alguém pelos corredores e salões vazios da escola.

Parecia mesmo que o edifício em peso estava lá fora a assistir ao jogo.

Cansada da brincadeira de detective, ela só queria poder regressar para ver se como se estava a portar Blaise e a sua equipa.


Malcolm virou a cara de repente na sua direcção mas ela pulou mesmo a tempo para trás de uma armadura.

Para seu horror a armadura começou a mexer-se do sítio com um barulho desagradável de ferro a roçar em ferro.

Com todo o sangue frio que conseguiu reunir a rapariga imitou os passos pesados daquele monte de metal andante e grande o suficiente para a encobrir. Felizmente, Malcolm pareceu aliviar as feições e continuou o seu caminho. Com os reflexos de um felino, Quim desenvencilhou-se da armadura encantada e continuou na peúgada do rapaz de cabelos negros.

Ele parou abruptamente em frente a uma porta de madeira com uma placa dourada por cima e que tinha escrito “Sala do Monitor”. Quim reconheceu de imediato o gabinete apertado de Filch.

Áquela hora não estava ninguém por ali nem mesmo o encarregado ou a gata Mrs. Norris que o ajudava a manter o olho nos alunos. Eles deviam estar nos campos a perseguir alunos que tentassem envolver-se em duelos por causa do jogo ou em brigas nas bancadas.

Assim a sua sala estava desprotegida, à mercê de qualquer intruso, ou pelo menos assim pensava Quim. O rapaz parecia pensar como ela porque parecia visivelmente satisfeito consigo mesmo.

>”Alohomora”!

Disse ele apontando a sua varinha para a fechadura da porta e esta abriu-se instantaneamente.

Filch era um sujeito sem muitas aptidões mágicas. Ele não conseguia colocar um feitiço decente para impedir visitas indesejadas como os outros professores.

Quim observou Malcolm entrar e fechar a porta atrás de si por detrás de uma tapeceria cheia de pó.

Passados alguns minutos o rapaz voltou a sair, arrecadando dentro do bolso uma espécie de corda comprida cor de pele. Trancou a porta e com um olhar sorrateiro pelas redondezas, fez o caminho contrário até à sala comum dos Slytherin.

“Parece que ele tirou um objecto confiscado do arquivo do Filch, mas o que será aquilo?” pensou Quim. Ela procurou o seu pendente mas desta vez ele não lhe deu nenhuma pista.

Ia descer para os campos quando uma multidão de alunos em trajes verde-prata entrou na sala comum. Bastou um olhar para as caras dos colegas e Quim logo percebeu que tinham perdido o jogo, como acontecia sempre que jogavam com os Gryffindor.

Ela começou a preocupar-se, procurou Blaise mas ele não inha chegado ainda. “Que desculpa é que eu lhe posso dar por não ter assistido ao jogo? Espero que ele seja compreensivo”.

Esperou uns minutos ainda meio nervosa. O pendente não a estava a ajudar como era custume. Ela ouvia sempre aquela voz fina a dar dicas para as questões que lhe iam surgindo no dia-a-dia, no entanto agora não parecia funcionar. Não passava de um colar vulgar.

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Blaise viu a rapariga de cabelos castanhos-claros com um ar preocupado sentada na poltrona em que eles se custumavam encontrar.

Por razões que não compreendia totalmente ou que não desejava compreender naquele momento depois de um jogo horrível só pensava em estar a sós por uns momentos.

Sabia que se fosse falar com Quim agora provavelmente ia perder as estribeiras com ela e magoá-la sem querer. Assim, mais valia esperar até estar um pouco mais calmo e descansado.

Tinha de admitir que estava curioso para ouvir as desculpas da rapariga. Queria saber porque é que ela não tinha assistido ao seu jogo

Estava a pensar nisto estendido ao comprido na sua cama de dossel quando um barulho familiar vindo da alta janela do quarto o fez levantar-se. Era uma pequena coruja branca com um rolo de pergaminho cuidadosamente amarrado à sua perna numa fita de cetim lilás.

Ele esticou-se para abrir a janela e o animal esvoaçou pelo tecto do quarto em círculos antes de pousar no seu ombro. Não pesava quase nada parecia um pequeno fantasma com os olhos enviusados e negros.

Blaise curioso, tirou-lhe a mensagem da pata e sem esperar mais ela saiu a voar pela janela.

Numa letra que ele não conhecia vinha escrito apenas duas frases: “Eu sei que a Quim não foi assistir ao jogo hoje e sei de muitas mais coisas que ela não te contou. Se te importas com o teu namoro encontra-te comigo hoje às onze no corredor da biblioteca.”

Blaise franziu o sobrolho desconfiado. “Estão a gozar comigo, só pode!” pensou ele, a fúria recentemente adquirida a subir mais depressa que fogo num rastilho de pólvora.

Primeiro ele decidiu ignorar aquilo mas a curiosidade de conhecer a pessoa que se atreveu a escrever-lhe era mais forte.

Ele deitou-se decidido a adormecer mais cedo para estar menos cansado quando saísse ao encontro do dono da carta. Estava satisfeito consigo por ter decidido passar pela cozinha do castelo antes e roubar umas sandes feitas por elfos e um pouco de sumo de abóbora.

Assim pôde ficar sozinho e refletir sobre o que tinha acontecido nesse dia.

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«O hipógrifo furioso atacou o pescoço do feiticeiro Soulburn antes que ele pudesse reagir.

>Argh, maldita criatura! Cruciatus, CRUCIATUS...AAAAAARRGH
Gritou o homem de barbas ruivas mas tarde de mais, o bicho já mastigava o seu braço sangrento que arrancara com violência da articulação. Sangue e ossos moídos jorraram em cascata para cima do grupo de aranhas necrófagas que assistiam esperançosas por um pedaço de carne.

>Tlec tlec tlec tlec tlec tlec tlec tlec tlec

O barulho que faziam com as pinças era insurdecedor, os seus olhos rosáceos saltavam-lhes das órbitas enquanto espremiam o veneno amarelo ácido pelos orificios por cima das cabeças peludas. A qualquer momento atacariam uma das duas criaturas, quem sairá vencedor??»


Crabbe fechou o livro de banda desenhada satisfeito. Um rapaz pálido olhava para ele do cadeirão em frente com um sorriso afectado bailando nos lábios.

>Bem Crabbe, parabéns. Já terminaste a tua leitura? Tenho a impressão que hoje foi mais rápido que nos outros dias não é?
>Sim, havia mais imagens e menos texto.
>Logo vi...onde é que anda o Goyle?
>Ele disse que ia acabar de esmagar umas coisas para herbologia.
>Esmagar?
>Pois.
>Como assim Goyle?
>Uns bocados de plantas, sei lá. Fizemos uma aposta durante a aula e eu ganhei, agora ele tem de fazer os meus trabalhos de casa.
>Ah, bom...
>Não sabias não é? Não me admira. Ultimamente andas sempre com o Malcolm.
>Sabes porquê Crabbe?? Porque tu e o Goyle não conseguiram notas suficientes para ter as mesmas cadeiras que eu. Nunca estamos juntos porque práticamente não assistimos às mesmas aulas. Se vocês não fossem calhaus com olhos já sabiam disso.

Crabbe entreabriu a boca como se tivesse resposta mas depois não chegou a dizer nada, Draco já tinha mudado o seu tom agressivo e substituído a expressão fria de à pouco por um sorriso cínico.

>Mas tu, eu e o Goyle divertimo-nos sempre mais. Afinal, com quem é que eu despejo sempre umas garrafas do bom fire wisky ao fim de semana?

O rapaz corpulento riu-se com a ideia. Draco também pareceu em certa medida bem humorado.

Era sempre bom conservar pessoas como Crabbe e Goyle do seu lado. Não eram suficientemente espertos para entender um plano de grande envergadura mas serviam para manipulações mais práticas e para serem humilhados, o que sempre lhe ajudava a levantar o moral.

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Onze e meia da noite no corredor da biblioteca.

Blaise estava encostado numa das paredes, um pé dobrado e apoiado sobre o rodapé de pedra ao lado de um enorme quadro setecentista onde um homem cheio de folhos e pó de arroz ressonava a alto e bom som num divã cor de rosa.

Ao reparar na aproximação de um vulto ele ficou alerta. Podia tanto ser a pessoa que esperava quanto Filch ou Mrs. Norris.

O rapaz nem queria pensar na hipótese de ser um dos professores, senão estaria em sarilhos a andar pelos corredores quando o castelo estava em segurança máxima.

>Ah, Blaise que bom te ver.

A rapariga puxou o capuz negro do seu manto para trás, longos cabelos castanhos caíram numa cascata de caracóis pelas suas costas até ao peito.

A face dela estava muito pálida sob as luzes tremelicantes dos archotes e os olhos pretos giravam para apreciar a figura que tinha à sua frente, apreciadoramente.

>Trix??

Balbuciou Blaise espremendo os olhos como quem não quer acreditar.

>Claro. Surpreendido?
>Sim. Sempre pensei que fosse um dos rapazes a gozar com a minha cara mas agora estou confuso. O que raios foi aquilo que tu escreveste??

O tom de voz dele tinha engrossado. Estava sério e toda a surpresa do momento anterior desaparecera da sua face como que por magia.

Ela sorriu mostrando os dentes sobre os lábios finos e depois fez beicinho.

>Realmente eu não podia esperar mais para te contar o que eu ouvi...mas agora pensando bem não sei se devo. Afinal a Quimy fez-me prometer que eu não dizia nada a ninguém.

Com um passo largo Blaise ficou a poucos centímetros da cara dela, as suas sobrancelhas franzidas, os olhos reduzidos a duas nesgas douradas. Num tom arrastado semelhante ao que utilizaria Malfoy no dia a dia ele exprimiu-se muito calmamente mas cheio de raiva contida.

>Não brinques comigo miúda, hoje estou sem paciência para as tuas brincadeiras. Se tens alguma coisa para dizer sobre a Quimera diz, não enrroles.

Ela sorriu ainda mais, por pouco parecia que ia rir mas depois fiou séria.

>Sim acho que vou contar. Afinal tenho princípios. Não acho certo que tu não saibas quando toda a Hogwarts já soube.
Ele colocou as mãos nos ombros de Ostricia Nott e apertou-a com força.
>Fala.
>Aqui não Blaise. As paredes têm ouvidos.

E ela apontou para o homem do quadro que entretanto tinha acordado e olhava curiosamente na direcção dos dois jovens. Blaise largou-a e suspirou impaciente.

>Então, onde?
>Vem comigo. Sei do sítio ideal.

Ele seguiu-a para fora daquele corredor. Silenciosos como dois gatos na penumbra, viraram ao lado de uma estátua que lhe era familiar e ela abriu uma porta logo a seguir.

>Entra Blaise.

Susurrou a rapariga olhando de um lado para o outro para se certificar que não eram seguidos.

A sala estava vazia à parte de algumas mesas e cadeiras dispostas ao acaso. Tinha aspecto de não ser utilizada para actividades curriculares mas para outras coisas. Blaise nem queria pensar o quê.

>Bom, agora podes começar a falar.

Disse Blaise, cruzando os braços numa atitude de defesa involuntária. Ostricia tirou a capa para revelar uma mini-saia extremamente justa e um decote avantajado que, segundo Blaise, a faziam parecer uma pessoa vulgar.

Ele esforçou-se por não mostrar nenhuma reacção e conseguiu. A rapariga pareceu desagradada com essa atitude.

Mas mesmo assim sentou-se em cima de uma mesa e cruzou as pernas, baloiçando os cabelos encaracolados num gesto visivelmente provocador. “Não posso crer que estou numa sala com aspecto duvidoso na companhia de uma tarada que parece ter um fraco por mim...isto é de loucos” pensou Blaise com um sorriso incrédulo estampado na cara.


>É assim Blaise...tu mereces melhor que a Quim, sabias?
>Porque é que dizes isso Ostricia?

Ele tentou manter um tom neutro enquanto falava mas na verdade a atitude dela estava a começar a complicar-lhe com os nervos.


>Lembras-te da noite da festa do Slugworn?
>Sim.
>Eu e a Milly estavamos a descer para os dormitórios quando ouvimos a voz da Pansy a gritar por socorro. Como é evidente descemos mais depressa e ao abrir a porta vimos a pobre rapariga estampada no chão e a Quimy a apontar-lhe a varinha à cabeça.
>O quê??
>Sim, espera até saberes porquê. A Pansy disse que ia contar-te tudo o que sabia sobre ela e o Draco.

A expressão do rapaz mudou como do dia para a noite. Ele que até parecia divertido com a história ficou sombriamente calado, os olhos cravados nos de Ostricia sem piscar uma só vez.


>Repete lá isso.
>Bem, a Pansy soube que a Quim e o Draco se andavam a encontrar no salão comunal às tantas da noite para ficarem juntos. Isto aconteceu é claro enquanto vocês namoravam mas depois da Pansy saber acho que a Quim parou com os encontros. É claro que não tenho a certeza mas..
Blaise interrompeu-a, a sua voz um pouco alterada pela raiva.

>Isso é uma acusação grave sabias? Não te fica nada bem.

>Preferias que ninguém te contasse?? Querias permanecer na ignorância Blaise, a ser enganado pelas costas? Eu não tolero esse tipo de coisas achei que alguém tiha de te informar da verdadeira personalidade da Quim. Porque é que achas que ela nunca se dedica a ti como eu te vejo dedicares-te a ela? Caramba Blaise, tu dás coiro e cabelo por aquela rapariga e ela está-se nas tintas para os teus sentimentos. Eu vi isso, eu tenho olhos na cara.

Quando acabou, Ostricia estava bastante afogueada, os seus olhos negros brilhavam de excitação apesar do seu ar grave. Blaise enterrou as mãos na cara e encostou-se cambaleante a uma mesa. Ela logo se levantou nas pontas dos pés para lhe tocar no cabelo.

>Tu mereces melhor Blaise...

Disse ela enquanto se sentava ao seu lado e lhe afagava o cabelo com a mão de unhas pintadas de preto.

Ele não estava a chorar mas a sua cara estava da cor do tijolo, os olhos muito brilhantes, a testa enrrugada e todos os músculos contraídos.


>Eu não acredito, não posso acreditar.
>Abre os olhos Blaise. Sabes quem é que também faltou ao jogo hoje? Draco Malfoy. Eles eram os únicos Slytherins fora do campo de Quidittch. O que é que te parece que aconteceu?
>O Malfoy também não esteve no jogo?
>Hum, hum.

Acenou com a cabeça, cheia de compreensão. Inesperadamente, Blaise soltou-se do seu abraço e pôs-se de pé, mais calmo mas ainda nervoso.

>Posso dar-te uma poção que te vai ajudar a relaxar.

Disse Ostricia retirando do bolso do seu manto um frasco verde claro muito bonito.

>Anda, podes levar contigo e depois decides se tomas ou não. Vai ajudar-te a relaxar, hoje tiveste um dia tão dificil não é?

>Obrigado Trix, por tudo.
>Eu preocupo-me contigo Blaise, mais do que tu imaginas.

Os olhos dela brilhavam intensamente enquanto se dirigia para perto do rapaz.

Ele continuava a olhar para ela fixamente mas parecia distraído, assim ela aproveitou para o beijar muito ao de leve nos lábios e fechar-lhe as mãos sobre o pequeno frasco.

Blaise não reagiu, não conseguia sentir nada naquele momento. Com a poção nas mãos saiu e deixou a rapariga para trás.

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Preocupada com o namorado e com o jogo de Quidditch, Quimy esquecera-se completamente de devolver o livro à biblioteca.

Esperou por Blaise na sala comum até que a maioria das pessoas se tinha retirado para dormir.

Somente ela, Malfoy, Crabbe e Goyle ainda estavam por ali.

Os rapazes pareciam entretidos a maldizer os jogadores dos Gryffindor. Draco falava alto sobre o seu campo de Quidittch particular nos terrenos envolventes à mansão Malfoy.

De vez em quando ele fixava o olhar nela de uma maneira muito pouco convencional. Exactamente quando os olhares estavam mais incisivos, Quim resolveu sair dali esgotada.

Tinha esperado muito tempo por Blaise, sem sequer descer para jantar.

Começava a achar a birra do namorado extremamente exagerada, será que ele não queria saber dos factos? Ela estava preparada para lhe contar tudo o que lhe tinha acontecido até agora, relativamente ao colar, ao pendente e até aos encontros sem graça com o Malfoy.

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No quarto comum, Pansy ajudava Ostricia a vestir-se muito excitada por entre risinhos abafados.

>Olá Quim!

Disseram as duas em uníssono.

>Oi Pansy, Trix. O que é que fazem?

Perguntou ela ao reparar na maquilhagem de Ostricia e na roupa demasiado informal.

>Hum...contamos-lhe??

Perguntou Pansy com um sorriso maroto à outra que escovava os cabelos.

>Porque não? Diz-lhe.
>A Trix tem um encontro hoje...com um rapaz mistério!

Quim fez um ar surpreendido. Ostricia não era muito de combinar encontros, os seus avanços não tinham hora marcada, aconteciam onde e quando lhe conviesse.

>Deixa-me adivinhar, torre de astronomia certo?
>Não nem pensar é muito concorrido. Agora usa-se uma sala ao lado da estátua de Gregório o Grande, tem-se mais privacidade.
>Não me digas.

Pansy explodiu em risinhos e corou ligeiramente.

>Ah, já lá estiveste então?

Perguntou a rapariga dos caracóis castanhos com uma expressão maliciosa.

>Claro que estive! Com o Draco, é claro.
>Tudo bem, só que ele não parece o tipo de rapaz que aceite estar num sítio como aqueles.

Continuou ela com o mesmo sorriso cínico de sempre. Pansy parecia ofendida.

Naquele momento a conversa morreu quando Milicent saiu da casa de banho, os seus cabelos curtos molhados. Apressou-se a secá-los com a ajuda da varinha e com um feitiço simples. Estava com um ar ensonado.

>Bem meninas, boa noite.

E Millicent fechou as longas cortinas de veludo verde da sua cama de dossel.

Quimy aproveitou a deixa para tirar do seu baú um pequeno espelho azul e colocá-lo na sua mesinha de cabeceira. Tinha decidido colocar o livro no seu devido lugar na manhã do dia seguinte, sem falta.

Ia aproveitar o fim de semana para madrugar e passar pela biblioteca antes que ela se enchesse de gente.

Enquanto isto, Ostricia preparava-se para sair do quarto com um sorriso.

>Não esperem por mim acordadas meninas.

E com um aceno saiu. Pansy virou-se excitada na direcção de Quim que reunia os objectos necessários para um duche rápido.

>Quimy?
>Sim?
>Não estás curiosa?
>Para quê Pansy?
>Ora, para saber quem é o rapaz mistério o que mais poderia ser?
>Amanhã a Trix conta-te de certeza, és a melhor amiga dela.
>Não sei, acho que ela vai guardar segredo. Eu gostava de descobrir por mim mesma, estou muito curiosa. Acho que vou atrás dela.

Disse colocando o seu manto por cima da camisa de dormir cor de rosa.

>Isso é muito feio Pansy. Tu não gostavas que ela te fizesse isso pois não?
>Mas ela já fez...mas não interessa eu vou. Vens?
>Não. Hoje estou muito cansada para seguir casalinhos mistério.

Disse Quim mais para si do que propriamente para a rapariga que abria a porta e saía apressada.

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Se Quim pudesse apagar aquela manhã da sua vida ficaria de facto muito grata. Tinha encontrado o Blaise na mesa do pequeno-almoço mas ele estava estranho e nem lhe falou propriamente.

Draco que reparava sempre nos pequenos pormenores sórdidos do comportamento alheio não resistiu à tentação de provocar o casal. Mas quanto mais Quim tentava falar com Blaise, mais frias eram as suas respostas.

>Blaise, está tudo bem querido?

Susurrou ela docemente ao ouvido do rapaz.

Ele limitou-se a olhar de cima como se ela fosse um insecto particularmente irritante.

Quim esforçou-se muito para conter as lágrimas de fúria que teimavam em queimar debaixo das suas pálpebras.

>Por favor diz qualquer coisa, estamos a fazer figuras ao pé dos outros.

Implorou num fiozinho de voz aos ouvidos dele.

>Não me apetece conversar agora. Não me chateies Quimera.

Foi a única resposta que ela conseguiu arrancar a Blaise, seca e directa.

>Muito bem. Como queiras.

Disse Quim respondendo à letra no mesmo tom duro. Mas o rapaz não mexeu um músculo.

Ela estava decidida a não dar o braço a torcer. Forçou um sorriso na direcção de Pansy e sobretudo de Draco que parecia especialmente interessado no desfecho da situação.

No entanto, para desprazer daqueles olhos cinzentos-prata não houve hipótese de apontar um único comentário sarcástico antes de Blaise se levantar e partir na direcção do campo de Quidittch com os outros.

Pelo que Quimy ouvira eles tinham de discutir técnicas para vencerem a próxima partida e o fiasco do dia anterior não se repetir.

Controlando as emoções negativas que lhe entupiam a garganta Quim decidiu levantar-se para sair mas uma voz arrastada impediu-a de completar o movimento.

>Senta-te Quimera. Acabou de ser servido aquele chá que tu tanto gostas.

E ele começou a encher uma delicada chávena de porcelana branca com o líquido cor de mel. Quimy estranhou a ausência de Pansy, Crabbe ou Goyle ao lado de Draco.

>Para onde foram os outros?
>A Pansy falou sobre qualquer coisa como dar uma lição a um grupo de miúdas Ravenclaw...ou seria dar de comer à lula gigante com uns quantos Gryffindors? Não me recordo mas qualquer uma das opções tem os seus encantos não é?

Disse Draco divertido enquanto se sentava em frente de Quimy, com a sua chávena na mão.

>Porque é que não foste com eles?
>Pela mesma razão que tu não foste.
>Não sabia que também estavas à espera que a coruja do “Bruxas Vaidosas” te trouxesse um novo estojo de cosméticos.
>Esse não é o teu verdadeiro motivo.
>Como é que sabes?
>A Pansy usa todos esses produtos ridículos, princesa e acredita que se eles fizessem entregas em Hogwarts ela era a primeira a saber.

Finalizou o rapaz demorando-se na explicação entre goles de chá. Quim ficou sem graça e automáticamente pegou na sua chávena e fez o mesmo. Ela gostava que Draco não tivesse aquele poder de desconcertar uma pessoa.

>Eu tenho de ir à biblioteca.

Disse Quim demasiado cansada para arranjar uma luta infantil com Draco ou para se enfurecer mais.

Sentia-se um pouco desconfortável debaixo daquele olhar frio. Acabavam sempre calados a olhar fixamente um para o outro, Quim desviava sempre o olhar primeiro que ele. Ela procurou o pendente e agarrou-o com força.

Draco reparou no gesto.

>O que é isso que tu tanto apertas na mão? Um terço?

Perguntou ele enquanto se debruçava sobre a mesa para chegar ao colar da rapariga com a mão esquerda.

Quando ele colocou a sua mão sobre a dela que apertava o pendente, Quim sentiu um imenso calor percorrer-lhe o corpo como se estivesse debaixo de um duche de água quente. Parece que Draco sentiu o mesmo porque ele retirou a sua mão da dela tão depressa que ia caíndo para trás no banco corrido da mesa de refeições.

Sem saber como ou porquê a voz soou mais uma vez dentro da sua cabeça: “a única maneira de consertar o aparelho é falando com o seu construtor. As suas memórias ainda habitam a superfície deste mundo.”

>O que foi isto? Tu sentiste o mesmo?

Ele parecia verdadeiramente surpreendido.

>Sim.

Respondeu Quim analizando o objecto entre os dedos.

>Foi isso que provocou esta sensação? Como?
>Não sei.

Quim surpreendeu-se com a sua própria resposta mas na verdade não sabia realmente do que se tratava, não tinha falado a ninguém sobre a voz nem os palpites sempre certos que ela lhe dava.

E agora ainda ficou mais confusa com aquilo que a voz lhe dissera. Ela não se lembrava de ter alguma dúvida a precisar de resposta. A não ser que aquela frase não fosse para ela.

“O pendente deve ter respondido a uma dúvida do Draco, através de mim!” de repente tudo fazia sentido...o aparelho só podia ser aquela cabine da sala do requerimento.

Se calhar ela não funcionava e o rapaz andava a tentar arranjá-la sozinho.

Ele não demonstrou qualquer mudança do seu ar cínico e aproveitou a distração dela para pegar novamente no pendente com os dedos e examiná-lo.

>Parece inofensivo mas pode estar encantado e ser perigoso.
>Achas?

Ela não queria acreditar que a primeira pessoa com que se decidira a falar sobre o mistério do pendente era justamente Draco Malfoy. Ele parecia seguro de si.

>É possível. Onde é que tu o arranjaste?
>O Blaise...foi um presente dele.

A sua voz fugiu demasiado fraca quando respondeu a Draco. Ela amaldiçou-se. Por uma vez que fosse queria ter controle sobre as suas emoções, ser forte.

Draco estava aparentemente alheio à luta interior dela.

>A sério? Nunca pensei que ele te fosse oferecer uma coisa tão cara.
Num gesto de raiva Quim afastou a mão dele do pendente e escondeu-o debaixo das vestes.

>O que eu quero dizer com isto é que o Zabini deve estar realmente caidinho por ti. Contente?
>Oh, Draco cala-te.

Lutando contra as lágrimas Quim fugiu dali a passos de corrida deixando para trás um Draco ainda mais confuso.

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Blaise lembrava-se vagamente da noite anterior. Sabia que Quim o tinha traído e não lhe perdoava nem sequer conseguia olhar para ela sem se sentir revoltado.

Urquhart comandava o resto da equipa num tom frio e desligado. Parecia que tinha decorado umas técnicas manhosas utilizadas pela equipa vencedora do campeonato em Durmstrang, onde tinha várias pessoas conhecidas.

O céu estava de um cinzento chumbo. O treino talvez não durasse muito tempo porque estava um dia demasiado desagradável para se voar.

A conversa entre os jogadores não era menos áspera que o vento invernoso. Por pouco um dos batedores não atacou propositadamente o seeker Harper.

>EI, Vê se tens cuidado, ia caindo com essa merda!
>Tens de estar preparado para todas as eventualidades...só não queremos que tu escorregues e nos faças perder outro jogo!
>Claro, como vocês bloquearam brilhantemente os ataques não têm mais nada com que se preocupar. Sinceramente não sei o que é perferível, ter-vos a vocês como batedores ou arranjar umas galinhas e uns fósforos para jogar!

O capitão evitou que o rapaz com o bastão perseguisse ao redor das bancadas um Harper vermelho de raiva.

Flocos brancos tinham começado a cair com intensidade bloqueando a vista e dificultando as manobras no ar. Blaise já não sentia o cabo da sua vassoura entre os dedos gelados.

>OK pessoal por hoje chega.
~
Gritou Urquhart algures acima da sua cabeça. os outros começaram a descer para o chão pintalgado de branco.

Blaise seguiu-os carrancudo. Tinha que voltar para o castelo onde de certeza que ia encontrá-la mais cedo ou mais tarde.

Distraído nem deu pela presença da rapariga fortemente agasalhada com cachecol e luvas verdes.

Ela correu na sua direcção, o cabelo coberto de pequenos flocos de neve, a face levemente corada contrastando com a palidez da sua pele clara.

>Blaise espera por favor. Preciso de falar contigo. Quero explicar-te porque é que eu não estive no jogo. Dá-me uma chance de esclarecer as coisas.

Ele olhou para Quim muito sério. Como é que ela pôde deitar a perder a relação daquela maneira? Eles eram um casal harmonioso, tinham tudo para dar certo.

>Porque é que não vais ter com o Malfoy agora?
>O quê?
>Sim, eu já sei de tudo, escusas de te fazer de santa.

Os olhos dela encheram-se de lágrimas e Blaise sentiu um certo prazer interior crescer. Estava a ter a sua vingança mas não chegava vê-la chorar, queria pagar na mesma moeda.

Com um movimento brusco, atirou a vassoura para o chão e aproximou-se da rapariga, os olhos com um brilho frio que Quim nunca lhe tinha visto.

Segurou-a pelos braços com demasiada violência e começou a beijá-la fortemente sem emoção. O beijo soube a gelo e a lágrimas. Quando a largou trazia na sua mão o fio dourado com o pendente.

>Isto é para ser utilizado por alguém especial e com significado para mim.

Disse ele abanando o objecto à frente dos olhos dela com maldade.

>Não faz sentido que continues com ele.

Quim olhava-o sem palavras, os lábios vermelhos da intensidade do beijo pareciam duas manchas de sangue contra um rosto frio e inexpressivo de mármore.

Com a vassoura bem apertada entre os dedos, Blaise virou-lhe as costas e caminhou pisando com força o solo branco.

Ela ficou colada ao chão no mesmo sítio em que ele a tinha deixado, observando a neve cobrir as pegadas deixadas na terra negra. O tempo parecia ter parado de andar, o ar não lhe enchia os pulmões, o seu cérebro bloqueava-lhe todos os pensamentos.

Blaise fora a primeira pessoa com que ela se sentira íntima para além da sua família. Então, quando ele a deixou para trás, sem sequer querer ouvi-la foi como se uma parte dela mergulhasse fundo na escuridão de uma noite de inverno sem estrelas.




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