Mistério e romance
Ela estava tão concentrada em pentear com a mão o cabelo em desalinho que nem deu pela presença do rapaz estirado ao comprido com um ar de satisfação e gozo. Ele não disse nada limitou-se a admirar a figura.
Num pijama de seda verde esmeralda demasiado largo e com corte masculino, as insígnias QM debruadas a dourado no bolso direito brilhavam sob a chuva de cabelo castanho claro que ela tentava organizar.
Os movimentos e as feições tão naturais da rapariga naquele momento acentuaram a sensação de culpa que já havia crescido em Draco. Naquela cena tão natural ele era como um intruso de máscara posta em contraste com ela que para seu deleite não disfarçava quem era verdadeiramente.
Porém quando Quim olhou para a cama de Parkinson o queixo caiu-lhe e os olhos arregalaram-se-lhe de espanto. Depois ruboresceu perante o olhar daquele loiro que ela só depois reconheceu como o namorado da Pansy.
Draco por sua vez apreciou a expressão aflita no rosto da sua conhecida e não conseguiu esconder um sorriso cúmplice pela sua presença. Com um grito ela saltou para a protecção das pesadas cortinas do dossel protegendo-se daquele olhar frio. Arrepios gelados subiam pela sua espinha e respirava como se tivesse corrido uma maratona.
Draco gostaria de abrir aquelas cortinas de par em par e obrigá-la a enfrentá-lo. Mas considerava-se um cavalheiro por isso conteve-se. Como ela não dizia nada optou por quebrar o gelo.
>Sinto muito princesa mas não sou uma miragem. Estou aqui de carne e osso e muito ofendido contigo. Não se fecham as cortinas assim na cara dos outros, é mal educado sabias?
>Ai Draco se soubesses como eu te odeio neste momento.
>Humm, adoro o teu pijaminha. Pelo que deu para ver é mesmo o tamanho certo para mim. Compraste assim e gravaste as iniciais depois ou foi mesmo feito por encomenda?
Ele estava mesmo divertido. Ouvia as respostas àcidas da rapariga abafadas pelos expessos cortinados e também os resmungos furiosos
>Sai daqui Draco peço-te até pela tua namorada.
>É justamente por ela que eu espero e imagino que só vá aparecer daqui a uma hora. Mas tudo bem Merrigoat sempre podemos conversar agora tu estás protegida aí por detrás dos cortinados.
>Sê um cavalheiro Draquinho e passa-me o meu roupão. É verde e está pendurado aí em frente ao dossel da Pansy.
Ele analisou o pedido. A rapariga parecia mais calma e o tom de voz doce que ela utilizou no diminutivo do seu nome ao invés de o irritar até agradou bastante. Ela sabia ser presuasiva quando queria. Levantou-se para pegar no roupão verde escuro.
Passou-lhe ao de leve com a mão e era do mesmo material que o seu muito macio (com certeza de bom material). Abrindo-o ao comprido viu que aí também estavam as iniciais da rapariga QM a ouro.
>Então já o tens contigo?
A rapariga tinha o braço de fora dos cortinados, a mão estendida agarrava o ar.
>Sabes Merrigott acho que tu usas pijamas masculinos porque gostas não é? Agora é que vi como este roupão é parecido com o meu, do mesmo material e tudo.
Draco estava sentado de frente para o dossel cerrado quando a rapariga saiu de lá com o robe bastante largo para ela enrrolado na cintura. Os seus dedos eram visíveis por debaixo das dobras feitas nas mangas e os seus pés nús estavam tapados pela seda das calças do pijama.
A expressão dela não era carregada. Para espanto de Draco até parecia divertida. Um sorriso malandro enfeitava-lhe os lábios. Ele gostaria imenso de lhe arrancar aquele sorrisinho da cara.
Até parecia que ela não se importava de o ter ali a testemunhar a sua figura num roupão ridiculamente grande. Será que ele não a intimidava era um rapaz, bolas e ela ainda por cima estava em trajes de dormir.
Draco sentiu a face queimar quando a rapariga lhe deu as costas para ajeitar o cabelo que agora lhe caía com a lamguidez costumeira sobre as faces. Depois ela voltou para se sentar confortávelmente à sua frente cruzando as pernas. Ele tinha sido completamente desarmado por aquela sua atitude despreocupada.
>Bem se é como tu dizes a tua namorada ainda vai demorar um bocado. Temos de pensar em matar o tempo. Que tal um joguinho de xadrês bruxo?
Quim tinha optado bem por não se passar com Draco. Se tivesse feito um escândalo ele de certeza que a ia atormentar com aquilo para o resto da sua vida. Assim, transformando algo tão intimidante numa coisa naturalíssima ela ganhava ao usurpadorzinho.
>Eu oferecia-te um chá mas admito que não tenho jeito para feitiços domésticos. A minha mãe é claro sempre insistiu comigo desde pequena sem resultados. Ainda me lembro dela e das minhas duas bisavós a correr atrás de mim por todos os cantos da casa para eu me sentar quietinha e aprender os movimentos da varinha e os nomes dos feitiços. Tiveram de se conformar é claro porque eu definitivamente não tinha jeito nenhum, achava aquilo sempre uma seca. Finalmente como tu pudeste observar também tenho um gosto peculiar quanto a pijamas. Encomendo os meus na Madame Malkins da Diagon-Al. Escolho sempre cortes largos e masculinos porque são os mais confortáveis. Dormir enfiada numa camisa de noite feminina é um martírio...enrrola-se para tudo quanto é lado...bem o tabuleiro está pronto quem dá a partida?
Draco estava boquiaberto com o monólogo da rapariga.
A princípio irritou-se mas depois desatou a rir das suas desventuras domésticas com a mãe e as tias. Ela estava a fazer algo que ninguém até ali tinha feito na sua frente – conversar relaxadamente sobre banalidades da vida quotidiana de coisas sem importância mas divertidas. Até o fazia esquecer do mundo, de ser arrogante e prepotente.
Ela era demasiado agradável, demasiado franca para isso, não valia a pena. Por isso, ele, Draco Malfoy tinha aceite o desafio e entrava no jogo.
>As damas primeiro. Eu também compro sempre os pijamas nessa loja, são ótimos. Quanto às camisas de noite tens razão nem imagino se são ou não confortáveis porque nunca experimentei enfiar-me numa.
A rapariga Merrigott riu-se da sua piada. Quando sorria para ele, toda a sua face irradiava uma luz, um calor que preenchia uma parte de si há muito votada ao esquecimento.
Ultimamente na sua vida não existia nada assim. Tinha passado por muita amargura, desilusões, tinha agredido e sido agredido, tinha falado de ódio, de vingança e de assasínio.
Pensava nas melhores formas de se vingar e em como recorreria a feitiços para torturar e causar o máximo de sofrimento.
Se a Quimera pudesse ver como eu sou realmente, fugia a sete pés. “Mas não me importo; ainda gostava de mostrar a minha realidade a esta princesinha; aí sim é que ela ia respeitar-me, tremer de medo se descobrisse com quem está a falar”.
Ele levantou-se violentamente da cama derrubando o tabuleiro com a brusquidão do movimento. Olhou para ela que arregalava as sobrancelhas de espanto, os seus olhos verdes muito abertos contemplavam o espectáculo.
Ele virou-lhe as costas para sair mas num impulso de mau génio voltou-se novamente encarando-a de frente e com rapidez agarrou-lhe os pulsos através das mangas. Ela lutou para libertá-los. Mas quanto mais ela resistia, maior era a proximidade entre os dois.
Draco já sentia o perfume dos seus cabelos debaixo das narinas. Quimera por sua vez lutava por se afastar daquele abraço indesejado. Estava agora tão perto do pescoço de Draco que podia sentir o calor do seu manto e a essência forte sob a sua pele, tão diferente da de Blaise.
Parecia que Draco estava mais real e presente ali com o corpo encostado ao seu enublava as recordações físicas que ela guardava do seu namorado.
Agora só sentia aquele rapaz que a empurrou para si num acesso de demência momentânea e já nem podia acreditar que fosse aquele seu conhecido pois ele parecia mais alto, mais forte, ela sentia o chão falhar sob os seus pés, como se a terra tremesse e girasse fora de controlo.
>Draco estás a magoar-me.
Murmurou Quimera em tom de confidência na direcção do ouvido direito do rapaz. Ele não a queria libertar.
Experimentava sensações extremamente agradáveis, subia dentro de si um calor que nenhuma lareira podia proporcionar, um desejo de viver, de respirar e expulsar os seus medos, os seus fantasmas.
Furioso consigo pensou que já estava era a ficar doido como ela. Nisto largou-a como se lhe tivessem dado um choque eléctrico. Ela afastou-se para o lado, respirou fundo. Estava bonita, os olhos brilhavam mais, o seu rosto estava corado “e os cabelos sempre são tão macios como parecem” lembrou-se Draco com um sorriso dissimulado.
>Até à próxima...princesa.
E saiu porta fora subindo com impaciência os lances da escada do dormitório feminino, ainda meio inebriado com o momento.
“Não a chames de princesa idiota...não fica bem..ela é Merrigott; e ainda por cima metes-te com a miúda desse atrasado do Zabini” censurou-se ele ruborescendo por uns segundos.
Mais tarde quando se vestia para dormir ainda pensou nela mas desta vez dentro do seu próprio pijama preto com as iniciais DM bordadas a prateado no bolso direito e imaginou que ela corria para o abraçar.
Sentiu-se invadido por aquele calor que rompia de dentro dele e lhe tirava o sono e o sossego. Não o conseguia impedir. Meio confuso Draco passou as duas mãos pelo cabelo e soltou um suspiro contra o espelho. Lançou um olhar de esguelha ao Zabini que passava por ele para se ir deitar.
>Problemas com raparigas certo Malfoy? Esse suspiro não engana.
“Que grande idiota nem a mulher dele controla, deixa-se apanhar por qualquer um”. Draco sabia que só estava a olhar para meia verdade.
Ele é que se tinha descontrolado com a rapariga. “A princesinha bem lutou contra o meu abraço mas se eu tivesse insistido mais...quem sabe; não tentei porque ainda a magoava a sério; o raio da miúda parece de porcelana, parece que se lhe tocarmos parte-se”.
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Mal Draco Malfoy tinha batido a porta atrás de si, Quim caiu na sua cama sem reacção. Parecia que lhe tinham arrancado os pulmões pela boca e ainda se sentia um bocado tonta. Já a tinham agarrado assim uma vez mas nessa altura ela não ficara assim tão abalada.
A sua reacção espantou-a porque ela sempre se soube defender de tipos como o Malfoy, podia ter-lhe dado um pontapé ou ter gritado alto e até arranhado as suas mãos...mas não fez nada disso. Deixou-o apertá-la contra si enquanto sentia as últimas forças que tinha a esvaírem-se dos seus músculos.
Deixou-se ser agarrada num estado de inacção que agora ela não conseguia explicar.
Só conseguira ouvir num grande eco os seus próprios batimentos cardíacos acelerados. Era um som tão forte e nítido que ela chegou a pensar que o rapaz também os podia ouvir e até sentir a sua reacção nervosa, o seu corpo a tremer descontrolado, colado ao dele.
Não, aquilo definitivamente era uma experiência nova para ela. Nunca mais podia permitir que a presença de alguém a deixasse naquele estado outra vez.
Não o podia deixar gozar assim com ela, provocá-la alterando o seu nome ou até mesmo chamamdo-lhe princesa. “Porque é que ele faz isso sempre que me vê?? De onde é que ele tirou esse nome?” .
Sempre que ele a tratava por aquele nome ela ficava desconcertada, sem resposta ou reacção. Assim, talvez fosse melhor parar de tentar usar as mesmas armas que ele e descobrir uma maneira de dar a volta por cima sendo ela mesma.
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Quando Pansy chegou ao dormitório, Quim já não estava lá. Tinha-lhe deixado um pergaminho em cima da cama a explicar que Draco tinha aparecido à procura dela para lhe falar. “E o assunto está encerrado pelo menos por agora” pensou ela.
Depois decidiu ir para a biblioteca estudar durante o resto da tarde pelo menos enquanto o seu namorado não chegasse do treino de Quidditch. Ela convenceu-se que se abraçasse e beijasse Blaise tudo o resto se acabaria por compor. Pensou naquela noite que passaram juntos a voar e animou-se quase instantâneamente.
Pousou os pergaminhos, a pena e o tinteiro em cima de uma mesa isolada na biblioteca. Estava muita gente por ali. Uns trabalhavam outros conversavam em surdina para desespero da velha bibliotecária. Quim reparou que ainda não tinha desembrulhado o pacote que chegara na manhã anterior.
Com cuidado para não fazer barulho rasgou o papel de viagem e fez escorregar o livro com capa de couro para fora. Juntamente com ele vinha uma carta com o seu nome escrito na frente.
A caligrafia, tal como ela previra, era a da sua mãe. Entre vários tipos de conselhos variando entre académicos e domésticos ela alertava Quimera para o medo que corria por entre os bruxos do ministério e até mesmo em St. Mungus agora que Aquele cujo nome não é pronunciado estava de volta.
Por fim a mãe pedia-lhe que escrevesse a contar como tinham corrido os primeiros dias de aulas e também que conferisse se não convivia muito com pessoas estranhas dos Slytherins.
“(...) A casa dos Slytherin, apesar do prestígio que sempre deu à nossa família, possui infelizmente muitos alunos cujos antecedentes familiares deixam muito a desejar. Peço-te que tomes sempre cuidado com quem falas e o que dizes a essas pessoas Quimy.
Beijos, Melinda Merrygott.”
Sim ela sabia quem eram essas pessoas e para desespero da sua querida mãe até faziam parte do seu grupo mais próximo de amigos.
Rabiscou uma resposta satisfatória à carta. Quando pudesse havia de enviá-la para casa através da sua coruja.
O resto da tarde passou-se rápidamente entre livros, apontamentos e grandes borrões acidentais de tinta preta em pergaminhos brancos. Quando acabou a biblioteca estava mesmo a fechar.
Ao colocar os livros emprestados nas respectivas estantes Quim viu através da porta dois vultos conhecidos – Draco e Pansy. Lembrou-se imediatamente do que eles vinham fazer ali.
Com um olhar de soslaio reparou que as últimas pessoas que restavam ali, para além dela própria, já vestiam os mantos e ajeitavam as malas para sair. Ela correu para a mesa que tinha ocupado e arrumou tudo rápidamente. A Bibliotecária estava afastada e corrigia o lugar de alguns livros.
Era agora ou nunca, pela segunda vez entrava naquele corredor. Mas desta feita foi tudo bem mais rápido, bastou-lhe imitar o que já tinha feito antes com a varinha.
Finalmente, só teve de pedir desculpa à bibliotecária por ter deixado cair a pena tão perto da selecção de livros proibidos antes de conseguir sair ilesa. Estranhou o facto de nem Draco nem a namorada se encontrarem por ali.
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No lusco-fusco, perto da orla da floresta Blaise tentava desenterrar floberworms para a professora de Herbologia. Tinha ficado de fazer uma colheita daqueles animais parecidos com cobras-cegas que viviam debaixo de terra e começavam a estar activos à noite.
Queria despachar-se com aquilo e de preferência sem sujar de lama as suas botas de cabedal novas. “Raios partam aquela cabeça de couve que me pôs de castigo só porque espirrei solução de mandrágora para cima do mentecapto amante de bolbos do Longbottom...bem antes isso do que tirar pontos aos Slytherin”, entretido a maldizer mentalmente a professora Sprout, Blaise já tinha escavado um belo buraco na clareira.
Visivelmente repugnado, recolheu meia dúzia daqueles vermes castanhos com a ajuda de um feitiço imobilizador e colocou-os numa caixa com terra preta. Agora só faltava voltar a tapar tudo com terra e sair dali para fora, afinal não era aconselhável ficar perto da floresta ao anoitecer, apesar de toda a vigilância.
Um brilho dourado atraiu o seu olhar para as profundezas da terra. “Lumus” murmurou e a luz encheu a clareira mal iluminada onde estava e o buraco no chão. Desceu desajeitadamente até agarrar no objecto sujo de terra húmida.
>Uau...
Atrás de si ouviu uma agitação nos arbustos e virou-se instantaneamente, pulou para o chão, tapou o buraco e saiu dali.
Detrás de um dos arbustos, dois olhos da cor do fogo num corpo parte cavalo e parte Homem brilharam na direcção do rapaz.
>Hoje a noite está brilhante como na aurora de tempos esquecidos.
Disse o centauro pensativamente, olhando para a órbita celeste em formação e com um movimento ágil das suas patas desapareceu para o interior da floresta.
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Jantou junto de Blaise e essa foi a melhor parte daquele domingo. Esteve com ele até tarde na sala comum depois cada um partiu para o seu dormitório.
Quim adormeceu logo mas só para acordar totalmente desperta três horas depois. Sem sono nenhum, vestiu o robe e arriscou ir até à sala comum. Estava silenciosa e parecia vazia.
Um elfo doméstico já devia ter arrumado as mesas e as cadeiras nos sítios certos. Ela escolheu um cadeirão de pele confortável perto das chamas verdes da lareira mais escondida, junto às janelas.
Dentro do bolso trazia dois pergaminhos cuidadosamente dobrados. Ia finalmente descobrir qual o livro que Malfoy roubara na biblioteca. Comparou os dois esquemas.
Lá estava o livro que faltava mas não onde ela tinha esperado que fosse. “Porque é que o Draco anda a ler livros sobre construções e geringonças para bruxos?” inquiriu-se ela para consigo enquanto tentava ler as letras miudinhas na lombada do livro miniatura desenhado no papiro.
Talvez com a ajuda de uma lupa ela conseguisse alguma coisa. Tirou a varinha e apontou-a às letras “Aumentatum” e de repente lia-se muito bem “A Arte Do Transporte Sem Magia: Cabines de Ligação” em letras garrafais por toda a página. “Tenho de me empenhar mais neste feitiço” pensou “que interesse pode ter este livro para o Draco??”.
Ainda ia descobrir para que serviam as tais cabines de ligação. Talvez o seu tio Pandoro soubesse. Ele gostava imenso de ler sobre as excêntricidades da magia.
>Parece que passas o tempo todo enfiada nesse pijama Merrigott.
Quim virou-se na direcção da voz. Só podia ser aquele convencido.
>Enganas-te. Esse privilégio é exclusivamente teu.
“Não penses que me vais conseguir intimidar outra vez Draco; não tenho medo de ti; se precisar de usar as minhas armas hoje quem sai daqui mal és tu” matutou para si furiosamente.
>Mas hoje eu também vim vestido a rigor.
>E que eu saiba apareceste sem que ninguém te tivesse convidado.
>A sala comum está à disposição de todos os Slytherins de maneira que não podes exigir exclusividade.
>Agora duvido que mesmo na minha camarata eu ou qualquer uma das outras raparigas a tenha.
>Ah, bom, quanto a isso realmente não há nada que eu possa fazer.
Ele tinha-se sentado num cadeirão em frente a ela. Estava com um robe preto muito parecido com o seu. Agora espreguiçava-se demoradamente ao comprido enquanto colocava os braços atrás da cabeça com os olhos fixos nas chamas verde topázio.
Quim imaginou-se novamente nos braços daquele rapaz e sentiu um calor no estômago. Definitivamente estava a ficar maluca. Desde quando se imaginava naquelas condições com Draco Malfoy? Olhou para ele.
Ainda parecia absorto em pensamentos. A luz aquosa das chamas conferia-lhe uma orla de mistério que mexeu com ela. Tinha de admitir que era atraente e misterioso. No que é que estaria a pensar ou em quem?
Draco sentia-se a ser meticulosamente observado pela sua companhia de altas horas e não se importava. Estava preso pelas chamas verdes. Não achava nada de interessante para dizer mas tampouco fazia tenções de abandonar a sua companhia.
Era melhor ficar assim, mudo, que dizer alguma barbaridade à princesa. “Já deve estar farta de mim” pensou depois de terem passado quase meia hora sem dirigirem a palavra um ao outro. Abraçada aos joelhos, com a cabeça apoiada nos braços ela também fitava as chamas que pareciam agitar-se mais nos seus olhos que no interior escuro da lareira.
Nessa altura, quando os seus olhares se cruzaram, ambos perceberam que existia muito mais que podiam explorar só os dois.
“Ler nos olhos de alguém aquilo que lhe vai na alma” dizia-lhe no passado a voz carinhosa da sua bisavó. Era isso que ela queria fazer, afastar as nuvens daqueles olhos cinzentos afiados como duas adagas procurando impiedosamente apoderarem-se dos seus.
Travavam uma batalha silenciosa um contra o outro. Quim endireitou o rosto para olhar de frente para Draco. Dentro dele crescia uma nova vontade: a de se perder dentro dos lagos brilhantes e quentes das pupilas dos olhos que o incendiavam por dentro.
“É única e a partir de hoje é minha para o que der e vier” mentalizou-se Draco “os nossos semblantes são perfeitos, o nosso sangue é puro, somos Slytherins e definitivamente somos perfeitos um para o outro”.
Sem tirar os olhos da rapariga ele levantou-se para se sentar na mesinha de apoio ao lado do cadeirão dela.
Ela observou a bela curvatura do seu pescoço enquanto ele deslizava para perto de si.
Com a mão esquerda apoiada sob o divã Draco passeava com a mão direita sob o rosto perfeito de Quimera, sob os lábios suaves, seguindo a linha do pescoço. A sua pele era linda, dourada, muito diferente da palidez a que estava habituado e isso tornava-a ainda mais atraente.
O perfume dela era quase imperceptível incitando os seus avanços como um vício que se adquire e depois se procura, como um ritual que se cultiva e se enraiza por dentro. Depois sentiu o corpo tremer com os arrepios na zona do pescoço e em cada milímetro que os dedos dela percorriam o seu sangue ficava a ferver.
E depois, aquele calor, aquela sensação maravilhosa voltou ampliada mil vezes pela colaboração da princesa dos seus desejos.
Quimy sentia a respiração profunda de Draco sob a sua pele adorava a presença que ele tinha e sentia-se novamente no ponto em que não conseguia pensar com lógica, os seus músculos não reagiam. Logo Draco encostou os lábios entreabertos nos seus e ela pode sentir todos os pormenores daquele beijo.
Tacteando no escuro cada um deles se empenhava em explorar o outro. Era quente e avassalador.
Ela ofereceu um carinho que Draco nunca imaginara possível receber de alguém que mal conhecia. Encheu-o de beijos enquanto se abraçavam. Era tão delicada consigo...até nos seus abraços. Draco apertava-a contra si como se a qualquer momento ela pudesse fugir.
Fazia-a prisioneira do seu abraço. Queria envolver aquele corpo elegante no seu, sentir debaixo da sua língua o gosto salgado do pescoço, passar as mãos naqueles cabelos sedosos e reclamar os seus lindos lábios cor de rosa até se perder no verde dos seus olhos.
Quim sentia algo muito semelhante. O perfume dele inebriava os seus sentidos era masculino e também o era o seu pescoço, os braços bem definidos e os ombros. Ela suspirou quando passou perto dos seus quadris bem mais bem feitos que os de Blaise...
No entanto mesmo a meio de um novo beijo ela teve um pressentimento e afastou-se abruptamente de Draco. Era como se estivesse parada de baixo de um chuveiro de água gelada porque o calor do seu corpo esvaía-se quase por completo.
Ela reparou na expressão confusa do rosto corado do rapaz e ele reparou que ela tinha empalidecido e olhava para ele interrogativamente.
>O que foi princesa? Fiz alguma coisa mal? Parece que viste um fantasma.
Quimy mal ouvira a pergunta. Olhava para o rosto dele.
Lembravam-lhe os traços cuidadosamente esculpidos em mármore branco de uma figura masculina que tinha estudado em Runas nessa mesma manhã.
“Não está certo, este rapaz não pode ser de confiança, anda a roubar livros estranhos de magia negra e o pai dele é um comensal...ele anda a tramar alguma...” sentia-se de repente perfeitamente lúcida e à luz da razão que lhe trouxe a análise crítica do comportamento de Draco concluiu que era mais seguro afastar-se dele.
Apesar da inegável atracção física entre os dois. Agora tinha de inventar uma desculpa plausível porque não queria arranjar uma inimizade com Draco. Queria descobrir o que ele andava a tramar.
>Draco...
Lutar contra impulsos tão fortes requeria a coragem de uma amazona pensou Quim enfrentando os olhos cinzentos daquele loiro platinado.
>Olha..não leves a mal mas ficar assim contigo fez-me perceber que eu não consigo estar com outra pessoa que não seja o meu namorado.
“Que grande mentira Quimera...o Blaise nunca te fez assim tão feliz só com um beijo e um abraço” mas era necessário dar uma boa desculpa ao companheiro Slytherin.
Draco deixou-se cair pesadamente num cadeirão.
Não podia acreditar naquilo.
Depois do que ele tinha sentido não era possível que Quim não tivesse gostado.
No entanto parecia mesmo convicta no que dizia. “Esquece Draco ela está noutra e tu também tens coisas mais importantes com que ocupar a cabeça agora” pensou tentando controlar a indisposição sentida.
Apetecia-lhe dizer impropérios, partir o tampo da mesa com o punho de tanta raiva. Mas acabou por reprimir tudo e responder como se nada fosse, como se os últimos minutos não tivessem significado para ele.
>Ei, vai com calma miúda...foi só um toquezinho inocente... nada de especial...como vês já está esquecido e agora é passado. Não vale a pena pensar mais nisso, «Carpediem»! E longe de mim querer separar-te do Zabini.
>Óptimo, então cada um na sua tá?
>Claro, mas olha, já agora posso dar-te um conselho de amigo?
>Força!
>Se estivesse no teu lugar, prestava mais atenção aos tempos livres do teu namoradinho.
>Ah, queres dizer ao Quidditch certo?
>Ele tem muitos hobbies..aliás como a maioria de nós.
Draco sorriu maldosamente e despedindo-se com um aceno desceu para os dormitórios. Deixou-a para trás num misto de fúria e curiosidade.
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