capítulo dois
capítulo dois
- Boa noite, Severus.
Eu não precisava vê-la para dizer quem era, embora tivesse virado-me para fitá-la. Sua voz era tomada por uma diversão cruel, ao mesmo tempo suave e controlada. Seus olhos azuis, embora parecessem claros como o dia, escondiam a escuridão do mais profundo abismo e, se você caísse, talvez nunca pudesse voltar. Os lábios torciam-se num semi-sorriso triunfante e, se prestasse atenção, qualquer um poderia ver uma certa satisfação perpassando-lhe os olhos. Só poderia estar me provocando, mas não conseguiria. Pobre Bellatrix, andava perdendo o jeito...
- Boa noite. – respondi pontualmente.
- Não vai me convidar para entrar?
- Parece que não preciso mais fazê-lo. – disse friamente. Ela alargou o sorriso, os globos azuis faiscando perigosamente, e deu alguns passos para trás, voltando à sala onde eu estivera. Acompanhei-a, afinal, era o que tinha de fazer. Bellatrix sentou-se à poltrona antiga que ali estava. Sentei-me à outra, oposta a dela. – O que faz aqui?
Ela cruzou as pernas, provocante. Para qualquer outro homem, é claro. Eu a via apenas como uma cobra, pronta para desferir um ataque e dominar-me com o seu veneno. Para mim, ela nada significava. Para mim, mais ninguém que estava no mundo significava. E aquilo que tentava fazer era baixo e inútil. Mas, por hora, era melhor deixá-la continuar jogando no seu próprio jogo. Era mais seguro.
- Não vai servir nada para bebermos? É tempo de comemoração! – exclamou vitoriosa.
- Não tenho nada para servir. – aonde ela queria chegar eu não sabia, mas parecia mais alguma espécie de teste. Será que nem depois disso me deixarão em paz? Matarei os desgraçados! – Então, me diga... – me utilizei da minha melhor voz indiferente e aveludada. Uma certeza eu tinha: nem ela poderia ler meus pensamentos, nem eu os dela. Eu teria de fazê-la falar. – Como é que encontrou esse lugar?
Ela e aquele seu sorriso de Eu-Sei-Mais-Do-Que-Você... Que enfiasse ele bem no meio do--
- Acha que Ele não sabe, Sev, querido? – comentou com desdém.
- Sei que Ele sabe. Só não sei porque haveria você de saber.
Suas feições foram tomadas por um esgar. Bella, Bella... Não brinque com fogo se não quiser se queimar. Não deveria ter pulado essa lição.
- Porque eu sou de Sua total confiança. – disse irritada. Está certo, eu até estava gostando de irritá-la... Mas não tinha muito tempo para perder.
- Certo, você sendo ou não confiável, o que veio fazer aqui?
- Eu vim buscar você. – Bellatrix levantou-se preguiçosamente e contornou a minha poltrona, parando às minhas costas e pousando suas mãos sobre meus ombros. Havia algo nela que eu nunca tive. É claro que também fiz as pessoas sofrerem, que as torturei, mas nunca deleitei-me com isso. Ela o fazia. Os gritos agonizantes eram música para os seus ouvidos. Bellatrix era a mais bela Death Eater que já conhecera e, se me perguntassem, nunca diria que é nove anos mais velha que eu. Entretanto, seu coração é tão seco quanto a beleza lhe toma. Abaixou a cabeça até a altura dos meus olhos e sussurrou em meus ouvidos: - Ordens diretas Dele. Quer vê-lo. Parabenizá-lo pela sua realização...
Ela representava bem, visto que fora absolutamente contra o meu encargo da tarefa. Mulheres... Nunca foram confiáveis, as que conheci. Nunca disseram tudo o que queriam dizer. Meias palavras, meias palavras... Pros infernos, se pode, dê todas.
- Ele sabe que voltarei. Só voltei para buscar algumas coisas, antes que os Aurores invadam a casa. – falei quase sem dar atenção à mulher. Porém, ela levantou-se e andou até a mesa em que estiveram minhas anotações. Riu de leve.
- Hmm... Me parece é que você veio refletir, não, Sev? – virou seus olhos azuis para mim, divertidos. – Anda confuso, meu caro?
- Não. – limitei-me a dizer. Ela pegou algumas das folhas, olhando as datas, seus lábios contraindo-se num sorriso vez ou outra.
- Parece que você fez uma retrospectiva de toda a sua vida... Para quê, se é que posso saber?
- Não pode. – retruquei. Insuportável, é isso o que ela é. Bellatrix, como sua natureza manda, não se contentou com a resposta. Devolveu as anotações à mesa com um tapa estrondoso e fitou-me, com ódio. O Lorde provavelmente a mandara por ser a mais devota de todos os seus seguidores. Porém, embora eficiente, ela nunca foi muito inteligente. Era o que eu gostava nela.
- Mas é claro que posso! – defendeu-se. – Eu tenho todo o direito de saber tudo ao seu respeito! E mais: o Lorde me contará de qualquer forma!
Revirei os olhos. Será que ela não se cansa dessa disputa infantil e irrelevante?
- Ótimo, porque não saberá nada por mim. – terminei. Ela fuzilava-me com o olhar. Então, balançou a cabeça e suas feições voltaram a ser mornas.
- Vamos?
Bellatrix me surpreendia, vez ou outra. Era realmente uma boa atriz. Levantei-me, pronto para sair. Ela virou-se de costas para mim e eu me vi obrigado a vestir-lhe o casaco. Só o fiz porque senão Bella teria mais um acesso de raiva e nunca mais sairíamos dali. Tive de abrir a porta para ela também. Cheguei a pensar que teria de empurrá-la ou algo do tipo, mas não foi necessário. Ao menos andar ela sabe.
- Então, onde ele está agora?
Ela sorriu novamente. Mesmo que ficasse bem em seu rosto delicado, eu odiava a maneira como sorria. Aliás, eu odiava aquela mulher.
- Áustria. – disse simplesmente. Sendo acompanhado por Bella, aquela seria uma longa viagem...
N/A: hmm... tá, essa fiction terá uma sequência bastante estranha de capítulos, mas acho que é mais ou menos essa a idéia de se mostrar uma vida, uma mente, uma alma... e o Sev, que é complexo demais pra seguir uma linha só de idéias. bem, espero que tenham gostado x)~
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