Sobre brigas e planos



- Dá pra acreditar que estamos aqui a uma semana Harry? – pergunto Rony.

- Pois é. E nada de Mundungo... – complementou Harry.

- O imbecil do Malfoy não está colaborando!!!! – continuou Rony.

- Calma Rony – respondeu Harry – temos que ter paciência. Nós sabíamos que não ia ser fácil achar Mundungo. Mas tenho esperança de que ainda vamos encontra-lo.

De repente a porta abriu-se num sopetão e uma Hermione muito vermelha e ainda mais descabelada que o habitual entrou no quarto. Também estava ofegante e parecia eufórica.

- Harry! Rony! Venham imediatamente....

Como os meninos não fizeram qualquer gesto ou esboçaram a menor reação à entrada intempestiva da amiga, Hermione gritou: - Mexam-se! – E virou-se para sair correndo pelo corredor. Rony segurou-a pela mão, impedindo-a de sair em carreira desabalada.

- Ei! Calma!!! Espera aí, sente-se e nos conte o que está acontecendo. Depois vamos com você – disse Rony

- Por Merlim. Vocês não entendem.... Victor está vigiando, mas eles podem sumir a qualquer momento!!!!!

- Quem é que Vitinho está vigiando? – perguntou Rony, suportando o olhar de desprezo que lhe deu Hermione.

- MUNDUNGO!!!!! – gritou Mione, novamente – Droga, finalmente ele está aqui no hotel. Draco está com ele numa sala reservada no 10.º andar. E vocês ficam aí, fazendo um monte de perguntas idiotas ao invés de saírem correndo atrás dele.... Não entendo vocês!!!! – a menina estava evidentemente furiosa

- Também não precisa ficar tão nervosa, Mione. Vamos – disse Harry e os três amigos saíram em direção ao 10.º andar.

Subiram três lances de escadas até chegarem ao local onde Victor montava guarda, escondido numa reentrância, próxima à porta do apartamento 105.

- Oi Victor – disse Mione – Eles ainda estão lá dentro?

- Acho que sim Mioni. Ninguém saiu do quarto ainda, pelo menos pela porta – respondeu o búlgaro, alerta.

- O que estamos esperando – falou Rony – Vamos invadir logo.

- Peraí Rony! – Harry segurou o amigo pelo capuz de seu moletom – Tem mais alguém com eles? Será que dá pra invadir assim?

- Não vimos mais ninguém Harry, além dos dois. – disse Victor – Mundungo chegou sozinho, com a cabeça coberrta, tentando se esconder e parrecendo muito assustado. Pediu para falar com Malfoy e foi encaminhado para esse quarto. Nos o seguimos e ficamos esperando pelo Draco, que apareceu um minuto depois. Estão lá desde então. Já fazem uns 15 minutos.

- E você não escutou nada? – questionou Mione.

- Não. Mas também não escutei o ouvido na porta e fiquei escutando.....

- De qualquer maneira, temos que fazer alguma coisa, e rápido, para pegar o salafrário antes que ele desaparete e percamos nossa chance – disse Harry.

- Certo – interagiu Rony. – Mas o que?

- Rony, corra ao seu quarto e pegue a capa de invisibilidade de Harry. – disse Mione – Estou tendo uma idéia...

Rony saiu em correria desabalada pelo corredor, enquanto Mione continuou a explicar seu plano.

Voltou dali a alguns minutos, e a menina explicou-lhe o plano. Estavam prontos para começar a agir.

***

Mione bateu na porta do quarto 105 e deu um suspiro de aflição. Olhou para o lado e Harry reparou que a amiga estava nervosa.

Harry entendia a aflição na menina, pois também estava preocupado com aquele plano maluco. De qualquer forma, estava seguro de que não havia a menor possibilidade de que Draco ou Mundungo reconhecessem Hermione. Ela estava muito diferente, com os cabelos ruivos presos num coque, de óculos e parecia muitos anos mais velha graças ao feitiço mutatis mutandi, que lhe deu muitas rugas. A roupa de camareira, uma túnica roxa, com estrelas amarelas aplicadas, era tão berrante que ficava até difícil prestar atenção ao rosto de quem a usava.

Por sua vez, Harry estava protegido pela capa de invisibilidade, o que o deixava mais a vontade. Os pensamentos de Harry foram interrompidos pelo barulho da chave destrancando a porta.

- Pois não? – perguntou Draco, abrindo uma pequena fresta na porta e parecendo muito assustado.

- Boa tarde senhor – disse Mione alterando a voz. Harry achava que era realmente impossível reconhecer a menina. – Preciso limpar o banheiro. Parece que houve um entupimento anteriomente. Não estão sentindo o cheiro?

- Não estou sentindo nada e não precisamos que você limpe nada. Com licença... – disse Draco, com a voz arrogante que Harry tanto odiava, fechando a porta na cara de Mione.

- Realmente senhor eu devo insistir – retrucou a garota, empurrando a porta de volta, impedindo que Draco a fechasse. – O senhor pode não se sentir incomodado, mas o próximo hóspede vai reclamar e não quero ser acusada de negligência. Depois se o senhor precisar usar o banheiro e sentir o cheiro insuportável, vai reclamar com a gerência e eles vão me mandar embora e os meus cinco filhos não vão ter mais o que comer e são capazes de entrar para o mundo do crime. Ah! Por Merlim, vai que eles se juntam a Você-Sabe-Quem!!!!!! Isso eu não vou suportar.. Minha vida está acabada, meus filhos perdidos na vida e tudo por causa de um banheiro entupido e do senhor que não me deixou...

- Tá bom!!! – gritou Draco interrompendo o falatório interminável da falsa camareira. – Está certo. Você é bem inconveninte minha cara! – reclamou Draco. – Entre e limpe essa droga de banheiro, e rápido!!!

O loiro aguado escancarou a porta, dando passagem para Hermione entrar no quarto com os inúmeros baldes e esfregões (extraídos sorrateiramente do armário da limpeza do andar), deixando espaço suficiente para que Harry adentrasse também, escondido sobre a capa da invisibilidade.

- Não precisa se preocupar senhor. Vai ser muito rápido. – complementou Mione, iniciando a limpeza do cômodo.

Harry ficou por um momento observando Mione em sua tarefa, divertindo-se a valer com a falta de jeito da menina nas atividades domésticas.

Mas lembrou-se do motivo de toda aquela encenação, e voltou para a sala de estar, onde Draco e Mundungo conversavam sobre amenidades, esperando que a “camareira” saísse para retornarem ao assunto confidencial de que tratavam antes da interrupção.

Harry encarou Mundungo e pode perceber que o patife parecia muito abatido e apavorado, em nada lembrando aquele homem falastrão que o menino conheceu na sede da Ordem Fênix a alguns anos atrás.

Draco, apesar do jeito arrogante com que tratara Mione à porta do quarto, também parecia muito cansado e, principalmente ansioso em que a limpeza fosse terminada pois a todo momento olhava para a porta do banheiro.

Depois de uns 5 minutos, Mione terminou a “limpeza” e saiu do quarto agradecendo repetidamente o sonserino que, por não aguentar mais a tagarelice da moça, deu-lhe um galeão de ouro, empurrando-a para fora e trancando a porta, deixando Harry sozinho dentro do quarto.

O ex-sonserino encaminhou-se para o sofá e passou a olhar fixamente para o rosto de Mundungo enquanto se sentava. Este, por sua vez, mantinha os olhos fixos no chão e respirada de forma apressada, demonstrando claramente seu estado de apreensão.

- Então Mundungo, vamos acabar logo com isso – disse Malfoy – onde está o objeto?

Finalmente Mundungo resolveu desviar os olhos do chão e encarou Draco, com o olhar preocupado. – Eu entrego a você, mas quero a palavra de Você-Sabe-Quem de que ninguém vai me fazer mal por causa de eu ter estado com essa porcaria – disse, com a voz baixa.

- Não se preocupe Fletcher, ninguém lhe fará mal algum. – respondeu Draco, e o tom de voz que uso fez Harry ficar com a impressão de que ele não falou de forma honesta e, ao mesmo tempo, parecia muito constrangido com isso.

- Me diga, por que ele quer tanto isso aqui? – e tirou o camafeu que Harry já tinha visto na casa dos Black de dentro de um estojo forrado com veludo dourado, passando a segurar o objeto e brincar com ele entre os dedos, como se fosse uma moeda qualquer. Harry tentou imaginar a reação de Mundungo se esse sequer desconfiasse de que possuía um pedaço da alma de Voldemort em suas mãos. – Por que isso é tão importante para ele?

- E você acha que eu sei? – respondeu Malfoy – O Lorde das Trevas não dá satisfação a ninguém, apenas me mandou procurar por você e fazê-lo devolver o medalhão, a todo custo. Foram estas as ordens que recebi.

- Muito bem. Será que não vou ter uma compensação financeira por me desfazer de uma coisa tão importante? – perguntou Mundungo, com o olhar de cobiça se sobressaindo ao olhar de medo de antes.

- Você tem muita sorte por ele não estar em seu encalço pessoalmente, dada a importância do objeto. – respondeu desdenhosamente Draco, o que fez Mundungo começar a tremer.

- Você acha que ele pode vir atrás de mim? Mesmo depois de eu ter entregado o objeto?

- Claro que não Fletcher! Ele não se rebaixaria a tanto. Jamais viria atrás de um rato como você. Para isso ele possui subalternos, como eu.

- Por que você se juntou a ele? Por que o está ajudando? Eu sei que seu pai foi comensal da morte, mas você não precisava ser soldado dele, já tem prestigio e dinheiro suficiente para não se preocupar com o futuro. Não precisava arriscar o seu pescoço. – questionou Mundungo.

Harry percebeu um laivo de sofrimento nos olhos de Draco. Foi somente um instante, pois o loiro retomou a postura arrogante e respondeu de forma bastante ríspida: - Isso é um problema meu. Agora me dê o medalhão. Preciso entregar isso ao Lorde das Trevas o mais rapidamente possível. Ele está ansioso.

- Está certo. – disse Mundungo parou de brincar com o objeto e colocou-o em cima da mesa de centro.

Nesse instante, iniciou-se uma gritaria sem precedentes no corredor que fez com que Mundungo se encolhesse mais ainda em seu canto, enquanto Draco pulava do sofá e corria em direção à porta do quarto, com sua varinha em riste.

Aproveitando a distração de Draco e a covardia de Mundungo, que escondia o rosto com as mãos e já tinha se enfiado debaixo do sofá, Harry aproveitou para se esgueirar até a mesa e pegar aquele medalhão.

No momento em que tocou no objeto, sua cicatriz ardeu como nunca e uma dor lacerante instalou-se no braço que o segurava, fazendo o garoto pensar que iria desmaiar. Mas, tão rapidamente quanto apareceu, a dor foi embora e Harry saiu em corrida desabalada, antes que Draco retornasse.





Ao chegar no corredor, um verdadeiro caos estava instalado no hotel. A maioria dos hóspedes daquele andar estava fora de seus quartos, havia fumaça por todo o lado e os funcionários do hotel tentavam acalmar as pessoas gritando para que todos voltassem aos seus aposentos.

- Por favor, voltem para os seus quartos senhores – gritava um duende, que parecia ser o gerente. – A situação já está contornada! Foi apenas uma discussão entre dois bruxos embriagados!!

- Só uma discussão? – questionou Draco – Quer dizer que toda a fumaça e fogo e a destruição no corredor é apenas fruto de minha imaginação então?

Realmente, Harry achou que Malfoy tinha razão. Não podia ser apenas fruto de discussão toda a destruição ocorrida. Espelhos e toucadores, que antes enfeitavam o corredor estavam destroçados, assim como os quadros, antes na parede, agora se encontravam espalhados pelo corredor. O carpete, próximo à escada, estava em chamar e alguns funcionários do hotel conjuravam baldes com água para tentar apagar o fogo.

- Não se preocupe senhor, está tudo sobre controle. Os briguentos já fugiram quando notaram a confusão que tinham arrumado e toda a bagunça será ajeitada em minutos.

- Muito bem. Espero que isso não se repita mais! – virou de costas e encaminhou-se para o quarto, enquanto Harry corria de volta ao seu. Não queria estar por perto para escutar a confusão que aconteceria naquele cômodo quando Draco e Mundungo descobrissem que o medalhão havia sumido.

Ao chegar ao final do corredor, virou-se para contemplar a destruição. Desceu as escadas sorrindo e pensando: “Rony e Krum levaram a sério a simulação de briga arquitetada por Hermione. Espero que não tenham se machucado... muito”.

O plano de Hermione dera certo.

***

De volta ao quarto, Harry ria a valer ao tomar conhecimento de como foi armada a confusão que permitira ao garoto pegar o medalhão. Rony e Krum encenavam a luta, tentando demonstrar para Harry todos os detalhes, pareciam até velhos amigos e, qualquer um que os visse neste momento, jamais poderia suspeitar que ambos disputavam o coração da mesma garota e quase não se toleravam.

A garota em questão, Mione, encontrava-se sentada na cama de Rony e girava o artefato entre os dedos, muito pensativa, e absolutamente sem prestar atenção na encenação.

- O que foi Hermione? – Harry sentou-se ao lado da amiga, enquanto Rony e Krum paravam com sua luta forjada e sentavam-se junto dos outros dois.

- Ah Harry! Deu tudo certo, conseguimos recuperar o medalhão e ninguém sabe que estamos com ele. Mas o que faremos a seguir? Temos que recuperar os outros objetos, e pior, temos que descobrir como destruí-los. Não conseguimos avançar na tradução do livro e sequer desconfiamos onde podem estar as outras 3 peças. Estou muito preocupada e acho que precisaremos de ajuda. Quer dizer, alguém mais velho e com mais conhecimento de magia do que a gente.

Harry estava surpreso. Logo Mione, que não tinha medo de aprender e para quem nenhum feitiço era impossível, querendo desistir? Precisando de ajuda?

Pelo jeito, seus pensamentos eram compartilhados por Rony e Krum, pois ambos se entreolharam e encaravam a menina com a mesma surpresa manifestada por Harry.

- Espera aí! Você não é a Hermione! O que fez com ela impostora? – brincou Rony – Você não é assim Mione! É a garota mais corajosa e inteligente que conheço. Nunca te vi desistir de nada!

Hermione encarou Rony com muito carinho, levantou-se e o abraçou, dizendo baixinho: - Estou com medo...

Rony, por sua vez, retribuiu o abraço, parecendo extasiado com aquele gesto tão espontâneo de Mione. Victor ficou impassível enquanto Harry não sabia o que pensar.

Estava desanimado. Tinham acabado de conseguir uma vitória excepcional contra Voldemort, estavam um passo à sua frente, mas isso de nada adiantava se perdessem a coragem. Principalmente Hermione, que era o cérebro daquele grupo.

Harry, que sempre relutara em envolver os amigos em sua jornada suicida, agora entendia que jamais poderia estar sozinho naquela empreitada. Precisava deles, inclusive de Krum, que estava demonstrando ter muita lealdade e coragem, envolvendo-se em uma história que não tinha nada a ver com ele.

- Mione, olhe para mim. – disse Harry.

A menina levantou a cabeça, que estava apoiada no peito de Rony, mas continuava abraçada a ele, que fazia carinho em seus cabelos. Harry franziu o cenho pois já havia presenciado aquela cena antes e, de repente, lembrou-se quando isso ocorrera: no enterro de Dumbledore.

Mais uma vez a dor transpassou-lhe o coração e o garoto compartilhou o sentimento de desconsolo da amiga. Se Dumbledore estivesse vivo, tudo seria mais fácil, pois ele saberia o que fazer, onde procurar e como fazer para destruir as horcruxes.

Compreendeu então que Hermione devia estar se sentindo pressionada, uma vez que era ela quem estava fazendo o papel de Dumbledore naquela história. Ela era a parte pensante, sensata e sábia que teria que guia-los para a luta contra Voldemort, e quem teria que descobrir como destruir a alma de Voldemort incrustada naqueles objetos.

- Não tenha medo Mione. Eu sei que tudo parece apavorante, e é. Mas já passamos por tantas coisas terríveis e superamos. Você quase morreu no Ministério, quando foi atingida por Dolohov, Rony já foi envenenado e sobreviveu. Krum foi vítima da Imperius. Todos nós enfrentamos a morte e sobrevivemos! Você está sempre me dizendo que, enquanto estivermos juntos, nada poderá nos atingir.... Não acredita mais nisso?

- Acredito, claro! Me desculpe.... Victor... Rony.... Peço desculpas. Não sei o que foi que me deu! Estar com isso aqui nas mãos – mostrou o medalhão – saber o que significa e pensar que Voldemort vai estar atrás da gente como jamais esteve por que temos isso é apavorante! Além disso, não evoluímos muito na tradução do livro e nem imagino como podemos destruí-lo...

- Ha.... Eu não entendo por que esse objeto é tão imporrtanti! – perguntou Krum. – Parrece um simples medalhon. Não vejo nada de especial nele para que Você-Sabe-Quem o queirra tanto assim....

Harry olhou para Rony que olhava Mione que encarou Krum.

- Sabe Harry, acho que temos que contar tudo ao Victor – disse Hermione – Devemos dar a ele o direito de escolher se quer ou não lutar ao nosso lado e arriscar sua vida. Ele tem que saber no que está se metendo.

- Mione tem razão Harry – corroborou Rony – Ele tem nos ajudado muito, mas nem tem noção de qual é a nossa tarefa. Daqui para frente as coisas tendem a piorar e nem imagino como vai ser se Voldemort descobrir que estamos com isso.

Harry encarou Victor por um momento, mas já tinha decidido, depois da participação de Krum nos acontecimentos daquela tarde, que ele seria informado de tudo sobre as horcruxes e da tarefa deixada a Harry por Dumbledore.

E começou a falar.

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