O Interrogatório de Monstro
Nos dias que se seguiram, os três amigos permaneceram trancados no quarto que tinham tomado no Caldeirão Furado, aguardando o momento da partida para a sede da Ordem, a fim de interrogar Monstro.
Nesse meio-tempo, Harry e Rony tentavam ajudar Hermione a traduzir o livro trazido de Durmstrang, não conseguindo, no entanto, avançar da segunda página, o que vinha deixando a menina profundamente irritada.
- Mas que droga! Nunca pensei que fosse tão difícil traduzir um simples livro. A maioria das palavras não está no dicionário búlgaro. – disse Rony, muito desanimado.
- O problema é que não se trata de um simples livro Rony. – retrucou a menina, por entre os dentes. – É um livro que trata de feitiços das trevas, realmente malignos. Não acho estranho que a maioria das palavras não seja encontrada num dicionário comum.
- Então me diga como vamos fazer para traduzi-lo se a maioria das palavras não está no dicionário? – perguntou Harry.
- Realmente não sei Harry. Estou muito preocupada pois não estamos fazendo progressos e precisamos muito das informações que estão aqui. Acho que vamos precisar de ajuda. – Hermione encarou Harry com um olhar que o garoto não entendeu muito bem.
- No que está pensando Mione? – quis saber.
- Em nada. – a menina baixou os olhos, constrangida.
- É melhor nos dizer Mione! Não quero que você suma de novo sem nos dizer para onde vai e o que está aprontando. – o tom de Harry era de repreensão.
- Bem, assim, eu estava pensando em escrever, quero dizer, pedir ajuda. Nós realmente precisamos, o assunto é importante, ele pode nos auxiliar. – a garota começou a falar de forma incoerente, parecendo estar muito embaraçada.
Harry reparou que Rony a encarava com uma expressão de tristeza no rosto. Assim como Harry, o ruivo já devia ter entendido o que Mione pretendia fazer. Apesar de ficar preocupado com a reação do amigo, Harry sabia que a menina estava apenas querendo ajudar e aquela decisão nada tinha a ver com a conversa de alguns dias atrás, na qual a amiga disse que pretendia cuidar da própria vida. Sabia que Mione somente pensaria nisso quando tivessem completado a missão.
- Chamar quem Mione? – perguntou Rony, com a voz muito baixa.
- Victor. – disse a menina, encarando Rony com os olhos muito tristes. – Ele certamente pode nos ajudar.
- Claro. Eu bem que devia ter imaginado. – prosseguiu Rony, encarando Mione de volta.
- Olha Rony, precisamos de alguém que conheça profundamente a língua. Não estamos fazendo progressos. Ele é búlgaro. Quem melhor para conhecer a língua do que ele que, inclusive, estudou arte das trevas na escola e deve conhecer a maioria dos termos usados pelos bruxos das trevas. – complementou Hermione, tentando dar um tom muito natural à sua voz, mas parecendo ansiosa e preocupada.
- É claro Mione. Tudo bem, eu entendo. Você tem razão. – disse o garoto. – Eu só queria que fosse diferente. – sussurrou Rony e Harry teve a impressão de que ele falou mais para si mesmo do que para que os outros ouvissem.
- Então Mione, escreva para ele. Será que ele vai nos ajudar? – perguntou Harry..
- Não tenho dúvidas. Ele sempre me disse que eu poderia contar com ele, a qualquer hora e por qualquer razão. – a menina enrubesceu. – Vou escrever a ele imediatamente. Tenho certeza que, no mais tardar amanhã, ele estará por aqui.
Harry observou Mione sentar-se à mesa e começar a escrever, enquanto Rony observava a menina com os olhos marejados. Ele imaginava o que Rony deveria estar pensando agora, mas tinha ficado orgulhoso com a atitude do amigo, que não tinha feito escândalos com a notícia tão indesejada.
- Venha Rony, vamos descer e tomar alguma coisa. Deixe Mione escrever sossegada. – Harry puxou Rony pelo braço, enquanto a menina escrevia a carta, fungando.
***
- Eu não acredito que vou ter aturar esse imbecil novamente. – disse Rony, extravasando suas frustrações.
- Calma Rony! Eu sei que não deve ser nada bacana ter o Victor perto da Mione. Mas lembre-se de que foi você quem preferiu não falar com ela sobre seus sentimentos. – repreendeu-o Harry.
- É claro que eu não vou falar nada pra ela. Já te disse, você acha que Mione vai me querer tendo o Victor atrás dela? – falou o ruivo, entre os dentes.
- Na verdade, já que você não quer conversar com ela sobre esse assunto, nunca vai saber. Não é mesmo? – respondeu Harry, com ironia, enquanto sentava-se no balcão do bar do Caldeirão Furado e pedia uma cerveja amanteigada.
Rony sentou-se ao seu lado e também pediu uma bebida que virou quase de uma só vez, o que o fez engasgar.
- Vai devagar cara! – Harry dava tapinhas nas costas do amigo, tentando evitar que este morresse sufocado. – Não vai querer tomar um porre, vai?
- Claro que não. Só estou com sede. – respondeu Rony, mal-humorado.
Harry resolveu não falar mais nada. Sabia que o amigo estava sofrendo, mas não podia ajudá-lo. Gina tinha razão, ele não podia fazer nada. Já tinha dito o que pensava a Rony. A decisão final era dele.
Ficaram ali sentados no balcão, bebendo cerveja amanteigada, cada um com seus pensamentos, até que Hermione juntou-se a eles, cerca de uma hora mais tarde.
- Olá meninos. Já jantaram? – perguntou Mione, parecendo muito à vontade.
Rony encarou-a com uma expressão de surpresa que beirava o ridículo.
- O que está fazendo aqui? – disse, com a voz meio mole.
- Você está bêbado Rony? – Hermione parecia surpresa.
- Eu não! – respondeu, soluçando.
- Mas era só o que me faltava: o Rony de porre! – disse, indignada, a menina. – Harry, como você deixou uma coisa dessas acontecer?
- EU NÃO ESTOU DE PORRE!!! – gritou Rony – E pare de se intrometer na minha vida Mione. Vai cuidar dos preparativos para a chegada do Vitinho!!! – disse, com a voz embargada.
- De novo isso não Rony!!! Eu não agüento mais. Será possível que você não tem nada melhor para fazer do que ficar me atormentando por causa do Victor? – falou a menina, a ponto de chorar, e saiu correndo, de volta para o quarto.
Rony fez menção de sair correndo atrás dela, mas parou no mesmo instante. Harry observava aquela cena com grande pesar. Era visível que o amigo estava louco para ir atrás de Mione, mas o medo de que a garota o rejeitasse era maior do que o amor que sentia por ela. Então não se mexeu. Ficou ali parado, olhando para o vazio, com os olhos apertados e uma cara de sofrimento que Harry nunca tinha visto no rosto do amigo. Sentiu uma pena enorme de Rony.
- Vamos Rony, venha comer alguma coisa antes que você fique tão bêbado que faça alguma bobagem. – Harry puxou o amigo pelo braço, levando-o até a mesa.
Rony encarou-o com o olhar perdido e disse, muito devagar: - Não Harry. Acho que não serei capaz de fazer bobagens maiores do que as que venho fazendo nos últimos 6 anos.
***
Faltavam 5 minutos para as 22 horas daquela noite, quando os dois amigos dirigiram-se à loja de logros dos gêmeos Weasley, a fim de encontrarem Fred e Jorge e partirem para a casa dos Black. Fazia uma noite muito bonita e a lua cheia brilhava no céu, alheia aos acontecimentos que ocorreriam naquela noite.
- Bem, é isso. Chegamos. Ainda dá tempo de desistir Harry. – disse Rony, em tom de brincadeira, já curado do porre após comer uma lauta refeição.
Mas Harry não achou graça. Estava muito preocupado. Não sabia se Monstro iria colaborar e tinha receio de que algum dos membros da Ordem os encontrasse na casa.
- De jeito nenhum! Vamos terminar isso de uma vez. – falou, decidido, enquanto empurrava a porta da loja, entrando no salão escuro, que cheirava à pólvora.
- Jorge? Fred? – chamou Rony.
- Até que enfim! – falou um dos gêmeos, que os dois amigos não conseguiram identificar qual seria.
- Até que enfim por quê? Ainda faltam 5 minutos para a hora marcada. – respondeu Rony, irritado.
- Eu sei. Mas é que estamos esperando a tanto tempo nessa escuridão que perdemos a noção das horas. – falou o outro gêmeo.
- De qualquer forma, estamos aqui. Está tudo pronto? Podemos ir? – perguntou Harry, ansioso.
- Vamos lá. – Jorge segurou Harry pelo braço. Fred fez o mesmo com Rony e ambos aparataram na sede da Ordem Fênix, antiga residência dos Black.
Estava tudo muito escuro e silencioso. Parecia que tinham entrado em uma daquelas casas mal-assombradas, sobre as quais Harry tinha lido nos livros que Duda jogava fora, sem sequer abrir, dizendo aos pais, mais tarde, que tinha adorado.
Os quatro garotos começar a andar, silenciosamente, pela casa vazia, tentando encontrar o elfo doméstico da família Black, Monstro.
Harry se separou dos demais, andando em direção aquele que sabia ser o quarto de Monstro. Um cúbilo escuro e mau-cheiroso, onde o elfo doméstico se escondia, na maior parte do tempo, como forma de evitar o contato com os “impuros” que teimavam em contaminar a casa de sua amada família Black.
O garoto caminhava muito suavemente, pois não queria assustar o elfo, caso este realmente estivesse em seus aposentos.
Monstro estava encolhido sobre o que parecia ser um saco de batatas, muito sujo e esfarrapado que lhe servia de cama, roncando alto. Naquele momento, Harry teve pena daquela criatura que parecia tão castigada e ridícula, tentando dormir sobre aqueles trapos. Mas lembrou-se de todas as barbaridades que a criatura já tinha falado, e feito, e a piedade se foi. Afinal, não podia ser piedoso. Tinha um interrogatório a fazer.
***
Aproximou-se sorrateiramente da criatura e, de forma muito tranqüila, chamou-o pelo nome.
O pequeno elfo doméstico levantou-se de uma vez, num pulo, muito assustado e com cara de poucos amigos.
- Sim meu senhor. O que deseja? Apesar de não terem consideração pelo Monstro, ele está aqui para servir ao Sr. Harry Potter, mesmo que ele não seja um legítimo Black. – disse, de uma vez, a criatura.
- Muito bem Monstro. Precisamos conversar muito seriamente, você e eu. E não quero mentiras, nem enrolação! – ameaçou-o o garoto.
- Como quiser, meu senhor. – respondeu Monstro, muito contrafeito, balançando a cabeça.
- Quero me conte tudo. Absolutamente tudo o que você sabe sobre Regulus, o irmão de Sirius.
- Sobre o Sr. Regulus? – pela primeira vez desde que se conheceram, Monstro olhou Harry Potter nos olhos, demonstrando algum respeito por ele.
– Ah Sr. Potter, ele era o filho predileto de minha senhora. – era óbvio que estava emocionado com o interesse de Harry por Regulus - Tão obediente e carinhoso com a mãe. Fazia tudo o que ela queria. Também, não vejo como poderia ser diferente, afinal, minha senhora era sempre tão gentil e bondosa. – o menino tinha certeza de que Monstro falava de outra pessoa ou então estava completamente gagá pois achava, pelo retrato, que a Sra. Black poderia ser qualquer coisa, menos amorosa e gentil.
- Tá, tá. – disse o garoto, impaciente. – Não estou interessado na benevolência da Sra. Black. Então vamos ao que interessa: por que Regulus se tornou comensal da morte?
- Isso é óbvio – respondeu o elfo, desdenhosamente. – Para ajudar o Lorde das Trevas a limpar o sangue dos bruxos que estava ficando cada vez mais poluído pela mistura com aqueles sangue-ruins.
- Sei. Mas ele se juntou a Voldemort por livre e espontânea vontade? – insistiu Harry.
- É claro que sim. Meu senhor acreditava na pureza da raça. – disse o elfo, com um tom que demonstrava não haver qualquer possibilidade de que a resposta pudesse ser diversa.
Harry estava ficando impaciente. Aquela lenga-lenga não iria levá-lo a lugar nenhum. Precisava saber das motivações por trás da suposta necessidade da “pureza da raça” apregoada pelo lado negro da família Black. Tinha que adotar outra estratégia para extrair as informações do elfo.
- Me diga uma coisa Monstro: a Sra. Black concordou com a atitude de Regulus. Quer dizer, ela não se opôs à idéia do filho juntar-se a um bruxo tão poderoso e maquiavélico como Voldemort? – perguntou o menino, muito desinteressadamente, apesar de estar aguardando, ansioso, pelas respostas.
- De jeito nenhum! Minha senhora era a maior incentivadora do filho. Na verdade, insistia para que o filho se juntasse ao Lorde das Trevas e ele, como filho obediente e bruxo responsável, uniu-se aqueles que pretendiam excluir os mestiços imundos de nosso meio. – disse o elfo, de forma altiva.
- Mas ele nunca se opôs à vontade da mãe? Desde o início ele concordou em aliar-se ao Lorde das Trevas?
Monstro encarou Harry mais uma vez, mas respondeu: - Na verdade, logo que foi convocado, não queria ir. Mas minha senhora insistiu tanto que ele, como o filho prestimoso que era, acabou por concordar com ela que este era o melhor caminho a seguir.
- Ele pensou, algum momento, em desistir? – Harry continuava a empregar um tom de descontração na voz.
- O Sr. Regulus começou a se envolver com mestiços que lhe viraram a cabeça. Minha senhora sempre disse que os “sangue-ruins” é que eram os verdadeiros bruxos das trevas pois realizavam feitiços muito poderosos para iludir os bruxos de bem.
- Por que você está dizendo isso? O que aconteceu com Regulus?
- Pobrezinho do menino Regulus. – disse Monstro, com lágrimas a brotar-lhe dos olhos. – Teve uma morte tão triste. Foi iludido pelos mestiços e quis afastar-se do Lorde das Trevas. Minha senhora ficou fora de si quando soube que o menino tentou se voltar contra o próprio sangue. Eu dizia a ela que foi tudo por culpa das más companhias - os mestiços, mas ela só responsabilizava o Sr. Sirius pela desgraça do irmão.
- O que Sirius tem a ver com essa história? – o menino parecia irritado pela menção tão pouco respeitosa feita a seu padrinho.
- Sirius era um traidor do próprio sangue. Voltou-se contra minha senhora e foi embora daqui. Nunca mais quis saber da família e ela nunca fez questão. Considerava que só tinha um filho, o menino Regulus. Por um tempo ele correspondeu às expectativas da mãe, unindo-se ao Lorde das Trevas. Mas depois, influenciado pelo irmão traidor, como dizia minha senhora, começou a ter idéias erradas, afastou-se, fugiu. Passou a ser caçado e finalmente foi morto pelo próprio Lorde. Muito triste! – Monstro balançou a cabeça, pesarosamente.
- Mas, Monstro, por que razão ele quis afastar-se de Voldemort? Não era bem tratado por ele? Não tinha uma posição de destaque sobre os demais comensais? Por que quis fugir? – Harry tentava direcionar o pensamento de Monstro, com a intenção de obter as informações que queria.
- É claro que o menino Regulus tinha posição de destaque junto ao Lorde das Trevas, que tinha muita consideração pela família Black. Quando meu senhor e a Sra. Bellatrix – uma verdadeira Black – acrescentou Monstro, fazendo com que Harry ficasse com vontade de lhe dar um pontapé por fazer menção à desgraçada da bruxa que tinha matado Sirius – se juntaram a ele, transformou-os imediatamente em seus braços direitos. Confiava plenamente neles e eles retribuíam essa confiança, obedecendo cegamente às suas ordens.
- Então não estou entendendo. Se ele tinha tanto poder e prestígio, por que fugiu? O que realmente aconteceu com Regulus? Quero saber de tudo e com detalhes. – exigiu o menino, que mais sentiu, do que viu, os irmãos Weasley entrando nos aposentos de Monstro e sentando-se ao redor, para ouvir as explicações do elfo que, percebendo a chegada destes, fechou a cara.
- Anda logo Monstro. Desembucha. Quero saber por que o irmão de Sirius fugiu de Voldemort – disse Harry com dureza, mas bastante firmeza, na voz.
- Monstro não quer falar sobre uma pessoa tão honrada como o menino Regulus na presença de gente de tão baixo nível. – o elfo falou, com desprezo.
Rony, que não tinha a delicadeza como uma de suas qualidades, levantou-se de supetão e agarrou o elfo, que começou a dizer impropérios contra os Weasley, pelo pescoço. Harry teve que intervir energicamente, livrando Monstro das mãos assassinas de seu amigo.
- Calma Rony. Monstro morto não vai nos adiantar de nada. Largue-o para que ele possa terminar de nos contar a história de Regulus. – Harry encarou o amigo, soltando faíscas pelos olhos.
- Se ele nos ofender mais uma vez, eu esgano esse asqueroso. – bufou Rony, enquanto os irmãos riam da cara de fúria de seu irmão caçula. – E vocês, qual é o problema? Será que terei que defender a honra da família sozinho?
- Não precisa se preocupar com a honra da família Roniquinho. As provocações de Monstro não nos atingem mais. Ele é muito insignificante para nos irritar. – respondeu Jorge, muito sorridente.
- Então estão rindo do que? – insistiu Rony, muito vermelho.
- É que você anda muito nervoso irmãozinho querido. Será que são os hormônios que estão em ebulição? – disse Fred, às gargalhadas.
- Eu mato vocês. – e partiu para cima dos irmãos, que saíram correndo pela porta, deixando Harry e Monstro sozinhos, novamente.
- Colloportus – disse o menino, disparando a varinha em direção à porta, vedando a entrada dos amigos, de forma a evitar interrupções. – Agora poderemos conversar tranqüilamente, sem interrupções.
- Monstro está cansado, trabalhou muito o dia inteiro e precisa dormir. Monstro não quer mais falar sobre o menino Regulus, é muito triste. – reclamou a criatura.
- Sinto muito Monstro. – Harry tentava impingir um tom de carinho à voz. – Mas realmente preciso saber o que aconteceu com Regulus. É uma ordem.
O elfo olhou com desdém para Harry, pois sabia que não tinha como fugir de uma ordem executada pelo seu legítimo dono.
- Monstro não quer mais falar, mas se é uma ordem do Sr. Harry, Monstro não tem outra alternativa – e deu de ombros. – O menino Regulus tinha uma posição privilegiada perante o Lorde das Trevas. Partilhava de seus segredos mais íntimos. Tinha até mais influência junto ao Lorde do que a Sra. Bellatrix, que praticamente se jogava no chão para que o Lorde passasse.
- Então por que ele fugiu Monstro? – perguntou mais uma vez Harry, já perdendo a paciência.
- Quando meu senhor fugiu, voltou para casa, e ficou escondido aqui por um tempo. Estava muito assustado e não conversava com ninguém, só com o Monstro. O menino Regulus gostava muito de Monstro. – disse o elfo, chorando copiosamente.
Harry tinha a impressão que aquela conversa não iria acabar nunca. Monstro não sabia, ou não queria, colaborar. Estava perdendo a paciência e as esperanças de conseguir as informações que poderiam leva-lo até as horcruxes de Voldemort.
Levantou-se e começou a andar pelo quarto de Monstro. Notou uma série de fotos antigas, de bruxos e bruxas muito feios, que deviam fazer parte da família Black. Entre elas, tinha uma foto de dois rapazes muito bonitos. Harry identificou imediatamente o mais velho como sendo Sirius. O outro, por conseqüência, devia ser Regulus, já que era muito parecido com o irmão.
Pareciam muito amigos e demonstravam ter carinho um com o outro, já que estavam abraçados e muito sorridentes.
- Eu não entendo mais nada. Eles pareciam tão unidos. Como é que ficaram tão diferentes um do outro? – Harry pensou em voz alta.
- Monstro também não entende. – disse o elfo, ainda fungando, para a surpresa de Harry que havia, momentaneamente, esquecido da presença deste. - Eles se davam tão bem quando pequenos!! O menino Regulus adorava o irmão mais velho. Queria ser como ele, vivia seguindo-o e imitando-o. Aí o senhor Sirius foi para a escola. Voltou para casa mudado e minha senhora, percebendo que o filho mais velho estava ficando rebelde, tratou de afastá-lo do filho mais novo, proibia o menino de ver e falar com o irmão. O menino Regulus chorava o tempo todo de saudades do irmão assim que esse foi embora de casa. Um dia, parou de chorar, passando a obedecer cegamente à minha senhora, e nunca mais tocou no nome de Sirius. Até que surgiu o Lorde das Trevas e minha senhora exigiu que o menino Regulus se juntasse à ele.
- Mas se ela exigiu é por que Regulus não queria! – gritou Harry.
- É verdade. O Sr. Regulus não tinha intenção de juntar-se ao Lorde das Trevas. Preferia ficar em casa, cuidando da minha senhora. Era um filho tão bom!!!! – Monstro fungou, mais uma vez. – Mas um dia, saiu para dar uma volta e, quando retornou para a casa, muito vermelho e irritado, trancou-se no quarto por umas duas horas. Depois disso, comunicou à minha senhora que iria se apresentar ao Lorde das Trevas no dia seguinte, para ser seu fiel seguidor. E foi isso o que ele fez.
Harry estava muito intrigado com aquelas informações. Era realmente muito estranho que Regulus, que não aparentava possuir muita coragem, tivesse mudado de idéia e resolvido se juntar a Voldemort de uma hora para outra. Harry sabia que a Sra. Black lutava com todas as forças para que o filho mais moço trilhasse o que considerava ser o “caminho adequado a um bruxo puro-sangue”, mas Regulus tinha relutado tanto e parecia-lhe muito estranho que, de uma hora para outra, tenha resolvido acatar as orientações de sua mãe e apresentar-se à Voldemort.
- Mas por que? O que o fez mudar de idéia? – perguntou Harry mais para si mesmo do que para Monstro.
- Sua obediência à minha senhora, é claro!!!! – Monstro parecia ofendido. Mas, no fundo, Harry tinha a impressão de que não era esse o motivo da súbita mudança de idéia de Regulus. Precisava conversar com Mione o mais rápido possível, talvez ela o ajudasse a entender.
- Mas Monstro, o que aconteceu quando Regulus voltou para casa? Quer dizer, Voldemort não veio procurá-lo imediatamente? – quis saber o menino.
- O menino Regulus voltou para casa. Quando sua mãe descobriu que tinha deixado o Lorde das Trevas, começou a insultá-lo e assustá-lo dizendo que era um traidor e covarde, assim como o irmão, e que o Lorde das Trevas o acharia e o mataria. O menino ficou apavorado e se trancou no quarto de Monstro. Monstro prometeu que não ia dizer a ninguém que o menino estava aqui escondido, nem à minha senhora, que pensava que o filho tinha fugido de casa.
- Ele trouxe alguma coisa com ele Monstro? – Harry perguntou casualmente, o que fez Monstro ficar pensativo por alguns segundos.
- Realmente Sr. Potter, Monstro lembra que o menino Regulus tinha um objeto nas mãos que não largava por nada. Ficava o tempo todo segurando um medalhão – Harry arregalou os olhos ao ouvir essas palavras – e murmurando palavras que Monstro não entendia muito bem.
- Medalhão? Que medalhão? Onde está este medalhão Monstro? – Harry, sem prestar muita atenção ao que fazia, agarrou o elfo pelo colarinho e começou a chacoalhá-lo.
Monstro começou a berrar, e Harry ficou com medo de que sua gritaria atraísse a atenção de Olho-Tonto Moody que, segundo informações dos gêmeos, estava dormindo no segundo andar da casa.
- Já soltei! Tudo bem! Não quero te machucar. – disse o menino, tentando se acalmar. – Mas preciso saber onde está esse medalhão!
- Monstro guardou no armário, junto o resto dos objetos da família Black. Mas depois que aquela senhora ruiva, traidora do próprio sangue, começou a profanar e abrir os armários da minha senhora, Monstro não sabe mais onde está. – disse o elfo, passando as mãos pelo pescoço, tentando aliviar a dor causada pelo apertão dado por Harry.
Harry lembrou-se, então, de quando viera para a sede da Ordem Fênix pela primeira vez, antes do início das aulas do quinto ano em Hogwarts. No período em que ficara na casa, ajudara a Sra. Weasley, juntamente com Rony, Hermione e Gina, a limpá-la. Para isso, começaram a abrir armários, desenrolar tapetes e capturar fadas mordentes penduradas nas cortinas.
E de repente o menino visualizou a cena, tal qual ela ocorrera à época: Gina segurando um camafeu antigo e, como não conseguia abri-lo, jogou-o no saco de lixo, juntamente com os demais objetos que se encontravam naquele armário.
- Monstro, você guardou o medalhão no armário da sala de estar? Aquele de ferro, que tinha taças de prata com o logotipo da família Black? – perguntou o menino, muito ansioso.
- Sim, sim meu senhor. – respondeu o elfo, afastando-se sorrateiramente de Harry, temendo que este viesse a agarrar-lhe o pescoço novamente. – Estava lá, juntamente com as demais relíquias da família, que foram covardemente profanadas pelos traidores do próprio sangue.
- O saco de lixo com aqueles objetos, onde está Monstro? Onde você colocou? - Mas antes que a criatura respondesse, outra cena lhe veio à cabeça: Mundungo Fletcher carregando um saco de lixo, de forma muito suspeita, pelas ruas de Hogsmeade, no último inverno e fugindo, assim que encontrou Harry.
- Não sei meu senhor. Monstro não sabe onde foram parar os objetos da família. Monstro não viu mais o saco de lixo. Roubaram os artefatos dos Black´s. – disse, mais uma vez, o elfo doméstico, num tom de quem estava acusando Harry pelo desaparecimento dos pertences da sua amada senhora.
- Tá, tá Monstro. Acho que já chega por hoje. Tenho as informações que queria e preciso ir atrás de Rony. De qualquer forma, te proíbo de contar qualquer coisa do que conversamos para outra pessoa. – colocou, ameaçadoramente, o dedo no nariz torto e enrugado do elfo.
- Como queira meu senhor. Monstro também não tem vontade de falar sobre o passado pois aqueles tempos, tão bons, pelo jeito nunca mais voltarão.
***
Harry saiu correndo pelos corredores da mui antiga casa dos Black à procura de Rony e dos gêmeos. Queria sair dali o mais rápido possível e conversar com Mione. Estava muito satisfeito com as informações que conseguira, mas também não entendia muitas das coisas que Monstro tinha contado.
Não entendia, por exemplo, por que Regulus tinha aceitado juntar-se a Voldemort se, inicialmente, não queria. Sabia que o irmão de Sirius não era um bruxo muito corajoso e que fazia de tudo para se livrar dos problemas. Também não acreditava que tivesse sido por causa da influência da Sra. Black, apesar da velha ser insuportável.
Correu de volta à sala de estar quando se deparou com a seguinte cena: Olho-Tonto segurando Rony pela gola do casaco, enquanto este se debatia, e encarava Harry com ferocidade. Os gêmeos estavam no canto da sala, completamente imóveis, olhando furiosos para o professor.
- Muito bem Potter! – disse Moody. – Depois de todos os esforços que fizemos para garantir sua segurança, vocês resolvem fugir, colocando em risco toda a Ordem da Fênix. – parecia muito decepcionado.
- Olha professor. Sinto muito se os decepcionamos, não tenho intenção nenhuma de colocar os membros da Ordem em risco, mas tenho que ir embora agora e Rony vem comigo. – Harry falava com muita convicção.
- Ah! Mas não vai mesmo!!! Não antes de me dizer por que você está com essa cor de cabelo horrorosa? O que estão aprontando? Onde está Hermione? – Olho-Tonto falava desdenhosamente, enquanto tirava a varinha do bolso de suas vestes.
- Hermione está bem e segura. Não estamos aprontando absolutamente nada. Apenas estamos cumprindo a missão que nos foi deixada por Dumbledore, e isso é tudo o que posso falar por enquanto. Já sou maior de idade e ninguém pode me obrigar a fazer, ou deixar de fazer, o que quer que seja. – completou Harry, levando a mão direita às costas, de forma a ter fácil acesso à sua varinha, que estava no bolso traseiro de sua calça jeans.
- Tá certo Harry, já que você não quer colaborar, terei que utilizar força bruta. – e, apontando a varinha para o menino, gritou: - Expelliamus.
Mas Harry foi mais rápido e, antes que Olho-Tonto Moody terminasse de proferir o feitiço que visava arrancar a varinha das mãos do menino, caiu desmaiado no chão ao ser atingido pelo feitiço “Estupefaça” de Harry.
Assim que se viu livre das mãos de Olho-Tonto, Rony correu para libertar os irmãos do feitiço “imobilius” que o ex-professor lançara sobre eles, mas não conseguiu. Os gêmeos permaneceram imobilizados, olhando ferozmente para seu irmão mais novo, que resolveu ignorá-los.
- Harry, você estupefez Olho-Tonto Moody? Isso não é bom!!! – disse Rony, apavorado.
- E o que você queria que eu fizesse? Esperar ele me imobilizar e depois usar a poção “veritaseum” na gente para descobrir o que estamos tramando? – respondeu um Harry muito irritado.
- É, tem razão. Você não tinha muita escolha mesmo. Mas precisamos ir agora, antes que ele acorde. Fred e Jorge, sinto muito, não consegui liberar vocês. Sei lá que feitiço Olho-Tonto usou. Mas tenho certeza que, assim que ele acordar, irá tirar vocês dessa posição constrangedora – Rony sorria com muito prazer e Harry imaginou que o amigo estava finalmente se vingando de todas as sacanagens que os gêmeos faziam, e diziam, a ele.
- É Rony, mas isso nos deixa com um problema. Como vamos aparatar de volta? Não temos licença e os gêmeos não poderão nos levar. – Harry perguntou ao amigo, desafiadoramente.
Rony coçou a cabeça e encarou Harry com uma expressão muito decidida. – Acho que devemos tentar aparatar!!! Você já fez isso uma vez e eu não passei no teste por meia sobrancelha. Já somos praticamente foras-da-lei, Harry, que mal tem em cometer mais essa contravenção?
Harry encarou Rony, sorrindo e pensou: - É! Tem razão. Dane-se a licença. Eu já sei fazer isso, não preciso da autorização do Ministério da Magia. Afinal, estou no meio de uma guerra e tenho a impressão que sou a única arma com a qual eles contam para vencê-la.
– É isso aí Rony. – prossegui Harry – Não temos muito a perder se formos proibidos de fazer isso no futuro. O importante é o agora, é a batalha que estamos prestes a enfrentar. Vamos nos preocupar com a burocracia quando não tivermos mais nada com o que nos preocupar.
- Legal. – gritou Rony, sob os olhares curiosos dos irmãos. – Então vamos lá: Determinação. Destino. Direção. – disse o amigo, que sumiu rapidamente.
- E a minha vez. – falou o garoto para si mesmo – Determinação. Destino. Direção. – pensou no Caldeirão Furado e imediatamente sentiu a falta de ar e a sensação de ser puxado em todas as direções, desaparecendo das vistas dos gêmeos imóveis que, no entanto, tinham nos olhos uma expressão muito divertida.
Comentários (0)
Não há comentários. Seja o primeiro!