Godric´s Hollow



Com um solavanco, os três jovens aparataram no meio de uma praça. Apesar da escuridão, Harry notou que o lugar parecia bastante agradável. Havia alguns bancos ao redor de um jardim e, no centro, um chafariz, no formato de bruxa, com esguichos de água saindo da ponta da varinha.

- Será que estamos mesmo em Godric´s Hollow? – perguntou Rony.

O local estava completamente deserto. Harry olhou ao redor, procurando alguma indicação de que estavam no povoado, mas não encontrou nada.

O garoto percebeu que Hermione tremia de frio. Rony, de forma protetora, passou seu braço em torno dos ombros da amiga, tentando aquecê-la e fazendo-a esboçar um sorriso.

Por mais terna que fosse aquela cena, Harry sabia que precisavam sair daquele lugar, rapidamente. Apesar de não avistarem ninguém nas redondezas, não era seguro ficar ali, no meio de uma praça, a céu aberto, quando Comensais da Morte atacavam livremente, fazendo maldades e torturando pessoas.

- Vamos, não podemos ficar aqui. Temos que encontrar um lugar para ficar. – Harry começou a andar em direção à única luz que conseguia vislumbrar.

- Certo. É melhor. – Rony complementou, mas não parecia ter muita certeza do era melhor, já que aparentava não querer tirar seu braço dos ombros de Hermione.

Começaram a andar em direção ao que parecia ser a rua principal do povoado. Foi então que escutaram um tropel de passos às suas costas. Os garotos ficaram assustados e passaram a andar mais depressa. Como os passos também aceleraram, começaram a correr em direção à luz.

Chegaram a um prédio muito velho e perceberam que a luz era proveniente de uma porta entreaberta. Sem hesitar, escancararam a porta e entraram no lugar, fechando-a rapidamente.

Perceberam que estavam em um bar. Por sinal, o bar mais esquisito que Harry já vira em sua vida. Não que o garoto tivesse visitado muitos bares. Na verdade, nunca tinha ido a nenhum. Mas aquele lugar era muito sinistro e o garoto ficou imaginando se fizera bem em levar seus amigos até ali.


O lugar tinha uma decoração horrorosa. Logo na entrada, ao lado da porta, havia um caldeirão, no qual estava sendo cozida alguma coisa muito mal-cheirosa. Do lado oposto, existia um balcão, caindo aos pedaços, com vários bancos que só podiam se sustentar mesmo através de magia, já que não havia qualquer suporte que os prendesse ao chão.

Atrás do balcão, uma série de garrafas, vidros e potes se equilibravam precariamente em prateleiras de madeira, que ameaçavam desabar na primeira lufada de vento que invadisse o local.

Harry observou uma série de fotos antigas penduradas nas paredes. Estavam desbotadas e sujas, mas ainda dava para visualizar bruxos e bruxas, em roupas antiquadas, alguns deles fazendo caretas horrorosas e parecendo meio embriagados, outros, muito sorridentes e satisfeitos.

Por todos os cantos do bar, teias de aranha podiam ser encontradas e um sapo, grande e gordo, tentava capturar os insetos, que lhe serviriam, provavelmente, de jantar. Também se vislumbrava, do lado esquerdo do recinto, uma espécie de piano, em estado deplorável, que tocava sozinho uma música melancólica e desafinada.

Os três amigos ficaram ali parados, no meio do salão, analisando aquele cenário caótico, sem saber se corriam para fora, para enfrentar os passos assustadores ou se permaneciam onde estavam, esperando, quem sabe, encontrar coisa pior.

De repente, ouviram barulho de pratos caindo e, subitamente, um elfo muito velho e enrugado saltou em cima do balcão. Era visível que estava descontente em receber clientes àquela hora e mal deu atenção aos garotos.

- Não servimos bebidas para bruxos menores de idade. – disse a criaturinha numa voz fina, muito parecida com o barulho desafinado que saia do velho piano.

- Humm. Boa Noite – disse Hermione, que tinha muita simpatia por elfos domésticos, tentando ser amável. – Na verdade não estamos querendo beber, obrigada.

- Então o que querem? Vocês não sabem que tem Comensais da Morte perambulando por aí, querendo capturar pessoas, especialmente crianças. – o elfo falava de modo entediado, enquanto passava um pano por sobre o velho balcão. – Fenrir Lobo Greyback adoraria estraçalhar as gargantas de três jovens tão saudáveis como vocês.

- Fenrir Lobo Greyback está aqui? – Rony perguntou, parecendo apavorado com a possibilidade de encontrar o lobisomem mais sanguinário dos últimos tempos.


- Acho que não. Mas, se os comensais capturarem vocês, certamente os entregará a ele. Dizem as más línguas que Você-Sabe-Quem recrutou Lobo Greyback para o seu exército e este somente aceitou com a condição de que pudesse ficar com todas as crianças, bruxas ou trouxas, capturadas. – a criaturinha pulou para trás do balcão, a fim de limpar a bagunça ocasionada pela quebra dos pratos.

- Que coisa horrível! – Hermione levou a mão à boca, horrorizada.

- Desculpe, mas o senhor pode nos dizer se estamos mesmo em Godric´s Hollow? – Harry debruçou-se sobre o balcão tentando visualizar o elfo por detrás deste.

- Sim. Aqui é o povoado de Godric´s Hollow. – respondeu, recolhendo os cacos de vidro no chão.

- E poderia nos dizer onde encontramos um hotel ou uma pousada para passar a noite? – foi a vez de Rony tentar chamar a atenção do elfo.

- Agora? Em lugar nenhum. Em Godric´s Hollow só existe um hotel, mas ninguém os atenderá neste horário, devem estar dormindo e, mesmo que não estejam, não vão abrir a porta para vocês. As pessoas andam muito assustadas. Aliás, é melhor irem embora, estou fechando o bar. – o elfo parecia impaciente.

- NÃO! – gritou Rony. – Você não pode nos botar para fora, estávamos sendo seguidos. – o garoto estava aflito.

- Ninguém manda estarem na rua à uma hora dessas. Onde estão seus pais? Como deixam crianças andarem por aí, sozinhas. – o elfo continuava limpando o chão.

- Já somos maiores de idade! – gritou Harry, que já estava ficando irritado com o fato de todos acharem que eles ainda eram crianças.

- Desculpe-me meu jovem. – disse o elfo, finalmente prestando atenção ao garoto – Não quis ofendê-lo. – a criaturinha encarou Harry fixamente por alguns segundo e prosseguiu – Tem razão. Não posso deixá-los na rua. – parou mais uma vez, como se estivesse pensando numa solução para o problema. – Venham comigo. Vou arrumar-lhes um lugar para dormir esta noite.

***

- Harry, você acha que podemos confiar nele? – Hermione perguntou ao amigo, enquanto seguiam o elfo doméstico através de um corredor muito escuro e cheirando a mofo, que terminou no início de uma escada minúscula.

- Acho que não temos muita escolha Mione, afinal, ou ficamos por aqui ou enfrentamos o que quer que estivesse atrás de nós, lá fora – Harry parecia já ter feito sua escolha.

Subiram a escada com dificuldade e, para sua surpresa, encontraram outro corredor, só que desta vez muito claro. O elfo abriu a primeira porta à direita e os garotos entraram em quarto muito limpo e arrumado, com uma enorme cama de casal, poltronas muito brancas e um guarda-roupa de madeira.

- Aqui é o quarto de hóspedes. Na verdade, não tenho recebido visitas a um bom tempo. – e o elfo encarou Harry, mais uma vez. – De qualquer maneira, vocês podem se ajeitar por aqui esta noite. No guarda roupa tem cobertores e travesseiros, fiquem à vontade. Eu durmo no quarto ao lado e tenho sono leve. Qualquer problema, é só me chamar. A propósito, meu nome é Vincent.

- Muito prazer Vincent. Eu sou Hermione, aquele ali é o Rony e este é, humm, Neville. – a menina estendeu a mão para o elfo, enquanto Rony olhava para a garota, como se ela tivesse surtado.

- Muito prazer Hermione, Rony e Neville. – o elfo apertou a mão dos três amigos e pareceu lançar um olhar divertido a Harry.

- Obrigado Vincent. – disseram Harry e Rony ao mesmo tempo.

- Não tem de que. Agora deitem-se pois está muito tarde. Preciso trancar tudo lá em baixo. Boa noite – e fechou a porta, deixando-os sozinhos.

- Bom, acho que teremos que dividir a cama de casal. – disse Harry, não percebendo que os amigos ficaram escarlates, subitamente.

- Como assim Harry? – perguntou Hermione, muito embaraçada.

- Simples. Caso você não tenha reparado Mione, só tem uma cama. Vamos ter que dormir nela. Não se preocupe, eu fico no meio de vocês, assim vocês não poderão se espancar durante a noite. – Harry parecia estar se divertindo com o constrangimento de seus amigos.

- Para com isso Harry! Bom, se não tem outro jeito... Vamos nos ajeitar e dormir. Estou morrendo de sono e amanhã teremos um dia cheio. – Rony já parecia conformado com a situação.

- Tá certo. Mas acho melhor nos precavermos. Que tal se encostássemos o guarda-roupa na porta. Assim impedimos a entrada de desconhecidos. – sugeriu Hermione.


Os meninos acataram a idéia e encostaram o guarda-roupa na porta. Além disso, a menina fez um feitiço de imperturbabilidade e um feitiço silenciador, de forma a impedir que os perturbassem ou escutassem o que diziam.

- Por que você disse que meu nome era Neville, Mione? – perguntou Harry, intrigado.

- Óbvio Harry. Você acha prudente sair por aí dizendo que Harry Potter voltou para Godric´s Hollow?– disse a menina. – Eu não daria um dia para que os seguidores de Voldemort, senão ele próprio, viesse para cá assim que soubesse que você está aqui.

- É, você tem razão. Não precisamos começar a ser caçados no mesmo instante que saímos em busca das... quer dizer, em nossa tarefa. – Harry balançou a cabeça afirmativamente.

Os três garotos deitaram na cama, procurando se ajeitar da melhor maneira possível. Por fim, decidiram que era melhor Hermione ficar no meio, pois era menor. Em dez minutos, por causa do cansaço e da tensão daquele dia, estavam dormindo profundamente.

***

Harry acordou no outro dia com uma terrível dor nas costas. Percebeu que estava todo torto e quase caindo da cama. Ao levantar-se, para sua surpresa, viu que Rony dormia profundamente, esparramado na cama, e Hermione estava encolhida, praticamente amassada entre os braços do amigo.

- Espera só até eles acordarem e notarem como estão dormindo. Vão brigar até o fim do dia por causa disso. – pensou Harry olhando para os amigos.

Harry correu seus olhos pelo aposento procurando analisar melhor o lugar onde estava. Realmente era um quarto muito bonito, bem conservado. O menino lembrou-se do elfo que lhes dera abrigo e alguma coisa no jeito que a criaturinha encarou-o na noite anterior incomodou-o profundamente.

Não sabia se confiava em seu anfitrião. O bar não aparentava ser um lugar muito saudável e isso o intrigava. Ficou pensado no contraste entre os dois ambientes, de um lado o bar, caindo aos pedaços e do outro o quarto, tão arrumado e limpo. Imaginava, também, qual dos dois cômodos refletia a real personalidade do elfo.

Curioso por saber mais, Harry empurrou o guarda-roupa de forma a liberar a porta e saiu do aposento. O corredor parecia muito mais branco do que na noite anterior. O menino caminhou em direção à minúscula escada e desceu-a cuidadosamente.

De volta ao corredor mal iluminado, Harry seguiu em frente até voltar ao salão velho e mal conservado, chamado de bar pelo elfo.

Durante o dia, o lugar não parecia tão assustador quanto na noite passada. De fato, nem parecia tão mal cuidado (talvez por que não se viam as teias de aranha de forma tão nítida) e o garoto reparou que havia uma mesa preparada com bolos, pães, geléias e sucos.

Olhou ao redor, tentando achar o elfo, mas não havia ninguém no recinto. Como estava morrendo de fome, sentou-se à mesa e começou a comer. Achou tudo delicioso.

- Pelo visto você já achou o café da manhã. – o elfo apareceu subitamente fazendo Harry engasgar com um pedaço de bolo de chocolate.

- Sim, quer dizer, me desculpe, nem sabia se podia comer, mas como estava morrendo de fome... – o menino justificou, depois de se livrar do pedaço de comida que ficou grudado na garganta.

- Não se preocupe. Eu montei a mesa para vocês mesmo. Não tenho outros hóspedes. Na verdade, moro sozinho há muito tempo, desde que... – e parou subitamente.

Harry notou um tom de tristeza na vozinha fina do elfo, mas achou melhor não se intrometer e continuou comendo vorazmente.

- Muito obrigado pelo café da manhã, não precisava se incomodar, não queríamos dar trabalho. Na verdade, vou acordar meus amigos para que possamos ir embora e deixá-lo em paz – Harry fez menção de levantar-se da mesa.

- Oh não. Por favor, não se apresse. Na verdade, é muito bom ter alguém com quem dividir a casa. Fazia tanto tempo. Vocês podem ficar o tempo que quiserem. – e o menino ficou intrigado, mais uma vez, com a insistência com que o elfo o encarava.

- Bom, não temos a intenção de ficar aqui muito tempo. Estamos de passagem.

- E o que os trás a essa parte do país Neville. – Harry o encarou e quase desmentiu que aquele era seu nome. Mas, antes de fazer tal bobagem, lembrou-se do Hermione dissera na noite passada.

- Estamos passeando. – mentiu o menino.

De repente, ouviram uma gritaria vinda do andar de cima e Harry deduziu que Rony e Mione haviam acordado. Saiu correndo, com o elfo atrás.

- Mas era só o que me faltava, ter que agüentar seus chiliques só por causa de uma bobagem. Qual o seu problema Mione? – Rony estava escarlate até o último fio de cabelo.

- Bobagem? Você me chutou o tempo todo Rony. Você é muito folgado e espaçoso!!! – a menina tinha o dedo praticamente enfiado na cara do garoto.

- Eu não tenho culpa se só tem uma cama no quarto. Mas não se preocupe, hoje vamos encontrar um hotel e você não terá que suportar a minha presença por tanto tempo. – o garoto parecia muito magoado.

- Ah Rony, também não é assim, né? – Hermione pareceu ficar chateada com o que Rony disse. – Você sempre distorce tudo o que falo. É claro que eu suporto a sua presença, caso o contrário não seria sua amiga por tanto tempo. – falou com a voz baixa.

- Pois não parece!! Aposto que você passava o tempo todo com o Vitinho, andando com ele de um lado para o outro e nunca reclamou. – Rony falou, desdenhosamente.

- Ah não. Você não vai começar com essa história de novo, vai? Ninguém merece. – a menina saiu do quarto, quase atropelando Harry e Vincent.

Rony encarava os dois “telespectadores”, muito envergonhado. – Desculpe Vicent. Não queria armar um escândalo na sua casa. Acho melhor irmos embora Harry.

- Não se preocupe garoto. E não precisa ir embora por causa disso. Acho melhor você ir atrás da sua “amiga” e tomar café junto com ela. Tem uma mesa preparada lá no salão. – dizendo isso, saiu do quarto, sendo seguido pelos dois garotos.

Harry voltou ao salão, acompanhado de Rony e sentou-se à mesa para continuar a comer. Hermione estava parada em frente às fotos penduradas na parede e não reparou na chegada dos amigos.

- Mione. Venha comer alguma coisa. – disse Rony, de forma muito sutil.

- O quê? – a menina virou-se assustada. – Ah, não vi que vocês tinham descido. – e sentou-se à mesa com os amigos, parecendo muito intrigada.

O elfo os observava, sentado no balcão e tinha uma expressão muito divertida. Parecia encantado por ter aquelas pessoas em sua casa e várias vezes encarou Harry fixamente, como se estivesse tentando lembrar de onde conhecia o menino.

Harry se sentia incomodado com aquilo. Ficou imaginando se o elfo sabia quem ele era, afinal, sua foto já saira tantas vezes do Profeta Diário, que não estranharia se o reconhecessem rapidamente.
Tentando quebrar o clima constrangedor, perguntou: - Por favor Vincent, onde fica o cemitério de Godric´s Hollow?

- O cemitério? Fica no fim da rua principal. Não é longe daqui. Por que quer saber?

- Gostaria de dar um pulo lá. – e notando a curiosidade nos olhos do elfo, resolveu disfarçar. – Temos que fazer um trabalho para a escola...

- Certo. – o elfo não pareceu acreditar na explicação do garoto.

- Bom, é muito fácil de encontrar. Mas, se quiserem, eu os levo até lá.

- Não precisa se preocupar. Nós conseguimos achar o caminho. – disse Harry, abruptamente.

- Você é quem sabe. – o elfo deu de ombros.

- Vincent. Por que você mora aqui sozinho? – quis saber Hermione, tentando disfarçar a grosseria do amigo. – Quer dizer, elfos domésticos normalmente moram com seus donos.

- Meus donos se foram há muito tempo. Desde então vivo aqui e toco esse bar. – olhou ao redor, como se para confirmar que o bar era ali.

- Mas você consegue sobreviver com o bar? – foi a vez de Rony perguntar.

- Na verdade não tenho problemas para sobreviver por aqui. Muita gente vem visitar o túmulo dos Potter – Harry deu um pulo na cadeira mas o elfo pareceu não perceber sua agitação e prosseguiu – então sempre tem gente parando por aqui para um drinque ou para comer. O lugar não é muito arrumado e bonito, mas as pessoas vêm pois, para falar a verdade, é o único bar aqui no povoado.

- O único bar? Mas é um povoado tão grande! Como pode ter só um bar? – Rony quis saber.

- O povoado não é tão grande assim. Já foi. Mas vem diminuindo ano a ano. Desde os primeiros rumores sobre a volta de Você-Sabe-Quem as pessoas estão indo embora. Parecem ter medo de que ele apareça aqui novamente. – Vincent balançou a cabeça, pesaroso.

- E como você adquiriu o bar? – Hermione perguntou.

- Eu não adquiri, eu herdei. Meus primeiros donos me deixaram em testamento. Eram bruxos muito bons. Após a morte deles, fui trabalhar para o seu filho e fiquei com eles até que se foram. – o elfo baixou a cabeça, pesarosamente.

- Mas o que aconteceu com eles? – Rony quis saber.

- Bom, pelo que vejo vocês já terminaram de tomar o café da manhã. – Vincent mudou completamente o rumo da conversa. – Tenho que limpar o salão pois daqui a pouco as pessoas podem começar a chegar.

Percebendo que o elfo não queria falar sobre os antigos donos, os três garotos se levantaram e voltaram para o quarto, para arrumar as coisas e prosseguir seu caminho.

***

Harry, Rony e Hermione seguiram a rua principal e avistaram, ao final dela, o cemitério de Godric´s Hollow. O coração de Harry batia de forma descompassada. Ia, enfim, reencontrar seus pais. Saber que eles estavam ali e que não poderia abraça-los, nem olhar para seus rostos, era muito doloroso.

Os amigos perceberam o estado de nervosismo de Harry e, apesar de ainda estarem chateados um com o outro, pela discussão que tiveram, não disseram uma palavra e o seguiram, com as cabeças baixas.

O dia estava ensolarado e, ao caminharem pela rua principal do povoado, repararam que, apesar de ser perto do meio-dia, a maioria dos prédios e casas permaneciam fechados. Na verdade, parecia uma cidade fantasma.

Os garotos olhavam ao redor e constataram que a cidade era realmente simpática. As casas, apesar da arquitetura antiga, eram bonitas e coloridas, e ainda estavam bem conservadas.

- Devia ser um lugar muito agradável para viver. É uma pena que esteja tão abandonado. – disse Hermione, admirando um prédio azul, de quatro andares, com as janelas pintadas de branco.

- Também acho. Por isso meus pais devem ter escolhido esse lugar para viver. Depois que eu cumprir minha missão, se eu conseguir sobreviver, pretendo vir morar aqui. – o menino tinha os olhos fixos no portão do cemitério, do qual se aproximavam rapidamente.

- Não fale assim Harry. Nós vamos sobreviver. Vai dar tudo certo. Só temos que ser cuidadosos. – Rony falou com confiança.

Chegaram ao portão do cemitério.

***

Harry ficou ali parado, imóvel. Parecia não ter coragem para entrar. Percebendo a hesitação do amigo, Rony abriu o portão e puxou Harry para dentro, dizendo:

- Vamos Harry. Você chegou até aqui, apesar de tudo. Eu sei que é difícil, mas você sabe que tem que fazer isso, não sabe? – Rony falava com uma voz muito tranqüila, tentando incentivar o menino a se mexer.

Harry notou que Hermione o observava com lágrimas nos olhos. Aquilo cortou seu coração. Não achava justo que seus amigos também sofressem. Eles não têm que passar por isso, pensou o garoto. Então, começou a se mover em direção aos túmulos.

Começou a procurar a lápide com o nome de seus pais. O cemitério era pequeno, mas muito bonito, e os túmulos eram muito próximos uns dos outros.

- Acho melhor nos separarmos para procurar. – disse Rony.

- Tá certo. – disseram ao mesmo tempo Harry e Hermione, cada um andando em uma direção.

Harry seguiu à direita quando chegou ao fim da alameda principal. De repente notou um mausoléu muito imponente, que se sobressaia aos demais. O garoto caminhou em direção ao monumento e percebeu que tinha encontrado o que procurava.

Parou em frente ao portão do mausoléu, que tinha as letras L e T delicadamente entrelaçadas. Empurrou-o para dentro, notando dois túmulos, um de cada lado.

Naquele momento, Harry percebeu a foto de sua mãe no túmulo à direita. Inexplicavelmente, era a mesma imagem desenhada no medalhão que tia Petúnia lhe entregara. Olhou para o túmulo à esquerda e viu a foto de seu pai, que lhe sorria.

Todas as forças do menino pareceram lhe fugir. De repente, ajoelhou-se no meio dos dois túmulos e começou a soluçar. Nunca sentira tanta tristeza em sua vida. Estar ali, no meio de seus pais, sem poder abraçá-los, nem conversar com eles, parecia mais do que o menino poderia suportar. Queria ter morrido com eles. Não era certo ter que continuar vivendo sozinho, sem ninguém para olhar por ele. Tudo bem, ele tinha amigos, mas nunca seria a mesma coisa. Ninguém nunca poderia substituir seus pais. E ele nem tivera a chance de conhecê-los.

A única coisa que lhe passava pela cabeça era: maldito Voldemort. Tenho que matá-lo, tenho que acabar logo com isso.

Esses pensamentos atravessavam a mente do garoto repetidamente e, de repente, o garoto escutou um barulho às suas costas. Rony e Hermione estavam ali parados, observando a cena. A amiga tinha o rosto banhado em lágrimas e mesmo Rony parecia ter os olhos marejados.

A menina, então, entrou no mausoléu, ajoelhou-se à frente do garoto e o abraçou. Rony seguiu a amiga e fez o mesmo. Os três ficaram ali abraçados, chorando por um bom tempo.

Harry desvencilhou-se dos braços dos amigos e, mais uma vez, parou para observar as fotos de seus pais nas lápides. Apesar de já ter visto fotos deles antes, aqueles eram diferentes. Sua mãe realmente era muito bonita e os olhos eram impressionantes. O pai tinha um sorriso maroto e um olhar divertido. Devia ser um sujeito muito legal.

Parecendo ler seus pensamentos, Mione disse: - Ela era muito bonita Harry. E ele devia ser um grande sujeito.

- Eles realmente eram pessoas excepcionais – disse uma voz atrás dos garotos, que se viraram rapidamente, assustados, colocando-se imediatamente de pé.

Ali parado estava o elfo doméstico, Vincent, que mais uma vez olhava insistentemente para Harry. – Seu nome não é Neville, não é mesmo? Você é, na verdade, Harry Potter não é? – perguntou o elfo, muito emocionado.

- O que o faz pensar que ele é Harry Potter? – perguntou Rony de forma muito descortês.

- Ele é a cara do pai. Mas tem os lindos olhos da Sra. Potter. – respondeu o elfo.

- Você conheceu meus pais? – falou Harry sem pensar no que dizia.

- Meu senhor! Eu sabia. Sabia que um dia o veria novamente. – e saiu correndo em direção ao garoto, abraçando suas pernas e chorando histericamente.


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