Um passeio ao entardecer



Harry olhava atentamente ao seu redor enquanto caminhava pelas ruas de Dust Wizard. Apesar do dia estar ensolarado, o que podia ser percebido pelo sol brilhante que era vislumbrado pelas frestas entre os edifícios, o clima era sombrio.

O garoto sentia constantes arrepios ao cruzar com bruxos mal encarados que transitavam por aquelas ruas sombrias. Já estavam andando a algum tempo, sem rumo, observando as pessoas que passavam, tentando achar Mundungo. Harry notou que não haviam lojas naquele lugar.

Em compensação, havia sempre um bruxo em cada esquina, olhando desconfiando e pronto para oferecer poções ilícitas aos garotos. Na verdade, não eram poucos os rapazes que estavam por ali conversando aos sussurros com os traficantes de poções. Essa situação deixava Harry extremamente irritado pois não entendia como o Ministério da Magia não tomava providências para impedir aquele comércio. Além disso, achava inconcebível que bruxos tão jovens utilizassem esse tipo de substância, por qualquer motivo que fosse.

- Isso é uma baixaria!!!! – disse Harry enquanto observava um jovem bruxo, de aproximadamente 19 anos, esconder rapidamente em suas vestes um frasco com uma substância cor-de-rosa. – Por que ninguém faz nada para impedir isso Rony?

- Não sei Harry. – respondeu Rony, observando a cena pelo canto do olho – Papai vive dizendo que o Ministério da Magia fecha os olhos para muitas coisas erradas só para manter a paz em nossa sociedade.

- Sei... Pelo jeito o Ministério da Magia precisa de óculos de grau bem alto pois ultimamente não anda enxergando é nada! – o garoto demonstrava o seu ressentimento contra o Ministério e, principalmente, contra o ministro Rufus Scrimengour.

- Pois é. Mas Harry, onde estamos indo? Não é perigoso ficar perambulando por aqui? E se alguém nos reconhecer? – Rony, como sempre, estava preocupado.

- Não se preocupe Rony. Nossa aparência foi alterada e os óculos e bonés ajudam a disfarçar bastante. É claro que não podemos ficar por aí gritando nossos nomes....

- É, você tem razão. Mas ainda acho que andar por aqui sem rumo não vai nos levar a nada. Poderíamos retornar para o hotel e esperar Mione voltar. Depois conversamos com ela e com aquele outro e traçamos um plano para seguir o Sr. Malfoy decente.

- É. Talvez você tenha razão. Não gosto desse lugar, cara. Gostaria de estar no Beco Diagonal, ajudando a Mione a traduzir aquele livro ou procurando os outros objetos com você-sabe-o-quê. – Harry disse tristemente.

Harry percebeu que Rony o olhava com ar de pesar e tristeza. Tinha certeza que o amigo sabia que, na verdade, o que Harry mais queria era estar com Gina, em Hogwarts, sem ter que enfrentar todo o horror que estava por vir.

- Rony – chamou Harry, de maneira um tanto quanto hesitante.

- Fala Harry – Rony tentou encorajar o amigo a continuar;

- Você cresceu nesse mundo, já escutou muitas coisas. Tem irmãos que passaram por Hogwarts, que viajaram bastante e tiveram aventuras e experiências mágicas de todas as formas. Diga-me uma coisa: você realmente acha que eu tenho alguma chance real de derrotar Voldemort?

- Por que você está me perguntando isso Harry? É claro que acredito. Todos contamos com isso. Além do mais, o maior bruxo de nosso tempo, Dumbledore, acreditava muito em você...

- Ele acreditava, vocês acreditam. A confiança que vocês depositam em mim me dá muita força e me comove muito. Mas que armas eu tenho para lutar contra Voldemort? Nem terminei o curso em Hogwarts. Não tenho licença para aparatar e não tenho nenhuma habilidade especial... Como posso vence-lo?

- Harry, você sabe qual a arma que possui!!! É ela que tem te dado força e coragem para vencer todos os desafios que enfrentou até agora. – Rony colocou a mão no ombro do amigo, tentando confortá-lo. – O amor.

- Mas do que isso me serve Rony? Como vou lutar contra Voldemort utilizando “o amor”? Vou chegar em frente a ele e dizer: Olha Voldemort, eu tenho amor em meu coração e, por isso você tem que se escafeder e nunca mais aparecer por aqui!!!! E ele vai simplesmente balançar a cabeça concordando e virar as costas e ir embora? Acho que não!

Mas Rony não respondeu à essa ironia pois estava com o olhar fixo às costas de Harry, que virou-se rapidamente para tentar enxergar o que distraia a atenção do amigo. – O que foi Rony? O que você viu?

- Harry, acho que vi o Rabicho entrando naquela casa ali. – E apontou um casa de 3 andares, pintada de vermelho descascada e com as janelas travadas por tábuas de madeira. Parecia mal-assombrada.
- Rabicho, quer dizer, Pedro Pettigrew? Aquele traidor maldito? – enquanto fazia essas perguntas, Harry dirigiu-se à casa apontada por Rony.

- Aonde você vai Harry? Tá maluco? Não pode entrar aí. – Rony tentou segurar o amigo pela manga do casaco mas Harry já partia em disparada.

- Deixa de ser bundão Rony. Vou entrar naquela casa e tentar descobrir o que esse maldito está fazendo aqui.

- Eu não sou bundão Harry, não precisa ofender. Só acho que não devíamos nos arriscar dessa maneira. Já pensou se acontece alguma coisa, se existe um monte de comensais aí dentro que nos capturam e nos levam até Voldemort? Nossos planos vão por áqua abaixo!! – argumentou Rony.

- Não vai acontecer nada cara. Só temos que tomar cuidado. – Harry chegou à porta da casa e empurrou-a para testar se abria. A porta correspondeu e os amigos entraram na casa.

***

O cheiro dentro daquela casa era horrível. Parecia ter algum animal morto em algum canto. Harry teve que se segurar para não vomitar. Rony também parecia estar passando mal.

Foram caminhando lentamente pelo corredor de entrada da casa, que era de madeira. Chegaram ao que parecia ser a sala de estar daquele mausoléu, que estava escura. Como não escutavam nenhum som que pudesse indicar a presença de alguém naquele aposento, Harry sacou sua varinha.

- Lumus

Com a luminosidade vinda da varinha de Harry, os meninos puderam observar melhor onde estavam. A sala era muito grande e tinha uma lareira ao lado oposto da porta por onde os meninos entraram. Não tinha móveis e haviam garrafas grandes, pequenas, jornais, roupas rasgadas espalhadas pelo chão de madeira.

- Pra onde será que ele foi? – sussurrou Rony.

- Nem desconfio. Vamos... – o garoto puxou Rony pelo braço e continuou avançando pela sala até chegarem a outra porta que, aparentemente levava à cozinha, que era de bom tamanho, mas também estava completamente vazia.


Os dois amigos atravessaram todo o cômodo vagarosamente, com as varinhas em riste, prontos para a briga. Chegaram a uma porta que se encontrava trancada.

- Aloromora – proferiu Harry e os garotos escutaram o clique da fechadura e o rangido da porta sendo aberta.

- Lumus – disse Rony e ambos avistaram o topo de uma escada que certamente terminaria no porão da casa.

- Será que Rabicho está aí? – perguntou Rony, aos sussurros.

- Psiu! Escute! – Harry escutou vozes ao longe. – Acho que sim Rony, estou ouvindo vozes.

- Parece que tem mais gente lá embaixo Harry.

- É sim, acho que Rabicho não está sozinho mesmo. Vamos lá Rony, vamos pegar esse crápula. Quem sabe ele nos diz onde encontrar Mundungo ou até mesmo Voldemort. – e Harry começou a descer as escadas tomando o cuidado de não fazer barulhos que pudessem denunciar sua presença naquele lugar.

Harry ia na frente, empunhando sua varinha e conjurando luz, pois a escuridão era total.
Continuaram descendo até chegaram ao final da escada. Apesar do escuro, já era possível enxergar um tênue luminosidade.

Os garotos continuaram caminhando em direção à luz e às vozes, que ainda pareciam estar muito distantes. Harry começou a ficar preocupado, temendo encontrar Voldemort.

Apesar de saber que isso iria acontecer, mais cedo ou mais tarde, não queria que acontecesse neste momento. Isso porque, primeiro, precisava destruir as horcruxes. Antes disso não teria condições de liquidá-lo.

Com esse peso em seu coração o garoto continuou andando até chegar a uma parede. Podiam escutar as vozes por detrás da parede e, por um momento, Harry achou que sua caçada a Rabicho tinha chegado ao fim.

Mas logo em seguida Rony apontou um buraco na parede. O buraco não era grande o suficiente para fazer passar uma pessoa, mas dava para visualizar o cômodo ali escondido. Os dois amigos aproximaram-se cuidadosamente e, apesar de estar relativamente escuro, podiam enxergar Rabicho, que estava de frente para o buraco conversando com uma pessoa, sentada em uma poltrona. Entre os dois, uma pequena mesa com um lampião iluminava precariamente o recinto, e possibilitava aos dois invasores observarem o rosto repugnante de Rabicho.

Não podiam enxergar o interlocutor, uma vez que a poltrona estava de costas para os garotos, tampouco conseguiam identificar a voz, já que conversavam aos sussurros.

- Tem certeza de que não foi seguido Rabicho? – perguntou o interlocutor oculto.

- É claro que não fui seguido, tomei as precauções necessárias. – respondeu Rabicho, de forma subserviente. – Houve alguma alteração nos planos?

- Nenhuma alteração, por enquanto. Mas isso não significa que podemos nos descuidar. Temos que cumprir as ordens que nos foram dadas.

- Alguma notícia de Harry Potter? – perguntou a voz.

- Nenhum por enquanto. O Lorde das Trevas está impaciente e irritado com esse sumiço. – disse Rabicho.

- E a menina Granger e o caçula dos Weasley? – era possível perceber o desgosto na voz do desconhecido ao se referir aos amigos de Harry.

- Também sumiram. Acredito que os três estejam juntos, o que é péssimo para os planos, diga-se de passagem. – continuou Rabicho.

- É verdade. Contava com eles para atrair Potter até o Lorde das Trevas. – disse o desconhecido sem qualquer emoção na voz, o que fez Harry olhar para Rony e pensar em Hermione com um aperto no coração. – Mas acho que podemos dar um jeito, quando for a hora certa.

Neste momento Harry pensou em Gina, e ficou apavorado. Será que Voldemort sabia dos sentimentos que ele nutria pela menina? Sua preocupação, todavia, foi afastada logo em seguida.

- Não há porque se preocupar – o estranho deu uma risadinha sarcástica – mais cedo ou mais tarde encontraremos alguém de quem ele goste o suficiente para fazer o sacrifício de ir até o Lorde.

- Ele não sabe da Gina. – pensou Harry e respirou aliviado. Neste momento percebeu que o sacrifício que tinha feito ao separar-se dela tinha valido cada momento de sofrimento pelo qual o menino tinha passado.

Mas, ao mesmo tempo, outra preocupação se apresentava. Se caísse nas mãos de algum legimente, como Snape, por exemplo, seu segredo poderia ser descoberto e Gina correria perigo. Foi então que, parado ali no escuro, escutando aquela conversa sinistra, Harry decidiu que iria atender, de uma vez por todas, o desejo de Dumbledore, manifestado quando menino estava no quinto ano, seria um oclumente.

Sua atenção voltou-se, mais uma vez, para a estranha conversa. – Como está o Lorde?

- Está irritado e impaciente com o sumiço de Potter. Além de ansioso com a obtenção de certo objeto que deverá ser recuperado por Malfoy. – disse o desconhecido.

- Mas certamente Draco cumprirá sua missão, embora eu não tenha sido informado da natureza dela e tenha sido mandado para vigia-lo. O incentivo que ele tem para tanto é muito persuasivo – Rabicho riu de sua própria piada, enquanto o outro grunhiu, e os meninos ficaram sem saber se de satisfação ou desgosto.

- A missão é de natureza muito pessoal. Por isso, não existe a menor possibilidade de você ser informado acerca de sua natureza. De qualquer maneira, ameaçar a mãe do garoto certamente não é a melhor alternativa para faze-lo cumprir sua tarefa a contento. Tenho a impressão de que isso só prejudica pois o garoto está preocupado com a mãe e isso distrai sua atenção. – o desconhecido levantou-se e começou a encaminhar-se para o fundo da sala, ainda de costas para o buraco na parede.

- Continue com sua tarefa Rabicho. Nos reencontraremos em breve, espero que com notícias de Potter. – o desconhecido aparatou e Rabicho ficou ali, olhando para o lugar de onde o estranho tinha desaparecido.

- Vamos sair daqui Harry antes que Rabicho nos descubra. – sussurrou Rony, enquanto puxava o amigo pela manga da blusa.

O menino se mexeu vagarosamente e, como não via onde pisava, acabou escorregando em alguns pedregulhos e foi ao chão, o que causou um tremendo barulho e chamou a atenção de Rabicho.

- Quem está aí? – gritou o comensal da morte, demonstrando um certo nervosismo – Lumus – e apontou a varinha na direção dos garotos.

Rony e Harry saíram correndo em disparada, no escuro, tropeçando e esbarrando nas paredes até alcançarem a escada.

Subiram-na rapidamente ao mesmo tempo em que escutaram o som de uma parede vindo abaixo e perceberam passos hesitantes em seu encalço.

- Estupefaça – gritou Rabicho e o feitiço passou de raspão na orelha de Rony, que passou a correr com mais vigor.

- Imobilus – continuou o comensal da morte, todavia sem sucesso.

Os garotos continuaram em sua fuga desabalada pela casa vazia, escorregando pelo caminho até alcançarem a porta da frente e saírem para a luz do sol.

Por um instante a visão dos garotos ficou prejudicada pela saída repentina da escuridão total para a brilhante luz do dia, e eles pararam por alguns instantes à porta da casa.

Neste instante de distração perceberam o rangido que indicava que a porta estava sendo aberta e perceberam que Rabicho colocara a cabeça , cautelosamente, para fora da porta. Todavia a mesma cegueira temporária que acometeu os meninos tomou conta de Rabicho e, neste momento, os garotos puderam disparar em direção a um beco, saindo das vistas do ex-rato de estimação de Rony.

- Essa foi por pouco – disse um Rony ofegante.

- Puxa! Realmente foi por muito pouco. – concordou Harry, esbaforido, e espiando a rua tentando encontrar vestígios de Rabicho.

- Quem será que estava conversando com Rabicho? – questionou Rony. – Muito sinistra a conversa não? Quer dizer que eles estavam pretendendo usar a mim ou a Mione para atrair você Harry? – a voz do ruivo tremeu levemente ao falar essa última frase.

Harry não respondeu. “A menina Granger e o caçula dos Weasley” - essa frase martelava em sua cabeça, insistentemente. O único pensamento que lhe vinha à cabeça era o de ter trazido seus amigos para a morte.

- Vamos Rony. Acho que ele não está mais por aqui. Vamos voltar para o hotel e contar tudo para a Hermione – a voz do menino demonstrava uma profunda preocupação.

***

- Por que você está tão calado Harry? – perguntou Hermione ao amigo, enquanto os quatro jantavam no restaurante do hotel. – Aconteceu alguma coisa?

O garoto encarou a amiga com aquelas palavras sinistras ainda transpassando-lhe a mente. Não conseguia pensar em outra coisa. Deu um risinho e disse: - Não aconteceu nada Mione. Me contem, conseguiram alguma pista de Mundungo?

A menina olhou o amigo nos olhos, pronta para continuar o interrogatório tentando descobrir o que afligia Harry Potter, mas resolveu desistir ao perceber a expressao nos olhos do amigo.


- Não descobrimos nada. Seguimos Draco o tempo todo mas não descobrimos nada!!!! – a menina parecia desanimada. – Acho que devíamos voltar para o Caldeirão Furado , tentar traduzir o livro e seguir com a nossa vida, esperando outra oportunidade para encontrar Mundungo.

Harry, Rony e Victor encararam Hermione com uma expressão de surpresa nos olhos. – O que é isso Mioni – disse o búlgaro. – Nem parece focê!!! Cadê aquela garota corajosa que não desiste nunca? Não estou te reconhecendo!!!!!

Hermione olhou com carinho para Victor. Rony percebeu e ficou chateado, levantando abruptamente da mesa. – Vou dormir – disse o ruivo, dirigindo-se para as escadas.

- Eu também vou me deitar – disse Harry e saiu atrás do amigo.

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