prólogo
SEVERUS SNAPE – VINGANÇA E TRAGÉDIA
mentiras na neve
Já estava ali há horas, rabiscando naqueles pedaços de pergaminho pensamentos e lembranças, tentando balancear o que fiz na vida e o que deixei de fazer. Qual a conclusão em que cheguei? Que há uma maldita desigualdade pesando contra mim.
Infernos! Está tudo tão confuso dentro de minha cabeça, embora, em teoria, eu saiba perfeitamente bem o que devo fazer. Suas ordens ainda soam claramente dentro dos meus próprios pensamentos. Eu só não queria que as coisas tivessem chegado a esse ponto.
Confesso que, de início, eu quis, sim. Mas agora que reflito, sentado a mesma mesa há tanto tempos que minhas pernas parecem ter dormido, realmente não o faço mais.
Fragmentos de meu passado costumam ocupar coração e mente e, ouso dizer, o porquê de não ter feito ‘isso’ ou deixado de fazer ‘aquilo’ continua sendo um mistério para mim.
Mesmo que eu fosse jovem, inexperiente e despreparado para encarar o mundo da forma que era, não perdoarei coisas que fiz, atitudes que tomei, assim como todas as outras pessoas não o farão. E as lembranças atormentar-me-ão para todo o sempre, como castigo e ensinamento para que eu nunca mais torne a repetir os fatos.
Só espero que algo permita-me e ajude-me a fazer o que devo, pela primeira vez em vida, sem temor, nem erros. Já não sonho em escapar do inferno, porque eu sou o demônio. O demônio que mandou muitos para o inferno.
Levanto-me e ando de um lado para o outro da sala – oh, sim, as pernas funcionam -, as mãos cruzadas às costas, pensativo.
Aposto que havia outras maneiras para fazer o que fizemos. Mas não, você sempre esperando cada vez mais e mais de mim, do que posso fazer, do que ouso arriscar. Entretanto, dessa vez você foi tão longe quanto se possa ir, e de onde não se pode mais voltar. Longe demais.
O incrível é que você está – senão sempre, a maioria das vezes – certo. O papel caiu perfeitamente e, depois de tudo o que aconteceu, ninguém mais ousou duvidar.
Quem duvidaria? Nem eu acredito que o fiz. Ainda me pergunto se cometi outro erro em aceitar a sua proposta. Talvez não estivesse preparado para algo desse tipo.
Que bobagem a minha. Eu estive preparado para tanto e o fiz. E espero que, como numa das poucas e raras ocasiões, eu tenha acertado, porque não vou agüentar cometer mais um erro. Não suportaria.
Ando até a porta e toco a maçaneta de leve, girando-a. Ali estão os jardins de meu primeiro e único – mesmo que por pouco tempo – lar, coberto por uma espessa camada da neve mais branca, que cai aos poucos de algum lugar da escuridão sobre as cabeças humanas.
Uma expressão dolorida tomou os traços firmes e brutos de meu rosto, enquanto retomo o cenário da primeira de minhas tormentas. São tantas as lembranças que possuo daquele lugar, mas uma sobrepõe-se a todas as outras, intensa, cruel.
É a sombra das mentiras que tornearam minha infância e adolescência, me marcando incicatrizável, em degeneração interior.
Mentiras estiradas sobre a neve, que apenas ali poderiam ter sido respondidas. E não foram.
Absorto em pensamentos, só muito depois que entrasse, percebi que alguém me observava. De fato, só dei-me conta de sua presença quando a voz misteriosa e aveludada falou:
- Boa noite, Severus.
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