Piano Bar



N/A: Para dar uma compensada nos capítulos pequenos, esse é bem grandinho. E valeu o comentário, Aninha.
Ah! Perdoem-me se houver erros de digitação. Eu estava chorando muito quando digitei...
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O dia era de festa. Um casamento estava para acontecer. Toda a Toca estava enfeitada (questão de honra dos noivos: o local). Mas ainda assim alguém estava muito triste. E, por incrível que pareça, esse alguém era a noiva.
Gina estava em seu quarto, escondida a um canto, totalmente desarrumada. Não deixava ninguém entrar, saía aos gritos toda vez que sua mãe tentava arrumá-la. Então Hermione entrou arrombando a porta (força de expressão, viu?):
- Muito bem, Gina Weasley! Pode parar. Você tem todo o direito de estar nervosa, é seu casamento, mas não precisa ficar gritando.
- Vou fazer o que, Mione?...
Só então Hermione percebeu como o rosto da noiva estava inchado de choro.
- Merlin! Você está chorando, Gi! – Hermione se agachou ao lado dela e a abraçou – Você devia estar sorrindo, é seu casamento. Não precisa chorar. Me conta por que você estava chorando...
- Eu não preciso chorar? Eu estou casando grávida, por pressão, quase que forçada!
- Nossa, Gi... Mas vamos lá, você não gosta do Harry?
- Gosto, e é por ele que eu choro. Eu sei que não vou ser uma boa esposa. Ele está casando comigo por causa da minha burrice de engravidar. Eu não queria que fosse assim. E eu queria ao menos caber no meu vestido de casamento de maneira decente. Olha para mim: estou deformada!
- Exagero, Gi. Você está linda, só engordou um pouco por causa do bebê.
- Um pouco? Um pouco?
- É, Gina. Não foram tantos quilos assim como você acha. Vou te dar um desconto: seus hormônios estão te cegando.
Por fim (dali a uns vinte minutos, é verdade) Hermione conseguiu acalmá-la e fazê-la chamar a mãe para ajudá-la a se arrumar. Fleur e Mione também ajudaram.

O que você me pede eu não posso fazer
Assim você me perde, eu perco você
Como um barco perde o rumo
Como uma árvore no outono perde a cor

O casamento foi lindo, perfeito. Gina portou-se decentemente, parecia a mulher mais feliz do mundo. Harry então estava incomparável, sorria abobado para todos. Sra. Weasley chorou até quase secar. Rony e Mione foram padrinhos de Harry, e Carlinhos e Luna foram padrinhos de Gina (esses dois últimos formando um casal inusitadamente bonito e interessante).
A festa durou o dia todo, só quando já era noitinha os convidados foram todos embora. Depois de se despedirem da família, os noivos embarcaram para a lua-de-mel. Foram por meios trouxas, devido ao estado de Gina, que não poderia ir aparatando até a Espanha, nem poderia ir por Flú (senão toda a comida da festa...). Foram até a costa, onde embarcaram num “mini-cruzeiro” que os levaria ao continente.
O quarto do casal era lindo, imenso.
- Nossa Harry! É lindo. Deve ter sido caríssimo! Você não devia ter feito isso.
- Mas eu quis. Eu queria te mostrar o quanto você é importante para mim. O quanto eu te amo.
- Mas eu sei de tudo isso.
- Por que então você não quer que eu te faça feliz?
- Eu não quero te enganar. Eu te amo também, mesmo que não transpareça. Mas eu não vou fazer isso com você. É por amor...
- Se me amasse não fazia isso. Se amasse não teria mentido, fingido. Não teria dito que eu não precisaria esperar.
- Não foi por mal. Eu queria realmente ficar com você, eu quero. Eu sinto muito ter feito aquilo com você. Pelo meu coração eu pararia o mundo aqui e agora, te abraçava, e te diria que quero ficar para sempre com você. Mas minha consciência não deixa.
- Maldita consciência... – estranhamente, Harry sorria. Diabos, ela estava dizendo que ele teria que esperar se quisesse tê-la, e ele sorria? O feitiço do Você-sabe-quem devia ter afetado seriamente o cérebro daquele homem lindo, de olhos verdes, parado em frente a ela. – Você acha que ela vai ligar se você esquecê-la pelo menos na sua, na nossa lua-de-mel? Eu queria realmente que você fosse comigo no baile que vai haver a bordo hoje. Mas como esposa.
- Talvez. Mas eu não vou fazer nada. Não estou te prometendo nada.
- E eu nem estou pedindo, eu te entendo. Mas você vai dançar comigo, mesmo eu não sabendo.

O que você não pode eu não vou te pedir
O que você não quer... eu não vou insistir
Diga a verdade, doa a quem doer
Doe sangue e me dê seu telefone

Flashback

- Quanto tempo você seria capaz de esperar?
- A eternidade.
- Não, a eternidade é muito tempo. Não espere mais. – E Gina se jogou nos braços de Harry e o beijou. Foi um beijo profundo, mas não durou mais que alguns segundos. Gina de repente empurrou Harry e se afastou, olhando aterrorizada. – Desculpa, eu não podia ter feito isso, ter dito isso. Ah, me perdoe Harry, eu não... Eu sinto muito. – Ela começou a chorar.
- Foi algo que fiz de errado?
- Não, Harry. Fui eu.
- Olha só para mim, Gi. Pare de se culpar. E isso é uma ordem, não um pedido. Ficar eternamente se martirizando não vai levar a nada, não vai mudar nada. E jamais repita que não preciso esperar. Não me dê a felicidade para depois arrancá-la.
- Desculpa. – Gina olhava fixa o chão, balançando o tronco e repetindo incessantemente. – Desculpa. – Harry a abraçou e ela se aconchegou nele.
- Mas você tem que se lembrar de fingir. Lembre-se que para todo efeito somos um casal feliz e apaixonado que vai se casar.

Todos os dias eu venho ao mesmo lugar
Às vezes fica longe, impossível de encontrar
Mas, quando o neon é bom
Toda noite é noite de luar

“- Sair de perto? Aí não tem graça.”
“- Eu quero que alguém me enxergue como eu sou.”
“- Nunca achei que fosse capaz de dizer isso a alguém, ruivinha, mas eu te amo.”
“- Eu não quero nunca mais te ver, nunca mais te ouvir, nunca mais saber que você sequer existe! Anda, SAI!”
“- Acabou, entendeu? Não dá mais.”
“- Você... você está... grávida? Mas... eu achei que... você sabe que eu não posso.”
Gina estava encostada na porta do quarto de Draco, olhando tristemente para a falta de individualidade ali.
“- O Malfoy morreu, Gina.”
- Gi, você está aí? Gi, abre a porta... O Josh está chorando, ele quer a mãe. Gi, por favor...
A jovem deu uma última olhada no quarto, virou-se para a porta, destrancou-a e saiu. Encontrou Hermione do lado de fora, com o olhar preocupado.
- Vamos lá embaixo, o Josh não quer parar de chorar.
- Tá, tudo bem. Onde o Harry foi?
- Ele... Ele está ajudando com o enterro.
- Ah, tá...
- Você chegou a gostar dele de verdade, não é?
- Sim, não adianta negar.
- Não mesmo. Não com os olhos que o Josh tem. E pense assim: pelo menos você tem uma linda lembrança dele. E tudo bem, ninguém ainda sabe que ele não é filho do Harry.
- Eu não consigo parar de ficar remoendo tudo.
- Então desabafa!
Chegaram à sala. Um menininho de pouco mais de dois anos veio, choroso, correndo ao encontro delas e se agarrou às pernas da mãe.
- Não Josh, não chora. Isso... Vem, vamos no colo da mamãe. Estou subindo, gente, vou fazê-lo dormir. Quando o Harry chegar, podem avisá-lo que eu quero falar com ele?
- Tudo bem.
Gina subiu as escadas, indo até o quarto em que ela, Harry e Josh dormiam quando precisavam ficar na sede da Ordem.
- Pronto, deita aqui, meu bem. Mamãe te faz companhia para você dormir. – O garotinho sorriu, segurou a mão da mãe, e se aconchegou melhor no travesseiro. Gina cantarolava: “O pequeno hipogrifo saiu para passear, encontrou o amigo pufoso e com ele foi brincar...” O filho logo dormiu, e ela sentou-se na escrivaninha, puxou pena, tinta e pergaminho e desabafou. Escreveu aquilo que desejava ter dito a Draco. Terminou e estava chorando. Leu e releu o que tinha escrito, chegando a amassar o pergaminho de tanto que mexia nele. Depois se pôs a olhar a criança que dormia e resmungava, parecendo conversar com alguém. Gina podia jurar que ouviu ele dizer: “cuidar dela... papai... tchau”. E ele não chamava Harry de pai... Todos achavam graça de o menino chamar o “pai” de tio. Gina achava sinistro. E ela não seria capaz de dizer quanto tempo ficou ali, perdida em pensamentos, até Harry chegar.
- Você quer alguma coisa, Gina? Disseram para eu vir aqui, que você queria falar comigo.
Gina se levantou o abraçou Harry:
- Por que? Tem que haver um porquê.
- O menino. Ninguém sabe. Lucius tentou chantagea-lo.
- Desculpa, Harry. Desculpa tudo isso.
- Vem, está na hora. O enterro está marcado para as 5 horas.
Harry pegou Josh no colo, Gina se ajeitou melhor, e foram.

(...)
Na verdade não era não
Na verdade
Nada é uma palavra esperando tradução

Gina estava na sala de sua casa. Estava sentada no tapete, brincando com Josh. O menino sorria como nunca. Estava com quase três anos completos. Faria aniversário dali a pouco menos de um mês. Harry aparatou na cozinha, e chegou na sala comendo uma maçã. Sorriu, cansado.
- Harry! Nossa, eu fiquei preocupada... Você demorou.
- Um a menos, Gi. Um a menos.
- Você conseguiu? Merlin! Isso é tão bom! Onde?
- Perto daqui de Godric’s Hollow.
- Sério? E qual era?
- A taça.
- Que bom! Hum... Sobe, toma um banho que eu vou preparar alguma coisa especial... E você, Josh, está na hora de dormir, mocinho...
- Pode deixar que eu coloco ele para dormir. Dessa vez eu tenho uma história boa para contar.
- Não está muito cansado?
- Não, Gi. Tudo bem. Pode deixar que eu faço isso antes de tomar banho.
Harry pegou o menino do colo de Gina e o levou para cima. A mulher ficou olhando o marido subir as escadas, e quando ele saiu do campo de visão foi para a cozinha. Preparou um senhor jantar (também, pudera, ela aprendeu a cozinhar com a sra. Weasley), que atraiu Harry pelo cheiro.
- Tudo o que eu mais queria: comida. E uma cama talvez.
- Foi muito difícil?
- Foi. E eu não quero falar nisso.
- Certo, lógico. Desculpa, eu não devia ter perguntado. É óbvio que não era para ser fácil.
- Hum... Delicioso esse jantar. – Harry se acostumara a trocar de assunto sempre que Gina começava a pedir desculpa. Era até um hábito dela. Parecia ter que se desculpar por ele amá-la.
- Sabe como eu acho que ele pode melhorar?
-...
- Assim. – Com um aceno de varinha, Gina apagou a luz e dois pontos vieram se aproximando. Pousaram na mesa. Eram velas. – Um jantar a luz de velas.
Na penumbra quase que foi imperceptível o olhar assustado e curioso de Harry. Gina sorriu encabulada. Harry pousou os talheres e pegou as mãos que Gina lhe oferecia.
- Acabou agora. Eu tomei minha decisão. E minha decisão é você.
Os dois se levantaram, ainda com as mãos entrelaçadas. Olhavam-se nos olhos. Mesmo na penumbra, um via nos olhos do outro todo o desejo acumulado naqueles três anos. Deram a volta na mesa até não haver mais obstáculos entre eles. Gina puxou as mãos de Harry e pousou-as na sua cintura. Passou suas próprias mãos pelo pescoço dele.
- Se eu tivesse sabido que meu prêmio por destruir aquilo seria isso... Teria feito antes.
Gina sorriu tímida. Harry com um pequeno e discreto gesto de varinha pôs um CD para tocar (ele adicionou à sua vida mágica alguns aspectos trouxas, os quais, aliás, agradaram muito Gina). A música ele cantarolou no ouvido dela: I’m lost without you (Blink 182). Dançavam suavemente.
- I swear that I can go on forever again. Please let me know that my one bad day will end. I will go down as your lover, your friend. Give me your lips and with one kiss we’ll begin.
(- Eu juro que eu posso continuar eternamente de novo. Por favor, deixe-me saber que meu dia ruim vai acabar. Eu me deitarei como seu amante, seu amigo. Dê-me seus lábios e com um beijo começaremos.)
A música continuou tocando no aparelho de som, mas não era mais cantada pelo lindo homem de olhos verdes que encarava Gina Weasley. Ela apenas sussurrou no ouvido dele “I’m lost without you” (estou perdida sem você), e ele a beijou. A música parou. A luz acabou por completo. O medo se esvaiu. O tempo parou. Ficaram apenas os dois ali, abraçados, se beijando. Não havia mais três anos, não havia mais Horcruxes, não havia mais Voldemort, não havia mais mundo. Magia emanava do corpo dos dois, formando uma aura dourada. Ao se soltarem, Harry passou a mão no cabelo, encabulado.
- Hum... Demonstrações involuntárias de magia.
- Demonstrações voluntárias de amor.
- Vem comigo. – Harry a segurou pela mão e subiu até o quarto dele (eles dormiam separados). Acendeu apenas uma pequena luminária, fechou a porta, trancou-a (Não queremos visitantes inesperados, não é?), e parou em frente à mulher. Nenhum dos dois estava encabulado mais. Nenhum dos dois teria mais que esperar pelo que tanto queriam: ficarem juntos de verdade.

Toda vez que falta luz
Toda vez que algo nos falta
O invisível nos salta aos olhos
Um salto no escuro da piscina

A luta contra o mal (por mais maniqueísta que isso soe) durou por muitos anos. Estes se arrastavam, enquanto Harry e seus amigos tentavam desesperadamente localizar Horcruxes e destruí-las, além de perseguirem Comensais da Morte. A vida era difícil, muitas pessoas morriam, embates ocorriam quase que diariamente. Muitos amigos ficaram pelo caminho: Hagrid, Carlinhos Weasley, Olho-tonto Moody, Remo Lupin, Prof. McGonagall, Prof. Trelawney, entre outros. Outros acabaram internados no St. Mungus por algum tempo, como Tonks (após saber da morte de Lupin), sra. Weasley (eternamente estressada, essa aí), Gui Weasley (cujos aspectos lupinos pioravam visivelmente), o auror Quim Shackelbolt (com um feitiço permanente afetando seu cérebro)...
Tempos de trevas se instalaram. O Lado Negro angariava aliados e crescia, mesmo com as perseguições freqüentes a seus partidários. A Ordem da Fênix também evoluiu, contando com contatos no exterior, como base de apoio. A disputa estava equilibrada, oscilando hora a favor de um, hora a favor de outro. A busca aos Horcruxes foi um segredo guardado apenas por Harry, Rony, Hermione e Gina (esta última apenas por ser esposa de Harry). Não podiam alardear o que faziam, sobre o risco de Voldemort descobrir.
Mas nem tudo era desespero. Ainda houve dias de esperança, até dias de festa! No meio de um período de calmaria, foi realizado o casamento de Rony e Hermione. Foi discreto, realizado à maneira trouxa a pedido da noiva. Foi a última vez que toda a família se reuniu, já que Carlinhos morreu na batalha seguinte e a sra. Weasley caiu de estafa, com os nervos à flor da pele. Já fazia 5 anos e meio desde a morte de Dumbledore. Mas até que se pudesse ver a luz no meio das trevas, foram pouco mais de 3 anos.

O fogo ilumina muito
Por muito pouco tempo
Em muito pouco tempo o fogo apaga tudo
Tudo um dia vira luz
Toda vez que falta luz
O invisível nos salta aos olhos

- Agora é para valer, Gina. Dessa vez eu acho que conseguimos.
- Que bom...
- Parece que você não gostou muito da notícia.
- É que isso significa que você vai ter que ir atrás do sétimo definitivo: a alma dentro de Voldemort.
- É, eu vou. Mas eu volto. Eu sempre voltei, não é?
- Mas dessa vez eu sinto que vai ser diferente...
- Eu volto! Isso é uma promessa! De um jeito ou de outro, eu volto.
- Então eu vou deixar para dar minha notícia quando você voltar. Assim eu faço você voltar, mesmo que de curiosidade.
- Você não vai fazer isso comigo, vai?
- Vou! Eu sei que sua curiosidade vai te fazer voltar.
- Não... Eu vou arrancar essa informação de você... Eu tenho meus métodos...
- Legilimência não vale! Não vou ficar olhando nos seus olhos, nem adianta.
- Não tinha nem pensado nisso. Mas você me deu uma idéia. Só que primeiro eu vou testar um outro jeito.
Harry puxou Gina, fez todo o peso dela ficar nas suas mãos, como num passo de tango. E a beijou apaixonadamente.
- Harry, seu louco! E se o Josh chega?
- Ele ia ver quão apaixonados seus pais são.
- Eu prefiro não ficar arriscando. Vou olhar no quarto se ele está dormindo.
Gina chegou silenciosamente e abriu a porta do quarto do menino sem fazer barulho. Ele dormia profundamente. Quando ela ia fechando a porta, Harry segurou-a pelas costas e entrelaçou suas mãos com as dela. Sussurrou em seu ouvido: “Eu te amo”. Gina se derreteu. Virou-se para olhar o marido. “Também te amo muito”, disse ela, enquanto afagava o cabelo rebelde de Harry. Olharam-se nos olhos um breve momento antes de unirem suas bocas novamente.

-||-

- Desculpa, Gina. Eu não achei que fosse precisar ir embora tão cedo.
Gina estava de braços cruzados, parada no meio do quarto. Harry juntava roupas aleatoriamente, junto com outro objetos necessários. A mulher bufou. Sequer tinha tido tempo de arrumar a cama, que ainda tinha marcas da noite anterior. Ele parou, e reparou na lágrima solitária que descia pelo rosto dela. Largou a mochila que segurava, e esta caiu no chão derrubando algumas das coisas que estavam dentro. Ele nem ligou. Estava limpando o rosto da esposa, se controlando para não chorar também.
- Eu não queria que você fosse. Eu sei que você precisa.
- Já fiz essa escolha há muito tempo, e não pretendo mudá-la, por mais que possa. Sempre temos escolhas, e a minha é essa.
- Queria ir com você...
- E largar o Josh? Meu filho não vai ficar sozinho sem pai nem mãe! – Gina não conseguiu evitar um sorriso. Era especial para ela Harry considerar Josh como filho verdadeiro. Mas logo fechou o rosto.
- Lá vem você falando assim de novo. “Sem pai”... Parece que você está indo embora definitivamente.
- Já não prometi que volto?
- Prometeu... E espero que cumpra. Mas mesmo assim, eu sinto uma coisa estranha aqui.
- É amor... Eu também sinto isso. E não quero ir sem dizer tchau para o Josh.
E assim ele fez. Foi no quarto do filho, acordou-o de leve, deu-lhe um beijo de adeus e partiu.

Ontem à noite eu conheci uma guria
Já era tarde, era quase dia
Era o princípio
Num precipício era o meu corpo que caía

Harry sumiu por um mês. As notícias dele que chegavam aos ouvidos de Gina eram poucas e pouco confiáveis, inconsistentes. Não conseguiam localizar Voldemort. Mas encontraram (e mataram) muitos Comensais pelo caminho. Mas um dia, então, o St. Mungus entrou em contato com ela. Com uma autorização especial, ela foi via Flú com o filho para lá (o hospital usava lareiras apenas em casos de urgência, pois a fuligem podia atrapalhar a limpeza exigida do lugar).
Chegou desesperada, puxando uma criança de 7 anos pela mão. Foi informada do estado delicado de Harry, da situação em que fora encontrado, após matar Voldemort. Disseram-lhe o quarto e então ninguém mais pôde contê-la. Pegou Josh no colo e correu para o local indicado. Abriu a porta e deu de cara com outros membros da sua família superlotando o espaço em volta das camas. E quando a viram, abriram caminho até a cama mais ao fundo do quarto. Gina colocou o filho no chão e, andando segura primeiro, e correndo e se ajoelhando aos pés da cama de Harry depois, observou seu marido. Ele estava muito machucado e dormia, parecendo morto se seu peito não subisse e descesse a leves intervalos. Segurou sua mão e ele acordou. E sorriu, mesmo que seu sorriso fosse apenas uma pequena mudança de expressão.
- Eu disse que voltava.
- Por isso eu esperei. Ah, Merlin! Por que você fez isso Harry? Por quê? – Gina chorava, mas Harry manteve a expressão serena.
- Dessa vez é a minha vez de pedir desculpas. Desculpa...
- Não precisa nem pedir. Quem ama perdoa. E eu tenho só que te perdoar por ser o cara que acabou duas vezes com um bruxo malvado...
- Agora eu posso saber o que você me escondeu?
Gina sorriu para ele, se levantou, pegou a mão do marido e colocou sobre seu ventre.
- Eu sinto que vai ser menina.
- Espero que seja, Gina. Linda, como a mãe.
- De olhos verdes como o pai.
- E eu já sabia. Não foi nem preciso usar Legilimência. Você sabe que seus olhos nunca mentiram. Já pensou em um nome?
- Harry, como o pai se for menino.
- Jennifer. Ela vai... se chamar... Jennifer. – A voz de Harry foi ficando entrecortada.
- Pare de falar agora, meu bem, você precisa descansar.
- Não. Eu preciso... falar. Eu não vou agüentar... muito.
- Vai sim, não fala isso Harry, não fala isso.
- Desculpa por eu... não... ficar aqui... para te ajudar... para vê-la crescer.
- Não faz isso comigo, Harry. Não faz isso comigo. Eu não sei viver sem você. Eu vou com você se você se for.
- Não... Você tem... um... filho para... dar a ... luz. Eu...
- Você vai ficar aqui, comigo.
- Eu quero... falar com... o Josh.
- Eu estou aqui, pai.
- Nunca... deixem dizer... que... eu não... fui seu... pai.
- Eu não vou deixar, pai. Pode deixar.
- E Gina... Eu... te... amoo...
- Não, Harry. Não, por favor. NÃO!!!

Ontem a noite, a noite tava fria
Tudo queimava, nada aquecia
Ela apareceu, parecia tão sozinha
Parecia que era minha aquela solidão

Harry Potter faleceu. Ninguém que estava naquele quarto estava pronto para ver a cena que se seguiu à sua morte. Gina desabou em choro. Quando tentaram aproximar-se dela, gritou e correu para o corpo inerte de Harry, segurou nos ombros e o chacoalhou.
- Acorda, Harry, anda. Eu imploro, Harry, acorda. Não faz isso comigo. – E magia começou a emanar do corpo dela. Uma redoma azul-transparente formou-se em volta da cama, englobando os dois. A redoma levitou uns dez centímetros, até que estourou como uma bolinha-de-sabão, num pio triste de uma ave qualquer.
Gina soltou o cadáver e levantou o tronco. Via rostos difusos olhando assustados. Não reconheceu ninguém. Saiu andando desnorteada. Sra. Weasley tentou seguí-la, mas foi impedida pelo marido.
- Mamãe enlouqueceu?

-||-

O enterro foi digno do herói que Harry era. Simples como ele fora, e cheio das pessoas que sempre o seguiram. Palavras foram ditas, mas da forma que lhe agradaria: sem pompa, tornando-se por isso tão digno dele. No meio da cerimônia, Josh levantou-se e seguiu pelo corredor central até o corpo do pai.
- Te amo muito pai. Não queria que você tivesse morrido. Vou sentir sua falta.
E mesmo tão pequeno, controlou-se. Voltou para sentar-se ao lado da mãe, e a abraçou. Não deixou cair uma lágrima sequer. Seu sangue Malfoy fez com que durante toda sua vida ele jamais chorasse.

-||-

Gina começou a não comer. Todos a tratavam com cuidado, como a uma criança pequena, mas não conseguiam fazer com que ela comesse. Foi ela quem cuidou de Hermione e Rony quando eles saíram do St. Mungus. A cunhada até que tentou conversar com ela, mas as tentativas foram infrutíferas. E era freqüentemente vista falando sozinha, olhando para espaços vazios como se houvesse outra pessoa ali.
Um dia, então, ela sonhou com Harry. Ele conversava com ela, e então lhe repetiu, como há 8 anos, que ela estava tentando “duplo-suicídio”. E que ele não queria que isso acontecesse. Ela passou a comer. Pouco, mas comia. Fisicamente pareceu apresentar melhorias, mas seu espírito se aquebrantava mais e mais.
Quatro meses depois, começou a passar mal. Estava com 6 meses de gravidez, então. Foi socorrida às pressas. Havia risco de vida. Teriam que retirar a criança. E assim fizeram. Gina chorou ao ouvir o choro da filha. Pediu para vê-la antes que a levassem para exames (devido à prematuridade, teria que ficar sobre vigília).
- Ela é linda. Minha Jennifer. – ela virou-se para um local aparentemente vazio. – Olha, Harry. Olha que linda. Nossa filhinha. Ela vai ter seus olhos, eu sei que vai.
- Por que você não fica aqui com ela então?
- Porque eu preciso de você. E ela tem quem cuide dela.
- Vamos então?
- Vamos. – Harry deu a mão para Gina, fez ela se levantar, abraçou-a bem forte.
- Senti saudades.

No início era um precipício
(um corpo que caía)
Depois virou um vício
Foi tão difícil acordar no outro dia
Ela apareceu, parecia tão sozinha
Parecia que era minha aquela solidão

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