Primeira Detenção
Na hora do almoço, Alexandra foi para sua mesa, onde os colegas não a deixavam em paz. Não paravam de fazer chacotas e dizer coisas feias, mas ela permanecia calma.
- Vou azarar essa ninguém – disse Draco irritado.
- Na frente do Dumbledore, Draco, você é louco? – perguntou Pansy Parkinson aflita.
- Você vai ter que ser muito homem pra me azarar, seu mané – disse Alexandra calmamente.
Draco puxou a varinha, mas Alexandra já a tinha em punhos e pensou: “levicorpus”. O garoto foi pendurado no ar de cabeça para baixo. Então Alexandra guardou sua varinha e voltou a comer.
Draco ficou choramingando e chamou muita atenção; Snape aproximou-se e fez o garoto voltar ao chão.
- Quem fez isso? – perguntou o professor, mas ele tinha uma boa idéia da resposta.
Draco apontou para Alexandra, que se limitou a dizer:
- Prova.
- Muita gente viu! – exclamou Draco.
- Ah, é? – perguntou Alexandra olhando em volta, para cada um de seus colegas. – Alguém me viu azarando o Malfoy?
Mas ninguém disse nada. Nem Crabble, nem Goyle, nem Pansy, ninguém.
- Não se esqueça de sua detenção depois do jantar, srta. Bellefort – disse Snape, e afastou-se.
Alexandra disse que não esqueceria e levantou-se em seguida.
Harry, Rony e Hermione foram ao encontro dela.
- Nossa, nunca imaginei que alguém poderia fazer aquilo com o Draco no meio do salão principal cheio de gente! – exclamou Rony feliz.
- Ele ameaçou me azarar. Eu só reagi antes.
O dia inteiro se passou, e o mais estranho é que Alexandra parecia cada vez mais enturmada com os três grifinórios. Sempre que suas casas tinham aulas juntas, eles se sentavam juntos. Foi estranho para todos os professores, sobretudo Minerva McGonagall, que não podia acreditar que havia alguém da casa de Snape conversando com alunos de sua casa, e, o mais estranho ainda, conversando amigavelmente.
Depois do jantar, o trio inseparável chamou Alexandra para ir mexer na seção reservada da biblioteca, mas ela lembrou-os de que tinha uma detenção a cumprir e apressou-se em ir para as masmorras.
Sem hesitar nem um pouco, bateu à porta da sala. Ouviu passos lá dentro e viu que Snape viera abrir a porta pessoalmente.
- Ah, você é bem pontual – comentou ele sério.
- Boa noite para o senhor também, professor – disse Alexandra calmamente. E adentrou a sala. – Então? O que é que eu tenho que fazer?
- Vai fazer a Felix felicis aqui, agora, em silêncio, para você aprender a se comportar em uma sala de aula.
Alexandra sentou-se à bancada, onde os ingredientes e o caldeirão estavam à sua espera e, olhando para o professor – que se sentara à mesa dele – perguntou:
- Professor, se eu fosse da Grifinória seria essa a minha detenção mesmo?
Snape olhou-a sério.
- Você é bem atrevida, garota.
- Sim, mas eu perguntei outra coisa.
- Talvez a senhorita queria outra tarefa, para aprender a me respeitar.
- Não, professor, não é isso.
Alexandra decidiu que era melhor não discutir e começou a fazer sua poção. Sentia o olhar do professor cravado em si, mas continuou sua tarefa. Sabia que aquilo demoraria umas três horas, pelo menos.
- Por que quis ser da Sonserina? – perguntou a voz sussurrada de Snape, que tinha aquele tom letal e assustador.
Alexandra olhou-o.
- Se eu responder, o senhor vai brigar comigo.
- Engraçado, tive a impressão de que você não se importava com isso.
- Sabe o que é? – suspirou Alexandra. – Estudei bastante a escola antes de ser transferida para cá. Eu sabia dos esquemas de casas, pontos, detenções, provas, tudo. E sabia exatamente tudo o que um aluno sabe sobre os diretores das casas. O senhor poderia ser o melhor professor, como há muito ouço dizer, mas é injusto. Protege e prefere a Sonserina. Então pensei: para ter paz para estudar naquela escola, tenho que ser da Sonserina. É isso.
Snape olhava-a sem saber o que dizer. Não sabia se estava mais espantado com o que ela dissera ou com a cara-de-pau que ela tivera para falar aquilo.
- É, achei que você tinha um jeito bem Grifinória, mas a sua esperteza mostra que pode muito bem ser Sonserina – comentou ele com desdém.
- Sim, o chapéu não sabia aonde ia me colocar. Aí eu pedi pra ele pra vir pra cá. Simples assim – disse a aluna, e acendeu o fogo sob o caldeirão.
- Então... sou um professor injusto e cruel, que protege só a sua própria casa?
Alexandra olhou-o com um sorriso que ele achou encantador.
- Bom, se o senhor prefere usar essa palavras... mas não foi isso que eu disse. A Sonserina tem um perfil meio delinqüente, todos acham que só pessoas más vão para a Sonserina. Patético. Achei que estava na hora de mudar essa impressão.
- Deixar a Granger responder é uma atitude muito bondosa da sua parte – comentou Snape, ainda desdenhosamente.
- Ah, sei lá, se ela gosta de mostrar pra todo mundo que sabe a resposta, deixa ela.
- Você era mesmo a primeira aluna em Poções?
- Em Poções, DCAT e Feitiços – esclareceu Alexandra. – Nada demais, eram as minhas matérias preferidas. Nada mais natural do que eu me sair bem nelas, não acha, professor?
Ele não respondeu. Estava descobrindo como ficar fascinado por alguém. Como ela podia manter o tom respeitoso mesmo na hora de ser grossa? Como conseguia transpor as barreiras do preconceito entre as casas? Uma pergunta surgiu em sua cabeça, mas não sabia se era certo fazê-la. Mas perguntou mesmo assim:
- Que tipo de família é a sua?
Alexandra olhou-o séria.
- Isso realmente tem importância, professor?
- Não, mas eu perguntei e quero uma resposta.
- Está bem; família bruxa dos dois lados. Tanto por parte de pai quanto por parte de mãe. É o que aquele pateta do Malfoy sai arrotando por aí: sangue-puro. Mas isso é uma bobagem na minha opinião. O pai dele segue um mestiço nojento. A Granger é trouxa e já ouvi dizer que é a melhor aluna de todo o sétimo ano.
Snape não retrucou de imediato; era uma experiência nova ouvir alguém chamar Voldemort de “mestiço nojento”.
- Não devia deixar Draco ouvir você falando assim do Lorde das Trevas.
- Por quê? – perguntou ela, de forma displicentemente encantadora. – Eu já disse isso para o próprio. Aquela bailarina de uma figa. Matou a minha mãe.
- Malfoy? – perguntou Snape, não muito certo de ter ouvido o que a menina lhe dizia.
- Não. Voldemort, aquela bailarina – esclareceu Alexandra, um pouco irritada com o assunto.
Snape não sabia o que dizer. Alexandra falara o nome do Lorde das Trevas e se referira a ele como “bailarina”. Isso chegava a ser cômico. Então percebeu que uma simples aluna o estava impressionando demais. Embora ele percebesse que ela era mais que uma simples aluna.
- Ah, me desculpe – disse ela de repente, fazendo-o acordar de seus pensamentos.
- Pelo que, garota? – perguntou ele, recobrando o seu tom ríspido.
- O senhor foi Comensal, né? Estou sendo indelicada em falar o nome dele. A partir de agora só vou chamá-lo só de bailarina na sua frente, prometo.
- Mas por que “bailarina”?
- Ah, o senhor já o viu duelando, né? Ele parece uma bailarina, deslizando suavemente de um lado para o outro... – ao dizer isso, ela riu. Uma risada que Snape achou deliciosa.
Mas ele tinha que manter o ar durão.
- Eu já o vi duelando, claro, mas e você? Já viu?
- Eu já disse que ele matou a minha mãe – disse Alexandra aborrecida. – Na minha frente. E me deixou viver só para eu contar para todos o que eu o tinha visto fazer.
Snape percebeu que ela queria mudar de assunto e decidiu que não era nada bom fazer sua aluna recordar lembranças ruins. Levantou-se e, parando muito perto ela, olhou em que pé estava a poção.
- Está bem feita. Daqui a pouco ficará pronta.
- A sua noção de “pouco” é engraçada, professor – comentou Alexandra com um sorriso divertido. – Pensei que a poção ficaria pronta daqui a duas horas.
Snape olho-a sério. A espontaneidade com que ela sorria o impressionava e encantava. Mas ele tinha que manter a máscara de cruel professor.
- De fato. Continue a trabalhar.
Ele voltou à sua mesa; ela tirou o casaco. A proximidade com o caldeirão fervendo estava fazendo-a suar. Ela prendeu os cabelos, deixando umas mechas displicentes soltas. A camisa estava com os dois botões de cima abertos.
Snape lutava para não prestar atenção nisso; desviou o olhar para uma estante cheia de livros. Alexandra parecia não notar que o professor também estava ficando com calor, mas por outro motivo.
Ele levantou-se e foi para perto da janela tomar um ar fresco. Estava frio. Alexandra acrescentou mais um ingrediente e a poção começou a borbulhar muito.
- Ai, merda! – exclamou ela.
- O que foi? – perguntou o professor, aproximando-se.
- Nada, nada – resmungou ela irritada consigo mesma, e acrescentou outro ingrediente: imediatamente a poção voltou ao seu curso normal.
- Só uma bobagem que eu fiz, professor - explicou ela. – Mas não era nada que eu não pudesse consertar.
- Você tem sempre esse jeito auto-suficiente? – perguntou Snape. Ele não queria dizer aquilo, mas sentir-se fraquejar por uma simples aluna nova logo no mesmo dia que a conhecera o fazia sentir-se ridículo.
- Não, professor. Só quando eu sei do que se trata – respondeu ela, sem se ofender.
Snape não entendia como poderia existir alguém daquele jeito, alguém que conseguia suportar seu jeito sarcástico e até cruel de ser.
- Então você deveria ser auto-suficiente menos vezes – declarou ele, desejando que ela se sentisse mal, como todos os alunos se sentiam em sua presença.
- É, eu devia – disse Alexandra com um sorriso doce.
Snape não acreditava no que ele ouvia. Estava sentindo seu coração acelerar por uma aluninha nova, de quinta, que viera de longe e preenchera o vazio daquela escola com sua simples presença.
- SAIA JÁ DAQUI!!! – esbravejou ele irritado, não com ela, mas com ele mesmo.
Alexandra assustou-se tanto que derrubou o caldeirão. A poção se espalhou pela bancada e um pouco de seu conteúdo chegou às roupas da aluna que, na pressa de não ser atingida por aquela poção fervente, se apressou em se livrar de sua camisa.
- Mas o que pensa que está fazendo? – esbravejou Snape, sem conter uma boa olhada no soutien da menina.
Ela se apressou em pôr o casaco e, muito vermelha de vergonha, disse:
- Ah, me desculpe... É que essa poção estava tão quente que nem pensei, só não queria que desse tempo de atravessar o tecido e encostar em mim. Eu não queria uma queimadura...
Ela fechou o casaco tão rápido que até parecia estar usando magia; Snape olhava-a com uma expressão carrancuda, bem diferente do que sentia por dentro.
- Sua indecente! Despindo-se na frente de um professor! – esbravejou ele.
- Me desculpe – ela parecia envergonhada e humilhada. – É que o senhor me assustou! Eu sou uma desastrada, derrubei o caldeirão e a poção veio pra cima de mim e...
- EU VI O QUE ACONTECEU!
- Então, eu só queria evitar me queimar, me desculpe! – ela parecia atordoada, mas não brava com as acusações injustas que lhe eram feitas.
- SAIA JÁ DA MINHA SALA!!! – esbravejou ele, que precisava afastá-la dali antes de perder o pouco controle que lhe restava. – Não preciso que algum professor entre em minha sala e pense que estou assediando uma aluna!
Alexandra não conteve as lágrimas, que lhe escorriam pela face, mesmo que ela tentasse pará-las. Enxugou o rosto com a manga do casaco. Snape desejou poder consolá-la, mas nada disse. Permaneceu impassível. Cruel. Seco.
- Vai demorar muito a sair da minha sala ou terei que te mostrar o caminho para fora daqui? – perguntou o professor secamente.
Ainda chorando, ela pegou a camisa e saiu da sala. Estava à porta quando Snape lhe disse:
- E não se esqueça de sua detenção amanhã; não está dispensada, srta. Bellefort.
- Sim, senhor – soluçou ela sem virar-se para ele. E saiu da sala.
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