O início do ano

O início do ano



Um grande grupo de Slytherins do sexto ano saiu da sua sala comum no último piso de Hogwarts em direcção ao salão principal onde já devia estar a ser servido o pequeno almoço.

O salão principal vibrava depois da selecção dos alunos do primeiro ano pelas 4 casas da escola que teve lugar na noite anterior. Era o primeiro dia de aulas depois de umas demasiado curtas férias de verão.
Os alunos ainda irradiavam a satisfação da época de descanso mas logo se viram envolvidos na escolha dos horários para as disciplinas do primeiro semestre.

Estava afixado num placar verde das paredes de comunicados um aviso que alertava a que todos os Slytherins do sexto ano comparecessem às 8 horas da manhã no gabinete do Prof Snape para decidir a organização das cadeiras desse semestre. Cada aluno deveria efectuar as suas escolhas consoante a profissão que pretendia seguir. A chamada seria efectuada por ordem alfabética.

Pansy Parkinson parecia entusiasmadíssima e bombardeava as suas colegas com as infinitas possibilidades de escolha que tencionava explorar.

>E que tal uma carreira dedicada à exploração geográfica de antigos templos mágicos do séc. XII?? Uau deve ser preciso saber enormidades de História da Magia para se conseguir chegar lá!

Dizia Pansy a arfar de entusiasmo.

>Ha, Ha, Ha, mas nem penses que vou permitir que a minha namorada ande para aí a escarafunchar na terra à procura de bocados de pedra em ruínas.

Troçou Draco Malfoy enquanto afastava uma das amigas de Pansy para se sentar do seu lado direito e colocar o seu braço por cima do ombro dela. Pansy corou e com uma expressão de imensa felicidade contemplou o seu namorado antes de se virar para uma das suas amigas.

>Ai, já viste como tenho sorte de ter alguém sempre tão protector??

Em frente deles um rapaz bem parecido riu-se dela.

>Assim é que é Draco controlas a vida da tua mulher e ela ainda te adora mais que antes. Tens de me ensinar uns truques.

Disse ele piscando para uma rapariga verdadeiramente bonita sentada ao seu lado com um ar divertido. Draco riu-se.

>Isso querias tu Zabini mas eu não deduro as minhas manhas a qualquer um assim de graça.

Com isto virou-se para Pansy e a olhar para ela de cima passou com a mão pelo cabelo com os ares de manifesta superioridade e a arrogância do custume.

>O Crabbe e o Goyle já foram andando para o gabinete do Snape, não convém que eu me atrase por isso vamos andando Pansy. Já acabaste não é?

Draco relaceou o olhar pelo prato de Pansy que ainda parecia intocado.

>Claro querido, eu estou numa dieta séria para perder os quilinhos das férias.

Riu-se Pansy totalmente embevecida pelo namorado. Assim levantaram-se os dois da mesa deixando o Zabini e a rapariga bonita para trás.

O nome dela era Quimera Merrigott, chefe de departamento em Hogwarts para a casa dos Slytherins por quem Blaise Zabini andava embeiçado desde o último ano. Hoje ele tinha decidido que a bem ou a mal ia conseguir convencer aquela rapariga a ser a sua namorada.

Até agora ela ria-se das suas piadas e respondia aos seus galanteios com sorrisos. Mas pensando bem no assunto ela era simpática e agradável para quase todos. Não era particularmente difícil arrancar-lhe um sorriso porque andava sempre bem disposta. Chegava até a irritá-lo um pouco porque ele sentia alguns ciúmes da disposição da rapariga e da sua capacidade para escapar às suas tentativas de tornar a relação deles mais séria.

Todos sabiam que eles tinham um fraquinho um pelo outro e que andavam sempre em sintonia. Para além disso fazia-lhe imensa confusão que ela resistisse ao namoro quando os dois formavam um casal simplesmente encantador e muito bem parecido.

A ideia de Zabini era conseguir juntar-se a Quimera para observar os olhares invejosos dos colegas sobre eles, o casal perfeito. Ele sorriu perante a ideia e lançou um olhar cheio de segundas intenções a Quimera. Ela por sua vez arrancou-o dos seus devaneios novamente informando que era importante seguir os colegas para a escolha dos horários.

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Foram juntos até ao terceiro andar onde ficava o novo gabinete do Prof. Snape. Quimera estava curiosa porque o professor finalmente tinha conseguido o cargo para leccionar DCAT em Hogwarts.

A cadeira de poções era agora responsabilidade da mais nova aquisição de Hogwarts: o Prof. Slugworn que ela tinha tido o prazer de conhecer no comboio a caminho da escola com o Zabini.

Esse novo professor também convidou outros alunos para uma sessão de chá à porta fechada num dos compartimentos do comboio. É claro que não deixou escapar o heroizinho do Harry Potter e uma ruiva amiga dele. Acabou por ser uma grande seca para todos inclusivé esse rapaz. Quando o professor não estava a falar sobre a saga fascinante do menino escolhido enchia os ouvidos de todos com os elogios mais descabidos.

“Mas no geral até correu bem”, pensou Quimera para consigo própria”. “Afinal o Prof. Slugworn demonstrou uma grande admiração pelo trabalho desempenhado pelo meu pai em St. Mungus e pelo da minha mãe no Ministério da Magia. Também chegou a referir a loja do meu avô na Diagon-Al e disse que era um cliente fiel. Mal posso esperar pela sua aula também...penso surpreender com os meus conhecimentos avançados de poções”.

Entretida com os seus pensamentos Quimera reparou bem a tempo num aluno que a chamava pelo último nome. Depois reconheceu o sorriso torcista do Malfoy.

>Merrigoat, Merrigoat, Ah...ooops!! Afinal lê-se Merrigott.
Os colegas que ainda esperavam riram-se com gosto da piada.

Ela também se riu para desapontamento do provocador.

>Obrigada Malfoy pela excelente demonstração das tuas capacidades intelectuais mas da próxima vez por favor pede a alguém que leia o papel por ti.

Malfoy respondeu-lhe soltando um beijo com a mão e depois saiu na direcção de Pansy que puxava ansiosa pela folha de horários que ele trazia na mão.

>Bom dia professor Snape.
>Sente-se sem mais demoras Miss Merrigott.

Snape apontou para a cadeira vazia em frente à sua secretária. Estava perfeitamente organizada com as folhas de todas as disciplinas disponíveis em Hogwarts.

>Fazendo o ponto da situação Quimera a sua situação escolar é para lá de satisfatória. Gostaria de ver o seu exemplo ser seguido por mais alunos da casa Slytherin.

Quimera inchou de orgulho.

>Muito obrigada professor!
>Você deve aproveitar o seu potencial escolhendo as cadeiras em que foi mais bem sucedida nos exames avançados. Assim depreendo que escolherá as cadeiras em que conseguiu os “Impressionantes”.
>Permita-me dizer-lhe que já escolhi Transfiguração, Encantamentos, Poções, Defesa Contra as Artes Negras, Aritmancia e Runas.

O professor Snape ergueu a cabeça pela primeira vez durante aquele tempo para olhar na direcção da aluna e o seu rosto como sempre não deixava transparecer nenhuma reacção. Depois para seu espanto Quimera viu-lhe um sorriso satisfeito.

>Muito bem, assim poupamos tempo. Vou arranjar um bom horário para que se prepare convenientemente para os exames deste ano. Espero de si resultados não menos brilhantes dos dos anos anteriores.

Com isto Snape pegou na varinha e preencheu os quadradinhos do horário numa folha de pergaminho.

>Aqui tem. Pode sair e chame o próximo aluno pelo último nome que é Parkinson.
Ela aceitou o horário e com uma vénia simples de inclinar a cabeça fechou a porta do gabinete.

Ainda não conferira o seu horário quando Zabini o arrancou da sua mão.

>Pansy, querida é a tua vez.

Sorriu Quimera para a amiga e colega de dormitório. No fundo não a achava muito simpática mas sabia que a sua auto-estima andava sempre em baixo por causa da peste do namorado dela e como estava bem disposta deu-lhe aquele elogio. Pelos vistos tinha resultado porque uma Pansy cheia de nervos lhe dirigiu um sorriso de agradecimento antes de entrar no gabinete.

>Então Blaise como é o meu horário? Agrada-te?
>O Snape foi generoso Quimera...gostava que o meu fosse algo semelhante.
>Ora tu nem sequer vais escolher as mesmas cadeiras que eu não é?
>Só não tenho runas porque escolhi herbologia...argh.

Riram-se os dois da sua cara de enjoo cómica. Depois Zabini pôs-se logo muito sério e pediu-lhe que esperasse por ele ali enquanto escolhia o seu horário e ela assentiu apesar de ele ser um dos últimos.

Almoçaram todos juntos à mesa dos Slytherins, afinal o horário de Zabini até era bastante bom e à parte de Runas Antigas era idêntico ao dela e ao dos outros.

>Temos poções duplas hoje à tarde e depois temos encantamentos.

Informou Quimera já no fim da refeição. Crabbe lambia-se satisfeito depois de ter devorado um pudim quase inteiro e Draco olhava para ele com um ar entre o divertido e o repugnado enquanto fazia pontaria ao seu prato com os esguichos dos temperos.

>Ugh, acho que vou ficar doente...

Balbuciou Crabbe do nada. Todos se riram alto da cara confusa e de aflição que ele fazia.

>É isso mesmo grandalhão.

E Malfoy deu-lhe uma palmada forte nas costas à bruta. Só que para espanto e nojo da sua audência o Crabbe virou-se para trás e vomitou toda a refeição ali mesmo e quase para cima de um aluno Huflepuff do terceiro ano que saltou imediatamente para cima da mesa de refeição sujando-se todo com pudim amarelo depois de se sentar em cima do próprio prato.

Entre risadas e resoluções aceleradas resolveram levar o rapaz adoentado até à ala hospitalar, e Quimera como chefe de grupo explicou a situação com Draco e Goyle enfatizando o facto de Crabbe se ter empaturrado com mais comida que de custume se é que era possível porque ele (citando á letra o Malfoy) “já comia mais que uma mula”.

>Bem ele vai ficar aqui por mais umas horas. Informem o professor Slugworn disto. Agora todos para fora da minha enfermaria.

A madame Pomfrey levou-os aos três até à porta impaciente.

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Ainda não estavam atrasados para a aula de poções e se corressem podiam chegar a tempo às masmorras do andar inferior.
Quimera apressou o passo para as escadas mas com tanto material os três chegaram mesmo atrasados à aula.
O prof. Slugworn perdoou o atraso sobretudo depois de Quimera lhe explicar o que tinha sucedido com Crabbe.

>Oh, mas não há problema querida! Afinal ainda nem sequer começámos a matéria. Para além disso o Sr. Zabini já me tinha esclarecido que poderiam chegar tarde, está claro que recebeu uma educação priveligiada de sua mãe!

Zabini corou levemente enquanto esforçava um sorriso ao professor. Do seu lado guardou lugar para Quimera. Ela sorriu-lhe agradecida.

A aula decorreu segundo as suas espectativas. Slugworn era bom professor mas sobretudo elogiava imenso os alunos com antecedentes famosos na família. Quimera não o desapontou em termos de técnica nem de conhecimento teórico.

É claro que uma rapariga dos Gryffindor que tinha aulas de poções com eles este ano e decorava os livros de uma ponta à outra tinha sempre respostas na ponta da língua.

Malfoy gozava imenso da cara dela, do Potter e do rapaz ruivo – o trio maravilha – chamava-lhes ele e até era divertido ouvi-lo apesar de às vezes ele ir um bocadinho longe demais até para o seu próprio bem.

Hermione Granger tinha acabado de receber um extenso elogio do professor a respeito de uma resposta que dera a uma pergunta particularmente complicada sobre tempos de agitação e borbulhação de poções soporíferas.

“Mas tudo bem” pensou Quimera “um bocadinho de competição também é saudável e depois ela não tem o meu background familiar”. E com isto em mente ajeitou-se melhor na cadeira rodou delicadamente a pena entre as mãos e começou a tirar apontamentos com um sorriso de quem tinha aceite um desafio.

Nesse dia ainda ajudou o Zabini que parecia um pouco enferrujado em poções prometendo que lhe dava uma aula de explicações quando fizessem os trabalhos de casa.

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A sala comum dos Slytherin tinha sete lareiras escavadas nas paredes altas de um salão em pedra escura. Dentro de cada uma delas subiam labaredas de um verde incandescente aparentemente vindas do nada mas que aqueciam o ambiente entre os cadeirões e cadeiras de pele estirada verde escuros.

Alguns tapetes persa desbotados cobriam o chão de pedra, outros desciam do alto do tecto cobrindo as paredes de pedra nua. Cada grupo tinha direito a uma mesa de madeira rectangular para trabalhar com excelentes candeeiros de pé alto pratedos que convidavam à leitura.

Era confortável e já lhe era familiar observou Quimera.

Estava mais relaxada e satisfeita consigo própria depois de um dia de trabalho intenso. Já tinha revisto os deveres de poções com o Zabini, conversado com os restantes sobre banalidades e mal podia esperar por descer as escadas para os dormitórios femininos.

Observou nostálgica a camarata com quatro camas de dossel em madeira escura, cobertas por mantas de veludo com grandes “S” debruados a pratedo no centro sobre os anéis de uma serpente. Sentia-se orgulhosa por pertencer aos slytherin honrando assim a tradição da sua família.

Ao contrário do que tinha previsto nessa noite dormiu mal. Já se tinha desabituado da companhia das outras no dormitório e como tinha um sono leve não havia maneira de adormecer.

Acendeu a luz da cabeceira para ver se o sono vinha se se pusesse a ler um livro muito chato que o Tio Pandoro lhe tinha oferecido sobre runas mas Pansy acabou por acordar mal humorada no leito do lado e lhe ordenar que fechasse as luzes com a varinha em riste ainda meio a dormir.

A noite passou-se depressa e mal deu por isso já era de manhã. Quim levantou-se primeiro que as outras, lavou-se e vestiu-se mas precisava de um tempo extra para cuidar dos cabelos e da face. Nesse aspecto admitia que era bastante vaidosa mas tudo porque gostava de andar sempre bonita na hipótese do seu príncipe encantado reparar finalmente nela (não fazia ideia de quem seria mas um dia podia aparecer).

Quanto a Blaise Zabini...era óbvio que queria mais qualquer coisa com ela e ele andava sempre impecável. Ela riu-se cúmplice de si própria enquanto punha ainda mais empenho em deixar os cabelos castanhos claros caindo soltos pelos ombros perfeitamemte lisos e sedosos e os lábios cor de rosa para acentuar o verde azeitona dos olhos.

De resto não tinha de se preocupar com a roupa que consistia basicamente no uniforme dos Slytherins com uma capa quentinha e novinha a estrear.

>Uau Quimy! Essa produção toda é só para o teu Zabinizinho?

Pansy olhava agora para ela pelo espelho. Ela sorriu-lhe de bom humor e disse que era para deleite geral provocando as gargalhadas das outras raparigas.

Depois Pansy colocou-se em frente ao espelho a cobrir as borbulhas que tinham nascido durante a noite com um pó mágico da cor da sua pele. O pó, observou Quimera com criticismo não lhe servia de muito porque ela tinha uns traços rudes e feições pouco agradáveis.

Também fazia um par estranho com Draco Malfoy que até era bastante agradável fisicamente apesar de ser detestável por dentro.

Já ela própria e Blaise....arrasavam! Ao pé um do outro a sorrir era de deixar os restantes a babarem e a lançarem olhares invejosos perante o quadro. “E isto não se passava só entre os Slytherins” pensou ela, “porque também davam muito nas vistas quando andavam juntos pela escola e atraíam os olhares dos transeuntes”.

Quimera riu-se para si “bolas, se conseguirmos ser um casal é apenas porque somos os mais narcisistas da escola e a atracção que sentirmos um pelo outro vai ser partilhada por muitos outros, tipo romance de ficção meloso”.

>Bom dia Quimera...
>Olá Blaise bom dia para ti também.
>Ah e bom dia meninas!

Pansy e as outras duas raparigas que vinham com Quim para a sala comum deram umas risadinhas da distracção momentânea do Zabini.

>Tudo bem Zabini deu para perceber que quem tu fixaste primeiro é bem mais importante. Eu e as meninas vamos até outra mesa para os pombinhos terem espaço...
>Ora Pansy isso era o que mais faltava! Ficas aqui conosco à espera do teu namoradinho para podermos sair aos casalinhos que é muito mais interassante.
>Oh, eu é que não vou ficar a segurar vela meninos.
>Que é isso Parkinson? Senta-te aqui ao meu lado, que ao pé de mim nenhuma dama fica desacompanhada.

Quimera gostou muito que o Zabini tivesse interferido a seu favor por isso colaborou no seu plano permitindo que ele lhe pusesse o braço por cima. Quando Pansy se sentou ele fez-lhe o mesmo.

>Hoje sou sem dúvida o rapaz mais bem acompanhado desta sala.
>Sim, e o mais sortudo também.

Zabini e Quimera riram-se da sua piada. Ele virou a cabeça na sua direcção e susurrou-lhe perto do ouvido “Sem dúvida que sou o mais sortudo” e ela por sua vez lançou-lhe o sorriso mais cativante que tinha quando encontrou os olhos cor de avelã do rapaz, as suas feições nunca lhe pareceram tão nítidas e definidas.

>Ah, ali vem o meu Draco!
>Então sois livre de partir donzela.
>Sempre um cavalheiro Blaise...

Ele tinha pegado na mão de Quim e agora segurava-a com alguma tensão passeando o polegar nas costas da mão com o olhar fixo nesse ponto, ainda demorou uns segudos para lhe responder num murmúrio de tom confidente.

>Sim Quim... mas sabes que posso ser cavalheiro para as raparigas mas só tenho uma eleita do meu coração que consome as minhas forças e invade o meu pensamento.

Ela não disse nada ficou subitamente nervosa como se estivesse na véspera de um exame mesmo importante mas não se tivesse preparado o suficiente para o fazer.

“Coragem Quimera” pensou ela, tinha de ser forte, tinha de se aguentar afinal não era nada de mais e ela até queria isto, queria muito ouvir o que vinha a seguir apesar da falta de ar, apesar do calor que sentiu de repente como se tivessem acendido uma enorme lareira por debaixo dos seus pés e para além disso sentisse os olhares de todos por cima deles.

“São só impressões negativas” pensou e por mais desconcertantes que fossem não as ia deixar levar a melhor. Olhou para Blaise com um sorriso esperançoso nos olhos como se dissesse silenciosamente ”continua, continua”.

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Do outro lado da sala um Draco Malfoy sem disposição ouvia as queixinhas e as lamúrias da namorada.

>E...e então fiquei ali a fazer de vela e agora olha só para eles a fazerem-se um ao outro estás a vê-los querido, até mete raiva, a dizerem que eu não ia segurar vela oh pois não foi só eu virar costas para começarem a se atirar um ao outro mas que bela prenda me saiu aquela..Ah estão a beijar-se Draco olha só já viste! OLHA SÓ!
>Chega! Já me deste uma dor de cabeça com essa história quero tomar o pequeno almoço vamos embora esquece-os caramba!

Draco estava a rebentar pelas costuras com aquela conversa repetitiva. Já não tinha dormido nada de jeito nessa noite e agora aquela chata bombardeava-o com uma história de dondocas idiota.

Ele queria lá saber do imbecil do Zabini e da miúda que ele andava a galar. Estava tão precisado de um café e de um bom pequeno almoço que nem sequer parou para gozar com a beijoqueirice dos dois.

Pegou no pulso da Pansy e literalmente levou-a arrastada para fora da sala comum através do alçapão. Mesmo lá fora aquela tonta ainda tinha a cabeça voltada na mesma direcção. “Ai a pouca paciência que eu tenho está a esgotar-se” pensou mal disposto.

>Vá Pansy mexe-te quero chegar antes do Crabbe e do Goyle acabarem com as torradas.
>Desculpa Draquinho, mas aquilo foi demais agora a Quimera Merrigott namora oficialmente com o Blaise Zabini!!
>Não sei porque é que dás tanta importância a esses fulanos. Dá-te gozo cochichar sobre a vida dos outros como uma dondoca qualquer não é?
>Mas tu também fazes isso com os teus amigos Draco e eu não vejo mal nenhum.
>E tu como sempre dizes qualquer coisa pela boca fora.

Ele teve consciência do impacto das suas palavras em Pansy.

Ela era estremamente sensível e não disse uma palavra durante toda a refeição. “Não tarda nada isto já lhe passa, é o custume”. E ele tinha razão na primeira aula que era DCAT com o Snape ela estava toda simpatias com ele, afiava-lhe a pena e ria-se das suas gracinhas.

Mas a vida dele já não era descontraída. Desde que o seu pai estava preso em Azkaban pela primeira vez ele passou a ser o único “homem da casa”. Só desejava que isto tivesse acontecido em outras circunstâncias e não por causa da ligação do pai com Aquele cujo nome não deve ser pronunciado. Um arrepio frio desceu devagar pela sua espinha.

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O professor Snape apontava com a varinha para uma figura em movimento. A cada toque seu no quadro, as imagens iam e vinham e às vezes apareciam figuras de pessoas a sofrer o efeito das mais terríveis maldições que provocavam a morte. Draco passou com a mão pelo cabelo e reparou que estava a suar estranhamente não sentia calor nem frio só desconforto.

Acabava de se lembrar daquele dia e de como estranhou a palidez da sua mãe quando ela chegou à mansão, os olhos muito vermelhos e inchados. Ele perguntou-lhe se estivera a chorar e ela agarrou-se ao seu pescoço a soluçar durante um tempo que lhe parecera uma eternidade.

Depois contou o que tinha acontecido, o que Ele tinha ordenado e como isto deveria ser concretizado. Depois contou-lhe sobre a promessa que lhe tinha feito Snape... e Draco pensou imediatamente que a sua mãe não achava que ele fosse capaz de fazer aquilo tudo sozinho.

Na verdade ele próprio não sabia ainda se era capaz mas queria poder mostrar a todos de uma vez por todas as suas capacidades. Ele era capaz de ser cruel sozinho e até mesmo de assasinar se fosse preciso. As suas mãos gelaram em cima da mesa e tinha os lábios colados como se fossem de pedra.

Tinha um plano engendrado. Isso era o que de mais absorvente havia neste momento e já não se importava com coisas menores como as aulas ou o idiota do Potter. Esse era um dos que mal podiam esperar pelo dia da vingança. Porque quando esse dia chegasse as notas deixariam de interessar assim como a vida. Passaria a andar sempre na corda bamba.

>Vamos Draco? Já arrumei os nossos livros!
>Sim...vamos.

A Pansy ajudou-o a vestir o manto preto. Eram estas coisas que ele gostava nela. Que ela atendesse às suas necessidades e pensasse que ele era o maior. Fazia-lhe um bem enorme ao ego.

>Temos um tempinho livre antes do almoço. Podíamos fazer o relatório de encantamentos os dois e depois íamos o que é que te parece?
>Ah querida agora não posso quero ir ao campo de quidditch com os outros. Faz o trabalho que mais tarde eu compenso-te.

Ele quis parecer adorável e dar uma boa desculpa à Pansy por isso foi muito delicado com ela e até lhe deu um beijinho fugido nos lábios. Tinha conseguido porque a rapariga foi imediatamente para a biblioteca procurar material de pesquiza para fazer os dois trabalhos: o dela e o dele, é claro.

Draco ia apresentar a sua demissão ao capitão da equipa de Quidditch dos Slytherins. Este aceitou bem apesar de lamentar a perda de um jogador com a sua categoria. “Pois sim” pensou ele com uma cara cínica “até parece que eu não sei que todos me achavam um jogador miserável”.

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Quim nunca pensou gostar tanto de estar com ele. Ela procurava a protecção do seu abraço como um escudo contra todas as pessoas que a deitavam abaixo. Ele estava ali para a adorar e ouvir e vice versa.

Depois daquele beijo único em que os dois se empenharam para que fosse apaixonante, com um resultado muito positivo, Blaise Zabini pedira-lhe que fosse oficialmente a sua namorada e ela aceitou emanando ondas de felicidade contagiantes desde então.

De mãos dadas ou abraçados, não era dificil dar de caras com o casal. Como Quimera desejara agora eles estavam no topo da popularidade. No fundo culpava-se por ser tudo tão fútil mas o que importava é que de momento estava feliz, muito feliz com aquele rapaz e que ele também parecia feliz com ela.

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Reuniram-se todos para almoçar no salão principal. Zabini e Quimera sentaram-se em frente a Pansy e Malfoy. Este olhava de soslaio para eles mas o casalinho nem sequer reparava.

Zabini apontava para os pratos disponíveis e a rapariga sorria-lhe embevecida sem tocar na comida tão absorta que estava na sua conversa de engatatão. De vez em quando passava a mão pelos cabelos para afastá-los da cara e eles caiam para a frente novamente com uma elegância encantadora.

“O Zabini é mesmo idiota quando quer” pensou Draco enquanto via o rapaz usar as duas mãos para despentear o cabelo dela. Mas ela não pareceu chateada, muito pelo contrário, riu-se e tentava agora chegar aos cabelos de Zabini para se vingar fazendo-lhe cócegas.

Aquela alegria toda era doentia. Draco sentia o estômago pesado demais para continuar ali a assistir àquelas figuras. Ao seu lado Pansy também olhava para eles captando cada movimento com uma atenção de espectadora viciada.

Quimera captou o ambiente estranho na mesa e corou ao enfrentar o olhar pesado de Draco Malfoy do outro lado. Olhou directamente para ele durante uns segundos como que à espera de confirmação para olhar noutra direcção.

Aqueles segundos pareceram uma eternidade porque aqueles olhos gélidos e rancorosos sugaram-lhe a felicidade arrancando-a do seu mundo perfeito de volta à realidade. Assim duro e cruel. Ela desviou o olhar para a mesa. O almoço estava ali quase intacto e não lhe tocou mais porque já tinha perdido o apetite.

Draco sentiu-se melhor depois de olhar directamente nos olhos daquela sonhadora e observar que tinha feito estrago - “Na mouche! É bem feito por se estarem a cagar para os outros e por parecerem sempre no paraíso”.

>Então querida que é que se passa? Ficaste triste de repente.

Zabini segurava o queixo dela na sua mão parecia preocupado. Quim olhou novamente para Draco que agora exibia um sorriso de satisfação. “Aquele grande cínico e invejoso, fez-me sentir mal de propósito” pensou ela e mal se deu conta já tinha virado a cara a Malfoy para oferecer ao seu Blaise um daqueles beijos de filme.

Pansy abriu a boca e descontroladamente soltou risinhos. Draco levantou-se da mesa carrancudo partindo na direcção da sala comum com a cabeça cheia de sede de vingança contra o mundo.

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Nessa noite teve um sonho estranhamente infantil. Ele era o príncipe num cavalo branco obcecado com a missão que lhe tinha sido confiada que era libertar uma princesa das garras de um dragão.

Estripou facilmente o dragão com um dos feitiços mortais que tinha ouvido na aula de Snape e à sua frente no meio de um nevoeiro súbito apareceu a rapariga do almoço. Ele observou-a a puxar o cabelo com a mão para que este lhe voltasse a cair elegantemente sobre a face. Ela caminhava na sua direcção sorrindo, cativante e com as mãos pedia que ele se aproximasse, os seus olhos eram doces de um verde como ele nunca vira igual e mudos ofereciam-lhe o mundo inteiro. Draco tentava com todas as forças alcançá-la mas por mais que corresse e estendesse os braços na sua direcção mais longe ela ia ficando.

E foi no meio de muita aflição e suor que ele acordou sentindo-se verdadeiramente estúpido pelo seu coração estar tão acelerado por causa de um sonho idiota e logo ele que nunca sonhava.

“A realidade Draco isso sim é que merece a tua atenção” disse para si enquanto passava a mão pela parte inferior do braço esquerdo como que para se certificar que a marca ainda lá estava.

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As aulas decorreram com normalidade durante o resto da semana. Os professores estavam bastante mais exigentes nos trabalhos e no desempenho dos alunos durante as aulas também.

“Relaxei-me bastante esta semana” culpou-se Quimera franzindo as sobrancelhas em frente ao monte de livros que tinha acumulado até agora com matéria para resumir e estudar. “Este fim de semana vou despachar tudo isto...mesmo que não dê para passar muito tempo com o Blaise”.

>Mas Quimy, hoje é sexta à noite e ninguém faz trabalhos hoje com o fim de semana à porta!! Não te condenes ao celibato...logo tu cara bonita...

Ela riu-se do poder de persuasão do Zabini. Dizia sempre que era um zero com as palavras. Mal sabia ele que o jeito simples e meigo com que ele lhe falava juntamente com aqueles olhos charmosos convertia qualquer pedido em algo simplesmente irresistível que depois ela não se atreveria a negar-lhe.

Quando queria o Zabini sabia ser um amor o engraçado é que antes de o conhecer Quimera até o achava um bocado mal disposto e convencido.

Talvez ele ainda fosse bastante desagradável com os outros colegas, sobretudo rapazes. Mas o coração dela fazia-se cego naquele momento para todos os defeitos do seu namorado.

>Está bem Blaise mas tens de prometer que vai valer muito a pena.
>Isso está mais que garantido.
>Então conta comigo. Aonde é que vamos afinal?
>Vamos passear, só nós os dois, o itinerário é surpresa.
>Diz-me só se é fora ou dentro do castelo.
>Se calhar até ambos...quem sabe vamos à aventura!

Depois do jantar Quim partiu para o dormitório feminino para se arranjar. Queria estar bonita nessa noite para não desapontar Blaise. Já ia a meio da escada para o quarto quando ouviu a voz da Pansy lá em baixo. Parecia aflita e conversava em surdina com outra pessoa que parecia um rapaz porque tinha a voz mais grossa, no entanto Quim não o conseguia identificar.

>Mas o que é que queres que eu faça...diz.
Pelo tom Pansy parecia à beira das lágrimas.
>Vens comigo hoje até à biblioteca quando ela estiver fechada. Tem de ser logo depois daquela mulher fechar a porta porque a vigilância é menos apertada nessa altura do que no resto da noite.
>Sim...mas o que vamos fazer lá dentro?
>Tu ficas escondida a vigiar a porta de entrada para não corrermos riscos desnecessários. Eu vou buscar um livro que preciso na secção dos livros proibidos.
>É um pouco arriscado mas tudo bem é claro que eu vou querido.

“Ah!” exclamou Quim para si, “então é o namorado dela que está ali em baixo e segundo eu percebi, hoje vai tirar um livro da prateleira dos livros interdita aos alunos”.

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Aqueles livros abordavam assuntos aos quais os alunos raramente tinham acesso. Muitas vezes tratava-se até de técnicas de magia negra ou rituais antigos perigosos que podiam colocar em risco a vida de uma pessoa. Quimera perguntava-se agora se Malfoy tinha noção dos risco que corria ao pegar num desses livros de maldições e ler o que lá estava.

Até a própria pessoa podia sofrer um encantamento apenas por ler uma frase que não devia. Mas também se tinha sabido à pouco tempo que o pai do Malfoy era um devorador da morte e por isso aquela atitude do rapaz parecia extremamente suspeita.

>Despacha-te que eu estou à tua espera lá em cima. A biblioteca fecha daqui a trinta minutos mas convém chegar lá cedo.

Depois Quim ouviu passos na sua direcção. Instintivamente subiu o mais depressa que pôde novamente na direcção da sala comum. O Blaise estava lá com mais uns rapazes à volta de uma mesa de costas para ela.

Era a sua chance de sair sem ser vista por ele. Ela ainda esperou para ver quem saía dos dormitórios atrás de si.

Um rapaz alto loiro platinado procurava confundir-se na multidão sem ser visto. “Apanhei-te” Quimera sorriu por dentro “Agora vamos ver o que é que tu andas a planear”. Com isto avançou para o corredor das masmorras, subiu quatro andares até à biblioteca em passo de corrida, desviando-se por pouco de um balde de restos do jantar que o fantasma Peeves lhe tentou atirar para cima.

Quando chegou à biblioteca esta estava quase vazia. A bibliotecária andava distraidamente a arrumar livros entre as estantes compridas. Numa mesa do fundo escondida da vista um casal de Huflepuffs fingia estudar escondido atrás de um grande livro (cuja capa estava virada ao contrário).

Quimera tremeu de excitação ao avaliar as possibilidades. Ninguém a vira entrar e ela podia esgueirar-se por cima da corrente que proibia a passagem para o corredor dos livros proibidos. Com um olho no casal e outro na bibliotecária ela passou no salão o mais rápido que pôde e entrou naquele corredor “Ufa, ainda bem que ao menos é escondido da vista” pensou quando observava as lombadas excêntricas dos livros.

Nunca tinha estado naquele corredor, com todas as forças tentou conjugar um feitiço memorizador sem articular as palavras (Windillum Windargo...Windillum Windargo..Windillum Windargo) um pouco mais de concentração e o feitiço que lhe fora ensinado pela sua mãe tinha provocado um esboço no papel das três primeiras prateleiras do lado direito do corredor.

Levou mais cinco minutos a imprimir o resto com o mesmo feitiço no pedaço de pergaminho. “Lindo, já está, agora preciso de sair sem ser vista” mas quando olhou para o seu relógio já só faltavam oito minutos para a biblioteca fechar.

A bibliotecária tinha arrumado todos os livros por isso Quim tinha de pensar em fazer alguma coisa para distraí-la. “Accio livro de transfiguração” murmurou baixinho mas com firmeza. Logo viu um grande livro castanho voar por cima das estantes na sua direcção.

“Translocate” murmurou para o livro e este em vez de cair nas suas mãos foi pelo ar pousar com um baque suave em cima de uma mesa ao longe da sala.

Como previra a bibliotecária não tardou a dar com o livro esquecido e maldizendo a devassidão dos alunos de Hogwarts levou o livro consigo para o arrumar na sua prateleira que para felicidade da aluna que se esgueirava agora do corredor ficava bem no topo de uma estante no fundo do recinto.

Quim saiu sem ser vista pela bibliotecária mas mal teve tempo de se afastar da porta quando deu de caras com um Draco Malfoy mais pálido que de costume.

>Oi Draco.

Ele fulminou-a com os olhos antes de responder.

>Olá.

>Se estás à espera de alguém aqui fora deixa-me dizer que depois de eu sair não havia mais ninguém lá dentro.

Quim replicou com o sorriso mais sincero que conseguiu.

>Podia jurar que ainda à bocado te tinha visto com o Zabini na sala comum.
>Sim mas a minha intenção era verificar se já não tinham requisitado os livros que eu preciso para este fim de semana. Tu sabes estamos cheios de trabalho.
>Ah pois...

Ele não parecia muito convencido. Olhou para o chão e baixou-se para apanhar uma folha de pergaminho dobrada em quatro. Quimera reconheceu a sua folha quase de imediato.

>Isto é teu??
>Sim é a lista dos livros que vou requisitar. Devolve-ma se faz favor.

Ele riu-se e ergueu o pedaço de pergaminho acima da cabeça começando a desembrulhar.

>Hum deixa ver com o que é que te vais ocupar no fim de semana, pode ser que algum destes livros me interesse e nesse caso tenho de requisitá-lo primeiro que tu.

Sem que ele esperasse ela tirou rapidamente a varinha do bolso “ACCIO PERGAMINHO”. Quase aberto o pergaminho libertou-se violentamente das mãos do rapaz e voou para o bolso interior do manto de Quimera.

>Quem disse que podias ver?

Era a vez dela olhar para ele furiosamente. Draco achou piada à cara zangada da rapariga por causa de uma estúpida lista de livros.

>Ai, ui parece que feri os sentimentos da princesa.

Riu-se com gosto da cara dela. Quimera virou-lhe as costas e caminhou o mais depressa que conseguia para fora dali pensando em como tivera sorte nos últimos minutos.

“A sorte sorri aos audazes” disse para si mesma enquanto descia os quatro lances de escadas para as masmorras. “Onde será que se tinha metido a Pansy?” perguntou-se e quase esbarrou na mesma que vinha esbaforida a subir a escada.

>Desculpa Quim, casa de banho!

Disse sem sequer voltar as costas.

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Na sala comum o Zabini ainda conversava com os mesmos rapazes. Parecia distraído pois não dera pela entrada dela.

Quim dirigiu-se ao seu dormitório para se arranjar.

Na sua opinião estava um traste. Tomou um duche ultra-rápido, enfiou o primeiro conjunto que viu na mala e colocou o manto. Deu um jeito no cabelo com a varinha e estava pronta para andar.

>Vamos Blaise?
>Estás linda!
>Obrigada.

Saíram de mãos dadas pelo corredor.

>Então já me queres dizer para onde vamos?
>Hum...é surpresa.

Passaram pela porta da biblioteca, Quim olhou mas não viu nada de especial, estava como sempre. “Se calhar já tiraram o livro” pensou. Blaise parecia muito divertido puxava pela sua mão e ela deixava-se ir atrás dele. Depois saíram por uma porta desconhecida.

>Onde é que vai dar esta escada Blaise?
>Xiu.

Era uma escada de pedra em caracol que descia e ao fundo dela havia outra porta de madeira robusta. Zabini parou para retirar qualquer coisa do bolso. Era uma grande chave com aspecto antigo que ele encaixou na fechadura e rodou.

Quim estava à espera de ouvir um ruído de metal a estalar contra madeira mas aquela porta tão pesada deslizou silenciosamente e nem a chave na fechadura sequer deu um clique.

Soprou uma aragem fria e ela viu-se fora do castelo à noite pela mão de Blaise que ia apressado na direcção do campo de Quidittch.

>Aqui

Disse ele a apontar para um edifício de pedra escura com uma única porta na frente.

>São os balneários do campo.

Ele conseguiu abrir aquela porta com a mesma chave que tinha usado para a outra. O mistério aumentava na cabeça de Quimera – “O que é que será que este rapaz tem em mente?”.

>Hoje vamos dar uma volta de vassoura pelo recinto do campo.
>Ah! Que maravilha.

Quimera sempre desejara experimentar a sensação que daria voar naquele campo.

>Não dá para te ensinar a jogar Quidittch mas vai ser divertido na mesma.
>Não devemos fazer muito barulho Blaise, lembra-te, o Filch não vem aqui mas aquele guarda dos campos pode ouvir.
>Bah, esse deve estar no quinto sono depois do que eu o vi embargar durante o jantar. Temos é de ter cuidado com aquela torre.
Blaise apontou para a torre do castelo mais próxima do campo.

>É a sede dos Gryffindor e se algum «gryffindiota» decide olhar pela janela e nos vê podes crer que estamos em sarilhos.
>OK.

Já dentro dos balneários, Zabini dirigiu-se ao armário das vassouras e tirou duas.

>Nimbus dois mil e um! São lindas.
>Sim e tu podes ficar com a minha. Eu uso a do Malfoy, duvido que ele a use mais durante este ano.

Disse Blaise com um sorriso de satisfação. A seguir pegou na camisa de um uniforme verde e prateado e passou-a por cima da cabeça da namorada.

>Usa-o agora...tenho a certeza que me vai dar sorte.

Ela abraçou-o e mal deram por isso já se beijavam demoradamente e aquela noite de outono já não lhes parecia assim tão gelada.

A noite não podia estar mais perfeita para se voar. As estrelas brilhavam altivas sob a orla lunar e não havia nem uma nuvem à vista. Este cenário proporcionou que os dois se divertissem muito em cima das vassouras.

Quimera nem se recordava de alguma vez se ter sentido tão bem como se sentia a voar. A sensação de liberdade que era flutuar no ar com a vassoura ultrapassava tudo. Fez rodopios e corridas com Blaise.

Rodopiou pelas bancadas do campo e até foi mais alto que ele, tão acima no ar que o campo parecia um quadrado insignificante, o lago lá em baixo uma pocita espelhada e o castelo de brincar. A floresta estendia-se a perder de vista e Hogsmead estava aninhada no meio do vale por baixo do castelo.

Não podiam falar ou rir muito alto de resto estava tudo bem.
Só saíram do campo quando as primeiras estrelas da madrugada começaram a surgir no horizonte púrpura. Tinham passado a noite em branco mas valera a pena.

Depois de fechar o balneário, Quim abraçou o namorado e disse-lhe o quanto tinha sido maravilhoso.

>Então valeu a pena trocar uma irresistível sessão de estudos dedicada a poções, por mim??
>Sim acho que ganhei muito em vir contigo...continua assim amor.

Ela sentira-se estranha ao pronunciar aquela última palavra não fosse Blaise a agarrar no colo com um sorrisso feliz e levar pelo caminho até à porta na torre o que apagou de imediato a estranheza do momento.

O castelo estava completamente vazio. Nem Filch nem sequer os fantasmas andavam por ali.

Eles iam passando rapidamente pelos retratos dos quadros cujas figuras jaziam profundamente adormecidas. Até a figura do homem barbudo que escondia a passagem para a sala comum dos Slytherin deslizou para os deixar passar depois de ouvir a senha sem sequer abrir os olhos.

>Este é outro que bebeu demais esta noite.

Riu-se Blaise referindo-se ao homem barbudo do quadro com as caixas de Brandy.

Despediram-se e foi cada um para o seu lugar. As ouras raparigas dormiam e nem deram por Quim que trocou rapidamente a roupa de sair por outra e foi dormir.

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Despertou quatro horas depois com uma Pansy Parkison aos pulos nos pés da sua cama. Já eram sete da manhã.

>Com que então a menina só apareceu às tantas da manhã!! Onde é que você andou Dona Merrigott, ai se os seus pais descobrem...a vergonha que vai serrrr...
>Pára com isso Parkison, ainda dás cabo do colchão ou coisa parecida.
>Hum, hum ela está de mau humor hoje meninas se calhar a noite não foi das melhores.

Quimera levantou-se mal disposta com as provocações das outras sobretudo de Pansy. “Ela e aquele irritante do Malfoy merecem-se um ao outro. Eles e outros do mesmo tipo é que dão má reputação à casa dos Slytherins” pensou ela enquanto se arranjava para sair.

A noite passada tinha sido fantástica mas aquelas mentes perversas começaram como é óbvio a levar tudo por maus caminhos. Só agora é que ela se apercebia da gravidade da situação para a sua reputação porque tão pouco podia desmentir os outros com a verdade. “E se eles fossem contar a Filch? Ou pior , ao professor Snape”.

Mesmo assim Quimera arranjou-se o melhor que pode. Até roubou um bocadinho do pó da Pansy para disfarçar as olheiras que tinham aparecido por baixo dos olhos. Quando acabou estava com um aspecto fresquíssimo de quem dormira para lá de bem. “Definitivamente vou comprar um destes pós para mim” pensou analisando a face no espelho.

>Oi. O Zabini ainda não saiu rapazes?

Perguntou ela na sala comum dirigindo-se a Crabbe, Goyle e Draco.

>O teu namoradinho está K.O. Consta que teve uma noite agitada.

Crabbe e Goyle desataram às gargalhadas. Draco sorriu-lhe maldosamente sentado ao comprido num cadeirão como se fosse num trono.

>Tu pareces em baixo Merrigoat. Será que também andaste a matar horas?

Ela olhou para ele furiosamente. Não ia deixar aquele convencido rebaixá-la e ainda sair por cima. Olhou para ele novamente antes de se ir embora.

Queria analisar o que podia dizer para o ofender verdadeiramente no ego. Mas não conseguiu arranjar defeitos no fulaninho. O cabelo loiro platinado caia perfeitamente alinhado na cara elegante ao lado de uns olhos azul acinzentados que agora a inquiriam.

>Que foi, perdeste alguma coisa por aqui?
>Eu não mas tu de tão pálido deves ter perdido o sangue das veias.
>Uh, sabes, é bem possível porque nas minhas veias corre veneno. Foge princesa antes que eu me zangue, tssss.

Agora os outros quase se rebolavam no chão de tanto rir enquanto Draco imitava os sons de uma cobra e Quimera sentia-se mesmo estúpida “mais valia ter ficado calada”.

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Draco ria-se interiormente por ter conseguido rebaixar a rapariga. Ele irritava-se quando olhava para aquela miúda Merrigott porque a vida dela parecia um mar de rosas. Tinha notas altas sem esforço, agora vivia aos sorrisinhos e abraços com o outro idiota do Zabini e era o xódó dos olhos do mentecapto do Slugworn.

“A família dela isto e aquilo argh!” pensou Malfoy ao rever mentalmente a última aula de poções “há gente que nasce com sorte; é que nem sequer posso dizer que seja uma miúda feia; já a minha Pansy pode ser um doce de rapariga mas não tem nada a ver; bah...quero lá saber...tenho coisas mais importantes para fazer que gastar neurónios com isso”.

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O pequeno almoço estava delicioso mais ainda que de custume. Quim tinha imenso apetite e Zabini também. O cabelo dele estava completamente rebelde porque provavelmente ainda não se tinha penteado “rapazes!” riu-se ela consigo mesma.

Um grande mocho castanho escuro pousou entre os dois trazia consigo um embrulho castanho e rectângular do tamanho de um livro. Quimera afagou o bico do mocho da sua família e desatou o pacote. O animal virou os olhos cor de âmbar na sua direcção e com um urro suave em sinal de reconhecimento partiu dali agitando as asas possantes.

>Porreiro o animal Merrigott.
>Obrigada.
>É o mocho da tua casa?
>Sim.
>Qual é o nome dele?
>Headlong.

Não, não estava a sonhar. O rapazola Malfoy tinha mesmo acabado de lhe dar um elogio sincero. Depois daquilo sentiu que lhe podia perdoar as crianciçes que lhe tinha aturado de manhã.


>Então, notícias dos teus pais?
>Não é só um livro de poções que eu me esqueci de trazer comigo e me faz falta agora.

Ela não abriu o embrulho ali. Conhecendo bem a sua mãe, dentro do livro devia estar uma carta cheia de recomendações para si. Um guincho estridente arrancou-a aos seus pensamentos.

Na mesa do lado um grupo de Hufflepuffs falava histéricamente entre si a respeito da primeira página do jornal «O Profeta Diário».
Quimera e os outros estavam curiosos. Ela olhou com atenção para os lados e para a mesa dos professores.

Não havia sinal do chefe de departamento dos Hufflepuffs e os professores conversavam distraídamente entre si. Ela levantou-se e com um ar importante confiscou o jornal do grupinho guinchador do quarto ano que se viu obrigado cumprir as suas ordens.

>Bom deixa lá verificar qual o motivo de toda esta confusão.
>Boa Quim, deixa ver.

Os olhos de Blaise brilhavam impressionados com a namorada. Juntaram-se ao redor dela mais uns quantos Slytherins. Malfoy também tentava ler do outro lado da mesa.

Todos olharam na sua direcção depois de lerem o título principal. Ele esforçou-se mais por decifrar as letras a vermelho. «Ministério dá por encerrado o julgamento do comensal Lucius Malfoy» era o título que aparecia sob a imagem da zona de recepção do ministério onde bruxas e bruxos seguiam os seus caminhos numa grande algazarra.

>Acho que isto me diz respeito mais a mim que a qualquer um de vocês.
Quimera deixou que ele arrancasse o jornal das suas mãos. Ele tinha toda a razão.

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Draco estava irritado com aquilo. Os Malfoy sempre foram uma família respeitada no mundo bruxo, tinham linhagem, eram praticamente nobreza. E aqueles merdas tinham tido o desplante de usar o nome do seu pai naquelas condições.

O seu pai a ser julgado por um bando de sangue-sujos da laia dos Weasley ou pior descendentes de muggles. Era revoltante, ele não conseguia tolerar aquilo, por dentro fervia de raiva. “A vingança serve-se fria Draco” lembrava as palavras do seu pai e prometia a si próprio que o ia honrar a todo o custo.

Porque ele era um comensal e um devorador da morte se preferissem. E isso era motivo de orgulho e uma prova de coragem. Eles não eram como aqueles traidores que fugiam a honrar o compromisso com o Lord, e permaneciam do seu lado para purificar as raças de bruxos contra a mistura com descendentes impuros.

Era por si e pelos seus que Draco carregava agora a marca dos comensais no braço que tinha mudado a sua vida, esclarecido os seus objectivos.

Tinha a certeza que o Lord se ia erguer com a ajuda de magos poderosos e até alguns dos covardes de sangue puro se iriam converter mais cedo ou mais tarde.

Perto deles Dumbledore não passava de um velho caduco e Potter de um bébé sangue-sujo borrado de medo. O ministério sabia disso e o director do Profeta também. “Ainda passo pela direcção dessa folha de couve para ter uma palavrinha com o asno que permitiu isto” resmungou Draco consigo mesmo agora laivos de sangue espreitavam dos seus olhos contraídos.

Levantou-se para procurar a Parkinson. Queria voltar à biblioteca e devolver o livro porque felizmente ninguém tinha dado pela sua falta. Não encontrou a rapariga na sala comum. Sem paciência para ir procurar no castelo resolveu usar a palavra mágica que a Pansy descobrira para ter acesso aos dormitórios femininos. “Extremamente útil” pensou com um sorriso escarninho enquanto abria a porta em arco ao fundo das escadas.

Parecia tudo OK ali. Não viu nenhuma das raparigas idiotas da camarata rectângular. Os dosseis das camas estavam corridos em todas menos na da Pansy. Ele aproveitou para se deitar de costas ali.

Sabia que ela vinha lá abaixo dali a aproximadamente uma hora. Olhou para a mesa de cabeceira. Era escura com puxadores prateados em forma de serpente. Uma fotografia sua sorria de cima de uma moldura prateada. Ele lembrava-se daquela foto. Era a que ele lhe tinha oferecido no início do namoro. Estava muito bem parecido ali. Trazia um manto negro debruado a fio de prata, o cabelo puxado para trás e a sua nimbus dois mil e um segura na mão.

Distraído com isto, assustou-se quando ouviu um bocejar vindo do dossel do lado. Ele olhou um pouco aflito. Não sabia se seria melhor sair pela porta sem dar nas vistas ou ficar. De certeza que a Pansy tinha avisado as outras tontas que ele podia entrar porque lhe tinha dito como fazê-lo. Assim optou por ficar e viu a rapariga abrir os cortinados de veludo verde para sair da cama.

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