A Carta e uma Reconciliação
De manhã, Alexandra apareceu para tomar café da manhã, mas não se sentou à mesa da Sonserina. Foi para a mesa da Grifinória e sentou-se perto do trio. Aquilo chamou muita atenção, até porque era proibido.
- Devia ter escolhido Grifinória – debochou Draco.
Alexandra não respondeu. Era hora do correio e, como a maior parte dos alunos, também Alexandra recebeu correspondência. Tinha uma linda coruja negra, que deixou um rolo de pergaminho cair em suas mãos. Estava lacrado com um brasão que nenhum dos novos amigos tinha visto.
Ela fez uma mesura. Abriu o pergaminho e o leu, séria. Conforme lia cada linha, sua expressão mudava: parecia estar ficando mais triste. No fim, estava chorando.
- O que foi? – perguntou Harry.
- Nada demais – disse ela, enxugando suas lágrimas.
Levantou-se da mesa e foi até a mesa dos professores. Os ocupantes da mesa até onde ela se dirigia olharam-na curiosos. Ela entregou o pergaminho ao professor Dumbledore, que o leu com sua habitual tranqüilidade. Quando terminou de ler, entregou-o à garota e disse:
- Eu entendo. Posso pedir ao professor Snape autorizar sua dispensa das primeiras aulas de hoje.
Snape se sentava bem ao lado do diretor. Ele não havia lido o pergaminho, apenas esperou que Dumbledore lhe falasse. Mas Alexandra disse muito séria:
- Não quero dispensa. Ele só vai autorizar se souber por quê. Não quero que ele saiba.
Dumbledore olhou de Snape para Alexandra e, um pouco curioso, perguntou:
- Mas por quê? Qual é o problema?
- Nenhum – respondeu ela, muito séria. Os olhos já não estavam mais marejados. – Só não quero ser digna de pena; com licença.
Ao dizer isso, ela afastou-se da mesa e saiu a passos largos do salão principal. Snape perguntou ao diretor:
- É algo que eu devesse saber?
- Talvez – murmurou o diretor com um olhar enigmático.
O dia correu bem. Para Alexandra, entretanto, não foi o melhor dia. Estava distraída nas aulas e alguns professores reclamaram que uma aluna nova pudesse estar tão aérea em suas primeiras aulas.
A garota não apareceu para jantar.
- O que será que aconteceu? – perguntou Rony, curioso, aos amigos.
- Nem imagino, mas tem a ver com aquela carta – disse Hermione com aquele ar intelectual bem próprio dela. – E o professor Dumbledore nem falou nada, leu a tal da carta e nada... Mas o que pode ser? Será que ela está no salão comunal da Sonserina?
- Acho difícil, levando-se em conta que ela é a única pessoa com cérebro de lá, e por isso é odiada pelos colegas de casa – disse Harry. – A gente pode ir procurar ela depois do jantar...
- Ah, ela tem detenção com o professor Snape hoje depois do jantar! – lembrou Hermione. – E se a gente fosse até as masmorras pra ver como ela está?
- Ih, que doida! – exclamou Rony, pilheriando. – Até parece! Tudo o que eu queria na vida era ver o Snape na minha frente!
- É por uma boa causa... – sussurrou Hermione.
- E se a gente fosse até lá e esperasse ela num dos corredores? – sugeriu Harry. – Não teríamos que ver a cara do Snape e poderíamos falar com a Bellefort...
- Boa, Harry – disse Rony.
Levantaram-se e tomaram o caminho das masmorras. Encontraram Alexandra no corredor, com os olhos muito vermelhos e inchados, por causa de muito choro, com certeza.
- O que aconteceu, Bellefort? – perguntou Hermione preocupada.
A sonserina parou e olhou-os.
- Mas o que estão fazendo aqui? – perguntou ela.
- Ficamos preocupados; você nem apareceu para jantar! – exclamou Rony. – Aliás, o jantar tava ótimo...
- Ah, cala a boca, Ronald – disse Hermione. – O que que aconteceu, Bellefort?
- Nada... nada... nada com que vocês devam se preocupar – disse Alexandra, forçando um sorriso.
- Tem certeza? – perguntou Harry.
- Claro – respondeu Alexandra prontamente.
- Só pare de chorar – aconselhou Rony. – Se não você vai ficar feia com esses olhos inchados.
Alexandra riu.
- Está bem; vou parar de chorar – disse ela com um sorriso encantador.
- Conferência nos corredores? – uma voz desdenhosa vinha de trás deles. – Querem se unir à srta. Bellefort na detenção hoje à noite?
Eles olharam para lá. Snape.
- N-não, professor... – gaguejou Hermione. – É que...
- Eles vieram falar comigo, porque eu não fui jantar – disse Alexandra em tom respeitoso.
- Que admirável – comentou Snape em tom de deboche. – Agora, já podem ir; a srta. Bellefort tem uma detenção a cumprir.
Os três grifinórios ficaram meio apreensivos em deixar Alexandra sozinha com aquele professor cruel, mas tiveram que ir.
Snape começou a caminhar pelos corredores até sua sala logo que viu a aluna adiantando-se naquela direção a passos largos.
- Está com pressa, srta. Bellefort? – perguntou ele, naquele tom desdenhoso.
- Sim, senhor, quanto antes eu acabar a tarefa que o senhor vai me dar, mais cedo eu saio daqui – respondeu ela com um tom tranqüilo.
Snape olhou-a. Não podia prever que ela conseguiria manter o respeito por ele estando tão nervosa e ele sendo tão desdenhoso e irritante. Talvez ele realmente a intimidasse.
Foram em silêncio até a sala de Poções. Snape abriu a porta e mandou a aluna entrar primeiro e entrou logo em seguida, trancando a porta.
- Não vou sair correndo, professor – murmurou Alexandra, mas não parecia estar sendo engraçada; parecia estar falando sério.
- É só para garantir que não tenha espectadores. Aqueles grifinórios podem achar que vou torturar você.
- Pensei que já fosse tortura suficiente suportar suas ironias, professor – murmurou Alexandra sem alterar o tom.
Severo Snape olhou-a. Não imaginou que ela seria capaz de ser tão direta, ainda mais falando para ele, sem xingá-lo pelas costas. Isso era uma experiência nova para ele. Decidiu manter sua máscara:
- Há torturas piores que as minhas ironias.
- Não há não – retrucou Alexandra, muito segura do que dizia. – Tortura para mim e para o senhor, que está conseguindo perder a simpatia da sua nova aluna no segundo dia de aula. Na verdade, desde ontem.
- Você tira a camisa na minha sala e quer que eu faça o que? – perguntou Snape, perdendo a paciência.
- Podia começar não olhando para mim – disse Alexandra, tentando manter o tom.
Snape meio que engasgou. Ela percebera seu olhar. Ora, mas é claro que ela percebera; ela olhara para ele com aquele berro que ele dera.
- Vamos à sua detenção...
- Isso, fuja do assunto mesmo – disse Alexandra, indo sentar-se à sua bancada, que tinha tudo pronto para ela, como no dia anterior.
A poção daquela noite não era a Felix felicis, era uma ainda mais complicada e demorada. As instruções estavam num papel ao lado do caldeirão que ela usaria para fazer a poção.
Ela leu as instruções algumas vezes naquele papel, antes de começar a fazer o que devia.
- Pra que essa poção, professor? – perguntou Alexandra curiosa.
- Não é da sua conta; faça – disse ele com rispidez.
Alexandra olhou-o, um pouco espantada, e começou a fazer. Consultava as instruções uma vez ou outra.
Antes de acender o fogo sob o caldeirão, tirou o casaco e pôs uma espécie de avental impermeável.
- Bastante sagaz – comentou Snape com desdém.
- Eu tinha que ter alguma característica da Sonserina – murmurou Alexandra, sem sequer olhar para ele. Estava atingindo um nível de concentração tal que não via nem ouvia nada.
Snape a observava, em silêncio. Reparou que ela havia chorado, claro, era impossível não reparar. Ficou se perguntando o que poderia haver de tão grave naquela carta que ela recebera pela manhã. Até Dumbledore a autorizaria a faltar às aulas daquele dia. O assunto parecia grave.
Estava indeciso entre perguntar ou não o que havia acontecido, mas decidiu-se pelo “não”. Observava aquela sua nova e ousada aluna. Era bonita de rosto. Linda, sem dúvida nenhuma, mesmo depois de ter passado algumas horas chorando. Não tinha o corpo mais perfeito da Terra, mas era algo que a idade ainda não lhe permitia.
Ele teve nojo de si mesmo por fantasiar a respeito de uma aluna. Por pensar nela de modo diferente do modo de um professor pensar.
Uma fumaça roxa começou a sair do caldeirão. A garota espantou-se. Era claro que ela não esperava por aquilo. Nem ele.
- Mas o que foi que você fez? – perguntou ele com rispidez, dirigindo-se à bancada.
- Eu... eu não sei... acho que...
Ela baixou o rosto.
- O que foi que você jogou aqui que não devia? – perguntou ele irritado. Como ela olhasse para o chão e não respondesse, ele disse: - Olhe para mim quando eu estiver falando com você!
Ele a viu levar a manga da camisa aos olhos e olhá-lo em seguida. Ela estivera chorando. Ele nem reparara, claro, seus pensamentos tinham um rumo bem diferente antes daquela fumaça roxa desaparecer.
- Ah, você deixa esse seu choro idiota atrapalhar sua poção? – perguntou ele num tom zombeteiro, maldizendo a si mesmo por fazer aquilo com ela. Mas era preciso. Ele tinha que manter a máscara. – Limpe o caldeirão e comece de novo.
As lágrimas começaram a encharcar o rosto dela com mais insistência, enquanto ela obedecia ao mestre das Poções.
Ele voltou a sua mesa.
- Pare de choramingar, garota, faça logo o que tem que fazer e poupe o meu e o seu tempo – disse ele com rispidez.
Alexandra enxugou as lágrimas que não cessavam de jeito nenhum. Parou de fazer o que estava fazendo.
- P-professor... – murmurou ela. – Eu... eu posso ir lavar o rosto?
- Só tem um banheiro dois andares acima. Não.
Ela não retrucou, mas disse, entre soluços:
- Uau, parece que me enganei. O senhor não odeia só qualquer um que não seja da Sonserina, o senhor odeia qualquer um que não tenha a crueldade do seu antigo mestre...
- Você está passando dos limites, mocinha! Faça logo a sua poção para você poder sumir da minha vista.
Mas as lágrimas não paravam. Snape suspirou e levantou-se.
- Venha aqui.
Ele dirigiu-se a umas escadas no fundo da sala, escondidas nas sombras. Alexandra seguiu-o.
- Aonde está me levando, professor?
- O banheiro mais próximo daqui é o dos meus aposentos particulares. Se você não fosse da minha casa ia morrer desidratada com esse choro imbecil, mas como você é uma aluna da Sonserina...
Ele subiu na frente; abriu a porta e mandou-a entrar.
- É aquela porta ali – indicou ele.
Ela não olhou em volta. Foi direto para a porta indicada. Não parecia muito interessada no quarto do professor. Ele ficou esperando-a do lado de fora, com sua expressão mal humorada de sempre. Ouviu a voz suave dela recitar algum feitiço. Até que ela apareceu. Não tinha mais olheiras, nem lágrimas, nem olhos vermelhos. Parecia estar muito bem.
- Ah, sim, agora você vai me poupar dos seus sentimentalismos, não é?
- Sim, senhor – disse ela educadamente.
- Ótimo. Volte à sua tarefa.
Ela desceu os degraus muito rápido e voltou à bancada. Refez o processo da poção inteiro. Mas desta vez fez tudo certo.
- Essa poção é muito complicada, professor – comentou ela.
- Eu sei – disse ele, sério. – Mas garanto que fazê-la não dá mais trabalho do que inventá-la.
- Foi o senhor que a inventou? – perguntou ela surpresa.
Ele assentiu.
- Ah, por isso eu nunca a tinha visto num livro de poções... O senhor poderia escrever um livro, sabia?
- Sim, eu sei. Estou preparando um.
- Mesmo? – perguntou ela. De repente aquela tristeza toda sumiu da face dela. – Que legal! Eu vou comprar... e depois dizer pra todo mundo que o senhor é meu professor!!!
Snape espantou-se um pouco com a reação dela, mas não demonstrou. Tinha certeza que havia sido tão detestável quanto alguém poderia ser, mas ela ainda assim não tinha ódio dele.
- Ah, está bem, você me venceu, garota! Me desculpe – as duas últimas palavras ele diminuiu muito a voz para dizer, mas ela ouviu.
Alexandra sorriu, um sorriso doce, puro, encantador.
- Por qual das grosserias que me fez hoje? Ou será que é pelas grosserias de ontem? – perguntou ela docemente.
- Ah, por tudo – disse ele, fechando a cara. – Você me irrita. Como consegue ser tão... tão... tão assim depois de tudo que eu lhe disse? Estou mesmo muito curioso!
Alexandra riu, uma risada que era música aos ouvidos dele.
- Ah, professor, se o senhor soubesse o que eu tenho que suportar nessa minha vidinha de merda, entenderia porque eu consigo perdoar todo o seu mau humor...
Snape olhou-a.
- “Vidinha de merda”? Não imaginei que você não gostasse da sua vida...
- O senhor gostaria da sua, se tivesse visto a sua mãe morrer quando tinha sete anos de idade e tivesse recebido uma carta noticiando a morte do seu pai logo no segundo dia de aula?
Snape não soube o que dizer. Ficou desconcertado com aquilo. É claro que ela havia chorado o dia inteiro. É claro que chorava à toa. Snape sentiu-se mais cruel do que costumava ser, mas ela não parecia estar com raiva dele.
- Então era isso que você não queria que eu soubesse? – perguntou ele em fim.
- É – disse ela simplesmente. – Depois de ontem à noite, achei que nada de ruim poderia me acontecer tão cedo, mas parece que a bailarina está determinada. Foi ele que matou meu pai...
- Você sabe por que a perseguição do Lorde das Trevas à sua família? – perguntou ele.
Alexandra desviou o olhar. Ela sabia. Sues olhos diziam claramente que ela sabia.
- Não – sussurrou ela com a voz quase sumindo.
- Está bem, você não vai me contar – disse ele. – Entendo.
- Obrigada – sussurrou ela. E voltou a fazer a poção.
Snape sentiu uma vontade de protegê-la, de cuidar dela. Nunca havia sentido isso antes. Ele tinha que fazer alguma coisa. Descobriria o que ela não queria contar. Dumbledore certamente sabia. Iria procurar o diretor assim que ele voltasse a Hogwarts, pois ele havia saído misteriosamente logo depois do fim do café da manhã.
- Bellefort, como está se saindo sem as lágrimas para estragar o seu trabalho?
Alexandra, sem tirar os olhos do caldeirão, disse:
- Talvez o senhor queira ver com seus próprios olhos. Eu não sei me avaliar, pelo menos, não numa poção que eu nunca tinha visto. Para que esta serve?
- É uma poção que protege do ataque de bicho-papões. É o que chamo de “antialucinações”. Poderíamos ver como essa criatura patética realmente é. Foi o professor Dumbledore que me mandou procurar uma solução para os ataques dessas criaturas. O Lorde das Trevas pretende usá-los para provocar pânico entre os alunos de Hogwarts para chegar ao Potter. Um plano imbecil, deve ter sido idéia do Lúcio.
- Duvido – disse Alexandra, fazendo Snape ignorar a poção e olhar para ela. – Malfoy não teria competência para isso. Essas sutilezas são idéia de mulher. Deve ser coisa da Narcisa... A Bellatriz é estranha; ia querer ver sangue, a lunática...
Snape observou-a pensativo.
- O que foi? – perguntou a aluna.
- Eu apenas estava me perguntando como você conhece essas duas – disse ele sério.
- Ah, isso... – disse ela. – Eu as conheço muito bem... estudei cada uma delas.
- Se você não fosse uma criança, talvez fosse uma adversária perigosa.
Alexandra deu um sorriso enigmático e voltou a olhar a poção.
- E então, como está isso? – perguntou ela.
- Parece certo – comentou ele. – Mas ainda não testei a poção. Vou comparar a sua à minha. Se estiver igual, é porque a fórmula é estável. Só então poderei testar.
Alexandra ficou um pouco surpresa. Ele a usaria para ver se a poção dele estava certa. A aluna pensou que ele devia confiar bastante na competência dela para fazer poções.
- E como pretende testar? – perguntou Alexandra distraída.
- Experimentando, claro – disse ele, como se fosse óbvio.
A aluna olhou-o, admirada.
- E se não der certo? – perguntou ela.
- Alguma coisa vai acontecer – considerou ele. – Posso passar mal ou morrer.
- E o senhor diz isso com essa simplicidade?
- Por quê? – questionou ele, indiferente. – Isso não tem importância, tem?
- “Isso” o que? – perguntou ela. – A sua vida? Mas é claro que tem importância! O senhor... é um dos membros mais importantes da Ordem!
- Bem, então espero que esteja certo, não? – perguntou ele, ainda indiferente.
Alexandra ia discutir, mas ele pegou uma amostra do caldeirão dela e guardou-a.
- Isso deve bastar. Já pode ir agora.
- Mas...
- Vá logo – disse ele com rispidez.
Analisando o frasco com atenção, fez um movimento displicente com a mão direita e a porta destrancou-se.
- Está demorando demais a sair daqui. A sua detenção já acabou.
Alexandra saiu. Estava um tanto impressionada com a coragem do professor. Perguntou-se se não seria melhor explicar tudo a ele de uma vez só, mas decidiu que não confiava nele tanto quanto Dumbledore confiava.
Foi andando calmamente para o salão comunal da Sonserina, quando ouviu uma voz arrastada atrás de si. Draco Malfoy. E ele vinha junto a dois garotos muito altos da mesma casa.
- Olá, sua sangue-ruim de quinta categoria! – disse ele.
Ela parou e olhou-o, séria.
- O que você quer?
- Apenas mudar as coisas por aqui – disse ele. – Ontem você me humilhou na frente de um monte de gente no salão principal. Acho que agora mereço uns beijinhos de reconciliação.
Ela puxou a varinha e apontou para ele.
- Atreva-se! – disse ela ameaçadoramente.
Os outros dois, que pareciam guardas-costas de Malfoy, já tinham as varinhas em punho e desarmaram a garota.
- O que você vai fazer agora? – perguntou Draco. – Vai gritar? Quem será que vai ouvir você agora?
- O... o professor Snape... está acordado...
- Não vai ouvir nada daquela sala dele. E ele também não gosta de sangues-ruins. Ele é um comensal, sabia disso, sua nojentinha? Faz as mesmas coisas que todos nós!
- Não tenho medo de você – disse ela com desprezo. – Não tenho medo do seu mestre. E nem dessas duas mulas que estão com você e se acham o máximo por que sabem fazer um Expelliamus!
- Mostrem a ela o que acontece com quem grita com Draco Malfoy, rapazes – disse Draco com sua voz arrastada.
Um deles adiantou-se para ela e virou-lhe um tapa no rosto, daqueles com as costas da mão. Ela caiu no chão. Procurou sua varinha com os olhos e Malfoy, aproximando-se, mostrou a ela o que ela procurava.
- Está procurando isso? Não vai precisar dela agora, sua sangue-ruim...- e disse: - Accio camisa!
A camisa dela foi rasgada e voou para as mãos de Draco. Os outros dois riram escandalosamente. Ela se cobriu com as mãos. Começava a chorar baixinho.
- Onde está toda a sua coragem agora? Será que desapareceu? – perguntou Draco com uma risada afastada.
Alexandra não respondeu. Sabia que as masmorras estavam a dois corredores de distância, mas não podia contar com a sorte de Snape querer sair de sua sala. Ela não tinha sorte.
- Agora, vamos fazer uma brincadeira – disse Draco aos outros dois. – Vocês duelam e, quem ganhar, leva a nojentinha.
- PÁRA! SEU NOJENTO!
- Mas é claro que vocês têm que saber pelo que estão brigando – começou Draco, aparentemente se divertindo.
Os três aproximavam-se dela, quando ouviram uma voz pouco mais alta que um sussurro atrás deles:
- Mas o que é que está acontecendo aqui?
Eles viraram-se, mas ainda bloqueando a visão daquela que estava atrás deles.
- Ah, nada, professor – disse Draco. Ele havia lançado um feitiço para silenciar Alexandra. – Estávamos apenas conversando...
- Aqui, a essa hora? – perguntou ele. Ele sabia exatamente o que estava acontecendo ali. – Bom, já podem ir.
- Ah, não... – disse Draco. – É que... a gente tem que...
- Têm que agarrar sua colega à força? – perguntou Snape parecendo furioso. – Saiam já da minha frente, e podem ter certeza de que o professor Dumbledore saberá o que fazer com vocês. SUMAM DAQUI!
Eles correram para longe. Sabiam que ver Snape furioso não era nada bom. Alexandra estava encostada à parede, cobrindo-se com os braços, toda encolhida, chorando baixinho. Não ousou olhar para o professor. Estava envergonhada. Ouviu os passos dele se aproximando. Sentiu uma capa cobrir-lhe o que tentava esconder. Estava de soutien, claro, mas ainda assim, estava exposta.
- Levante-se – disse aquela voz com rispidez.
Alexandra obedeceu, mas ainda olhava para baixo.
- Venha comigo – disse ele, envolvendo-a melhor em sua capa.
E seguiu pelos corredores até sua sala, tendo a aluna nos calcanhares. Chegaram à sala dele; ele mandou-a sentar-se; ela obedeceu. Ainda não o encarava.
- Beba isto – disse ele com rispidez, entregando-lhe um copo.
Ela nem perguntou o que era; bebeu logo. Sentiu-se mais calma e mais leve.
- O que aconteceu exatamente?
- Ah, não consigo falar sobre isso – murmurou ela. – Malfoy acha que sou nascida trouxa... ele... ele...
Ela enxugou os olhos, prometendo a si mesma que não ia começar a chorar na frente dele outra vez.
- Ah, o senhor sabe o que aconteceu – disse ela séria. – Malfoy fez questão de lembrar que o senhor é um comensal e que sabe exatamente o que comensais fazem com sangues-ruins...
Snape permaneceu impassível. Ele sabia.
- E... e Malfoy ainda disse que o senhor faz tudo o que eles fazem... – acrescentou ela, desviando o olhar.
Snape não disse nada; Alexandra olhou-o e perguntou:
- É verdade?
- Isso não tem importância – disse ele com frieza.
- Pra mim tem – retrucou ela.
- Você já está bem, não está? Já pode voltar para o salão comunal?
Ele tirou o copo das mãos dela e disse:
- Pode ficar com a capa, mas me devolva amanhã. Agora vá logo.
- Vai fugir do assunto outra vez?
- Existem certos erros difíceis de me recordar sem ter nojo de mim mesmo, Bellefort.
- Ah... – murmurou ela. Parecia desapontada.
Alexandra levantou-se.
- Obrigada, professor.
- Era a minha obrigação; não me agradeça.
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