Conversas com o Quadro
Capitulo 7
Conversas com o Quadro.
- “E onde ele está?” – Lupin se levantou com tanta pressa que derrubou em suas vestes o chá que bebia.
- “Ele está numa sala do terceiro andar.” Disse Rony nervoso.
- “Ele está bem? Está calmo?” Lupin perguntava enquanto fazia um movimento com a varinha, limpando as vestes molhadas.
- “Agora ele está, depois que a Gina petrificou ele...”
- “O quê, Gina petrificou ele? Que horror, ele devia estar mesmo alterado..” Lupin falou num tom de pena.
- “Alterado? Harry ficou maluco! Ele estuporou Hermione!”
- “Ai, por Merlin! Vamos logo ao encontro deles!”
E os dois saíram desembestados pelos corredores. Rony abriu a porta da sala para Lupin, que ficou paralisado ao ver a cena : Harry esticado no chão com o rosto contorcido de ódio, os olhos faiscando olhando para todos os lados sem parar, enquanto Gina fazia força para não chorar, consolando Hermione, que não parecia nada saudável, segurando duas varinhas, numa cadeira da sala. Após alguns segundos, Lupin se recuperou e brandiu sua varinha, desfazendo o feitiço que imobilizava Harry.
- O que foi que deu em você Harry? Brigar com seus amigos ao ponto de estuporar Hermione?
Harry apenas se levantou e foi andando em direção a porta que estava aberta.
- “Coloportus! Eu disse que você só sai daqui depois de ouvir a gente Harry!” Gritou Gina do outro lado da sala, fazendo a porta se fechar com um estrondo alto.
Mas ele continuou encarando a porta em silêncio.
- “Harry, foi tudo um plano meu, seus amigos não tem nada a ver com isso.” Disse Lupin se aproximando dele.
- “Como eu vim parar aqui?” Harry virou-se para encarar Lupin com o olhar mais gelado que ele conseguira fazer.
- “Poção do Morto vivo...” Lupin abaixou os olhos quando disse.
- “Professor, como o senhor pôde?” Hermione gritou incrédula. “ e se ele não resistisse aos efeitos da poção?”
- “Ah, por isso que ele dormiu três dias...” Rony fez cara de entendido.
Gina sentou-se na cadeira ao lado de Hermione e encarava Lupin com interesse.
- “Calma Hermione, Slughorn me ajudou. Foi ele quem fez a poção, eu apenas coloquei no chá de Harry na véspera da vinda para Hogwarts.” Lupin respondeu virando-se rapidamente para Hermione e voltando para encarar Harry. Eu sabia que você não ia voltar a Hogwarts, então precisei usar essa tática nada ética.
- “Eu não tinha te prometido que voltaria? Oh, esqueci, essa pirralha deve ter contado tudo pra você, não é?” Harry berrou, apontando para Gina.
- “Escuta aqui Potter” – Gina levantou-se num pulo só e foi logo andando em direção a ele com o dedo em riste – “Como eu ia contar alguma coisa pro sr. Lupin se nos dois chegamos juntos na sala, depois que você me contou seu planinho ridículo, hein? Me diz? Eu ainda não aprendi legilimencia, sabe...”
- “Calma vocês dois, calma!” Lupin se meteu entre os dois, que se olhavam raivosamente. “ Eu já te disse, Harry, a idéia foi toda minha, seus amigos não sabiam de nada.”
- “Ah, ta eu acredito...”
- “Harry, eu já te disse que você é muito parecido com seus pais, não é? E se tem uma coisa que Lily e James eram , eram teimosos, assim como você.” – Lupin pos a mão no ombro de Harry, que dessa vez não fez objeção ao toque – “E você é igual ao seu pai, que não consegue esconder nada de ninguém, mesmo quando está mentindo.”
- “Mas mesmo assim Lupin! Você não tinha o direito de me trazer a força para Hogwarts! Eu já sou maior de idade...”
-“Harry você precisa entender que você ainda não tem condições de encarar os desafios do seu destino, sem estar devidamente preparado. E esta preparação incluiu terminar Hogwarts.” Lupin era incisivo.
- “Lupin, eu não posso ficar aqui eu preciso...” Harry tentou falar mais uma vez, mas foi interrompido pelo professor.
-“Harry, além da preparação, que é extremamente necessária, ainda temos que te proteger! Você não estava entendendo que seguir sozinho é praticamente se entregar de bandeja para Voldemort, é isso que você quer?”
-“Não , não é.” Harry respondeu cabisbaixo, vendo que Lupin tinha uma certa razão. “Mas mesmo assim, não justificam vocês terem me trazido pra cá dopado e a força.” Na ultima frase ele recuperou o tom revoltado.
-“Harry é como eu já lhe disse: Você é exatamente como seus pais, teimoso toda vida. E eu sabia que o único argumento que faria você mudar de idéia seria você já estar aqui dentro, pra ver com seus próprios olhos como Hogwarts é importante.”
- “Lupin, eu preciso de liberdade para procurar pelas horcruxes! E eu trancado aqui neste castelo...”
- “Harry, depois de tudo que aconteceu em Hogwarts no ano passado o Ministro da Magia baixou um novo decreto educacional... Mas eu acho que seus amigos podem te explicar melhor isso durante jantar, não é?” Lupin sorriu e correu os olhos nos presentes naquela sala.
Harry bufou e se virou novamente para encarar a porta lacrada a sua frente.
Rony ajudava Hermione a se levantar e Gina tentava conter as lágrimas de raiva e mágoa quando o professor se aproximou dela e cochichou no seu ouvido:
- “Não leve as palavras de Harry de hoje a serio. Ele está muito revoltado mas gosta muito de você.”
- “ Não professor, o senhor está enganado, Harry não consegue enxergar nada além de dor e ódio. È só isso que ele sente seja por mim ou por qualquer outra pessoa.” Gina respondeu amarga para o professor que insistia em continuar sorrindo pra ela, com aquele sorriso de quem diz “Ah, crianças...” o que deixou ela ainda mais irritada.
- “Bem, acho que você, Harry, deve estar muito curioso com as novidades desse último ano e tenho certeza que está querendo conversar sobre isso com seus amigos. Srta. Weasley, por favor, me dê um bom motivo para aumentar a diferença da Grifinória contra a Corvinal? Deslacre a porta?
-“Sim Professor. Alorromora!” Gina apontou a varinha e depois da palavra mágica soltou um muxoxo.
-“Que bom! Mais dez pontos para a Grifinória! Vamos jantar então?” Disse Lupin ando um tapinha amistoso no ombro de Harry.
-“Eu perdi a fome, e por incrível que pareça eu estou com sono, apesar de ter dormido três dias...” Harry deu a primeira desculpa que lhe veio a mente.
- “Professor acho que Hermione precisa ir a ala hospitalar...” Rony disse num tom preocupado.
-“Rony eu te ajudo a levar-la.” Gina veio logo, apoiando a amiga em seu corpo.
-“ Certo então, vocês vão até Madame Pomfrey e depois voltem pra torre da Grifinória. Harry venha comigo, então.” Lupin foi guiando Harry para fora da sala.
Harry ficou irritado que Lupin não acreditou na sua desculpa do sono. Ele matutava consigo mesmo que precisava ficar sozinho para digerir o acontecido. Mas ele e o professor caminharam automaticamente até a sala diretora da Grifinória. Mas agora ela era Diretora de Hogwarts e provavelmente outro professor seria o Diretor da casa dos leões. Mas naquele instante nada daquilo estava importando para Harry. Ele se sentia traído e impotente diante dessa nova realidade que ele tanto quis evitar.
- “Chegamos! Entre e sente-se Harry.” Lupin tentou ser o mais hospitaleiro possível, mas qualquer um ficaria desconfortável com o olhar de mágoa de Harry.
Ele se sentou emburrado na cadeira a frente da mesa. Mas olhou com curiosidade para a sala. Realmente essa era a sala da prof. McGonagal, mas algo estava diferente. Parecia um pouco com a sala que Lupin ocupou a quatro anos atrás. Muitos livros nas estantes e objetos diferentes da decoração da professora Minerva denunciavam que aquela sala tinha novo dono.
-“Lupin você voltou a ser professor?”
O ex-maroto sorriu da maneira mais característica possível:
-“Sim, Harry serei seu professor de Defesa Contra Artes das Trevas este ano, além de ser o novo diretor da Grifinória.”
-“Mas como você conseguiu?” Harry também esboçou um sorriso.
- “ Com o que aconteceu aqui ano passado ninguém se candidatou ao cargo..
-“Tá, mas e o fato de você ser um lobisomem”? Harry por um segundo se arrependeu de dizer isso, achando que poderia ter magoado o professor.
-“Realmente este foi o mais interessante: com a revelação do Snape ser um Comensal da Morte e por ele ter matado Dumbledore, ficou mais fácil convencermos o conselho de que tudo que Snape disse era mentira.” Disse Lupin como quem conta um lance emocionante e fantástico de uma partida da final da Copa Mundial de Quadribol, de tão animado.
-“E eles acreditaram?” Harry agora estava entusiasmado com a novidade.
-“Sim, todos acreditaram e ainda não se opuseram a minha nomeação como Diretor da Grifinória!” Lupin estava esfuziante.
-“ Que bom! Agora sim será um gosto ter aulas de DCAT com você!”
-“Ah, vejo que se animou para seu último ano em Hogwarts! Olha que você ainda não sabe da metade das novidades!”
Harry fechou a cara. Durante aquela conversa Harry já tinha aceitado o fato de continuar em Hogwarts. Mas mesmo assim travava uma luta interna entre a razão e o orgulho para admitir isso para si mesmo. Porém nesse round foi o vencedor o orgulho.
-“Eu até poderia ter gostado se eu não estivesse aqui praticamente como um prisioneiro!”
-”Harry eu já te disse que tem muitas novidades esse ano, que eu tenho certeza que seus amigos terão o prazer de te contar mais sobre isso”.
-“Eu não tenho mais amigos.” Respondeu de pronto e seco.
-“Harry, eu achei que tinha ficado claro que seus amigos não sabiam de nada, que foi tudo um plano meu. Gina e Hermione só souberam que você estava aqui depois que você saiu do quarto, hoje a noite. Rony só soube antes por que vocês dormem no mesmo quarto e eu pedi pra ele e seus outros colegas de quarto não contarem pra ninguém, por que eu pedi.
Harry lembrou-se da cena que acontecera horas atrás, quando ele avistou Gina entrando no salão comunal, e o sorriso de felicidade que ela deu assim que o avistou também. ‘E que sorriso lindo...’ ele pensou, mas depois lembrou de como foi rude e grosso com ela nos momentos subseqüentes. Deu de ombros e continuou na posição de revoltado.
-“Não me importo. Se eles fossem meus amigos de verdade eles iriam me apoiar em qualquer decisão que eu tomasse.”
-“Não Harry, não é assim que uma amizade funciona. Os amigos de verdade são corajosos o suficiente pra nos enfrentar e nos mostrar quando nós estamos errados. Isso é amizade de verdade.”
-“Que seja Lupin, que seja...”
-“Bem, você disse que está com sono, então eu vou te deixar ir. Mas não despreze seus amigos, por que ele são muito fieis a você, não se esqueça disso.”
-“ Boa noite professor e até amanha.” Disse Harry já se levantando.
-“Espere, espere, eu não terminei de falar. Disse o professor num falso tom ameaçador. “ Aqui estão seus horários. Amanhã sua primeira aula é com a nova professora de Transfigurações. Tenho certeza que você vai gostar dela. Boa noite.”
Harry pegou o pergaminho das mãos dele e seguiu andando de cabeça baixa pelos corredores até o retrato da mulher gorda. Amaldiçoou mentalmente Lupin por tê-lo trazido a Hogwarts e principalmente por não tê-lo dito a nova senha.
Tentou convencer a mulher gorda a deixá-lo passar sem dizer a senha, explicando pra ela que ele tinha chegado naquele dia e que ainda não sabia a senha. Mas o quadro estava irredutível e não cedeu a insistência do garoto. Harry então decidiu ficar esperando até alguém aparecer e dizer a nova senha.
Sentou-se no chão cruzou os braços sobre os joelhos dobrados e escondeu a cabeça entre eles, numa posição de que quem visse de longe iria pensar que ele estava chorando. Mas Harry apenas estava mergulhado nos seus pensamentos que começaram a falhar a medida que o sono e o cansaço iam chegando.
*********
Harry acordou nun pulo só, pensando que estava dormindo aos pés do quadro da mulher gorda, quando observou a sua volta e viu que estava em sua cama, no dormitório da casa, e ficou curioso pra saber quem o trouxe pra lá. Mas essa curiosidade, foi vencida por uma maior, que era saber quem era a nova professora de Transfigurações. O pior é que ele já deveria estar bastante atrasado, por que até Rony, que normalmente tem muito mais dificuldade em levantar, já não estava no quarto. Ele percebeu que dormira de uniforme e agradeceu por isso: “menos tempo eu levo pra me arrumar, não quero nem saber , vou assim mesmo.” Pensou, vendo o estado lastimável de amarrotado que estava suas vestes. Rapidamente ele fez o asseio matinal e saiu correndo pelos corredores até a antiga sala de Transfigurações.
Assim que abriu a pesada porta da sala, ele tomou um susto. Era a Professora McGonagal que estava na frente da classe e todos riam. ‘Será que Lupin me pregou uma peça? Por que diabos ele tinha falado que tinha uma nova professora de Transfigurações?’ – pensou. E o pior, ele estava muito encrencado por que ele sabia que a professora que estava a sua frente não tolerava atrasos. Mas tinha alguma coisa diferente, pra não dizer errada: estavam todos rindo, descontraídos, como se lhes tivessem contado uma piada muito engraçada. Foi ai que Harry olhou desconfiado para a mestra; Ela se segurava pra não rir e tentava fazer uma cara de brava que arrancava ainda mais gargalhadas dos outros alunos, até que ela crispou os lábios como costuma fazer quando vai dar aquele sermão. A turma se emudeceu por alguns segundos. Harry pressentiu que ele estava ainda mais encrencado por que até agora ele estava parado no meio da classe sem dar nenhuma explicação sobre seu atraso. ‘ É hoje que ela me transfigura num despertador!’ - Rapidamente Harry tentou se explicar, nervoso, mas foi interrompido por mais gargalhadas estridentes da turma. Mais uma vez ele olhou a sua volta, passando os olhos pelos amigos que se dobravam de rir, menos Hermione, que parecia abatida e Rony que praticamente dormia sentado. Porém, quando ele voltou os olhos para frente, não viu a professora Minerva, mas sim...
-“Tonks?!?!?!” Disse ele incrédulo.
-“Sim Harry sou eu. Mas agora é professora Tonks. Eu não gostei muito do seu atraso, mas eu acho que só a sua reação quanto a possibilidade da Professora McGonagal te dar um sermão pelo atraso já te valeu como aviso.” Ela riu com vontade. “ Mas agora sente-se que nós ainda estamos em aula.”
Muito envergonhado, Harry se sentou no único lugar vago na classe: na cadeira atrás de Hermione e Rony. Mas os três não trocaram nenhuma palavra durante toda a aula e o dia. Internamente Harry ficou feliz em saber que a nova professora era Tonks.
Mas na hora do jantar ele foi novamente tomado pela revolta, quando viu a grande cadeira do centro ocupada por outra pessoa diferente que Dumbledore. Novamente ele correu os olhos pela mesa dos professores, numa expectativa maluca de ver se Snape estaria nela, mas obviamente não estava.
Então ele voltou sua atenção para o prato a sua frente e comeu como se estivesse vindo da Somália. Ele realmente estava com fome. Ele comeu concentrado até que um perfume muito conhecido invadiu suas narinas e fez com que ele involuntariamente olhasse pra massa de cabelos ruivos que exalava o característico odor de flores que sentou-se do seu lado. Eles cruzaram olhares por longos dez segundos e depois cada um voltou a se concentrar no que estava fazendo. Ou melhor, tentaram se concentrar.
Harry novamente se lembrou do quão grosso foi com ela no dia anterior. Ele encheu-se de coragem e virou-se pra tentar se desculpar com ela.
-“Gina” Disse ele tocando na mão dela que estava pousada sobre a mesa.
-“É Weasley pra você agora, Potter!” Ela rapidamente retirou a mão da mesa, fazendo cessar o toque de Harry.
- “Gina, me desculpe, eu não quis te ofender, mas eu fiquei cego...”
-“É Weasley pra você, Potter, eu já disse! Não te dou essa intimidade!” Ela falou ainda mais alto.
-“Tá, que seja, Weasley, deixa eu me explicar...”
-“Escuta aqui garoto, você já está me tirando do sério! Fala logo o que você quer por que eu tenho mais o que fazer do que ficar aturando seus ataques de ...”
-“Escuta aqui você!” Os dois estavam aos berros no meio do salão, que parou para assistir a cena dos dois. “ Eu estou aqui tentando pedir desculpas e você que começou com o ataque!”
-“Ah, não seja por isso, já que o senhor não gosta de ser contrariado eu vou de deixar falando sozinho, por que não é assim que você quer ficar? Então, que fique sozinho!” E Gina girou os calcanhares e saiu pisando duro pelo salão.
Harry se jogou no banco e afundou a cara nas mãos. Mas alguém tocou em seu ombro.
-“Ela está realmente magoada com você...” disse Rony.
-“Não menos magoado do que eu. Me deixa em paz, ok?” E foi a vez de Harry se levantar e sair pisando duro em direção a torre da Grifinória.
Lá chegando, trocou o pijama, se deitou e fechou as cortinas da cama. Fechou os olhos na tentativa frustrada de dormir. Rolou para um lado , rolou para o outro e nem sinal do sono.
Depois de muito tempo, bem tarde da noite , Harry se levantou, convocou sua capa de invisibilidade, vestiu-a e saiu do dormitório, atravessou o salão comunal, passou pelo buraco do retrato e andou sem destino pelo castelo.
Ele estava adorando o ar fresco da madrugada, olhando cada detalhe dos corredores e salas por onde passava como se fosse a primeira vez que visse. Na verdade ele estava tentando gravar muito bem essas imagens na sua memória. Já que ele estava ali, ele ia fazer o que tinha que fazer: se preparar para enfrentar Voldemort. E foi quando ele teve o estalo: ‘As lembranças de Dumbledore! Eu preciso usar a penseira para poder descobrir mais pistas sobre as horcruxes!’ Ele ficou tão excitado com a lembrança que caminhou até as gárgulas que guardavam a entrada da sala da Diretora, sem se dar conta que se a única coisa que a Professora Minerva poderia lhe dar àquela hora era uma detenção, e não a permissão para usar a penseira. Assim que Harry se deu conta disso ele deu meia volta e rumou devagar até de volta ao seu dormitório.
Num corredor do segundo andar, Harry notou algo estranho: duas vozes conhecidas cochichavam tranquilamente. Ele ficou cabreiro, puxou a varinha das vestes e encostou-se à parede esperando pra ver se as vozes eram mesmo de quem ele estava pensando: “mas não pode ser, não é possível! Eles, aqui?”
Poucos segundos se passaram até que as duas figuras entrassem no corredor em que Harry estava. ‘Olho-Tonto Moody e Kingsley Shackebolt conversavam amenidades em plena Hogwarts! Mas o que aurores fazem aqui dentro?’
Pensando nisso, mas uma vez, curioso ao extremo, ele caminhou até a torre da Grifinória, decidido a dar uma chance ao sono, por que no dia seguinte ele teria muitas coisas a fazer, ou melhor, a descobrir.
No dia seguinte pela manha, bem cedo, Harry foi procurar pela professora McGonagal, mas Lupin o informou que ela havia deixado o castelo para resolver assuntos pendentes no Ministério e que voltaria em três dias. Harry não pode deixar de demonstrar sua insatisfação e sua ansiedade , mas comentou com o Professor de DCAT sobre seus planos, e então Lupin deu uma autorização para Harry procurar livros na seção reservada da Biblioteca. Nestes três dias ele só fazia isso: assistia as aulas, comia muito rápido e se trancava na seção reservada. Olhou dezenas de livros, mas nenhum deles deu alguma informação nova ou relevante sobre as Horcruxes.
********
A Professora mal chegou e Harry já a aguardava na porta de sua sala.
-“Professora, eu tenho um pedido muito importante pra te fazer!” Harry ofegava de ansiedade.
-“Sim Harry , eu já imagino do que se trata... mas eu ando muito ocupada aqui em meu escritório e creio que só poderei libera-lo para você usar a penseira na próxima quinta-feira.
-“ Mas professora...” Harry não acreditava que teria que esperar mais dias.
-“Harry, por favor, não insista! Eu só estarei disponível na quinta-feira a noite, e eu não posso deixar você tirar a penseira da sala da direção. Até quinta.”
A Professora entrou na sala e deixou do lado de fora um Harry Potter muito frustrado.
Mais uma vez ele voltou à rotina de pesquisas na biblioteca. Na quinta-feira à tarde Harry folheava o livro Habbeas integrum restituere in articulo mortis, quando Hermione sentou-se do seu lado, olhando interessada para o livro nas mãos de Harry.
- Hummm, sugestivo o nome do livro: Ser restituído integralmente à beira da morte. Conseguiu encontrar alguma pista?
-“Nada. Nada que eu já não saiba.” Disse ele olhando para a amiga.
-“Que pena, eu tinha tanta esperança em encontrar algo aqui na biblioteca... mas se precisar de ajuda é só pedir, ok?” Disse Hermione já se levantando com dificuldade da cadeira.
Harry ainda tentou chamar de volta a amiga pra conversar, mas ele viu que ela estava decidida a sair, mesmo estando tão debilitada. Ele ficou se perguntando se foi ele quem deixou a amiga tão fraca, quando ele a estuporou. Ele pensou que, mais uma vez, foi além dos limites com seus amigos e por isso ela não quis ficar mais ao lado dele. Mas, mais uma vez, Harry deixou o orgulho vencer, dando de ombros, e tentou esquecer e se concentrar novamente no livro, por horas e horas até Madame Pince expulsá-lo de lá, fazendo ele se lembrar que já estava atrasado para o encontro com a Professora McGonagall.
Ele correu até o seu dormitório pra buscar a caixa com os fracos com as memórias. Quase a deixou cair quando trombou com Rony no buraco do retrato, mas mesmo assim ele seguiu correndo pelos corredores até chegar sem fôlego nas gárgulas. Mas uma vez, lembrou-se que não tinha a senha. Começou a dizer nomes de doces para as estátuas que se mantiveram imóveis. Quando Harry se deu por vencido, e já de costas caminhando cabisbaixo devota para a Torre da Grifinória, ele ouve alguém lhe chamar:
- “Harry, entre por favor.” Era da Diretora.
Ele a seguiu adentrando na ante sala, que por incrível que pareça, não mudou nada desde a ultima vez que Harry esteve lá, porém rapidamente a professora o tirou de seus pensamentos, para dar instruções a ele.
-“Harry, sei que você deve estar muito ansioso para iniciar logo suas pesquisas. Eu também tenho muitos afazeres, inclusive eu tenho uma reunião com os monitores agora, e por isso te deixarei bem à vontade. Não se preocupe com o tempo, eu não irei atrapalha-lo, nem apressa-lo. Boa noite e Boa sorte.”
-“Mas professora, aonde está a penseira?” Harry perguntou quando não avistou a penseira no cômodo.
-“Ela está no escritório, lá em cima.” A Professora apontou para a escada em caracol que levava para o escritório.
Harry sentiu o estomago afundar. Ficou paralisado assistindo a professora sair da sala. Lembrou-se da ultima vez que ele subiu aquelas escadas, naquele fatídico dia... Uma determinação que ele não soube da onde tirou, o fez sair da inércia e caminhar e subir a espiral de degraus que levava ao escritório da diretora. Parou no topo, quase sem vontade de continuar até que novamente seu peito se enche de coragem pra enfrentar algo que ele estava pressentindo mas que ele não conseguia definir ou prever o que ele tanto temia naquela sala.
Ele deu alguns passos, ainda olhando para o chão, em direção ao interior da sala. Parou em frente à mesa, onde provavelmente estava a penseira. Harry levantou o rosto para poder depositar a caixa sobre a mesa, mas seu pescoço se esticou mais, de maneira que ele pudesse encarar o quadro que estava bem as sua frente. Entre a moldura quadrada e dourada, um senhor de barbas muito brancas, praticamente prateadas, e de olhos muito azuis que cintilavam sobre os oclinhos meia lua, sorria.
Aquela visão deixou Harry emocionado. Ele ficou um longo minuto observando a pintura olhar pra ele divertindo, tombando um pouco de lado a cabeça de vez enquanto, como se estivesse analisando algo curioso.
- “Que prazer em revê-lo senhor Potter!” Disse Dumbledore.
Harry ficou estarrecido. Dumbledore estava falando com ele! - ‘Como se ele estivesse vivo! Mas por que ele me chamou de Potter?’ - E mais um milhão de perguntas começaram a surgir velozes, uma atrás da outra, na mente de Harry:
- “Professor! Eu, eu preciso da sua ajuda! O – o Horcrux... aquele da caverna, ele, ele ele era falso! Um tal de RAB o roubou e, e...”
-“Ora , ora, ora, senhor Potter! Vejo que você tem muitas duvidas... Calma que você irá esclarece-las ... está tudo ai, nas memórias...
-“Mas eu prefiro que o senhor me conte!”
-“Harry, se as lembranças estão nos frascos, é por que elas já não estavam mais na minha memória quando eu passei desta pra melhor.” Dumbledore deu uma risadinha tímida no final da frase, o que deixou Harry confuso e irritado.
-“Mas como assim professor? Pra melhor?” – Ele não acreditava que o ex diretor estava zombando da própria morte.
-“É uma expressão que os trouxas usam Harry, quando não querem falar que uma pessoa morreu.” Dumbledore agora estava serio. “O assunto da morte é sempre difícil...”
-“E por falar em morte professor, por que você confiava tanto no Snape? Será que o Senhor se lembra que ele o matou?” Harry estava nervoso, falava alto e apertava os dedos com força contra o pulso, como se estivesse se preparando para dar um soco.
-“Severus fez isso?” “Não acredito...” Dumbledore virou se de lado deixando a mostra no quadro o seu perfil de braços cruzados.
-“Pois acredite professor! Foi ele! E Eu vou vingar o senhor, fique tranqüilo! Não descansarei enquanto não matar aquele ranhoso!” Berrou Harry socando a mesa a sua frente.
-“Por Merlim! Acho que a morte não me fez bem... parecia que eu estava falando com Harry a pouco tempo... mas eu acho que me enganei... Oh, me desculpe James se eu te chamei de Harry....” Dumbledore fez cara de quem está confuso, mas ele fez Harry ficar mais confuso ainda.
-“Não professor, o senhor não está errado, sou eu mesmo, Harry...”
-“Ah, não, aquela última frase quem disse foi o James Potter! Ele sim, que tinha essa birra infantil com Snape, e que costumava chama-lo por este apelido nada simpático: Ranhoso...” Disse o Ex Diretor quase melancólico.
Harry soltou um muxoxo. Pensou com ele mesmo que não adiantaria tentar arrancar nada do quadro de Dumbledore e que ele deveria sair antes dali antes que perdesse todo o respeito pelo grande mago que ele foi um dia, até que um pigarreado o tirou de seus pensamentos e ele voltou a fitar o quadro que agora estava serio, mas tinha um discreto sorriso.
-“Harry, todas as minhas memórias estão nos fracos, dentro dessa caixa. Por algum motivo, que pelo qual eu não me lembro mais, eu me desfiz de todas estas lembranças, preservando-as pra você. Me desculpe se eu não me lembro das circunstancias da minha morte, mas eu tenho certeza que outra pessoa vai poder te esclarecer quanto a isso. Mas não tenha pressa em encontra-la, nem vá atrás dela, por que eu tenho certeza, que no devido momento ela virá até você .”
- “Sim, professor.” Disse Harry resignado. “ Mas o senhor não se lembra de nada?”
-“Ah, não! Eu me lembro de muita coisa... Me lembro muito de uma certa dupla de gêmeos ruivos que sempre me divertiram muito com suas travessuras...”
Os dois caíram na gargalhada. Porém, logo que o efeito dela passou o retrato na parede retomou seu discurso.
- “Harry, acho que você veio pra poder usar a penseira, não é? Então eu vou deixá-lo a vontade pra fazer sua incursão em minhas memórias com mais privacidade. E lembre-se: todas as respostas que eu poderia te dar estão nas memórias!” Disse o professor, que finalizou com uma piscadela sobre os oclinhos e saiu do quadro, deixando apenas visível o espaldar da cadeira em que ele estava sentado.
Harry assentiu e logo foi abrindo a caixa. Dentro dela, os frascos reluziam o prateado as memórias, nem liquidas, nem gasosas. Ele passou o dedo sobre as tampas das garrafinhas e escolheu uma. Puxou-a e a levantou na altura dos olhos para observá-la melhor. Com a outra mão, Harry puxou a penseira mais para perto de si e em seguida retirou a tampa e verteu todo o conteúdo da garrafa na bacia ornada com gravuras de runas antigas na borda. Sacou a varinha das vestes, apontou-a para o redemoinho que se formou dentro da penseira e disse:
-“Tomara que eu tenha escolhido uma boa lembrança...” E num solavanco Harry mergulhou a cabeça na penseira.
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