O Primeiro Segredo
Era hora do café da manhã e, quando ele chegou ao salão central, no horário que sempre chegava, viu Alexandra sentada à mesa da Sonserina, tomando seu café da manhã calmamente. Ela não o olhou. Sabia disfarçar bem, pensou ele.
O trio grifinório aproximou-se. Já haviam acabado de tomar o café da manhã e foram falar com ela.
- E aí, pronta para voltar às aulas depois de toda aquela bagunça de ontem? – perguntou Rony.
- Estou sempre pronta – disse Alexandra com um sorriso tranqüilo.
- Ah, então vamos – disse Harry. – Temos dois tempos de Poções para enfrentar... Acho que eu preferiria enfrentar Voldemort...
- Harry, não fala esse nome! – exclamou Rony.
- Por que não? – perguntou Alexandra. – Voldemort, Voldemort, Voldemort... Aquele idiota panaca... tem que falar o nome dele mesmo!
E começou a rir.
- Mais respeito com o maior bruxo de todos os tempos – disse Draco, aproximando-se.
- Mas eu não estava falando mal do professor Dumbledore – retrucou Alexandra.
Os grifinórios riram.
- Dá o fora, Malfoy – disse Hermione, ameaçando pegar a varinha em suas vestes.
- Isso, pega a varinha mesmo. Aí, quando o professor Snape chegar, vocês vão perder ainda mais pontos – disse Draco.
- Tem certeza? – perguntou Alexandra. – Acho que não, ele está bravo com você desde o segundo dia de aula...
Draco fechou a cara.
- De novo você está falando disso – disse Hermione. – O que aconteceu nesse dia de tão grave?
- Ah, tenho vergonha de falar – disse Alexandra com um sorriso sem graça.
Entraram na sala. O professor já estava lá.
- Bom dia, professor – disse Alexandra calmamente, sentando-se à primeira bancada, como sempre.
- Não tem nada de bom no dia, Bellefort – retrucou ele, amargo como sempre.
Ela olhou-o com um sorriso que só ele viu; os grifinórios se aproximaram, junto a Neville e Simas Finnegan. Angelina Brown e Madeleine Theraoux, ambas da Sonserina, sentaram-se perto deles. Era um grupo bem fechado.
- A poção de hoje é uma poção muito complicada, que eu não espero que vocês consigam fazer – disse Snape desdenhoso como sempre. Se Alexandra sabia disfarçar qualquer coisa, ele também sabia. – No entanto, como hoje estou muito bem humorado, como vocês podem perceber, concederei 20 pontos a cada aluno que conseguir fazer a poção. Suborno barato para ver se vocês conseguem se emprenhar um pouco mais. Seus NIEMs estão chegando e não vejo sinal de preocupação de vocês.
- Nossa, que aconteceu com ele? – perguntou Rony aos colegas.
- Dez pontos a menos para a Grifinória porque o Weasley estava conversando.
- É, ele é o mesmo de sempre – disse Hermione.
- Sem dúvida – comentou Alexandra com um sorriso tranqüilo.
Todos começaram a fazer suas poções; Snape ficou circulando pela sala, observando atentamente cada aluno. Chegou em Neville e disse com rispidez:
- Longbottom, quer nos matar? Não é assim! As cascas e barata vêm depois do pó de casca de árvore!
Apesar de Snape continuar sendo grosseiro, era a primeira vez que o professor explicava como era o certo em vez e apenas reclamar.
- Faça de novo, Longbottom. Não quer pontos para a sua casa? Um fracassado como você deveria querer.
Neville já estava acostumado a ouvir o professor falar daquele jeito, por isso nem se importou. Snape continuou circulando pela sala e ficou muito irritado ao ver a poção de Draco.
- Mas o que está fazendo, Malfoy? Mas que porcaria é essa? Comece de novo! Honre a sua casa!
Draco ficou tão assustado e tão surpreso ao ver o professor lhe falar daquele jeito que quase derrubou seu caldeirão
Snape não se importou. Por fim, foi à mesa do mais estranho grupo de Hogwarts, em que grifinórios e sonserinos falavam amigavelmente. Olhou a poção de Hermione e passou direto por ela. Olhou a de Harry e disse:
- Se continuar a olhar a poção da Bellefort, vou tirar cinqüenta pontos da sua casa, Potter – disse ele sério. – Weasley, a sua poção está roxa e tinha que ser verde. Você não reparou nesse detalhe? O que você fez? A mesma coisa que o Longbottom, provavelmente. Faça outra vez.
E fez um aceno com a varinha. A poção de Harry e a de Rony sumiram. Pensando todos os palavrões feios que podiam, recomeçaram.
Snape parou atrás de Alexandra e observou a poção dela atentamente.
- Tá certo, professor? – perguntou ela olhando para cima e para trás.
- Ah, parece certo – disse ele sério. – Mas prefiro não dizer que está perfeita até testá-la.
- Entendo – disse ela, voltando a olhar sua poção.
O professor voltou à sua mesa e ficou observando os alunos em aula. Não se lembrava de já ter se sentido tão feliz, mas tomou cuidado em não demonstrar isso. Estava representando tão bem quanto sempre fazia, principalmente desde que voltara a ser espião para Dumbledore.
Quando a aula chegou ao fim, todos os alunos entregaram uma amostra da poção para Snape; ele dispensou-os. Mandou Alexandra ficar, já que a aula seguinte era livre para ela – e para ele também.
Logo que todos saíram, ele fez a porta fechar-se sozinha, e trancar-se.
- Que foi? – perguntou ela calmamente.
- Eu queria falar com você – disse ele. – Em primeiro lugar, parabenizá-la por uma das melhores representações que eu já vi na minha vida.
Alexandra deu um daqueles sorrisos por que Snape se apaixonara.
- Obrigada. É difícil, mas entendo que não podemos ter nenhuma relação além da professor-aluna...
- Ah, é este o ponto que eu queria chegar – disse ele. – Dumbledore me mata se souber o que aconteceu aqui ontem à noite.
- Não vou contar, pode ficar tranqüilo, professor – disse ela.
Ele fez uma careta ao ouvi-la chamá-lo assim, mas nada disse a respeito.
- E... você vai me dispensar? – perguntou ela, apreensiva. – Eu sei que você não gosta de mim, mas...
- Está falando uma grande bobagem, Alex – disse ele sério. – Eu tenho alguma ética. Não teria a primeira noite da sua vida com você se você fosse para mim apenas um “objetozinho para quebrar a abstinência”, como você se definiu ontem.
Alexandra olhou-o, aparentemente sem entender.
- O que foi? – perguntou ele ao notar o olhar dela.
- Sou mais do que isso para você?
- Claro que é! – exclamou ele, como que ofendido com a possibilidade de responder outra coisa. – Não sou tão desgraçado assim! Passar a noite com uma aluna apenas por prazer faria eu ter nojo de mim mesmo!
- Mas então... você sente alguma coisa por mim? – perguntou ela, ao mesmo tempo transtornada e alegre.
- Sim e não – disse ele. – Sinto alguma coisa, mas não sei o que é... diferente de tudo que eu já senti antes... mas...
Ela o interrompeu, dando-lhe um caloroso beijo, que ele correspondeu igualmente.
Quando ela se afastou dele, ele perguntou, um pouco ressentido:
- Você achou que eu não fosse capaz de sentir?
Alexandra corou.
- Bom... você parece não sentir nada... e... gosta tanto de se mostrar um insensível...
- Ah, eu sou mesmo um insensível – disse ele, dando um sorriso curto, daqueles que nem dava para reparar que era um sorriso.
- Mas o que vamos fazer, então? Só estarei formada daqui a seis meses!
- Bom, podemos esperar para assumir qualquer coisa... mas teríamos que romper durante esse tempo...
Alexandra sentou-se na cadeira em que estivera durante a aula.
- Não que eu vá agüentar ficar longe de você depois de tudo... – disse Snape sério. – Vai ser insuportável e terei que me controlar para não te agarrar no corredor...
Alexandra riu.
- Está bem, sei que você não pode jogar fora a sua carreira nem nada assim por minha causa...
- Ah, você está querendo fazer eu me sentir mal! Entendo. Mas é que eu demorei muito para conseguir um sentido para essa minha vida. Eu só vivo porque o Dumbledore precisa que eu espione o Lorde das Trevas. Eu achava que não teria mais o que fazer da minha vida depois que essa guerra acabasse... E você me acusa de só pensar na minha carreira!
Ele adquiriu um tom agressivo que a assustou.
- Calma – disse ela levantando-se e aproximando-se dele, embora achasse que ele poderia lhe dar um tapa a qualquer momento. – Eu não estou te acusando! Eu só disse que você não pode jogar fora a sua carreira! Não discordo disso, Severo!
Snape sentou-se.
- Ah, inferno!
- Mas o que foi, Severo? – perguntou ela, levantando-se e indo sentar-se no colo dele.
Ele sentiu uma resposta imediata de seu corpo.
- O que foi que aconteceu? – insistiu ela.
- Vai ser difícil me afastar de você por SEIS MESES se você continuar a agir assim – disse ele, começando a acariciar as pernas dela.
- Ah, mas poderíamos nos encontrar às escondidas... – disse ela, beijando o pescoço dele.
- Dumbledore perceberia – disse ele. – Não quero envolver o diretor isso. Se ele nos ajudasse, teria problemas com o Ministério. Ah... pare...
Ele disse “pare” como se tivesse dito “continue”. Bateram à porta. Alexandra levantou-se e pegou um pergaminho e um livro e começou a escrever muito rápido. Snape foi abrir a porta, logo que conseguiu controlar a respiração. Era Alvo Dumbledore.
- Ah, olá, diretor.
- Ah, Severo, eu sabia que você estava com o horário livre agora. Ah, Alex, que sorte encontrá-la aqui! Eu pretendia chamar você também... Que está fazendo?
Ele entrou na sala, curioso.
- Ah, eu tava tirando umas dúvidas com o professor Snape – mentiu ela descaradamente, de um modo muito convincente.
- Que bom, vai passar nos seus NIEMs, espero. Aí poderá ir para o treinamento de aurores.
- Você quer ser auror? – perguntou Snape, um pouco surpreso.
- Sim, professor – disse ela, guardando seu material. – Mas o que queria falar comigo, professor Dumbledore?
- Com vocês dois – disse o velho diretor calmamente. – Vamos até a minha sala.
Os dois andaram ladeando o diretor, um de cada lado do nobre bruxo. Não sabiam o que ele queria falar, mas tinham certeza de que ele não sabia sobre eles.
Logo que entraram na sala de Dumbledore e se acomodaram, o diretor disse:
- Bom, Alex, acho que já está na hora e começarmos a contar algumas coisas para o professor Snape...
Snape olhou para ela, que mantinha a calma.
- Está bem, professor – disse ela simplesmente.
- O que é que eu preciso saber, exatamente? – perguntou Snape, fazendo-se muito sério.
- É sobre a Ordem – disse Dumbledore. – Alex faz parte dela, Severo.
Snape arqueou a sobrancelha e perguntou:
- Qual é o trabalho dela? Nunca a vi por lá, na base.
- Nunca estive lá – disse Alexandra, parecendo apreensiva.
Snape achou que estava enganado, porque Alexandra parecia realmente estar com medo dele.
- Severo, entenda que a culpa não é dela; não a deixei contar nada a ninguém...
- Me desculpe, diretor, mas poderia ser mais direto? – perguntou Snape um pouco impaciente.
- Ela não se chama Alexandra Bellefort – disse Dumbledore.
Snape olhou para ela, que baixou os olhos, muito envergonhada.
- Interessante; uma espiã – disse Snape, indiferente. – E qual é o nome dela?
- Diga a ele, Alex – disse Dumbledore.
- É que... o senhor sabe que eu sou sangue-puro, eu já disse isso... mas já ouviu falar na família Bellefort? – ela estava realmente amedrontada. – As famílias puras são famosas; qualquer um saberia que sou puro sangue, se houvesse uma família Bellefort... Sou a lady Alexandra de York...
Snape espantou-se muito, embora mantivesse o ar de indiferença. Dava para notar que ele não esperava por aquilo.
Ela baixou os olhos; Dumbledore achou melhor continuar por ela.
- Como você bem sabe, os York tinham uma ramificação trouxa, mas isso veio a partir de um aborto. Ela é bruxa. A última York. Voldemort matou toda a família dela porque...
- É uma família que luta contra os bruxos das trevas desde que existe – completou Snape, como que entediado.
- Tem um “porém” – disse Dumbledore. – Essa família está envolvida num feitiço antigo... Quando só sobrasse um herdeiro da família, esse herdeiro teria todas as habilidades dos patriarcas...
- Ah, então é por isso que o Lorde das Trevas persegue a família dela... na verdade, ele estava perseguindo ela... – disse Snape.
- Isso mesmo – disse Dumbledore. – Por isso ela veio para cá, agora no 7º ano, algo muito não-usual... Tenho duas coisas para falar. A primeira é: Severo, preciso que me traga todas as informações a respeito dos planos de Voldemort em relação a ela.
- Mas sem dúvidas, diretor – disse Snape prontamente.
- E a outra coisa é: Severo, ensine a Alex a fazer aquelas poções...
Alexandra olhou para um e para outro.
- Uau, segredo de estado numa reunião secreta... – comentou ela no seu habitual tom calmo.
- E podem começar a trabalhar juntos nesta noite mesmo – disse Dumbledore. – Só não massacre a garota, Severo, ela tem que ir dormir no máximo às dez horas, ouviu?
- Moleza demais para esses alunos – comentou Snape, mais para manter as aparências do que para qualquer outra coisa. – Mas tudo bem, diretor, deixarei a Bellefort ir dormir às dez... É para continuar chamando de “Bellefort”, não é?
- Isso – disse Alexandra, corando.
- Agora, já podem ir – disse Dumbledore. – Ah, corrijo. Severo, fique, tenho uns detalhes para acertar com você.
Alexandra levantou-se e saiu.
Encontrou os amigos indo para a aula de DCAT e foi com eles.
- O que foi? – perguntou Hermione. – Você está pálida...
- Tenho que falar com vocês, que fazem parte da Ordem...
- Ela sabe sobre a Ordem? – perguntou Rony aos dois amigos grifinórios.
- Ela faz parte da Ordem, Rony – disse Harry. – Nem lembrei de falar isso para vocês... Mas o que você quer falar com a gente?
- Preciso falar sobre... é que eu... Vocês fazem parte da Ordem, de certa forma, porque sabem que ela existe – começou Alexandra. – Mas EU não estou nessa situação... eu TRABALHO na Ordem, como qualquer outro membro... Eu... como o Snape, a McGonagall, o Moody, a Tonks... Conheço todos, mas ninguém me conhece... Estudei todos, todos os comensais também...
Os três estavam muito espantados.
- Mas por que ninguém sabe sobre você? – perguntou Hermione, a mais conformada com a situação.
- É que... por segurança... porque o Voldemort está atrás de mim... – murmurou ela.
- Por quê??? – perguntou Rony, alterando muito o tom e fazendo todos os que estavam perto os olharem.
- Ah, isso eu explico outra hora... O fato é que eu não podia aparecer... Mas agora... parece que o Dumbledore tem um plano. Ele já te falou, né, Harry?
- Claro, se eu é que tenho que dar o xeque-mate – disse Harry, um pouco aborrecido. Ele não gostava daquela situação. Não gostava da idéia de ter que ser o assassino ou o assassinado.
- Harry, a gente vai estar lá, pra te dar todo o nosso apoio – disse Rony.
- Cara, eu não quero – disse Harry. – Quero que vocês estejam longe, seguros...
- Não dá, Harry – disse Alexandra. – O professor Dumbledore conversou comigo antes de eu chegar na escola... Disse que Voldemort pretende invadir o colégio pra pegar você... E... bom, ele disse que me mandaria ajudar o professor Snape com alguma coisa quando o plano da Ordem estivesse firme... Bom, hoje ele mandou... agora há pouco. O professor Dumbledore vai chamar vocês três para falar com ele. Acho que depois do jantar. Só estou avisando porque talvez seja um choque para vocês... Dumbledore vai lhes contar o meu segredo...
Os três grifinórios se entreolharam. Alexandra Bellefort era mesmo muito misteriosa, e eles nem imaginavam o quanto.
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