Fatos Curiosos



No dia seguinte – sim, era o dia de Natal – não havia nada além de choro pela escola. A sala da diretoria se trancara e não deixou McGonagall assumir o posto de diretora. Ela teve que permanecer em sua sala, assumindo dali mesmo como diretora substituta.
Houve inquéritos do Ministério; Snape estava sendo caçado como um rato. Alexandra não saiu do quarto o dia inteiro, nem para prestar depoimento. Os membros da Ordem estavam todos em St. Mungus. Saiu em todos os jornais o que havia acontecido.
Na Toca, ao lerem o jornal pela manhã, os donos da casa e as visitas choraram muito, sem vergonha. Dumbledore morto mudava tudo, mudava o rumo da história. Sentiam um vazio dentro de si mesmos. Como continuar sem o velho Alvo Dumbledore?
- Eu sabia que o Snape era um traidor! – gritou Harry. – Não era Dumbledore que tinha que me proteger, era eu que tinha que proteger ele! Proteger ele das traições que ele não pôde ver!
- Harry, a culpa não é sua! – soluçava Hermione.
- Eu... eu não podia deixar isso acontecer – fraquejou Harry. – O que será de nós sem o Dumbledore? Como eu vou conseguir vencer o Voldemort?
- Harry, Voldemort é um mal pro mundo – disse Hermione. – A culpa não é sua...
- Harry, e se nós voltarmos para Hogwarts logo amanhã? – perguntou Gina. – A Alex também é alvo daquele-que-não-deve-ser-nomeado...
- Cara, é mesmo! – exclamou Rony. – A gente não pode deixar ela lá, ainda mais que o Snape era o diretor da Sonserina... ele sabe tudo sobre lá...
- Ih, será que não tem jeito da gente voltar hoje? – perguntou Harry aflito.
- Vou falar com o meu pai... Parece que querem que Hogwarts feche.
- Isso não vai acontecer – disse Hermione. – Não pode acontecer...
Arthur Weasley não trouxera boas novas. Disse que Hogwarts ia mesmo fechar. Não era seguro. A escola ficaria fechada até que Voldemort estivesse derrotado.
- Eu vou atrás dele – decidiu-se Harry. – E vou matá-lo!
- Harry, vamos com você – disse Hermione. – Pelo menos, eu vou. Não quero ver o mundo destruído por causa dele...
Molly Weasley deu um berro da cozinha e os quatro grifinórios foram ver o que tinha acontecido.
- O que foi, mãe? – perguntou Gina preocupada.
- Ahn... nada – disse ela, fazendo-se séria. – Crianças, façam suas malas.
- Por quê? – perguntou Rony. – Aonde vamos?
- Temos que ir para a base da Ordem – disse ela, muito séria. – Acabei de receber uma carta da McGonagall.
- Mãe, nós vamos atrás de Você-sabe-quem com o Harry – disse Rony.
- Não vão não, vocês vão comigo e com Arthur para a base da Ordem – disse Molly determinada. – Vocês façam o que quiserem depois. Reunião urgente, segundo a McGonagall...
- Tá, mas depois a gente vai atrás do Voldemort – disse Harry.
- Harry, querido, você não tem chances sozinho – disse Molly. – Vamos ver o que vamos fazer. É claro que vamos contra-atacar, mas você vai precisar de nós. Não vai poder enfrentar você-sabe-quem e todos aqueles comensais sozinho.
Harry sentiu-se meio imbecil quando percebeu o quanto a sra. Weasley estava certa. Concordou em ir.

O que se passou quando chegaram à Ordem era segredo de estado. Não havia o que fazer ou como passar a informação adiante. Nada saiu das paredes da base secreta da Ordem.

Na Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts ainda havia todos os dias muitos homens do Ministério. Estavam todos procurando Alexandra, que não aparecera ainda, desde a noite em que sumira.
Ela estava no quarto de Snape, mexendo em tudo. Tinha passado na cozinha antes de desaparecer por completo e levado provisões. Trancou-se lá. Sabia que ninguém iria lá. Os homens do Ministério nunca procuravam nos lugares óbvios.
A garota remexia papéis, lia livros e anotações, via correções de provas. Não queria acreditar que Snape conseguira enganá-la daquele modo, fazendo-a de imbecil àquele ponto.
Nem trocar de vestido ela trocara, pois tinha ido direto para lá, desde aquela noite. Sabia que estava sendo procurada, mas não queria ser achada. Não queria ter que dizer o que sabia e o que pensava.
Ainda tinha traços de maquiagem borrada em seu rosto, seus cabelos estavam despenteados; ela dormia mal, comia mal. Mas só lhe importava descobrir alguma coisa que a levasse a Snape. No fundo, ela sabia que só o acharia se ele a encontrasse, mas sentia um pouco de medo. Logo ela, que nem Voldemort temia, tinha medo daquele a quem ainda amava. Não conseguia esquecê-lo, e isso a atormentava. Não entendia como ainda conseguia amar o assassino de Dumbledore. De Dumbie.
Eram já duas horas da manhã do dia 27; Alexandra acabou adormecendo na cama de Snape, sem se cobrir nem nada. Simplesmente lia anotações secretas deitada e o sono a venceu.
Ela estava tão cansada que não ouviu a porta ser aberta. Não ouviu aqueles passos silenciosos aproximando-se da cama. Nem ouviu o farfalhar daquela capa preta.
Severo Snape sentou-se na cama, bem perto dela. Ele a olhava fixamente, sério. Impossível imaginar o que ele estava pensando. Ele tirou a mecha de cabelo rebelde que estava no rosto delicado dela; isso a acordou. Ela apontou a varinha para ele tão rápida e tão de repente, assustada, que ele até se surpreendeu.
- Bom, muito bom, Alex – disse ele naquele tom irônico. – Que feitiço você vai me lançar agora?
Ela ia falar algum feitiço, mas ele tirou a varinha da mão dela muito rápido e apontou-a para a garota.
- É assim que você tem que fazer, Alex – disse ele.
Ela não chorou. Já tinha chorado demais.
- Vai me matar, Severo? Igual fez com Dumbledore?
Ele olhou-a longamente.
- Não – disse o ex-professor. – O Lorde das Trevas precisa de você.
Alexandra fez menção de se levantar da cama, mas ele a segurou, de modo a imobilizá-la por completo. Ainda segurou a boca dela, evitando que ela pudesse gritar e chamar atenção.
Ela tentou se desvencilhar, mas não conseguiu. Ele desaparatou com ela. Aparataram num lugar cheio de árvores, mas não era a Floresta Proibida. Tinha o mesmo ar sinistro, mas era mais úmida. Havia um cavalo ali, aparentemente esperando-os. Havia mais algumas coisas que o cavalo negro carregava.
Alexandra continuava tentando se soltar, mas ele não a largava. Ele aproximou os lábios do ouvido dela e sussurrou:
- Não tente nada, você não vai conseguir fugir. Depois de três dias se enfraquecendo, não tente se livrar de mim. Saiba que estamos longe de tudo; pode gritar à vontade. Mas, se eu me irritar muito, vou castigar você, está bem?
Ela não respondeu, mas ele a soltou. A garota virou-se para ele. Ameaçou correr, mas ele segurou-a pelo antebraço e puxou-a para si.
- Não tente correr, garota, o lugar mais seguro para você é ao meu lado agora. Essa floresta é pior que a Floresta Proibida, caso você ainda não tenha notado.
Alexandra encarou aqueles olhos negros.
- Por favor, Severo, me arraste para o Voldemort, para que ele termine a tarefa de eliminar a minha família, mas por favor... não me force a nada...
Snape olhou-a sério e empurrou-a para longe. Ela caiu no chão.
- Levante-se – mandou ele. – E não vou mandar duas vezes...
- Eu acreditei mesmo que você me amava... – murmurou ela transtornada. – E ainda acreditava mesmo depois de ter visto o que você fez e...
- Fique calada, sim? – disse ele. – Suba no cavalo.
Ela olhou-o.
- E você?
- Mas isso importa, garota? – perguntou ele irritado. – Vou a pé, mas se você não achar isso bom, posso mudar: amarro você e faço você andar a pé e eu vou a cavalo. Então, caladinha, para não perder o pouco que ainda tem.
Alexandra olhou-o.
- É difícil subir num cavalo com esse vestido, sabe – disse ela apontando para o vestido, que ela ainda não trocara. Era um vestido com cauda de sereia.
- Isso é um problema seu, milady – ironizou ele secamente.
Ela assentiu. Rasgou um pouco do vestido dos lados e subiu no cavalo. Snape sequer olhou-a; apenas cuidou de amarrar as mãos dela às rédeas do cavalo, que ele tinha em mãos.
Foram assim em silêncio durante umas três horas. Alexandra olhava em volta, mas a paisagem não mudava e ela não fazia idéia de onde estavam. Nunca tinha visto aquele lugar. Começou a sentir sono outra vez, quando avistou uma pequena gruta oculta entre rochas.
- Vamos passar a noite aí? – perguntou ela enojada.
- Deve ser melhor que meu quarto para você, não? – provocou ele.
Ela baixou a cabeça.
- Desça – disse ele.
Ela não conseguia. O vestido, mesmo meio rasgado, não permitia. Só conseguiu passar uma perna para o mesmo lado que outra, com dificuldade.
- Não sabe andar a cavalo? – debochou ele.
- Não com esse vestido – disse ela irritada.
E deu um pulo para o chão, mas torceu o pé.
- AI! – gritou ela de dor.
- Ah, não consigo acreditar! – disse ele. – Vai bancar a frágil para todo o sempre?
- Puxa vida, como você conseguiu ser tão falso? – perguntou ela, apoiando-se no cavalo para tentar se levantar, em vão. Seu tornozelo doía tanto quanto ela já conhecera a dor. – Eu... não pensei que você pudesse ser tão desgraçado... mesmo agora, não acredito...
Ele puxou-a para cima pelo braço, forçando-a a ficar em pé; ela deu um grito de dor. Snape pegou-a no colo e levou-a até dentro daquele abrigo improvisado e colocou-a no chão.
- Ah, menina, como você reclama – disse ele, porque ela se debatia enquanto ele a levava para dentro. Quando finalmente a pôs no chão, ele foi até o cavalo e voltou trazendo uma calça velha e uma camiseta velha. – Vista isso.
Alexandra olhou-o incrédula.
- Quer que eu me dispa na sua frente? Nem morta! Ou melhor, só morta.
- Qual é a diferença? – perguntou ele indiferente. – Eu já te vi sem nada.
Ela corou.
- Era diferente. Dê as costas então.
- Dar as costas para alguém que quer me ver morto? Não, não sou ingênuo, Alex.
Ela suspirou.
- Pode dar as costas e acompanhar meus movimentos pela minha sombra então. Conjure uma fogueira. Assim você vai saber se eu vou tentar fugir ou te atacar.
Snape concordou. Acendeu uma fogueira com um feitiço. Fez como combinado e ficou observando a sombra dela. Mas a sombra sugere; talvez ele não tivesse ficado tão impressionado e excitado ao vê-la nua ao vivo quanto ficou ao ver sua sombra.
- Pronto – disse ela.
Snape fez um feitiço para apagar a fogueira.
- Por quê? – perguntou ela. – Estou com frio. Não vai poder me levar à bailarina se eu morrer congelada, né?
- Não quero chamar atenção de nenhum animal por aqui – disse ele. – São todos meio... diferentes dos comuns.
Alexandra não sabia o que aquilo queria dizer e nem se queria descobrir. Sentou-se no chão de pedra, que estava muito gelado e estremeceu. Ele continuou em pé, parado, observando-a.
- Sabe, Severo, estou me sentindo um lixo... não signifiquei NADA pra você, nadinha?
Ele encarou-a.
- Eu disse para ficar calada. Se eu ouvir a sua voz outra vez, terei que te amordaçar, e você não vai gostar nada disso – disse ele.
- Mas eu quero saber! – exclamou ela.
- Não, você não significou nada pra mim, só passatempo mesmo, pra quebrar a rotina. Não estava nem aí pro meu emprego, já que eu ia perdê-lo de qualquer jeito – disse ele, sendo cruel tanto quanto podia.
Os olhos dela se encheram d’água; ela virou o rosto. Teve outro calafrio. Snape pôs a sua capa nela.
- Não quero – disse ela, tirando a capa dele e pondo-a longe de si.
- Você não tem escolha – disse ele. E pôs a capa nela outra vez. – Não quero entregar você doente ao seu destino.
Ela suspirou.
- Eu só não me mato agora porque pretendo falar muitas verdades praquela bailarina de merda – disse ela entre dentes.
Snape fez uma mesura.
- Você não vai falar assim com ele, pode acreditar – disse ele.
- Ah, falo sim. Já disse pra todo mundo isso. Um dia ele vai saber que eu disse. Não tenho medo dele. Ele vai falar “Crucio” e vai me torturar. Grande merda.
- Ah, acha que é só isso, não? – perguntou Snape naquele característico tom letal.
Alexandra olhou-o. Como ela não entendesse, ele explicou de modo cruel:
- Pense no Draco e nos semelhantes dele.
Ela assustou-se um pouco, mas depois se recompôs.
- Grande coisa – disse ela, baixando os olhos e se encolhendo mais, enrolando a capa dele em si tanto quanto podia.
Snape não esperava ouvir aquilo, mas não demonstrou isso. Continuou com aquele ar de superioridade que demonstrava na sala de aula.
Alexandra olhou para ele.
- Professor, por que o senhor fez aquilo? Ainda acho que tem alguma coisa que não combina nessa história toda...
- Sim, sim – disse Snape entediado. – E não sou mais seu professor. Pare de me chamar assim. Se quiser ser formal, diga “sr. Snape”.
- Sim, senhor – disse ela.
A garota recostou-se a um canto e se encolheu. Estava muito frio. Ela tremia toda, mesmo com a capa dele.
- Você vai passar frio, sr. Snape – disse ela, virando-se para ele outra vez.
- Estou habituado – retrucou ele indiferente.
- Ah, tá bom...
- Não tente me seduzir, mocinha, estou fazendo o meu trabalho – disse ele.
- Por isso ficou tanto tempo sozinho, né? – perguntou ela, daquele modo direto que assustava às vezes. – Sempre pensando mais no trabalho do que em si mesmo...
- Não venha me falar disso, garota – disse ele sério.
- Você foge demais do assunto, sr. Snape – disse ela. – Não quer falar sobre nada.
- Não quero conversar com você sobre nada – disse ele.
- De onde saiu esse ódio todo? – perguntou ela. – O que eu fiz para o senhor?
Severo Snape olhou-a, sem responder.
- Isso não é da sua conta, é?
- Se estou envolvida, é sim... Eu quero saber se o senhor realmente estava fingindo tudo o que disse... me pareceu tão sincero!
- Eu já disse que já, não disse, garota? – perguntou ele com rispidez.
- É, eu realmente errei feio... mas se o grande Dumbledore errou, eu posso errar... Só que ele não está aqui agora... pedindo explicações.
- Você não tem direito de pedir explicações.
- É claro que tenho! Você me enganou! Era só pra me aproximar do Voldemort?
- Era.
- Ah... – ela pareceu desapontada.
- Isso, me odeie, é o que eu preciso agora – disse ele com um sorriso irônico.
- O mais estranho é que não consigo te odiar... não dá. Passei três dias tentando, procurando alguma coisa que me fizesse te achar um desgraçado... Não consigo acreditar no que vi o senhor fazer no salão principal... fico tentando me convencer de que isto é um sonho.
- Não é um sonho; é bem real. Pode me odiar. Não me importo.
- Já disse que não odeio, ca...ramba! – exclamou ela irritada. – Ainda sigo aquela passagem da ópera que cantei para o senhor... quando ainda era você...
- Você delira, menina – comentou ele.
- Espero que sim, que isto seja um pesadelo dos mais horríveis e que eu acorde logo...
- Quem está fugindo do assunto agora?
Alexandra voltou a cantar baixinho. Era a mesma ópera trouxa de antes, mas outra música.
- Think of me... think of me fondely, when we say goodbye... Remember me, once in a while... Please promese me you’ll try...
(Só uma tradução: “Pense em mim, pense em mim carinhosamente, quando dizemos adeus... Lembre-se de mim de vez em quando... Prometa-me que você vai tentar”).
- Você está parecendo uma romântica idiota... – comentou ele em tom de desprezo.
- Eu nunca fui romântica – retrucou ela. – A culpa é sua, seu idiota.
E mudou de música, mas continuava na mesma ópera.
- In sleep he sang to me... In dreams he came... That voice which calls to me... and speaks my name...
(Mais uma tradução: “No sono ele cantou para mim... Nos sonhos ele veio... Com aquela voz que chama por mim... e fala meu nome”).
- Você deve ter algum problema, menina, cale a sua boca!
- Ah, eu vou te incomodar bastante. Quer que eu mude de música?
- Seria um favor – disse ele sério, sentando-se no chão, na parede oposta à que ela estava.
- Tá – disse ela.
Começou a cantarolar Lady Marmalade, de um trecho em especial:
- Touch of her skin, feeling silky smooth... color of cafe au lait... all right, made de savage beast inside roar until he cried: ‘more, more, more’... Now he’s back home doign nine to five, living a gray channel life... But when he turns off to sleep mermories keep: ‘more, more, more’...
(Hehehe, gosto das músicas porque elas traduzem nosso estado de espírito... aqui está outra tradução pra vcs: ”a pele dela é sedosa ao toque... cor de café-com-leite... fez a fera selvagem de dentre rugir até ele gritar: ‘mais, mais, mais’... agora ele está em sua casa, vivendo a sua vidinha sem graça... Mas quando ele vai dormir, as lembranças permanecem: ‘mais, mais, mais’”)
- Você não tem pele cor de café-com-leite, está mais para leite puro – disse ele. – E essa música é um lixo. Pense em outra.
- Chato – disse ela séria. Cruzou os braços e encolheu-se mais. – Não quero mais cantar. Não vou mais irritar você.
- Que bom para você.
- Você não pode fazer nada comigo, esqueceu, tem que me levar pro afeminado do seu mestre.
- Afeminado? – estranhou Snape. – Essa é nova pra mim.
- Ah, você viu o jeito que ele segura a varinha, né? – perguntou ela. – Parece uma... ah, esquece. Mas ele é do time que segura bandeja, certo? Eu quis dizer: ele é do time dos desmunhecados... Ah, como eu vou explicar?
- Nunca vi alguém falar assim do Lorde das Trevas – comentou Snape sacudindo negativamente a cabeça.
- Ah, você admite que ele parece a Fleur Delacour segurando a varinha, hein? – perguntou ela, tentando parecer bem humorada, em vão. – Vou contar pra ele!
- Tecnicamente, eu não poderia fazer nada com você, mas posso alegar que foi um acidente.
- Melhor não, hein, ele vai achar que você fez pouco caso do souvenir dele – disse Alexandra, que parecia estar se divertindo com a situação.
- Você me irrita – disse ele sério. – Devia estar desesperada, chorando de medo, qualquer coisa assim! Uma atitude normal e compreensível, e não esse seu bom humor irritante.
- O senhor gostava de me ver sorrir e... – ela parou de falar de repente. Havia se lembrado de algo que esquecera por causa de todos os acontecimentos.
- O que foi? – perguntou ele.
- Nada – disse ela com um sorriso encantador.
- Você deve estar delirando...
- Não – disse Alexandra. - E acho que a minha memória está voltando ao normal. É recompensador.
- E o que foi que você lembrou para estar tão alegre sem causa? – questionou ele irritado.
- Às vezes o desespero faz as pessoas terem reações inesperadas como a minha – disse ela. – Você é um excelente ator; foi só disso que me lembrei.
- Ah, claro – disse ele encostando-se à parede.
- Não vai dormir? – perguntou ela, ao ver que ele se pusera em posição desconfortável.
- Não – disse Snape. – Você pode fazer a imbecilidade de tentar fugir. Andar sozinha por esta floresta é de longe a maior estupidez que você poderia fazer.
- Isso, fique acordado. Enquanto eu recupero as minhas energias você se cansa. Vai ser mais fácil te enganar depois.
- Você nunca vai me enganar.
- Ah, você é que pensa, sabe – disse ela deitando-se no chão, preparando-se para dormir. – O Dumbie não teria nunca me deixado entrar nas vistas de alguém na Inglaterra se eu fosse tão indefesa quanto pareço.
- Ah, você não é exatamente o exemplo maior de força.
- Não preciso de força, cher, eu tenho cérebro – retrucou ela, um pouco irritada.
- Vá dormir logo – disse ele.

Na manhã seguinte, Alexandra acordou e não viu Snape. Olhou em volta. Ele entrava naquela gruta trazendo algo em mãos.
- Acho que você está com fome – disse ele. – Coma logo, não podemos perder tempo.
Ela abriu o embrulho de pano. Era pão.
- Vai passar fome mesmo? – perguntou ela, sentando-se e começando a comer o pão.
- Mas que inferno, menina, eu sou seu inimigo, sabe, quero ver você perto do Lorde das Trevas, você vai sofrer abusos, vai morrer – disse Snape um pouco irritado.
- Tá bom – disse ela, terminando de comer seu pão e levantando-se. – Mas de repente comecei a achar que você não é mau. Deve ter algum plano secreto entre você e o Dumbie, hein?
- Não me lembro de ter colocado poção da insanidade na sua comida – considerou ele. Aproximou-se dela e, segurando-a pelo braço grosseiramente, com força a ponto de machucar, arrastou-a para fora da gruta. – Vamos logo.
Alexandra procurou resistir; parou de andar, mas foi arrastada por ele.
- Você está me machucando! – bradou ela.
- Isso é só porque você não cala a boca. Vamos, monte logo o cavalo e...
Ele se interrompeu bruscamente.
- Que foi? – questionou ela.
Ele segurou-a com firmeza, de costas para si, e segurou a boca dela com firmeza, para que ela não pudesse emitir o mínimo ruído. Na verdade, ela estava tendo dificuldade até para respirar.
- Está ouvindo esses sons? – perguntou ele, sussurrando no ouvido dela. – São homens do Ministério aparatando. Estão procurando por você. Como você se sente sabendo que não vai poder ir com eles?
A garota tentou se debater, se desvencilhar, mas não conseguiu. Ele era muito mais forte. Havia passos se aproximando. Snape levou-a até perto de uma arvora de tronco largo, muito sombreada, onde nem parecia ser dia, e encostou-a lá, pondo-a de frente para ele. Travou as pernas dela com as suas e segurou as mãos dela juntas acima da cabeça dela com uma única mão. A outra ele usou para tapar a boca dela. Estavam muito grudados; um átomo não passava entre eles. Ela sentiu que a resposta do corpo dele foi bem rápida e sentiu medo.
Alexandra tentou se desvencilhar dele, mas não conseguia. Ele não olhava para ela; olhava para um lado e para outro. Os passos iam e vinham, mas não chegavam perto deles o bastante para notarem que alguém estava ali.
Demorou um pouco, mas novamente ouviram os sons dos passos se afastando e os sons de pessoas desaparatando.
Snape olhou para a garota com um meio-sorriso triunfante.
- E agora? Que vai fazer?
Ele soltou a boca dela, mas não saiu daquela posição que a prendia completamente.
- Eu só queria saber o que foi que eu te fiz! – exclamou ela.
- Não me fez nada, Alex. Acontece que tenho que levá-la até o Lorde das Trevas, e é o que eu farei.
- Vai morrer sozinho.
- Ah, mas você não vai – disse ele, olhando-a tranqüilamente.
Ela tentou se soltar.
- Eles já foram embora, senhor – disse ela em tom respeitoso. – Já pode me soltar, por favor?
- Hum... está aprendendo a se comportar – disse ele.
E aproximou-se para beijá-la. Ela virou o rosto.
- Não ouse! – exclamou ela.
- Ah, eu ouso sim – disse ele. – Se vai ficar me provocando, vai ter que responder por suas próprias provocações.
E beijou-a. Ela tentou evitar, tentou resistir, mas abriu a boca e aceitou o beijo. Era o beijo intenso de Severo Snape, e não de um maldito Comensal da Morte. Ela sentiu que a mão dele que não estava prendendo as suas à árvore estava passeando pelo corpo dela. Começou a passar por dentro da camiseta dela.
Snape notou que não havia mais resistência. Sentiu lágrimas escorrendo pelo rosto dela. Interrompeu o beijo e olhou-a.
- Não você... – murmurou ela.
Ele afastou-se. Foi pegar o cavalo, que estava na entrada da gruta e aproximou-se novamente.
- Suba – disse ele com rispidez.
Alexandra já não chorava mais. O choro parecia uma última resistência que ela tinha quando não tinha mais força, e adiantava muito.
- Vamos logo!
Mas o pé que ela torcera ainda estava ruim; ela não conseguiu subir.
Snape subiu antes e puxou-a para cima, fazendo-a montar o cavalo na frente dele. E começou a correr.
- Por que não aparatamos direto lá? – perguntou Alexandra curiosa.
- O Ministério está controlando tudo – respondeu ele secamente.
- Pensei que Voldemort tivesse comprado o Ministério com suborno barato – comentou Alexandra.
- Ele fez isso – disse Snape misteriosamente. – Mas existem circunstâncias que você ainda não tem como compreender.
Ela não respondeu.
- Então, quais segredos mais você tem para contar enquanto fazemos essa travessia insuportável? – perguntou Snape.
- Não são da sua conta – disse ela, pela primeira vez apresentando um tom ríspido.
- Ah, então teremos que interromper a travessia mais uma vez logo que começar a anoitecer – disse ele. – Quando o passeio fica chato eu me canso fácil. Mas não vou querer passar frio essa noite só para que você possa dormir tranqüila e aquecida.
- Não comece com isso – disse ela. – Está tentando me deixar com mais medo de você. Não vai conseguir, já cheguei ao máximo de medo que posso ter de alguém.
- Ah, é mesmo? – perguntou ele desinteressado.
- É, eu já tinha medo de você quando achava que você estava do lado da Ordem – começou ela.
Ele desviou o olhar para ela rapidamente.
- Ah, isso é uma novidade interessante. Desenvolva o raciocínio para tornar menos tedioso o nosso passeio – disse Snape impassível.
- Você sempre me causou admiração... eu já te amava antes de te conhecer, Severo Snape. Mas também sempre me causou um pouco de medo, principalmente quando estava bravo. Parecia que ia me bater a qualquer momento.
- Eu não ia fazer isso – assegurou Snape sério.
- Não sei, talvez fizesse – disse ela. – Eu não tinha como saber.
- Você tinha dito que confiava em mim – lembrou ele.
- Isso. Conjugou o verbo no tempo certo. Eu CONFIAVA. E você também tinha dito que me amava. Mas isso era mentira deslavada mesmo, não era?
- Era – disse ele indiferente.
Alexandra olhava as árvores. Até que o cavalo assustou-se com nada e empinou.
- Ô merda – disse ele muito sério.
- O que foi isso? – perguntou ela.
- O maior problema desse lugar. – Saqueadores trouxas. Se esconda. Provavelmente serão muitos; não posso assegurar a sua segurança por aqui.
- Mas eu posso – disse ela. – Só me ajude a descer do cavalo, sim?
- Ah, até parece – disse ele.
- Só faça o que estou pedindo, senhor – disse ela, procurando ser muito educada. – E tente esquecer que sou um simples lixo sendo levado para a destruição. Eu posso ajudar.
- Com esse pé torcido? Não vou te dar uma varinha.
- Não preciso de varinha com trouxas, sr. Snape – disse ela.
Ele desceu do cavalo e pôs as mãos na cintura dela, para ajudá-la a descer. Depois, pegou a varinha.
- Eles não têm armas de fogo não, né? – perguntou ela, olhando em volta.
- Têm o que? – perguntou Snape, sem entender.
- É, pelo visto não – murmurou ela para si mesma. – Mas em que raio de lugar estamos? Voltamos no tempo? São ninjas, salteadores pobres, Robin Hood, ou o que?
Snape parecia não estar entendendo nada.
- Que tipo de arma eles usam? Não são varinhas, né?
- Espadas – disse ele.
- Puta coisa ultrapassada – comentou ela. – Aço árabe, acho... os caras não podem ser pobres a ponto de não comprar nem uma espada boa...
- Você conhece bem os trouxas, hein? – perguntou ele.
- Ah, o suficiente – disse ela.
Um grupo de uns 20 homens cercou-os.
- Ah, mais idiotas que se atrevem a passar por aqui – disse um deles. – Ah, mas dessa vez uma beldade. Ela não é nova pra você não, morcego?
- Ah, troco dois de 20 por um de 40 – disse ela, dando um passo à frente. E eu sei falar sozinha. Não preciso de um porta-voz.
- Já pode parar de se exibir, vou matar todos eles de uma vez só – disse Snape para ela.
Uma faca havia sido atirada bem na direção dele, mas Alexandra – revelando reflexos excepcionais – pegou-a pelo cabo a um metro e meio antes de atingi-lo.
Os homens ficaram boquiabertos, inclusive Snape.
- Ah, vocês precisam ser muito bons para lidar com a Senhorita X aqui – debochou ela, muito diferente da garotinha assustada que estava ali havia pouco. – Tem alguém aí que seja homem o bastante para me enfrentar, hein?
Não parecia haver, mas eles alegram que estavam em maior número.
- Já posso matá-los? – perguntou Snape entediado. – Da última vez tive menos trabalho e eram 50 em vez de 20...
- Mas são uns pobres coitados – disse Alexandra. – Digam-me uma coisa: onde estamos?
- Se alguém disser vai morrer de forma mágica – disse Snape ameaçador.
- Eu pago – disse ela.
- Paga? – perguntou um outro deles interessado. – Mas o que é que você tem por debaixo desses trapos que não podemos pegar sem precisar barganhar?
Os trouxas riram.
- Ah, se você não sabe, você está em sérios apuros – disse Alexandra, com um sorriso malicioso que Snape jamais imaginara ver nela. Ela sussurrou para Snape: - Não faça nada, Severo.
Um dos homens se aproximou dela, olhando-a descaradamente.
- Você não me parece a melhor que já vi.
- Mesmo? – perguntou ela, olhando para os olhos dele. – Mas eu acho que você é muito idiota. Você e todos os outros. Na verdade, acho até que vão sair do caminho e vão nos deixar passar.
Snape irritou-se.
- Garota, não se fala com trouxas; é só matá-los e abrir caminho e...
Mas o homem com quem ela falara virou-se para os outros e disse:
- Ah, gente, acho que vamos deixar eles passarem, né?
Os outros concordaram e todos se foram; Snape olhou-a surpreso.
- Mas que feitiço você fez sem usar uma varinha?
Alexandra cambaleou para trás.
- Ah, você não tem idéia do meu poder de persuasão... com trouxas... é fácil usar hipnose neles mas... dá trabalho...
Ela caiu no chão, sentada. Parecia exausta.
- Matá-los me daria muito menos trabalho – ralhou ele, aproximando-se para ajudá-la a se levantar.
- Eu não queria ver você matando alguém. Eu queria morrer com a impressão de que não amei um monstro, só alguém que precisava ser amado.
Snape não respondeu. Ajudou-a a se levantar.
- Vamos logo – disse ele, montando seu cavalo. E puxou-a para cima em seguida.
Ela desmaiou, recostando-se no peito dele. O cavalo começou a correr a toda energia, Snape não parecia cansado, embora estivesse. Não podia fracassar em sua missão de levá-la viva ao líder.

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