macabria





Blood & Love


Capítulo III – Macabria


“Aquela triste e leda madrugada,
Cheia toda de mágoa e de piedade,”

Os seus olhos passeavam pela superfície das paredes, perdendo-se nas curvas dos desenhos, vendo algo de novo naquilo que já fora mapeado. Afinal, Ron era assim.

As coisas lhe eram apresentadas e, passado muito tempo, quando finalmente eram mapeadas, quando cada detalhe parecia tão conhecido, acabava reparando no que antes não notara. E se dava a nova forma.

Fora assim com Hermione.

Quantos anos levara apenas para vê-la garota? Outros tantos para vê-la mulher. Mas quando se deu conta, fora tarde.

A água escorria pelo seu corpo, quente, acentuando o cobre dos seus cabelos. Os olhos azuis continuavam vagando por ali e mais além.

Hermione estava com outra pessoa. Com Viktor Krum. Franziu o cenho quando o visualizou mentalmente, especialmente próximo da garota. Ela amava Viktor Krum. E, ele suspirou, sentindo-se derrotado, venhamos e convenhamos, ela estava melhor assim. Muito melhor.

Levantou o rosto e fechou os olhos, deixando a água bater-lhe contra a face, resignado.

Viktor podia lhe dar o que sempre quis e tudo o mais que pudesse vir a querer. Coisas que ele nunca sonharia poder tocar. Viktor também a amava, mas de uma forma diferente. Era simples, doce, um amor calmo e companheiro. Com Ron, tudo fora tão complicado... Porque ele mesmo não podia entender o que era amar. Viktor vira no amor simplicidade, mas Ron não conseguira sentir facilmente o amor. Com Hermione fora intenso, difícil e doloroso. E, no momento, ela precisava de algo mais simples.

Ele suspirou novamente. Então, meneou a cabeça.

Ginny estava certa: insistir no que acabara, punir-se por aquilo que não houve... Ele e Hermione tiveram algo, sim, mas fora há muito tempo. E agora, com a guerra, dispensa-se mais conflitos. Era hora de ele dar um passo adiante, encontrar algo novo, diferente. Ron não sabia exatamente o quê, mas... Desde que tirasse Hermione da cabeça, estaria ótimo.

Já seria um começo, não?

“Enquanto houver no mundo saudade
Quero que seja sempre celebrada.”

Ele desligou o chuveiro e enxugou o corpo nu, vestindo a cueca – uma daquelas que se parecia com um short, não sabia dizer o nome - em seguida. Levou a toalha à cabeça, junto dos cabelos, massageando-os, e tratou de sair do banheiro. Cruzou o corredor a passos largos e entrou em seu quarto, distraído, indo diretamente ao seu armário. Abriu-o, a fim de encontrar algo para vestir – ele não fazia muitos rodeios quanto a isso -, mas algo prendeu a sua atenção. O espelho à porta a flagrou: viu-a, sua irmã, ao fundo do quarto, quando seus olhares se cruzaram.

“Ginny?”, ele se virou rapidamente para ela, abandonando a toalha sobre os ombros, “O que faz no meu quarto?”

“Er... Nada”, ela começou – muito mal, por sinal – enquanto se levantava da cama do irmão, em que estivera sentada, e mantendo algo escondido atrás do corpo. Acerejou de leve.

“Ah, é?”, Ron falou, divertido, se aproximando de Ginny com um meio sorriso nos lábios. “Acho bom se explicar melhor. Por que viria fazer nada bem aqui? E eu não acho que esteja aqui só para me ver de cueca...”

Ela rolou os olhos. Se ele soubesse... E o pior de tudo era que nem podia reclamar que ele a estava provocando, porque não devia se sentir provocada com aquilo.

“Está bem, Ron. Vou ter de ser honesta com você...” Ela fez uma pausa, em que fitou os orbes azuis. Os olhos de Ron, naquele momento só seus, examinando-a curioso e cuidadosamente, no que ela acerejou e deu-se conta de que demorava muito para prosseguir. Um pouco mais de vermelho para suas maçãs do rosto. “Tome. Me pegou no flagra, então é todo seu.”

Entregou-lhe um pequeno caderno, em que Ron deu uma rápida olhadela.

“Oras, Ginny! Isso já é meu!”, pontuou. Ela concordou com a cabeça.

“Sim, mas por que não dá uma olhada dentro?”

O ruivo a mirou, desconfiado, mas a curiosidade o venceu. Abriu a agenda e folheou-a, quase desinteressado, esperando com que algo de repente pulasse em frente aos seus olhos. E numa das páginas quaisquer, reparou na letra pequena e caprichada – ou seja, uma que não era a sua – que escrevera um nome vagamente conhecido, ao lado de um endereço postal: “Parvati Patil”, e abaixo do nome, uma breve explicação, “meio grudenta, mas bonitinha.” Pasmo, folheou mais algumas das páginas.

“Ginny! Você encheu minha agenda de garotas...?”

“Desconhecidas? É, mais ou menos. Tem alguns garotos também, pro caso de você decidir jogar no meu time.” Ron olhou-a, incrédulo. “OK, OK, brincadeirinha...”, ela sorriu de leve. “Bem, qualquer coisa”, ela abandonou o celular sobre a cômoda do garoto – havia alguns números telefônicos também -, “é só me chamar, que eu dou um jeito pra você.” Lançou-lhe uma piscadela.

Ron observou o número absurdamente grande – para ele, que não era lá muito sociável – de números adicionais na agenda, quase assustado. “Você não espera que eu ligue para todas elas, não é?”

“Quê isso, Ron!” Ginny fingiu-se indignada. “Espero que escolha uma, não que vire cafetão!”, provocou.

“Ei!”, ele protestou, fazendo-se de ofendido, mas sem conter um meio sorriso. “Foi você que pôs os números aqui, não eu, lembra?”

“É...”, os olhos castanhos não conseguiram se manter por muito tempo longe da seminudez do ruivo. Sem perceber, ela o espiava entre uma palavra e outra. Ron nunca fora exatamente lindo, mas ele crescera bonito, ao menos a ela. Sempre fora muito alto, o que o fazia um garoto feio anos atrás, combinando-se com a magreza, a maneira desleixada com que se vestia e se portava. Agora, apesar de ainda alto, já não era tão magro. Os músculos se enrijeceram e engrossaram, até devido aos trabalhos que realizava todos os dias na propriedade, já que não havia mais ninguém capaz de fazê-lo, e tendo ele de cuidar então de tudo. Já não se portava tão mal. Ginny costumava observá-lo da janela enquanto ele fazia alguma coisa no jardim, só para ver a maneira com que andava, os movimentos firmes – até que suaves – com que trabalhava. Ela mal podia explicar o que via. Talvez o que mais impressionasse nele fosse exatamente a sua distração.

Ele nunca reparava muito nas coisas que não saltassem em frente aos seus olhos. Isso lhe dava certo ar de inocência. Sim, era isso que gostava nele: era tão rapaz e tão menino. Gostava do que seus olhos eram capazes de encontrar nele, mas preferia buscar além... Ron era sua força e fraqueza, e ela o mapeava, ainda que continuasse tão incompreensível. Talvez por isso não o quisesse ferir, mas muito pelo contrário, o quisesse proteger, poupá-lo daquilo que sentia. E a única maneira de fazê-lo era mantê-lo longe dos seus olhos e dos seus braços, de qualquer lugar onde pudesse alcançá-lo e feri-lo. Devia poupá-lo de si. E a hora de fazer isso era agora.

“E então, não vai se vestir?”, perguntou, finalmente.

“Não, não”, ele acenou a cabeça negativamente, enfático. “Eu me uni a Associação dos Nudistas Liberais, e estou dentro da minha casa, tenho portanto o direito de...!”

“OK, Ron. Mas então...” Ela sorriu maldosamente. “Acho que ainda falta tirar alguma coisa...”

“Rá-rá”, ele respondeu, sem muito o que dizer.

“Qualé, Ron. Eu sei que você é um pecado, mas será que você podia se arrumar logo pra gente fazer o jantar?”

“OK, Ok. Mas quem sai perdendo é você!”, ele brincou. Ela sorriu fracamente, tão logo ele se virou até o armário o sorriso morreu. Ela atravessou o espaço até a porta e saiu do quarto, fechando-a atrás de si.

Soltou o ar com força, afastou os pensamentos e rumou às escadas, derrotada.

“Ela só, quando amena e marchetada
saía, dando ao mundo claridade,”


Ginny separava os legumes com cuidado, embora vez por outra seus olhos se fixassem na janela sobre a pia, pela qual se via os jardins, banhados num jogo de luz entre o céu e a lua, e um pedaço significativo do manto estrelado sob o qual viviam, pensativamente.

Ron não demorou muito para descer. Apareceu usando um de seus jeans velhos e gastos e uma camiseta branca qualquer. Ele, muito agradável e cortês, vendo que a menina não percebera a sua presença, aproximou-se sorrateiramente e, a menos de um passo distância...

“PEGUEI!”, gritou, ao mesmo tempo em que tocou.

“Ron!”, ela protestou, depois de ter tido um sobressalto, com o coração a mil. Então, voltou-se a pia. “Droga...”

“O que foi?”

“Eu me cortei...” Mostrou-lhe um pequeno corte num dos seus dedos delicados, onde uma pequena gota de sangue se formava.

“Ah, não!” Ele tomou a mão da garota na sua, examinando o corte, arrependido da brincadeira. “Droga, desculpa...”

“Tudo bem...”

Ele correu até um pequeno armário e tirou dali uma caixinha, onde encontrou algo para cobrir o ferimento. Tomou-lhe a mão novamente, pondo-a sob a água da torneira para lavar o corte, então o cobriu.

“Pronto” Ele sorriu-lhe, fracamente. “...e eu sou um idiota.”

“Eu já falei que tudo bem, Ron!”, ela rolou os olhos, “E além do mais, eu não te acho muito idiota.”

“Obrigada... Eu acho”, ponderou. Ela riu e voltou-se aos legumes. “Eu corto!”

“Você?” Ginny pareceu surpresa.

“Oras, e por que não?”

“OK”, ela lhe passou a faca. Nos instantes seguintes, ele tentou cortar os legumes, mas Ginny o interrompeu. “Pára, Ron!”

“O que eu fiz dessa vez?”, ele perguntou fitando os legumes, como se eles tivessem culpa de algo.

“Você não os está cortando, está os mutilando!” Ela levou suas mãos às dele e, segurando firmemente, pousou uma das mãos de Ron junto do legume, para segurá-lo, e com a outra segurou a faca, conduzindo-o.

“Fatias mais finas, Ron. E não precisa decepar o legume, só leve a faca através dele. Assim”, ela imitou o movimento para que ele visse como se faz. “Agora você.”

Ron tentou novamente e dessa vez foi melhor, ainda que não tão bom assim.

“Oras, por que estamos fazendo desse jeito, afinal?” Puxou a varinha do cós das calças e enfeitiçou a faca, para que fizesse tudo sozinha. “Viu? Simples, rápido e fácil.”

Ela meneou a cabeça.

“Ronald e seus dotes culinários”, murmurou.

“Ei! Eu sou um ótimo dono–de–casa, se quer saber!”, defendeu-se.

“Que bom! E o ótimo dono–de–casa vai me ajudar com o macarrão agora.”

“Eu e minha boca grande...”, reclamou. “Cozinhar é chato.”

“Já sei o que vai animar um pouco: pegue aquele rádio velho do papai enquanto eu arrumo aqui”, Ginny sugeriu. Ron gostou da idéia – pelo menos perderia um pouco de trabalho... Dali a pouco trazia o aparelho e o deixava sobre a mesa, ligando-o.

“Ah, está com mau sinal”, ele disse, ouvindo ruídos por entre os quais se ouvia uma vaga melodia.

“Dá um tapinha pra ver se melhora!”

No que Ron estapeou o rádio, um zunido alto cortou o ar. E, então, uma música se fez ouvir.

“Arrá!”, ele comemorou. “Bem melhor. Ei, eu conheço essa música!”

“Ah, é?”, Ginny se virou ao irmão, interessada.

“É uma música antiga”, ele puxou-a para junto de si, “I´ve got you under my skin! I´ve got you deep in the heart of me!”1

Ginny ria enquanto ele a guiava, esperando o momento em que Ron tropeçaria nos seus próprios pés, faria birra e ficaria mal humorado. Para sua surpresa, isso não aconteceu.

So deep in my heart that you´re really a part of me!1 Ginny, eu sei que você sabe a letra... E você canta melhor, então...”

Ela sorriu. Ele levou aquilo de animar a sério...

“I try not to give in”, ela entoou, reconhecendo algo naquela letra, algo conhecido em que ela nunca havia reparado, “I say to myself this affair, it never will go so well...”2

“But why should I try to resist when I know so dawn well”, ele a girou para perto de si novamente e tentou fazer cara de sério, no que falhou terrivelmente, “That I´ve got you under my skin!”3

Ela sorriu de leve, sentindo o peso daquelas palavras, enquanto Ron ria gostosamente. Então, a música parou de repente.

“Interrompemos a programação para um aviso de extrema urgência: a milícia de aurores que fora enviada em busca Daquele-Que-Não–Deve– Ser-Nomeado acaba de voltar.”

Ginny prendeu a respiração. Ron calou-se.

“Muitos dos que foram não voltaram, e aqueles que conseguiram não estão em muito melhor condição. O líder da milícia, o jovem Harry Potter, foi gravemente ferido. A dúvida de muitos é se o Menino–Que–Sobreviveu sobreviverá até o reencontro com o inimigo. Julgando pelo seu estado, tudo aponta para que...”

Ron desligou o rádio.

“Babacas egoístas. Harry está mal e só pensam em seus próprios umbigos...” Ele virou os olhos em direção a Ginny.

A garota tinha os olhos castanhos arregalados e puxava o ar com força. Decididamente, não estava bem. Ron aproximou-se dela e a segurou pelos ombros, virando-a para si.

“Tudo bem, Ginny. Nossos amigos, eles... Vão ficar bem”, tentou convencer, a si e a ela. Ginny baixou os olhos e encolheu os ombros.

“viu apartar-se d’~ua outra vontade,
que nunca poderá ver-se apartada.”


Para a surpresa de Ron, ela escorregou por entre os seus braços e aconchegou-se junto ao seu peito, ficando ali, imóvel. O ruivo permaneceu com os braços esticados no ar, sem saber muito bem o que fazer. Gradativamente, seus braços foram chegando junto ao corpo de Ginny.

A ruiva inalava o perfume de Ron com ânsia, em busca da força que ele lhe proporcionava. Mantinha os braços junto do próprio corpo: por precaução, não deveria tocá-lo, mas deixaria ser tocada. Precisava daquilo, de apoio. E assim que as peles se tocaram, ela arrepiou-se. Ali estava, onde sempre quisera estar.

Ron sentiu-a se arrepiando sob a sua pele e apoio o rosto sobre os cabelos de Ginny. Ele a abraçava! Ron sempre fora, até por idade, o irmão mais próximo de Ginny. E nem mesmo ele costumava a abraçar... Lembrou-se de apenas mais uma vez, talvez no dia anterior, de tê-lo feito. De repente sentiu a necessidade de abraçá-la mais forte e mais intensamente, recuperar o tempo perdido. Trouxe-a mais para perto, mais fundo no abraço. Queria dizer-lhe que a apoiava no que quer que fosse.

Ginny sentiu o irmão a envolvendo em seu calor, num abraço de fogo e chama viva, quente, em amparo. Era a força que ela buscava, havia-a encontrado. E, naquele abraço, estremeceu, com medo que a chama se apagasse, o coração acelerado.

Ron sentiu-a estremecer. Preocupou-se. Havia naquele tempo de guerra a necessidade das pessoas serem fortes, mas contra a morte eram todos fracos. Pediu com força para que Harry estivesse bem, e Ginny estaria bem. Sentiu-a puxar o ar com força. Talvez chorar por ele? Estranhamente com o coração descompassado...

“Não chore, Gi...”, ele murmurou ao seu ouvido. Então, ela afastou-se dele para que pudesse o olhar nos olhos. E Ron viu naqueles olhos tão conhecidos algo completamente novo, forte, a consumi-lo, e quase se perdeu nisso, se ela, com o rosto a palmos do seu, não o tivesse tirado de seus devaneios:

“Não, Ron. Eu não vou chorar”, ela assegurou, firmemente. Então, desvencilhou-se dos seus braços. “Eu prometi.”

Caminhou até a pia e começou a preparar algo numa bacia. Ele continuou a observando longamente, estupefato.

“Ela só viu as lágrimas em fio,
que d’uns e d’outros olhos derivadas
s’acrescentaram em grande e largo rio.”


Ginny fechou a porta com cuidado, para que ele não percebesse a sua raiva, e atirou-se sobre a cama, arremessando uma de suas almofadas longe.

“Burra! Burra! Como ousa?”, ela queria bater em si mesma. Ainda mais quando seus olhos se encontraram com os da ruiva do outro lado do espelho, que lhe lançava desprezo puro e ódio líquido.

Ela se atirou para trás na cama, abrindo os braços e fitando o teto, o rosto afogueado pela raiva repentina. Quase resignada.

Quase.

“Ginny, nunca mais confio nas suas palavras”, disse a si mesma. “Você é estúpida e inconseqüente e eu a odeio.”

Abraçou o próprio travesseiro e fechou os olhos.

“Não chore, Gi...”

“Droga, eu não ia chorar!” Apertou o travesseiro, estreitando os olhos. “Não ia mesmo...”

Sentou-se.

“Esse não é o problema, Ginny.” Levou as mãos aos braços e tocou aonde ele a havia tocado, sentiu a sua pele novamente, o seu perfume... “O seu problema não está no que fez, mas no que poderia ter feito se ele não houvesse lhe acordado.”

Ela mirou friamente a ruiva do outro lado do espelho. Era uma garota tão tola, tão fraca... Tão diferente dela. Ou do que ela queria ser. Aquela garota não era ela... Não poderia ser. Nem ao menos era parecida. Estava longe de lhe lembrar.

Não era a Ginny que conhecia. Era uma outra Ginny. Estranha, submissa.

Ela era a Ginny errada.

E, se não pudesse ser consertada, haveria de apagá-la.

“Ela viu as palavras magoadas
que puderam tornar o fogo frio,”


Ron acabara de guardar o último copo no armário, limpo e seco. Mas havia ali algo que não esmaecera de seu pensamento, que já não era tão claro: os olhos castanhos retornaram a ele em mente, perseguindo-o.

Os olhos de Ginny.

Os olhos de Ginny, como pudera? Ron sempre fora lerdo para entender as mudanças, para perceber o que estava acontecendo, mas... Por Merlin, era Ginny! Mapeara seus olhos há muito. Já os conhecia há tanto tempo... Mas o que vira, não, isso não aparecia de uma para outra hora...

As faíscas dos olhos castanhos, feridas, ferindo. O que vira naqueles olhos afogueara seus sentidos, fizera-o ver tão claramente a escuridão em que se encontrava... Estava cego. Cego por não perceber o que se passava com Ginny. Há quanto tempo estaria perturbada a ponto de se ferir? E porque seus olhos o feriam? Talvez para acordá-lo, um pedido de socorro?

Subiu as escadas, vagaroso, e adentrou seu próprio quarto, cansado. Sentou-se na cama e passou a tirar os sapatos.

E ainda havia aquele tremor que sentira. Pensara que estaria chorando, talvez, mas não. E ainda assim, tremera. Não era frio. Medo? Talvez... Meda da guerra? Medo da morte? De Harry morrer?

Não.

Ele levou uma das mãos aos cabelos cor de fogo, confuso. Não parecia ser sobre Harry. Parecia ser algo mais. Raramente recebia notícias de Harry, mas morria, feria-se a cada momento.

Era algo maior.

“Maior que Harry?”, Ron repetiu, alarmado com seus próprios pensamentos. Desde que se dera por gente, Ginny sempre quisera Harry... E havia algo maior que ele para ela? “Ron, você está viajando. Pára com isso! Isso assusta”, advertiu-se.

Ficou em silêncio por instantes, tentando pensar em qualquer outra coisa, quando algo o interrompeu. Um zunido alto e insistente, melodioso.

Lançou um olhar sobre a cômoda e avistou o celular, tocando. Agarrou-o com urgência, mas não sabia usá-lo. Apertou alguns botões antes de dar um “alô” ao outro lado da linha.

“Alô? Alô?”

“Ron?”

“Pai?”

“Venha para o St. Mungus, agora!”

“O quê? Mas... A Ginny...”

“Deixe-a aí e venha.”

“Sozinha?”

“É!”

“Não, eu vou levá-la.”

“Só venha, e logo.”

Desligou.

Ron encarou o aparelho por alguns instantes. Seu pai estava tão estranho... Breve, frio, distante. E St. Mungus? Por que St. Mungus?

Ron vestiu um casaco qualquer, recalçou os sapatos e deixou o quarto. Abriu a porta do quarto de Ginny, derramando um filete de claridade sobre o quarto. Escorregou para dentro do recinto e aproximou-se da cama dela. Ela respirava baixinho e calmamente. Ele debruçou-se sobre ela e afastou-lhe o cabelo do rosto, pronto para chamá-la, mas se deteve.

Ginny dormia tão profundamente...

Afastou-se e seguiu de volta pelo mesmo caminho, fechando a porta do quarto com cuidado.

E partiu.

“e dar descanso às almas condenadas.”


Os olhos castanhos abriram-se assim que ele se afastou e, sentindo na pele o resquício de calor da ponta dos seus dedos se perdendo, assistiu o filete de luz ir sumindo, até que estava completamente na escuridão.

...dance comigo à luz das trevas, a dança mórbida, macabra, daqueles que já não são vivos, e afoga-me na secura dos teus lábios: quem sabe assim eu não me livro de vez dessa morta vida?...


Música de Frank Sinatra, tradução dos trechos:
1:
Eu a tenho sob minha pele, eu a tenho no fundo do coração, tão profundamente que você já é uma parte de mim (Ron)
2:
Eu tento não ceder, eu digo a mim mesma que esse caso nunca dará certo (Ginny)
3:
Mas por que devo tentar resistir quando sei muito bem que a tenho sob minha pele? (Ron)

N/A: Poema por Camões, como vocês deveriam ter imaginado. Pois é, esse capítulo teve mais action, sim. Maravilha, isso, não? Aliás, tenho uma amiga maníaca que já estava vasculhando os roteiros atrás de uma cena mais quente. Essas pessoas que não entendem os rodeios dramáticos... tsc, tcs... Mas, enfim.

A demora é culpa da minha digitadora oficial. Sério, esses escravos incompetentes... tsc, tsc...

Novidades, novidades.

1- Capítulo que vem não tem poema.
2- Os próximos capítulos serão maiores, como esse foi, e serão digitados mais rapidamente, porque serei eu quem digitarei.
3- Idéia: como eu sou uma pessoa muito [caham] ocupada [caham], eu me disponho a fazer arts das suas partes favoritas. É só comentar a cena favorita que eu desenho a mais comentada. ^^
4- Alguns dos próximos capítulos terão capas só deles, como esse teve. Gracinha, né? [erm... fui eu que fiz, mas abafa rs]

Sophia Saint Claire, bom, eu já procurei no Fanfiction.net e nenhuma fic realmente me prendeu, mas, enfim, ainda bem que está gostando. Espero que tenha gostado deste capítulo aqui também. ^^
Elizabeth Bathoury Black, engraçado e conflitante me lembra as tragicomédias de Shakespeare. Eu amo Shakespeare, mas acho que isso não vem ao caso... De qualquer forma, agora que estou de férias tenho todo o tempo do mundo pra ler... E pra escrever!
Bruna F., sim, seria estranho eles ficarem juntos, mas a estória tem vida própria, e vamos ver no que vai dar. E, realmente, ninguém comenta lá no A3V. Isso é meio desestimulante, mas como eu sou uma mula manca teimosa, eu continuo escrevendo.
°Srta. Black°, ah, sim. Eu já me acostumei com as suas ameaças. Não se preocupe, essa vai até o final... Fora do PC, já estou escrevendo até o sexto capítulo. Então não precisa me jogar praga, que tá indo. Juro!
lizandra oliveira, é, eu também gostaria que no final tudo acabasse bem... Mas eu nunca acabei bem um drama, que eu me lembre. Vamos ver no que isso vai dar... *clima de suspense, mode: on*
Evelin Lovegood Black, é, acho que nós somos dois membros do Mentes Insanas Corporations, mas... Fazer o que, oras? É condição de nascença! E ainda bem que gostou do vídeo. Deu um trabalho danado...
RaFael_MaRvoLo, orra, rapaz! Tô postando, tô postando...

Ufa, quanta gente. Valeu por comentarem. Quem não viu o vídeo, é uma boa idéia ver... (na verdade, não faz muita diferença, mas eu bem que gostaria rs).
E... Só.

No próximo capítulo...

“Os amigos também amam.”
“Sim, mas...” Hermione rolou os olhos. “É diferente, Ron.”
Ele desviou o olhar para algum ponto do vidro, tendo total consciência de que não via exatamente aquilo que estava em frente aos seus olhos.
“Nem tanto.”
A garota o examinou, uma das sobrancelhas arqueadas.
“Você tem algo a me dizer, Ron?”


Até o fim de semana, amigos! o/

Compartilhe!

anúncio

Comentários (0)

Não há comentários. Seja o primeiro!
Você precisa estar logado para comentar. Faça Login.