Revelações
Os garotos desceram para jantar por volta das 21 horas, com Rony ainda muito mal-humorado. Como estavam todos morrendo de fome, não falaram muito enquanto comiam.
Ao terminar sua refeição, Harry notou que Hermione olhava para Rony, tentando puxar conversa, mas ao tentar abrir a boca para falar alguma coisa, não conseguia. Na quarta tentativa, finalmente criou coragem.
- Rony, o que está acontecendo com você? Por que tanto mal-humor? Nervosismo? – Hermione encarava o amigo com o semblante muito preocupado, enquanto colocava sua mão sobre a do garoto, em cima da mesa. – Estou começando a ficar preocupada com você.
O menino, que estava com a cabeça baixa, praticamente enfiada dentro do prato, assustou-se com essa atitude, e virou-se para fitar a amiga com uma cara de bobo tão grande que Harry teve que se segurar para não rir.
- Não te-tenho na-nada. – gaguejou, muito vermelho, mas não retirou sua mão debaixo da mão da amiga.
- Então por que anda explodindo desse jeito? Eu sei que estamos metidos em uma enrascada muito grande. – a menina tentou dar um ar descontraído a essa última colocação. – Não o culpo por estar assustado. E se você quiser voltar para casa, tudo bem, não precisa se envergonhar. Afinal você é um ser humano e é natural que sinta medo. Mas saiba que estou aqui para te ajudar e te apoiar. E tenho certeza que Harry também pensa assim. – a menina olhou para Harry procurando aprovação e este balançou a cabeça, afirmativamente. – Precisamos de você Rony. Sempre fomos nós três. Sempre seremos nós três. Mas entenderemos se você quiser desistir.
Harry ficou impressionado com a doçura na voz da garota. Percebeu, também, que a menina tinha os olhos marejados e ficou comovido.
- Não se preocupe Mione. – respondeu Rony, com bastante segurança. – Estou bem. Talvez realmente eu esteja um pouco amedrontado. Mas é claro que não vou abandonar Harry, nem você. – e o menino corou levemente, enquanto entrelaçava seus dedos entre os de Hermione sem, aparentemente, perceber o que estava fazendo. – Me desculpe
Harry, não tenho sido muito legal nesses últimos dias. Mas isso não vai acontecer novamente.
- Tudo bem Rony. Não esquenta. Eu entendo que os arrastei para uma missão que não pertence a vocês. Eu também estou com medo. Na verdade, estou apavorado. Mas não posso fugir. Tenho que acabar com isso de uma vez. Nunca terei paz enquanto não liquidá-lo. – a voz de Harry tremeu ao dizer essas palavras.
- Você não nos arrastou Harry. Viemos por que quisemos. E vamos até o fim, seja ele qual for. – Rony apertou firmemente a mão do amigo.
- Mas Rony. Você tem certeza de que é só isso mesmo, quer dizer, não tem nada mais te incomodando? – Harry o encarou firmemente, com um sorriso maroto nos lábios. Tinha certeza de que o amigo estava daquele jeito por causa dos ciúmes de Mione. Seria tão mais fácil se ele confessasse à menina que gostava dela. Isso, com certeza, resolveria boa parte dos problemas emocionais do ruivo e lhe daria um novo animo. – Porque ele tem que ser tão tapado? – pensou Harry consigo mesmo.
- Claro que é isso Harry. – e retirou sua mão de cima daquela da amiga, envergonhado. – Você mesmo disse que está assustado. Por que eu não estaria? – Rony encarou-o de volta.
Hermione encarava os dois amigos com uma cara de quem não estava entendendo nada. Mas, no fundo, Harry sabia que ela entendia os motivos que levavam Rony a agir daquele jeito. Ela sempre soubera, e tinha certeza que a amiga também gostava do ruivo. – É outra tapada!!!! – novamente meditando sozinho.
- Tudo bem Rony. Mas saiba que estamos aqui e se você quiser conversar, sobre qualquer coisa que esteja te incomodando, é só falar. Nem que seja apenas com um de nós dois, caso você não se sinta confortável para conversar a três. – completou Harry, que estava tentando abrir uma brecha na couraça de Rony para faze-lo falar sobre o que estava sentindo.
Harry não entendia aqueles dois. Já tinham dado demonstrações mais que suficientes que estavam apaixonados. Lembrou-se do enterro do diretor Dumbledore, quando Rony acariciava ternamente os cabelos de Mione enquanto esta mantinha sua cabeça no ombro do amigo. Achava que aquilo seria um primeiro passo para um entendimento e ficou feliz naquela ocasião, apesar de toda a dor por ter perdido o seu maior protetor.
- Gina tem razão. Eles somente vão entender o quanto se gostam quando for tarde demais. – disse para si mesmo, balançando a cabeça de forma muito triste.
- Bom, se nos entendemos, acho melhor voltarmos para o quarto. Quero começar a traduzir aquele livro. – Hermione levantou-se e ia se dirigindo para a escada quando percebeu que os amigos não saíram do lugar.
- Pode ir indo Mione, quero conversar um pouco com Harry. – Rony olhou furtivamente para o amigo, que entendeu que iriam ter “a conversa”.
A menina os fitou por, aproximadamente, 30 segundos e depois falou: - Tudo bem. Mas não demorem muito.
E subiu.
***
- Muito bem Rony. Desembucha. Quero saber o motivo de você estar se comportando dessa maneira. E não venha me dizer que é por que está assustado, pois simplesmente não acredito. – Harry parecia irritado.
Rony encarou-o por alguns instantes e perguntou: - Você gosta dela, né? – e balançou a cabeça na direção em que a amiga saíra.
- E você? – Harry devolveu a pergunta ao amigo.
- Não me venha com essa, eu perguntei primeiro. – Rony estava zangado.
- É claro que eu gosto, e muito. – respondeu Harry.
- Eu sabia! – disse tristemente. – Tudo bem. Pode deixar, não vou atrapalhar vocês. Acho até que vou voltar para casa para não ficar “acendendo a vela”.
- É “segurando vela” seu burro e acho que você é o cara mais estúpido que eu já encontrei na minha vida. – Harry falou, com os dentes cerrados, muito irritado.
- Epa. Também não precisa ofender. – Rony ficou de pé instantaneamente, pronto para brigar, pelo jeito.
- Senta aí. Não quero te ofender. Mas acho que está mais do que na hora de você parar de fazer cena e assumir as coisas, de uma vez por todas.
- É você quem tem que assumir. Ficou enrolando a minha irmã, dizendo que gosta dela. Mas no fundo era tudo fingimento. Você sempre gostou da Mione. Só que nunca teve coragem de assumir. E o tonto aqui achando que você era meu amigo – o tom de Rony estava, positivamente, perigoso.
- Ronald Weasley, por favor, não me faça azarar você aqui, na frente de todo mundo e fale baixo – Harry não queria chamar a atenção dos dois outros clientes que estavam por ali. – Eu sou seu amigo. Sempre fui e sempre serei e nunca faria nada para te magoar. Você me perguntou se eu gostava da Mione. É claro que eu gosto, muito. Na verdade, eu a amo. – essa afirmação fez Rony arregalou os olhos. – Não precisa fazer essa cara. Realmente a amo, como se fosse minha irmã. Gostaria muito que ela fosse minha irmã. E tenho certeza absoluta de que ela também gosta de mim dessa mesma maneira. Você sabe, somos filhos únicos. Nunca tivemos ninguém com quem brincar e compartilhar as coisas. É natural que tenhamos esse sentimento um pelo outro. Eu também considero você como se fosse meu irmão. Não sei o que faria da minha vida se não tivesse vocês junto de mim.
- Você tem seis irmãos. Não sabe a falta que sentimos de alguém ao nosso lado, para compartilhar. Mione é muito carinhosa, cuida de mim, se preocupa comigo, como uma irmã faria. É claro que a amo. Mas não tenho nenhum sentimento romântico por ela.
- Ju-jura? Quer dizer, você não quer namorá-la? – Rony tinha o semblante menor carregado. Parecia aliviado.
- Claro que não quero namorar a Mione! Eu amo a sua irmã. Se pudesse, voltaria para casa imediatamente e ficaria com Gina. – Harry baixou ainda mais a voz ao dizer essas palavras.
- Você acha que Mione também gosta de mim como um irmão? – Rony voltou a ter o rosto carregado.
- Não sei, isso você vai ter que perguntar para ela. Mas, por que você quer saber? Você também não gosta dela como se ela fosse sua irmã? – perguntou Harry, divertindo-se.
Rony deu um longo suspiro. – Olha Harry, eu acho que tenho uma confissão a fazer. Acho que não gosto de Mione somente como uma irmã.
- Ah não? E gosta dela como? – o menino estava a ponto de dar pulos de alegria.
- Eu, quer dizer, na verdade, eu acho que... bem, eu tenho certeza, quer dizer.....
- Fala de uma vez! – Harry estava ansioso por aquela confissão.
- Tá bom. Eu a amo. E não é como um irmão. Queria que ela fosse minha namorada!!!! – gritou, sem se importar com os outros clientes que estavam por ali, prestando atenção em
suas confissões amorosas.
- Até que enfim, mas fala baixo. – Harry deu um suspiro de alivio tão profundo que assustou uma coruja que tentava dormir ali perto.
- O que quer dizer com isso? Como assim, “até que enfim”? – Rony olho-o, desconfiado.
- Rony. Eu sempre soube disso. É óbvio que você gosta dela. E não é como amiga. Todo o escândalo que você faz quando ela fala do Krum. Essa crise que você teve agora, achando que eu e ela.... Só você não percebia. Tenho certeza que gosta dela desde, pelo menos, o quarto ano, quando ela foi ao baile de inverno com o “Vitinho”. Você precisava ver a sua cara. Parecia que ia ter um treco. – Harry estava se divertindo com aquela conversa.
- Eu sei. Me senti péssimo com toda aquela situação. Nunca pensei que ela iria ao baile com aquele idiota. Ela estava tão linda, tão diferente. – Rony tinha os olhos sonhadores. – Me arrependi tanto de não tê-la convidado. Depois, quando a Gina disse que ela tinha dado uns beijos naquele boçal, eu quis morrer. Comecei a me comportar com um idiota e até acabei namorando a Lilá para me vingar. Foi um período péssimo. Mas eu não queria admitir que tudo isso acontecia por que eu estava apaixonado por ela. – suspirou mais uma vez.
- Então. Se agora você sabe disso, por que não fala com ela? Confessa para ela Rony. Você vai se sentir melhor quando fizer isso. – Harry dava tapinhas no ombro do amigo.
- NÃO! Ela não vai me querer! Eu não suportaria essa rejeição. Não da Mione. – Rony falava muito tristemente.
- Rony, deixa de ser cabeça dura. Se você não falar pra ela, nunca vai ter certeza.
- Tem certas coisas que simplesmente sabemos Harry. Não precisamos perguntar. É óbvio que ela não vai querer namorar um cara pobre, burro e sem graça como eu. Eu não tenho nada de especial para que ela se interesse por mim Harry. O que ela vai enxergar em mim que o Krum não tenha 3 vezes melhor?
- Rony. Fale para ela. Você pode se surpreender. – Harry tinha certeza que, quando o amigo confessasse os sentimentos por Hermione ela retribuiria. O menino tinha a impressão que a amiga aguardava ansiosamente por isso. Mas não tomaria nenhuma atitude enquanto Rony não lhe dissesse, com todas as letras, que gostava dela.
- Não vou falar nada. E nem você. Te proíbo! – Rony apontou o dedo na cara de Harry.
- Tudo bem. Mas ainda acho que você está sendo burro. Deveria falar com ela.
- E... Obrigada Harry. Eu estava realmente precisando desabafar. – Rony tinha um olhar de gratidão tão grande que Harry ficou comovido.
- De nada cara. É para isso que servem os amigos.
Os meninos levantaram da mesa e se dirigiram para a escada, em direção ao quarto.
***
Ao voltarem para o quarto, Hermione já estava sob os lençóis, com o livro sobre as horcruxes aberto sobre as pernas e o dicionário na mão, escrevendo surpreendentemente rápido.
- Voltaram até que enfim! O que tantos tinham para conversar? – a menina olhava para os amigos com o semblante desconfiado.
- Conversa de homem Mione. – disse Harry rapidamente pois percebeu que Rony começara a ficar vermelho.
- Vocês não estão pretendendo se livrar de mim para me proteger né? Não estão planejando fugir no meio da noite para que eu não possa ir atrás, não é? – perguntou com desprezo.
- É claro que não. Você sabe que precisamos muito de você. – complementou o menino.
- Acho bom mesmo. – e voltou sua atenção novamente para os livros.
- Como vai a tradução Mione? – perguntou Rony, querendo puxar conversa.
- Devagar. Nunca imaginei que fosse tão difícil. Tem algumas expressões que são particularmente intraduzíveis. Mas depois vou me preocupar com elas.
- Eu preciso saber uma coisa: mesmo que achemos os objetos, como teremos certeza de que eles guardam um pedaço da alma de Vol-Voldemort? – perguntou Rony.
Hermione voltou sua atenção para Rony, com uma expressão muito satisfeita. – Puxa Rony, que bom que você conseguiu dizer o nome dele. Estou orgulhosa de você. – o menino baixou a cabeça, tornando a ficar escarlate.
- Respondendo a sua pergunta Rony, acho que esse livro deve nos mostrar algum feitiço para identificar se o objeto tem ou não encerrada a alma de alguém. Mas preciso traduzir isso o mais rápido possível, para termos certeza.
- Quer ajuda? – perguntou Rony, timidamente.
Harry observava aquela situação com uma expressão muito divertida nos olhos. Ainda bem que já tinha conversado com o amigo e resolvido aquele conflito. Mas ainda achava que os amigos eram dois “tapados”.
- Obrigado Rony. Mas acho melhor você começar a vasculhar aquele livro ali. – a menina apontou o livro com grandes letras douradas. – Quem sabe você não consegue descobrir o tal R.A.B.
- Ta certo. Vou começar agora mesmo. – o menino correu para o banheiro, colocou o pijama e meteu-se debaixo das cobertas, abrindo o livro e começando a ler as histórias dos comensais da morte que, segundo o autor daquela obra, eram os “Grandes Bruxos do Século”.
Contudo, dez minutos depois, o livro caiu ao chão e Rony começava a roncar. Harry, que estava deitado encarando o teto, sem sono, viu a amiga levantar de sua cama, recolher o livro, colocando-o de volta na mochila e observou Rony adormecido por alguns instantes com o olhar triste.
Suspirou e, somente depois percebeu que Harry a encarava.
- Tudo bem Mione? – perguntou o agora platinado Harry. – Está com uma cara estranha.
- Sobre o que vocês ficaram conversando? – perguntou abruptamente.
- Eu já te disse, conversa de homem Mione. Acho melhor você perguntar para o Rony, afinal, foi ele quem me chamou para conversar. – Harry bocejou.
- Não vou perguntar nada pra ninguém. Se quiser, ele que venha me contar. No mínimo estavam conversando sobre garotas. – Hermione disse, com desprezo.
- Tem razão. – o menino encarou-a. - Estávamos falando de garotas.
- Eu sabia. Aposto que ele estava te falando sobre aquela mini-veela, irmã da Fleur. Mas também, quer saber, não me interessa. Eu prometi a mim mesma que não ia mais me preocupar com as namoradas do Rony. A vida é dele, afinal de contas. – a menina parecia deprimida.
- Quer dizer que você vinha se preocupando com a namoradas do Rony, Mione? Por que? – perguntou Harry, de forma muito marota.
- NÃO!!! Quer dizer, eu me preocupo que ele se envolva com essas garotas que não tem nada na cabeça, só por que são bonitas. Elas não fazem bem nenhum ao Rony. Ele precisa de alguém que o incentive a estudar, a crescer e deixar de ser infantil. – respondeu a menina, rapidamente.
- E eu suponho que você já saiba quem seria a namorada ideal pra ele, não?
Hermione encarou Harry com uma expressão assustada. O menino tinha certeza que ela se arrependeu de ter dito aquilo tudo.
- Claro que não Harry. Mas isso não importa mais. Eu decidi que não vou mais me intrometer. Ele já é maior de idade e deve saber o que faz da vida dele. Eu vou cuidar da minha.
- E o que isso significa, na prática, Mione?
- Significa que não vou mais esperar nada de ninguém. Vou correr atrás do que é melhor pra mim. – Hermione voltou a cabeça para o livro.
- Isso quer dizer que você vai namorar o Krum?
- Talvez. Ainda não me decidi. Ele quer sabe. Vive insistindo para que eu aceite namorar com ele. Pelo menos eu sei que ele gosta de mim, pois está sempre me dizendo isso.
- E por que você nunca aceitou?
- Por que eu achava, quer dizer, eu esperava... – e olhou de esguelha para Rony, que dormia tranqüilamente. – Deixa pra lá. De qualquer forma, não quero pensar nisso por enquanto. Primeiro, temos que concluir nossa tarefa. De qualquer forma, é uma possibilidade. – complementou a garota.
Harry resolveu não discutir mais com a amiga. Já estava cansado desse assunto. - A cada dia que passa eu me convenço mais e mais que esse dois são completamente malucos!!!!! São eles quem tem que resolver essa situação. Gina tem razão.– pensou o garoto enquanto seu peito apertava de tantas saudades que sentia de sua ruiva.
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