Uma previsão diferente
E então foi assim que aconteceu. Se havia alguma dúvida, agora já não podia ser vista. Era tão certo e óbvio que já não se podia explicar. As coisas ganharam uma cor diferente, já não se sentiam sozinhos, as palavras sairiam mais doces e suaves... Inúmeras novas sensações foram descobertas no momento em que podiam se dar conta de que se beijavam no meio do corredor, sensações estas que não tinham valor preciso se pudessem ser compradas. E era só ali que queriam estar.
Cada pessoa que entrava na Sala Comunal da Grifinória fazia o coração de Harry saltar, mas não era pra menos... Não via Hermione a algum tempo, talvez desde antes do jantar... Levantou-se e caminhou para o dormitório, desejando intimamente que ela não estivesse com Malfoy.
No dia seguinte Harry acordou e rumou logo para o café da manhã, onde pudesse perguntar por onde é que Hermione estivera andando. Malfoy passou por ele e fez questão de sorrir, o que fez Harry parar bruscamente... Ele a tinha perdido. Avistou Hermione descendo as escadas, e assim que seu olhar cruzou com o de Draco, sua normal expressão passou para uma envergonhada. Sentou-se na frente de Harry, e lhe disse "Bom dia", como se não tivesse nada para lhe dizer ou lhe explicar. Ela sabia que ele a encarava, mas não se atrevia a responder o olhar. Sabia que ele podia ter sentido sua falta na noite anterior, e ele com certeza perguntaria algo sobre Draco. Mas não queria, não podia estragar aquele dia. Adiaria aquela conversa o máximo que pudesse, mas quando Harry começou a falar, suas esperanças esvaziaram-se completamente.
- Onde você esteve ontem? - ele perguntou.
- Eu?
Ele nem respondeu.
- Ah, sim - ela se serviu de mais chá - Bem, eu estive estudando sozinha - e continuava a encher a xícara - No meu quarto, sozinha - e o chá escorria pelas beiradas desta - Nossa, olha o que eu fiz aqui!
- Hermione, não minta para mim.
Ela o olhou assustada.
- Não estou mentindo - respondeu.
- Está sim.
- Não estou.
- Não minta, Herm...
- Não estou mentindo, o que aconteceu, não acredita mais em mi...?
- Eu sei quando mente!
- Não sabe não!
- Claro que sei!
- NÃO SABE!
- SE VOCÊ ESTIVESSE FALANDO A VERDADE SUAS NARINAS NÃO ESTARIAM TREMENDO E SEU ROSTO NÃO ESTARIA TÃO VERMELHO COMO AGORA!
E isso foi o bastante para que todo o Salão Comunal parasse de tomar seu café da manhã e olhasse diretamente para os dois. Assim que eles pararam de ser a atenção principal de Hogwarts inteira, ela colocou a xícara de lado e olhou diretamente em seus olhos.
- Nós podemos conversar mais tarde... - ela disse.
- Hermione - ele a interrompeu - Você acha mesmo que eu já não sei o que está acontecendo? Eu só gostaria de ouvir de você.
Ela o encarou por alguns momentos e consentiu com a cabeça.
- Eu quero ficar com Draco, Harry.
Ele não disse nada. Tinha a expressão extremamente calma, não tinha socado a mesa, nem ao menos estava bufando. Suspirou calmamente. Mas o mais estranho foi que ele se serviu de um pouco de chá - algo que ele não gostava nem um pouco - e então anunciou que iria subir até a biblioteca. E Hermione acompanhou-o com o olhar, boquiaberta, até que ele subisse no alto das escadas. Procurou por Draco na mesa da Sonserina, mas ele não estava lá.
- Acho que o bolinho de cogumelo com abóbora não fez bem a Harry - comentou Luna para Rony.
Harry esperou até que Hermione não pudesse mais vê-lo, e então quando estava em um corredor, sozinho, começou a socar e chutar a primeira armadura que viu pela frente. Alguns primeiranistas passaram por ele, então sorriu envergonhado batendo de leve na armadura.
- Está em ótimo estado de conservação! - ele disse sorrindo. As crianças arregalaram os olhos e andaram em apertados e rápidos passos para bem longe dele. E como se já não bastasse, no fim do corredor vinha a pessoa que ele mais odiava em todo o mundo: Malfoy. Segurou no braço da armadura para que não pudesse sair correndo até o pescoço do garoto, e quando este se deu conta de que era Harry o louco que estava fazendo o maior barulho no corredor, soltou um sorrisinho maldoso.
- A que ponto chegamos, hein Potter? Descarregando sua raiva numa pobre armadura?
- Sorte sua não ser você no lugar dela! - respondeu ele, bufando.
- Mas não fique assim. Há tantas garotas em Hogwarts... Aquela menina que anda engraçado, do quarto ano, aquela baixinha gordinha, do terceiro ano, uma garota que tem dentes de cavalo, não me recordo seu nome...
- Já chega, Malfoy. Não sei o que aconteceu com Hermione. No mínimo você deve ter ameaçado matar seus pais se ela te trocasse por mim.
Mas ele não deixou de sorrir.
- Tanto faz o que você acha, Potter. Hermione me ama.
Harry não percebeu, mas uma das sobrancelhas de Draco estava mais erguida que a outra, e isso só significava uma coisa: ele adorava saber que tinha vencido Harry dessa vez. Cada um foi para um lado do corredor, e então quando Harry já estava no fim deste, virou-se para encarar Malfoy.
- Quase me esqueço de dar meus parabéns, Malfoy. Ao menos ALGUMA VEZ você me venceu em algo!
O punho de Draco se fechou automaticamente. Virou-se para dizer alguma coisa, mas Harry não estava mais lá.
No dia seguinte, as primeiras corujas que invadiam o Salão Principal deixavam cair os exemplares do Profeta Diário sobre a mesa, e assim que seus respectivos donos os abriram, um borburinho foi se transformando em gritos de horror. Expressões de susto podiam ser vistas nos rostos de muitos alunos que ali estavam. Harry apanhou o seu, e o que mais temia ler naquela manhã estava escrito em letras grandes na primeira folha do jornal: "VOLTA AQUELE-QUE-NÃO-DEVE-SER-NOMEADO".
- Harry? - Hermione o chamou.
- É Ele, Hermione - respondeu ele, sem tirar os olhos do jornal - Houve um ataque - disse, ao mesmo tempo que sua espinha estremeceu - "... E parece que o que todo o mundo bruxo teme está realmente acontecendo. Aquele-que-não-deve-ser-nomeado atacou o primeiro andar do Ministério da Magia, na noite de ontem, quarta-feira... Seguido por seus fiéis 'Comensais da Morte', destruiu grande parte do... Fazendo a seguinte ameaça: Preparem-se... Porquê eu estou apenas começando a minha destruição"- leu Harry, e então fez uma pausa para olhar a expressão de Hermione e Rony - "... Após saírem do Ministério, agora totalmente arruinado no primeiro andar, seguiram em direção á uma estreita rua, e então não foram mais vistos... Algumas perguntas ficam no ar: Porquê escolheram e destruíram apenas o primeiro andar? Qual será seu próximo local? Devemos nos esconder em nossas casas? Onde está nosso querido herói Harry Potter para impedí-lo?" - ele olhou cansado para os amigos - "Abaixo algumas regras que serão estabelecidas pelo Ministério da Magia para a segurança do mundo bruxo..."
- Isso é horrível - disse Hermione, mais para si mesma do que para os garotos. Olhou assustada para Draco, e este correspondeu com seu olhar apavorado.
Então Dumbledore, mais do que silenciosamente, pôs-se de pé e assim todos se calaram sem que ele precisasse pedir.
- Ainda - ele disse - Que possam desacreditar, Hogwarts foi, é e sempre será segura. E ainda que possam discordar de minhas palavras, peço compreensão. É fato que os poderes de Voldemort - e então um arrepio percorreu a espinha de muitos presentes - São extremamente grandes. Mas não se esqueçam que ainda temos uma coisa que Ele jamais possuirá: o amor.
E então Harry olhou brevemente para Hermione: ela sequer piscava. Ele pode ver quanto medo havia em seus olhos.
- Não desacreditem na força que esse sentimento tem - e os olhinhos de Dumbledore pararam em Harry - Vocês não fazem idéia do quão poderoso ele é.
Ninguém além de Rony, Hermione e Harry entendeu muito bem o que o diretor queria dizer com aquelas palavras. Mas enfim, quando Dumbledore se sentou, uma onda de borburinho percorreu toda a extensão do local, e muitas interpretações foram surgindo. Hermione olhou para Draco, mas ele não parecia tão assustado quanto ela. Talvez ele já tivesse se acostumado com essa idéia.
Draco armazenou as palavras de Dumbledore mesmo sabendo que aquilo era um fato. Ele sabia que tudo ia começar daquele jeito. Então seus olhos se encontraram com os de Hermione, e ele sentiu como se alguém apertasse forte o seu coração. Sua respiração tomou um ritmo acelerado, e ele sentiu como se alguém retirasse o chão sob seus pés. Hermione, do outro lado do Salão, pôs-se rapidamente de pé ao ver a expressão do garoto, e então algumas pessoas fizeram o mesmo. Draco viu tudo perder a nitidez e ficar escuro.
- Draco? Acho que ela está acordando - ouviu alguém dizendo lá longe - Draco?
Ele se esforçou para dizer alguma coisa, mas estava extremamente fraco. Abriu os olhos e se deparou com Hermione, numa expressão muito aflita. Pode perceber também que á um canto, conversando baixo, encontravam-se o professor Snape, o professor Dumbledore e a professora Mc Gonnagall.
- O que aconteceu? - ele disse, sentando-se.
- Que bom que acordou, Sr. Malfoy - disse Dumbledore chegando mais perto da cama - Creio que agora que acordou tudo vai ficar bem. Professor Snape, eu e Minerva vamos deixá-los á sós.
O diretor caminhou em pequenos passos até a porta da enfermaria, seguido pelos outros profressores.
- Você pode me explicar o que aconteceu? - disse Draco impaciente. Hermione olhava para ele com um olhar diferente - O que foi, Hermione?
Ela apenas piscou algumas vezes seguidas e olhou para a porta recém fechada.
- Você falou um monte de coisa - respondeu sem encará-lo. Sua voz era calma e fraca.
- E o que eu disse?
Então fez-se um silêncio.
- O que eu disse? - tornou a perguntar.
- Não se lembra mesmo do que falava? Não se lembra de algo que sonhou enquanto estava aqui?
- Eu não me lembro de nada, mas o que eu disse? O que de tão importante eu falei?
Ela respirou profundamente.
- Eu não acredito que bruxos possam fazer previsões e esse tipo de coisa... - ele a olhou confuso - Mas é que do modo como falou... Senti como se você pudesse saber...
Mas Draco ainda não entendia o que ela queria dizer com aquelas palavras.
- Aonde você quer chegar, Hermione?
- Bom, é que... Você falava que eu estava, você não parava de repetir que eu estava... Morta.
Então ele estremeceu profundamente.
- Disse que seu pai tinha me acertado com um Crucio... E você gritava desesperado...
Pensar em Hermione morta fazia seu coração se quebrar.
- Você contava detalhes, Draco... Desde a entrada de seu pai em Hogwarts até o momento que ele me viu. Você falava tão seriamente... Como se estivesse contando para alguém algo que presenciou...
- Hermione... Eu não entendo... Eu não me lembro de sonhar nada, eu não sei porque eu disse essas coisas, e...
- Tudo bem, Draco. Dumbledore disse que pode ter sido o impacto pela notícia que te fez dizer aquelas coisas. E também, sonhos não significam muita coisa, não é? Qualquer um pode sonhar qualquer coisa.
Mas Draco não tinha sonhado absolutamente nada. Ele quase não se lembrava de ter desmaiado.
- Eu acho que sim, me desculpe Hermione.
- Você não tem culpa, Draco, eu só... Me assustei.
E então ela o abraçou forte.
N/A: Esse capítulo é muito importante, galera ;)
Beijo
Isabella.
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