O Dia das Bruxas
Os três sonserinos tiveram problemas sérios com Dumbledore. Snape não conseguiu obter informação nenhuma a respeito de Alexandra, e não insistiu.
Durante dois meses a escola seguiu como deveria seguir; os alunos só faziam suas lições, estudavam, ficavam à toa nos fins de semana, às vezes iam a Hogsmeade, embora esse passeio não estivesse tão divertido quanto costumava ser antes de Voldemort retornar.
As aulas estavam boas; Alexandra começou a conversar com algumas meninas sonserinas que, ao contrário das expectativas, eram mais legais e inteligentes do que pareciam.
Ocorreu um fenômeno estranho: nas aulas em que Sonserina e Grifinória se juntavam, esse grupo de amigas de Alexandra e o trio grifinório mais Neville e Simas Finnegan sentavam-se juntos. As aulas e poções ficavam com um clima pesado naquela situação; Snape até diminuíra a quantidade de injustiças cometidas contra a Grifinória.
A poção dele não havia funcionado. Na verdade, a poção de Alexandra não batera com a dele. Ele teria que inventar outra, mais estável.
Foi assim até a semana que antecedia o grande Dia das Bruxas, quando Dumbledore, uma semana antes, avisou sobre o grande baile de máscaras. Disse que todos, sem exceção, deveriam estar presentes, desde os alunos do primeiro ano até os professores mais antigos, e todos deveriam estar fantasiados.
Snape fez uma mesura. Já odiava festas naturalmente; festas à fantasia seriam uma tortura única na vida dele. Pior do que qualquer cruciatus.
Harry queria ir ao baile com Gina, claro, mas conversou com ela e ela mesma concordou que ele deveria ir com Alexandra, para não deixá-la sozinha. Gina conseguiria um par com facilidade. Harry não sentia ciúmes. Ela não era sua namorada, mas ele bem que gostaria que ela fosse. Rony ia com Hermione, e Harry torcia para que eles finalmente se acertassem.
Uma noite antes da grande festa, Dumbledore anunciou:
- A melhor aluna de cada casa e o melhor aluno de cada casa vão abrir as valsas. As meninas vão dançar com os diretores de casa e os meninos vão dançar com as diretoras de casa. Ah, e as meninas vão dançar com este velho diretor também...
Os murmúrios começaram. Snape protestou. Preferia a morte a dançar com Hermione Granger. Andrew Hickmman – diretor da Corvinal desde que Flitwick se aposentara – não reclamou.
- Ah-ah-ah, vai ter que dançar com o Snape, Mione – caçoou Rony, às gargalhadas.
- Ah, cala a boca, Ronald – disse Hermione aborrecida.
– Puxa, quem será o azarado que vai dançar com a McGonagall? Cara, e o Dumbledore ainda dança? – perguntou Rony, sem controlar as risadas.
O trio estava rindo. Havia alguns outros alunos rindo também.
- Silêncio! – disse Dumbledore, e todos se calaram. – Estou apenas reabrindo uma velha tradição.
- Eu li sobre isso em Hogwarts: Uma História – comentou Hermione.
- Espero que já tenham tudo pronto, porque só anunciarei amanhã quem vai nos ajudar a manter a tradição – disse Dumbledore com um sorriso divertido.
Durante todo o sábado não se falou em outra coisa. Naquele ano, o Dia das Bruxas caía num domingo, dia perfeito para o baile.
A festa estava marcada para começar às oito e, seguindo a lendária pontualidade britânica, muitos alunos e alunas estavam lá nesse horário.
Harry e Rony estavam esperando suas acompanhantes, que demoravam a chegar. Os professores já estavam todos lá.
Harry estava fantasiado de vampiro; Rony vestia-se de espantalho. Eles viram Snape a um canto, calado, sem conversar com ninguém. Aparentemente, o professor estava vestido de “ele mesmo”.
- Severo – disse Dumbledore, - por que não está fantasiado?
- Eu estou fantasiado – retrucou Snape. – Eu não sou o Severo Snape. Eu estou fantasiado de Severo Snape.
Dumbledore riu.
- Está realmente muito parecido – comentou o diretor bem humorado.
A única diferença entre o Snape professor e o Snape da festa é que o Snape da festa usava roupas com um corte ainda mais nobre do que o habitual e seu cabelo estava preso num rabo de cavalo baixo. Parecia um rei vestido de negro.
- Estão faltando duas alunas que vão abrir as valsas – lamentou Dumbledore. – As mulheres demoram tanto para se arrumar!
Snape não pôde conter um sorriso – daqueles que nem dava para perceber. Ele imaginava qual seria a experiência de Dumbledore no assunto “mulheres”, mas não teve tempo para perguntar. Todos haviam parado de falar e olhado para as portas. Ele fez o mesmo.
Duas pessoas entravam. Uma era Hermione Granger, que estava inegavelmente linda em sua fantasia de borboleta. A outra vestia uma capa preta com capuz. Não dava para ver o rosto.
- Vai matar todos de curiosidade mesmo? – perguntou Hermione à figura.
A pessoa ergueu as mãos para o fecho da capa e tirou-a de uma vez só. Ouviu-se um “OH!” uníssono. Era Alexandra Bellefort, que estava simplesmente deslumbrante vestida de Cleópatra. A capa desapareceu das mãos dela.
- Gente, vocês não ajudam – disse Hermione com um riso divertido. – A Alex tava com vergonha de andar assim pelos corredores.
- Pois não devia – disse Harry com um sorriso gentil, se aproximando delas.
Rony vinha junto.
Alexandra tinha uma rede de medalhinhas na cabeça, o vestido era preto e tinha bordados dourados. As alças do vestido tinham pequenas pedras de brilhante. O vestido tinha um racho que ia um palmo além do joelho. Não tinha decote. Era um vestido até bem comportado. Ela usava um bracelete na parte superior do braço, que era uma cobra dourada, que parecia se enrolar naquele pedaço do braço dela.
- Agora que chegaram as duas que faltavam – anunciou Dumbledore, - podemos iniciar as danças da noite. – As alunas. Hermione Granger, da Grifinória.
Ouviu-se aplausos.
- Cho Chang, da Corvinal – continuou o diretor. Mais aplausos e ele acrescentou: - Elisabeth Bush, da Lufa-Lufa.
Mais aplausos e Dumbledore acrescentou:
- Alexandra Bellefort, da Sonserina.
Nunca haviam ouvido antes tantos aplausos para a detestada casa da Sonserina. E não eram só os sonserinos que estavam aplaudindo.
Dumbledore falou os nomes dos alunos, mas eram uns garotos isolados, que não se enturmavam muito.
A música começou. Um círculo enorme com um vazio no meio se fez. Snape, Hickmman, McGonagall, Sprout e os alunos estavam no meio desse círculo. Começaram Snape e McGonagall, Sprout e Hickmman e os casais de cada casa. Conforme a música aumentava o ritmo da batida, trocavam os pares.
Snape dançava o máximo afastado das alunas que podia. Quando era vez de dançar com Hermione, pôs uma das mãos na cintura dela a muito custo, e ela, de tão constrangida, olhava para outro lado, desejando que a música mudasse logo.
- Saiba que não é o maior prazer da minha vida dançar com você, Granger – disse ele, sério.
- Eu imagino, professor – ponderou Hermione.
Quando a música finalmente mudou de novo, era a última troca de pares possível: era a vez de Snape dançar com Alexandra. Não estava enojado. Na verdade, descobriu que queria dançar com ela direito. Pôs as mãos na cintura dela e aproximou-se dela como ditavam as regras. Ele guiava muito bem a dança. Ela ficou muito constrangida em ter o professor tão perto, mas olhava para os olhos dele.
- Você dança bem – disse ele.
- O senhor também – disse ela, fazendo-se escarlate.
Ele não entendia como poderia estar perdendo o controle por causa de uma aluna, mas o fato é que estava. Não conseguia direcionar seus pensamentos para outro lugar. Olhava para os olhos dela, mas seus olhos insistiam em escorregar para a boca da garota. Eram lábios finos, lindos. Ela estava tão próxima... Seu corpo teve uma reação indesejada naquele momento; ela olhou-o assustada.
- Me desculpe – murmurou ele, envergonhado, mas sem demonstrar.
- Ah... é que...
- Não diga nada; vai piorar a situação – disse ele sério. Afastou-se um pouco dela, mas bem pouco.
Alexandra assentiu em silêncio. Aquela parte da música parecia que não ia acabar mais. Ela estava mais envergonhada do que antes. Não imaginava que pudesse provocar algo assim.
- Ahn... professor – começou ela.
- Não fale nada, eu já disse – interrompeu ele com alguma rispidez.
Ele estava se sentindo mais quente do que de costume. Se se afastasse mais, estaria indo contra uma aluna de sua casa, sua melhor aluna. Ele não poderia fazer isso. Precisava manter as aparências. Tentava não pensar, não desejar, mas não conseguia.
Mesmo que ele não demonstrasse, Alexandra percebia, obviamente. Não era uma inocente purinha, pelo menos, não o tempo todo. O que não entendia era como é que ela, Alexandra Bellefort, que não tinha belas curvas nem nada assim, conseguia fazer alguém como Severo Snape se sentir indefeso. Porque era exatamente assim que ele se sentia.
A música finalmente acabou. Snape soltou a aluna tão logo ouviu o silêncio e aplausos iniciaram-se. Quando terminaram e as outras danças começaram, ele afastou-se para um canto qualquer e ficou observando o centro do salão. Queria ir embora dali o mais rápido possível, mas teria problemas com Dumbledore se por acaso ele se fosse assim, logo no começo da festa. Ele só poderia ir embora lá pela meia-noite. Decidiu que passaria a noite inteira ali, quieto, sem ser notado. Outras danças começaram.
Alexandra parecia estar tendo trabalho de fazer Harry querer dançar. Quando conseguiu convencê-lo, teve que ensiná-lo. Começou um ritmo que poucos conheciam: chamava-se salsa.
- Ah, quem sabe dançar isso? – perguntou Dumbledore.
- Eu já tentei, mas é rápido demais pra mim – disse Hermione.
Alexandra subiu em cima de uma mesa.
- Por favor, atenção.
A música abaixou e todos olharam para lá, curiosos.
- Então, tem alguém aí capaz de me acompanhar nessa dança?
- Isso é um desafio, srta. Bellefort? – perguntou Dumbledore com um sorriso divertido.
- Pode ser – disse Alexandra. – Tem alguém aí?
- Sua sangue-ruim! – gritou Draco. – Conhece música trouxa!
- Mas é claro, são as melhores músicas! – exclamou Alexandra com um sorriso encantador. – Então? Alguém se aventura? Ah, gente, foi difícil arrumar cara-de-pau para subir na mesa; ninguém responde?
O professor Andrew Hickmman, que, além de tudo, era o “terror da mulherada”, disse:
- Eu sei dançar isso e o que mais tocar – disse ele. – Se o professor Dumbledore permitir...
- Mas é claro, Andrew – disse o diretor. – Hoje é dia de esquecer tudo; é para se divertir. Confesso que estou curioso. Dança tão bem assim para se dar ao luxo de desafiar todos assim, srta. Bellefort?
- Isso – disse ela, dando um pulo de cima da mesa e parando em pé no chão – vocês vão decidir.
Um espaço imenso se abriu no centro do salão. A música começou a tocar. Nos primeiros acordes da salsa, Alexandra mostrou que sabia se sacudir muito bem, e no ritmo perfeito. Snape podia vê-la. De onde estava, podia ver tudo.
O diretor da Corvinal não se sacudia, claro, mas sabia dançar sim – e muuuuito bem. Guiava a aluna com facilidade. A dança era rápida, quente, forte. Alexandra dava piruetas e rodopiava e saltava e fazia e acontecia com facilidade. Todos ficaram impressionados, até mesmo o professor Hickmman. Ela terminou indo ao chão, rasgando um espacate, deixando a perna direita à mostra. E todos fizeram uma careta por causa do espacate, que para ela parecia muito fácil.
Houve dez minutos de incessantes aplausos quando a dança terminou. Até Andrew Hickmman aplaudiu.
Alexandra levantou-se – aceitando a mão que Hickmman lhe oferecera – e fez uma pequena reverência em agradecimento. Ela suava, estava despenteada, a rede de medalhinhas caíra logo no começo, mas estava linda. Ofegava muito e foi pegar algo para beber.
Pegou vinho numa mesa afastada e, enquanto segurava a taça, observava os outros alunos se divertindo.
- Não acha que isso é forte demais para você? – perguntou aquela voz que ela conhecia bem.
Ela olhou seu mestre de Poções com um sorriso que ele achou encantador e virou a taça de uma vez só.
- Forte? Nem tanto.
E deu uma risada que parecia igual a todas as outras. O álcool não a afetara ainda.
- Com licença, ainda tenho que me acabar antes de voltar a estudar igual uma doida – disse ela.
E se afastou outra vez para a pista de dança em que se tornara o salão principal. Dumbledore aproximou-se. Parecia bem humorado.
- Ah, Severo, você deveria se divertir! Esqueça a máscara só por hoje.
- Ah, obrigado pelo conselho, diretor, mas não posso fazer isso.
Eles ficaram um tempo calados, olhando para as brincadeiras dos alunos. Alexandra estava cercada de alunos de várias casas ensinando os passinhos mais básicos de sua dança. Era um fracasso como professora, e seus alunos, mais fracassados ainda. Estavam apenas se divertindo, sem levar a sério.
Começou a tocar tango.
- Quem dança essa, além do professor Hickmman? – perguntou Alexandra, chamando todas as atenções de novo.
- O Severo dança – disse Dumbledore aumentando a voz.
Todos se viraram para lá.
- Sem chance – disse Snape carrancudo.
- É, ele dança muito bem essa – disse o diretor. – Vai lá, Severo, mostre a eles.
- Não vou mostrar nada – disse Snape sério.
- Ah, deixa ele aí, fingindo que é malvado – disse Alexandra. – Vem cá, Harry, eu ensino você a dançar... Aí você dança com a Gina depois.
- Ah, mas eu não sei – atalhou Harry.
- Sabe sim, é fácil – disse Alexandra, puxando-o pela mão. – Vem!
E começou a dançar com ele, enquanto explicava. Ele aprendeu. Não dançava perfeitamente bem, mas servia para guiar alguém. Depois Alexandra abandonou-o para que ele pudesse dançar com Gina. Hermione também dançava, e estava rindo muito, enquanto ensinava Rony.
Ela voltou à mesa, onde ainda estavam Dumbledore e Snape.
- Ai, caramba... – murmurou ela. – Fala a verdade, Dumbie, parece que eu estou bêbada, né?
- Ah, pra quem te conhece bem, não acho não – respondeu Dumbledore com um sorriso divertido. – Só não exagere tentando bater o seu recorde.
- Qual recorde? – perguntou Snape.
- Sete taças de vinho sem ficar bêbada – disse Alexandra com um sorriso. – Não, acho que só três taças está bom por hoje; amanhã tem aula.
- Só? – perguntou Snape. – Parece eu falando.
Alexandra riu.
- Ah, mas hoje não tenho que provar nada para ninguém. Vou me comportar bem, tá certo, Dumbie?
- Acho bom – disse o velho diretor.
- Aewww, galera! – chamou Alexandra, voltando ao centro do salão. – Tenho uma idéia. Música trouxa, alguém conhece?
- Só os sangues-ruins e mestiços, né? – provocou Draco.
- Ô, boneca – disse ela, olhando para Draco. – Vou pôr para tocar aqui uma música que a senhora sua mãe adora!
Começou a tocar Lady Marmalade, todas as meninas começaram a coreografia. As músicas trouxas eram bastante conhecidas no mundo dos bruxos. Ao menos, algumas delas.
- Minha mãe? – perguntou Draco.
- Ah, pergunta para ela – disse Alexandra. – Pode perguntar... se ela disser que não, é mentira deslavada.
- Olha a letra dessa música – censurou Snape.
- Ah, deixa elas por hoje – disse Dumbledore. – Os alunos merecem alguma descontração. Não podem fazer nada desde que Voldemort voltou...
Snape fez uma mesura ao ouvir o nome, mas nada disse.
A festa continuou. Lá pela meia-noite, Snape disse que ia sair da festa. Dumbledore teve que permitir, embora poucos alunos estivessem indo embora.
Pouco depois, Alexandra saiu da festa, sob a desculpa de estar cansada. Disse que ia dormir. Mas não foi. Dirigiu-se até as masmorras. Bateu à porta; sem resposta. Insistiu. Esperou. Ouviu passos lá dentro e a porta se abriu. Era o próprio Severo Snape que tinha vindo abri-la.
Ele olhou-a surpreso e perguntou com rispidez:
- O que está fazendo aqui, garota?
- Será que eu posso entrar? – perguntou ela. Parecia ter deixado de ser a maluca que estivera na festa havia pouco.
- Não. Vá embora.
Ele já ia fechar a porta, mas ela adiantou-se e entrou na sala. O professor a olhou.
- Pode fechar a porta agora, professor – disse ela.
- Saia já da minha sala – disse ele, parecendo muito irritado.
Ela sentou-se a uma bancada.
- Não. O senhor não vai fugir do assunto outra vez – disse ela muito decidida.
Snape suspirou. Fechou a porta e trancou-a.
- Não me responsabilizo pelos meus atos – disse ele sério.
Ele esperava assustá-la com isso, mas ela disse:
- Mas eu sim.
- Veio aqui me infernizar por que, garota? – perguntou ele com rispidez, parando em pé à frente dela.
- Nossa, não quero infernizar a sua vida. E só queria entender...
- Entender o que, criatura?
- Não sou linda. Tem mulheres melhores do que eu aqui. Por que comigo?
Alexandra era direta demais. Isso ajudava algumas vezes; outras, no entanto, atrapalhava.
- Não me enche, garota, saia daqui!
- Por que está falando assim comigo? – perguntou ela, mantendo a calma.
- Porque você não é bem vinda aqui, saia!
Ela levantou-se.
- Mas eu só fiz uma pergunta!
- Olha a pergunta que você faz!
- Eu só queria saber por que eu! Nada demais! Não deve ser tão difícil explicar. Eu não sou gostosa, não sou linda, não sou sedutora, não sou charmosa, nem nada disso!!!
Ele encostou-a na parede com alguma violência e encostou o corpo no dela, olhando-a fixamente nos olhos.
- Você me persegue nos meus sonhos, garota, será que poderia fazer a gentileza de parar de me perseguir ao menos na vida real?
Ela estava assustada com a atitude dele e deixou seu rosto mostrar isso. Ele afastou-se.
- É, eu sei. É o que a maior parte das pessoas sente quando me aproximo. Já pode ir agora. Suma daqui. Sabe que eu sou controlado, mas não continue me provocando com a sua presença.
- Mas por que eu? – ela não entendia.
- Mas que merda, garota, e eu é que vou saber? – esbravejou ele.
Alexandra olhou-o.
- Eu... eu não sabia – murmurou ela.
- Está bem, agora que você já sabe. SAIA!
- Mas por que quer que eu fique longe?
- Você não entende, não é? Eu não quero que você fique longe; isso me assusta! Você pode fazer o favor de sair? Pode esquecer que tivemos essa conversa? Você seria capaz de me fazer esse favor? Para que eu possa continuar a dar as minhas aulas calmamente... Em presença de outras pessoas eu me controlo melhor. Só que você não deve ter percebido que estamos sozinhos.
- Não acho que o senhor faria alguma coisa sem o meu consentimento.
- Ah, como você tem fé nas pessoas!
Alexandra ensaiou um sorriso e disse:
- Está bem... vou parar de persegui-lo... mas não prometo estar fora dos seus sonhos... eu nem sabia que estava neles...
Alexandra virou as costas para sair, mas ele segurou a mão dela e puxou-a para si com força, colando os lábios nos dela. Ela tentou evitar no começo, empurrou-o com as mãos um pouco abaixo dos ombros dele, mas ele pareceu ter perdido mesmo o controle; segurava-a pela cintura, unindo-a a ele, e não desistira daquele beijo. Ela parou de tentar empurrá-lo. Abriu a boca, aceitou o beijo e chegou a abraçá-lo. Suas mãos passaram pelas costas dele; as mãos dele passeavam pelas dela. Não desceram nada além da cintura, embora ele quisesse.
Até que ele afastou-se dela e deu-lhe as costas, apoiando as mãos em sua mesa, olhando para baixo.
- Me desculpe... não vai acontecer de novo – murmurou ele. Parecia abatido. – Amanhã mesmo vou explicar ao professor Dumbledore o que aconteceu aqui e ele me dará a punição que eu mereço... onde eu estava com a cabeça? Beijar uma aluna à força...
Sentiu uma mão em seu ombro. Ela parou ao lado dele.
- Beijo à força é quando uma das pessoas não consente – disse ela com um sorriso doce.
Snape olhou-a. Não acreditava no que estava ouvindo.
- Não quero que fale nada ao professor Dumbledore, professor. Fui eu que vim procurar o senhor. Depois do que aconteceu enquanto estávamos dançando, eu deveria esperar qualquer coisa. Não quero que o senhor seja punido por minha causa... e... não pretendo sair correndo feito uma criança idiota...
- Ah, não, você vai sair daqui sim, nem que eu tenha que pôr você para fora à força – disse Snape sério. – Você não sabe o que faz comigo garota, desde o primeiro dia de aula...
- Mas...
- Não quero que fique aqui por pena de mim. Ainda sou um sonserino. Não preciso da sua piedade. Vá embora.
- Não – disse ela, um sorriso ainda mais encantador, para ele. – Pára de fugir do assunto! Mas que saco!
- Você não percebe que não tem assunto? – perguntou ele irritado. – Sou um professor, bem mais velho que você, com idade para ser seu pai. Como se não bastasse, o professor mais cruel de Hogwarts, o mais detestado!
- E o que domina melhor a matéria, o mais corajoso, capaz de dar a sua vida pela confiança de Dumbledore no senhor – disse Alexandra.
- Você fala como se fosse muita coisa dar a minha vida por alguma coisa – disse ele num tom amargurado.
- Para mim é muita coisa...
- Já disse que não preciso de sua piedade.
- Eu também sou sonserina. Não sou de ter piedade – disse ela séria. E, abrindo um sorriso lindo, acrescentou: - E não acho que o senhor seja nada do que falou a respeito de si mesmo... Só acho que é uma pessoa que precisa e merece ser um pouco feliz...
Ao dizer isso, ela o beijou.
Ele abraçou-a pela cintura e correspondeu ao beijo numa espécie de necessidade. Era um beijo urgente, delicioso.
Alexandra tirou a capa dele. Sem soltá-la, ele afastou o rosto do dela para olhá-la. Estava linda.
- Você realmente quer isso? Não tem volta depois...
- A pergunta é: eu estaria aqui se não quisesse?
Snape não sabia o que dizer, por isso não disse nada. Apenas olhava-a.
- O que foi?
- Nos meus sonhos não consigo ver seu rosto direito... É difícil acreditar que você está aqui comigo... nos meus braços...
Alexandra abriu outro sorriso encantador.
- Bom, preciso me empenhar para fazê-lo acreditar, então... – disse ela.
Com seus dedos delicados, começou a desabotoar o sobretudo dele. Bem devagar, botão por botão.
- Está tentando me enlouquecer, garota? – perguntou ele.
- Estou vendo quanto tempo o senhor agüenta sendo todo controlado – disse ela com um sorriso divertido.
- Não muito, pode ter certeza... – e ao dizer isso, começou a beijar o pescoço dela, descendo um pouco mais, mas ela afastou-o de si.
- Calma, professor... – disse ela com o mesmo sorriso.
Ele fez uma mesura.
- Senhor? Professor? – questionou ele. – Por favor, quer fazer eu me sentir o pior monstro da Terra?
- Severo Snape – sussurrou ela no ouvido dele. – Meu professor...
E terminou de desabotoar o sobretudo dele. Snape livrou-se da peça com uma velocidade absurda, parecia ter usado mágica.
- Você era mais comportada nos meus sonhos – comentou ele, enquanto ela beijava seu pescoço.
- O senh... Você estava me idealizando... compreendo... – sussurrou ela.
- Pensei que você fosse virgem – disse ele, pondo-a de costas para ele, encostada em si, e beijando o pescoço dela.
- Eu sou – disse a jovem.
Ela parou e afastou-se dela.
- Mas qual é o problema? – perguntou ela virando-se para ele.
- Não posso fazer isso – disse ele.
- Então você não quer?
- Mas é claro que eu quero, garota, só não posso tirar isso de você porque de repente você decidiu que quer uma aventura com um professor misterioso.
Alexandra sorriu.
- Seu senso de ética é admirável, Severo Snape... mas eu quero que seja você a “tirar isso de mim”, como você disse.
- Por quê? – perguntou ele.
- Ah, é a minha vez de responder agora, né? Sempre me disseram que essas coisas tinham que ser com alguém que amamos... Bem, eu sei que o senhor não gosta de mim, que sou só um objetozinho para quebrar a abstinência, mas eu amo você, e pra mim, é o que importa. Se você não me quiser, vou entender e...
Mas ele a fez calar com outro beijo. Dessa vez o beijo parecia ainda mais profundo.
- Não sei o que é amor, minha aluna... Talvez você tenha lições para ensinar ao seu professor...
Ela pegou as mãos dele e as fez percorrer seu corpo. Ele soltou um gemido baixo. Ela beijou-o de novo, ela abraçou a cintura dela e começou a beijar-lhe o pescoço. Ia descendo, ouvindo os pequenos gemidos dela, mas alguém bateu à porta.
Os dois afastaram-se. Amaldiçoando quem quer que fosse, Snape foi até a porta e abriu-a. Era Harry Potter.
- O que é que você quer, Potter? – perguntou ele irritado.
- Desculpe, professor, mas eu vi que a Alex veio para cá... e... bom... tem um problema...
Harry achou muito estranho ver Snape sem seu sobretudo, mas nada disse. O professor abriu um pouco mais a porta, deixando Alexandra aparecer no campo de visão de Harry.
- O que foi? – perguntou a garota.
- Ahn... a Cleópatra era ofidioglota, né? – perguntou Harry, tentando ser engraçado, mas obviamente desesperado.
- Fala logo o que aconteceu – disse Alexandra, adiantando-se.
- Nunca vi tantas cobras juntas! – exclamou Harry. – Estão invadindo o castelo... Cercando o Malfoy... sei que ele é um imbecil, mas é que ele não merece morrer sufocado, por mais desgraçado que ele seja. Só que aquelas cobras simplesmente não me obedecem...
- Cobras? – perguntou Alexandra alarmada. – Quais? Sucuris?
- Eu é que sei? – perguntou Harry.
- Ah, esquece! – disse Alexandra.
E saiu em disparada pelos corredores, tendo Harry e Snape em seu encalço.
- Por que veio chamá-la, Potter? – perguntou Snape.
- Tenho certeza que ouvi as cobras falando o nome dela – disse Harry, sem entender.
- Onde está acontecendo? – perguntou Alexandra para Harry.
- Perto do salão principal – respondeu Harry ofegante. – Cara, como ela corre, que fôlego!
Snape não pôde conter um sorriso. Mas ocultou-o antes que algum dos dois o visse.
Chegaram lá. Muita gente estava em volta deles; Dumbledore tentava vários feitiços para espantar as cobras, mas elas estavam se enrolando em Malfoy, parecendo querer matá-lo sufocado.
Alexandra irrompeu pela porta, às pressas, falando uma língua que ninguém entendia, além de Harry. As cobras pararam o ataque e começaram a recuar. Avançaram para a garota, mas ela não recuou. Continuou falando entre silvos e sussurros.
As cobras rastejaram pelos pés dela, chegaram a subir em suas pernas e seus braços. Todos estavam espantados, assustados e mesmo desesperados, mas ela não recuou, não hesitou. Do mesmo jeito misterioso que vieram, foram embora.
Todos olhavam para a garota muito espantados.
- Como você conseguiu fazer isso? – perguntavam.
- Elas são minhas – disse Alexandra.
- Ah, você mandou suas cobras me atacarem? – perguntou Draco, muito irritado.
- Ah, eu bem que gostaria, Malfoy, mas não mandei não – disse Alexandra. – Acho que alguma coruja saiu fofocando a sua atitude de dois meses atrás. Meus bichinhos de estimação não gostaram. Só isso.
- Professor Dumbledore, não pode ter cobras na escola! – dramatizou Draco.
- Elas ficam na Floresta Proibida – retrucou Alexandra com desprezo. – E elas não gostam de sangues-ruins. Mas não estou falando dos nascidos trouxas. Estou me referindo aos sangues-puros que acham que são os melhores e podem fazer o que querem...bom, elas não gostariam de mim se não fossem minhas. Mas é melhor, aquela bailarina não ousa chegar perto de mim. Agora, com licença.
Ela deu as costas e saiu. Harry foi atrás dela.
- Nossa, Alex, não pensei que você...
- Ah, que eu tivesse um lado meio artes das trevas? É, eu tenho.
- Não estou condenando você. Só acho que você poderia fazer parte da Ordem – disse o garoto. – Vou falar com o professor Dumbledore e...
- Harry, eu já faço parte da Ordem da Fênix – disse Alexandra com um sorriso comedido.
- Já? – espantou-se Harry. – Mas o professor Dumbledore não disse...
- Ninguém sabe. Só o Dumbie – disse Alexandra. – E agora você. Mas não se ofenda. Tenho uns problemas; preciso ficar meio escondida.
- Ah... e, desculpe a intromissão, mas o que estava fazendo na sala do professor Snape?
- Ah, eu... eu tava pensando em contar pra ele que eu sou da Ordem, mas ele nem me deixa falar... – mentiu Alexandra de modo muito natural, aparentemente sem peso na consciência.
- Ah, então era isso que você ficou enrolando tanto para dizer? – perguntou Snape, aproximando-se. – Temos que conversar. Vá dormir, Potter.
Harry fez uma cara de desprezo, mas obedeceu, pois não queria perder pontos de sua casa. Alexandra seguiu com Snape pelos corredores até as masmorras. Lá chegando, ele trancou a porta e disse:
- Quando você ia me contar que faz parte da Ordem? – perguntou Snape sério.
Ela aproximou-se dele.
- Tem tantas coisas que eu preciso te contar... – murmurou ela. – Muitas coisas... mesmo. Mas não quero fazer isso agora. Nem hoje...
- Não estou exigindo que confie em mim – disse Snape sério.
- Onde estávamos?
- Agora não. Tenho que pensar...
- No que você viu? – perguntou Alexandra. – Eu tenho algumas sucuris de estimação. Elas não gostam de quem não gosta de mim. É assim, simples, só isso! Bom, estou cansada, vou pro meu quarto...
Ele adiantou-se e parou entre ela e a porta.
- Não venha me dizer que se cansa fácil depois que correu daqui até o salão principal em menos de quinze minutos e nem ficou ofegante.
Alexandra sorriu.
- Ah, você estava me dispensando...
- Até parece. Não sei quando teremos outra... oportunidade...
E tomou-a num beijo caloroso.
- Espero que nada nos interrompa dessa vez – disse ele.
E abriu o zíper do vestido dela, que estava bem às costas da garota e ia até a parte mais inferior do dorso. O vestido simplesmente foi ao chão. A calcinha e o soutien dela eram pretos. Ele deu uma secada descarada nela e olhou para os olhos dela novamente. Eles lhe sorriam.
- Ainda não acredita que eu esteja aqui, Severo? – perguntou ela num sussurro, no ouvido dele.
- Acho que estou começando a acreditar... – disse ele.
Alexandra desabotoou a camisa dele no mesmo processo lento que usara para desabotoar o sobretudo.
Ele tremia. Parecia estar se controlando o máximo possível para não agarrá-la bem ali. Não a deixou terminar a tarefa; sentou-a numa bancada e beijou-a, desceu para o pescoço, mas outra vez ela não o deixou chegar mais baixo; afastou-o.
- Ah, você vai me enlouquecer, menina – disse ele.
- Alex – sussurrou ela no ouvido dele. E deu beijos no pescoço dele, ainda desabotoando sua camisa.
Quando ele tirou a camisa, ela viu alguns músculos que não esperava ver nele. Sempre tão escondido por trás de tantas roupas... Ele passava as mãos pelas costas dela e chegou ao fecho do soutien. Pretendia abri-lo, mas ela não deixou. Levantou-se e afastou-se dele. Estava brincando.
- Se você não quer, tudo bem, vou entender, mas pare de brincar comigo – disse ele, um pouco aborrecido. – Já estou a tempo demais sem nenhum prazer, posso suportar mais.
Mas ele não parecia estar de acordo com o que dizia. Estava todo tremendo. Controlava-se ao máximo para não fazer nenhuma estupidez que a assustasse e a deixasse com raiva dele.
- Não sou digna de entrar no seu quarto? – perguntou ela, indo para as escadas escuras que ficavam no fundo da sala.
- Nem pensei nisso – disse ele.
- Ah, bom...
Ela vinha desfilando de lingerie e pegou as roupas do chão. Ele a observava sentindo as reações que aquela visão provocava em seu corpo.
- Não queremos que alguém consiga abrir a porta e veja isso aqui, né? – perguntou ela.
Passou bem perto dele; ele puxou-a pelo braço com força e deu-lhe outro beijo. Outro beijo urgente.
- Você não sabe em que está se envolvendo, Alex...
- Nem você – retrucou ela com um sorriso.
E subiu as escadas. Ele vinha logo atrás, e parou atrás dela, encostando-se bem atrás dela e abraçando-a na cintura. Abriu a porta com uma mão só e, deixando-a entrar primeiro, entrou e trancou a porta. Lançou nela um feitiço imperturbável e virou-se para Alexandra.
- Agora, você vai parar de brincar comigo – disse ele sério. Se ainda está aqui, é porque não tem intenção de desistir. Ou pelo menos, assim espero.
Ele adiantou-se para ela, como um tigre prestes a atacar a presa. E era o que ele era naquele momento. Alexandra sentiu um calafrio percorrer-lhe a espinha. Estava com um pouco de medo dele, a julgar pela intensidade de seus beijos, poderia imaginar como seria... Mas tentou não recuar muito.
Snape tomou-a nos braços e beijou-a com a mesma intensidade.
- Prometo que você não vai se arrepender – sussurrou ele no ouvido dela. - Não tenha medo.
Alexandra olhou-o.
- Não vou machucar você – garantiu ele.
E deu-lhe um beijo menos desesperado, mais suave, mais gentil.
Deitou-a na cama e deitou-se por cima dela.
- Agora, vou lhe ensinar umas lições extras... – disse ele. E beijou-a outra vez.
Aquela foi a melhor noite da vida dele. Da vida dela, sim, ela aprendeu coisas novas. Nunca imaginou como seria, nuca tinha sentido nada parecido.
Na manhã seguinte, quando acordou, ela não estava mais lá. Claro, ele tinha noção de que era dia de aula. Levantou-se. Viu que ainda eram seis e meia da manhã. Levantou-se para tomar banho e viu sangue em meio a seus lençóis brancos. Não pôde deixar de sorrir. Não fora um sonho. Satisfeito, foi para seu banheiro particular.
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