FIM DE ANO ATRIBULADO



O ano decorria sem novidades de maior. A cicatriz de Harry nunca mais doera e, de acordo com as informações de Lupin, nada fazia prever um regresso breve de Voldemort; nada de acontecimentos estranhos e nem sequer voltaram a aparecer Dementadores extraviados.

- Não haver notícias já é uma boa notícia. - Comentava Ron. Harry, porém, não sabia se havia de concordar, tanto mais que Hermione fazia questão de recordá-lo constantemente de que deveriam estar bem alerta e que tal silêncio poderia não significar nada de bom... até pelo contrário.

Harry sentia-se extremamente angustiado perante tal pensamento. Sabia que Hermione tinha razão, mas preferia que ela não chamasse a sua atenção para isso tantas vezes. Sim, ele estaria alerta, mas, como dizia Ron, "não haver notícias jé é uma boa notícia" e preferia embrenhar-se nos treinos de Quadribol.

Ron, por seu turno, continuava um jogador muito irregular e diversas vezes Angelina Johnson perdia a cabeça com ele. Os Sonserinos tinham recomeçado com os coros de "Weasley é o nosso rei", o que parecia exercer um efeito positivamente desmotivante sobre Ron e exasperante sobre Angelina.

Mary continuava sumindo de vez em quando. Certa vez, surgiu numa aula com um braço todo arranhado, após uma noite desaparecida. Lembrando fortemente de Lupin, Hermione avançara a hipótese de Mary ser uma fêmea de lobisomem, mas Ron conseguira calá-la, quando lhe recordou que os lobisomens só se transformam em noite de lua-cheia, ao passo que os sumiços da prima nada tinham a ver com as luas, sendo totalmente aleatórios.

O tempo foi passando, até que chegaram as férias do Natal. Dessa vez, iriam passá-las na Toca, apesar de Hermione passar o Natal com os pais.



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Trinta e um de Dezembro; último dia do ano; a Toca estava enfeitada com milhares de luzinhas coloridas (provavelmente fadas), que corriam pela casa alegremente; ocasionalmente, se juntavam umas às outras, tomando as mais diversas formas cintilantes.

Dumbledore, Lupin, Moody Olho-Tonto, Tonks e Mary Hollow estavam presentes na festa. Carlinhos tinha chegado da Romênia, para passar as festividades com a família e conversava animadamente com Tonks e Mary, suas antigas colegas de Hogwarts. Gui trouxera para a Toca a sua namorada francesa com sangue de veela, a belíssima Fleur Delacour, e os dois se beijavam a um canto da sala.

Olhando para o casal com um ar extremamente reprovador, a Srª Weasley pigarreou, fazendo com que eles se soltassem:

- Francamente, Guilherme Weasley! Onde estão os seus modos? Isso é uma festa de fim-de-ano, não é o Dia dos Namorados; e você está numa casa de família...

Gui ergueu a palma da mão no ar e falou, com ar indignado:

- Calma, mãe! Não estou ofendendo ninguém!

- Você está ofendendo a mim, ora essa! - Exclamou Molly, em tom chocado. - É uma falta de respeito... e... além disso... estão crianças aqui em casa!

- Crianças?? - Fred, que escutava a conversa (como, aliás, todos os presentes) explodiu em gargalhadas. - Que crianças?

Molly ficou vermelha, num misto de raiva e atrapalhação:

- Bem... a Gina ainda é menor de idade...

Foi a vez de Jorge rir:

- A Gina?! Ora, mãe, a Gina já teve dois namorados. Aquilo que o Gui e a Fleur estavam fazendo, há muito tempo que deixou de ser novidade para ela!

Ginny corou, furiosa:

- Cala a boca, Fred, seu idiota!

- Eu?! - Inquiriu Fred, por entre soluços de riso. - Mas eu estou aqui, tão caladinho...

- Oh! - Quase gritou Ginny, desconcertada. - Eu queria dizer... cala a boca, Jorge! Oh... cala a boca, Fred! Oh, calem a boca os dois!

- Que história é essa de namorados, Ginevra Molly Weasley? - Inquiriu a mãe, afogueada. - A minha filha já esteve dois namorados e nunca me contou nada? A mim, que sou sua mãe, que deveria ser a sua melhor amiga...

- Ah, mãe, não faça drama! - Pediu Gina, aborrecidíssima.

Harry sentiu que aquela discussão familiar não era exatamente uma coisa agradável de se presencear. Ron parecia sentir o mesmo, já que se levantou de mansinho e fez sinal a Hrry e Hermione, para que o seguissem. Eles obedeceram. Subiram as escadas, enquanto Ron dizia baixinho:

- Se eu não saísse dali bem rápido, ia acabar sobrando para mim. Sempre sobra para mim!

- Foi melhor mesmo sairmos da sala. - Concordou Hermione. - Era uma discussão de família e eu estava sinceramente me sentindo a mais.

- Não diga isso, Hermione, você faz parte da família... - Ao dizer isso, Ron corou violentamente e se apressou a continuar. - Ah... quer dizer, você e o Harry já são como se fossem da família.

Harry revirou os olhos. Não era certamente a isso que o amigo se referia e já estava a começar a irritá-lo o fato dos amigos nunca assumirem os seus sentimentos.

Hermione suspirou:

- Eu sei, Ron... e agradeço muito... - De repente, estacou, ficando parada no corredor.

- O que foi? - Perguntou Harry.

- Chiu! - fez Hermione, levando um dedo aos lábios. Ron olhou para ela, com ar interrogativo e ela resolveu explicar o que se passava. - Vocês não estão escutando? Vem dali, do quarto dos gêmeos.

Harry e Ron também pararam e se puseram a escutar. Imediatamente Harry reconheceu a voz de Mary Hollow, apesar do tom choroso, e a de Lupin. Aparentemente, os dois discutiam... e o teor da "conversa" deixou os três amigos boquiabertos:

- Pensei que você me amava! - Soluçava a professora.

- Oh, Mary, não seja injusta. - Dizia Lupin, em tom amargurado. - Eu te amo tanto, você está cansada de saber disso. Nunca encontrei uma mulher que me entendesse tão bem...

- Nem a Nympha?

- Mary, Mary, Mary... Ouça bem o que você está dizendo. Você está com ciúmes da sua melhor amiga! Não confia nela?

- É claro que confio, mas...

- É em mim que você não confia?

- Confio, mas... não é uma questão de confiança, é...

- Mary, você acha mesmo que a Tonks alguma vez poderia me entender da mesma forma que você entende?

Houve um breve silêncio, após o qual se ouviu Mary murmurar em voz sumida:

- Não... Claro que não... Mas... se não é por causa dela, então porque é que você não quer assumir a nossa relação?

Gerou-se um novo silêncio e finalmente Lupin falou, com a voz trêmula:

- Mary... eu... você sabe que eu nunca... eu nunca namorei... É muito difícil para mim lidar com esta situação... Você sabe como eu sou desajeitado. Foi tão difícil me aproximar de você... A Tonks forçou as coisas e eu agradeço a ela do fundo do meu coração, mas... bom... eu já não sou um jovenzinho, não tenho idade para namorar. O que é que a Molly vai dizer?

De repente, o tom choroso de Mary se transformou num tom levemente divertido:

- Remo... você está envergonhado?

- Bom... - Gaguejou Lupin. - Digamos que... é mais ou menos isso, sim.

Mary soltou uma gargalhada:

- Oh, Remo, você fica tão bonitinho assim, corado, envergonhado... Tudo bem, se o motivo é só esse, eu não me importo de continuar te namorando em segredo, como dois adolescentes. É até mais emocionante.

Foi a vez de Lupin rir. Dava para perceber a influência da namorada na sua vida e no seu humor.

- Você não existe! - Disse ele, em tom ternurento. - Quer saber de uma coisa?

- Fale...

- Que se dane a vergonha. No amor não há espaço para a vergonha. Hoje, à meia-noite em ponto, vamos assumir o nosso... o nosso namoro. Vamos entrar no novo ano oficialmente comprometidos.

- Remo! - O tom de voz de Mary denotava uma felicidade extraordinária, quase infantil. - Você está falando sério?

- É claro que estou... e tem mais: assim que acabarem as aulas em Hogwarts, eu quero que você seja a Senhora Remo Lupin. - De repente, ele parou e a voz voltou a tremer. - Q... quer dizer... você aceita, não aceita?

A voz de Mary denunciava lágrimas de alegria:

- Oh, Remo... é claro que eu aceito! É a coisa que eu mais desejo! Mas... - O tom mudou ligeiramente. - Você tem certeza que quer casar com uma... uma mulher como eu?

- Mary... - Murmurou Remo. - Você deu sentido à minha vida... e que outra mulher aceitaria tão bem alguém com o meu problema e seria capaz de passar uma noite de lua-cheia comigo, me ver transformado, deixar que eu a atacasse...

- Lá se foi a sua teoria da fêmea do lobisomem... - Disse Ron, baixinho, para Hermione. - Os arranhões estão explicados.

- Sim... - Respondeu ela, com ar indeciso. - Mas isso não explica porque foi que ela sumiu das outras vezes.

- Ora! - Resmungou Ron. - É óbvio que foi se encontrar com ele!

- Hummm... - Fez Hermione. - Talvez, mas...

Nesse momento, Harry os puxou para dentro do quarto de Gui e Carlinhos. A porta do quarto dos gêmeos se abria naquele momento. Escondido, o trio conseguiu ver Mary e Lupin atravessarem o corredor abraçados, se beijarem, comporem as roupas e descerem as escadas.

Harry, Ron e Hermione olharam uns para os outros.

- O que foi que vocês acharam? - Inquiriu Hermione.

- O que é que tem para achar? - Perguntou Ron, encolhendo os ombros. - Acho que vamos ter que comprar roupas novas para o casamento, é isso que eu acho.

Harry riu do comentário do amigo e disse, olhando para Hermione:

- Bom, está desvendado o mistério em volta da Professora Hollow.

A amiga franziu a sobrancelha, com ar pensativo:

- Sim... talvez... mas eu ainda acho que tem alguma coisa errada, porque...

Não chegou a explicar porquê, uma vez que foram interrompidos por um agudo grito feminino, assustado, a que se seguiu uma outra voz feminina, exclamando:

- Expecto Patronum!

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