Tristes Resoluções
Capítulo Vinte e Cinco – Tristes Resoluções
Sabem de uma coisa? Eu nem suspeitava de que Snape pudesse ter um lado família como aquele que eu tinha visto. Eu imaginava que os sonserinos todos fossem perfeitamente felizes com suas famílias sádicas e assassinas de nascidos trouxas. Black estendeu a mão para a carta fatídica e largou a de Malfoy sobre a mesinha da sala comunal, a qual eu nem me interessei em ver naquele momento.
Ele ia franzindo a testa conforme lia, e quando terminou, parecia tão abobalhado quanto eu, embora a seu modo presunçoso.
-Se eu não conhecesse bem a letra do Seboso e não soubesse ver que não tem nenhum feitiço nesse papel... Eu nunca acreditaria que ele escreveu essas coisas. – Black murmurou.
Enquanto ele murmurava coisas nesse sentido, voltei à realidade e estendi a mão para a carta de Malfoy.
“Lúcio,
Ainda bem que as coisas saíram dentro do esperado. Fiquei decepcionado mesmo quando soube que Potter havia sobrevivido, mas se o Lord disse que em caso extremo de encarregará pessoalmente dele e dos outros grifinórios, já me sinto mais tranqüilo. Principalmente pelo fato de ele estar confiando tanto no nosso trabalho. Eu disse que eu deveria ter ido também. Mas você tinha que insistir para que eu ficasse de olho naqueles dois idiotas, não é? A Sangue Ruim Evans veio me importunar. Estava louca, querendo que eu confessasse que fui o mandante da tocaia a Potter. Achou sinceramente que seria capaz de vencer em um duelo, e eu acabei tendo que mostrar pessoalmente a ela. Não, infelizmente ela ainda está inteira, eu apenas a assustei. Mas tenho certeza de que surtiu efeito.
Severo.”
Se aquilo não fosse suficiente para dar um bom chute nos traseiros de Snape e Malfoy, eu não sei o que poderia ser. Mas, ao mesmo tempo, aquela carta era preocupante demais. Eu sabia que expulsá-los não seria o suficiente para nos manter seguros. Sim, porque pelo termo “grifinórios” eu tinha entendido perfeitamente que eles deveriam estar se referindo a mim também. Talvez a Black e a Remo também, não tive certeza. Mas sem dúvida nós estávamos na lista negra deles.
-Então... – eu murmurei. – vamos entregar as cartas ao diretor agora...?
-Você enlouqueceu, Evans? – Black retorquiu, como se eu tivesse dito a maior asneira deste mundo. – Está querendo que Snape nos espere na Torre da Grifinória com uma maldição pronta pra lançar na gente? Acorda, garota, se entregarmos isso antes que os outros voltem de férias eles vão saber que fomos nós que pegamos as cartas. E Malfoy já está de olho na gente. Principalmente em você.
-Eu sei – repliquei, me levantando e andando em círculos. – Mas ainda falta muito tempo! Eles podem pegar qualquer pessoa nesse meio tempo!
-Eu também sei disso – Black retrucou. – Mas se estamos querendo ajudar, precisamos estar vivos para isso, não acha? Se você está com tantas dúvidas acho que é melhor eu guardar essas drogas dessas cartas. – acrescentou, entendendo uma mão para os papéis.
-Não! – exclamei, impedindo-o. – Está bem. Eu guardo. MAS assim que os outros voltarem vamos entregá-las ao diretor, certo?
Black fez cara de criancinha sob uma ordem dos pais.
-Está bem, mamãe. – respondeu, com voz de falsete.
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Depois da decisão, só restou deixar que o tempo passasse. Para não ter que ver a cara presunçosa de Snape todos os dias, sempre me atrasei para as refeições. Até porque acho que seria esquisito olhar para ele sabendo que ele tinha uma relação tão... normal... com a mãe dele.
É sério! Eu sempre tinha imaginado que ele e os outros Comensais da Sonserina eram filhos de famílias de sangue puro cujo grande orgulho existiria apenas de vê-los servindo a Você-Sabe-Quem. E pela carta de Snape para a mãe dele, com exceção da parte em que ele mencionava Sangues Ruins, tava até pra suspeitar que os pais deles não soubessem a quem ele estava se juntando. Afinal de contas, ele não parecia falar muito com o pai. Se Snape realmente o odiava, como dissera no pergaminho, provavelmente ele estava se tornando um Comensal apenas para ter mais poder e assim ser capaz de destruir o pai. E pensar que tudo isso era exclusivamente por gostar da mãe dele.
A carta dele tinha me surpreendido sim, mais do que eu imaginei. De certa forma então, ele não estaria entre os Comensais da Morte, em breve, apenas por sede de poder, como qualquer outro sonserino. Mas ele agia sempre de uma forma tão detestável, irritante e convencida que eu simplesmente não conseguia imaginá-lo com sentimentos tão nobres. Afinal, amando ou não a mãe, ele ainda era Severo Snape, a eterna vítima dos Marotos.
Os últimos tempos de férias foram mais tranqüilos, principalmente por essa minha fuga de mais encrencas. Quando não estava com a cabeça ocupada com divagações dos sonserinos sendo expulsos, ou terminando os meus deveres de férias, estava chutando alguma coisa ou destruindo alguma almofada, porque estava me lembrando de Potter.
De início, eu até havia conseguido parar de pensar nele. Na decepção dele. Por que ele não podia simplesmente parar com aquelas atitudes infantis? Eu não estava disposta a ser alvo dos seus joguinhos. Vocês já conhecem boa parte da minha história, e sabem que eu sempre detestei quando ele me tornava parte das suas brincadeiras, seja quando eu tinha que pará-lo no meio dos corredores, seja quando ele fazia aqueles joguinhos de sentimentos comigo. Tudo estava muito bom, muito engraçado, enquanto não estavam me atingindo de verdade. Agora simplesmente aquilo me machucava. Ele era infantil demais, nunca cresceria. Eu não conseguia ver futuro naquilo!
Por tudo isso e por praticamente ter esquecido minhas ótimas armações na época do Natal para cima dos seguidores de Você-Sabe-Quem, eu estava um pouco pra baixo, um pouco triste. Chegou então o dia em que o trem voltaria com todos os alunos. Afinal, eu ainda tinha um bom pedaço do ano letivo para cumprir.
Onde me esconder de Potter? Seria horrível encará-lo de novo, e eu ainda não me sentia pronta. Ele devia estar pensando que tudo que deveria fazer era chegar de braços abertos, rindo da minha estúpida fidelidade. Se aquilo não tivesse custado todo o critério que eu sempre tive, deveria ter beijado Black mesmo, para que ele se tocasse que não era tão fantástico assim.
Bem, o único lugar onde ele não poderia me seguir era o dormitório feminino. Então, era lá que eu ia ficar. Pela janela, fiquei observando os alunos chegando dentro das carruagens, e minha respiração acelerou. Os alunos começaram a entrar no castelo. Ah, como seria bom rever Alice, eu estava precisando mesmo contar tudo pra ela... Já estava mais do que na hora... Mas que seria difícil de dizer, seria. Bem, eu devia já ter alguma preparação em falar coisas difíceis. Afinal, se eu já conseguira pedir ajuda a Sirius Black, com certeza eu conseguiria contar à minha melhor amiga que eu estava... Ah, está bem, eu não preciso ficar repetindo o tempo todo, não é?
A porta do dormitório se abriu e Alice e as outras meninas entraram, me cumprimentando sem muita animação. Voltar de férias era sempre entristecedor.
-Olá – respondi a elas. – ah... Alice... eu acho que...
-...a gente precisa conversar? – ela completou pra mim.
-É – confirmei, mas estranhando. – Como você sabe?
Alice abriu a boca para falar, mas hesitou perto das outras meninas. Amy, uma delas, percebeu e tratou de nos deixar sozinhas.
-Antes de mais nada, por que você ficou me esperando aqui? Poderia ter ido me encontrar lá fora.
-É que... Ahn... Eu não queria... – não era por aquela parte que eu tinha planejado começar.
-Não queria ver o Potter, não é? – ela completou de novo. O dom dela pra adivinhar as minhas frases era muito útil quando eu ficava travada. Apenas assenti em resposta.
-Sei. Agora acho que você pode começar a história. Mas posso sugerir onde ela começa? Na primeira vez que embarcamos no Expresso de Hogwarts, nós estávamos conversando e um moleque de olhos castanhos e cabelo rebelde esbarrou em você e ficou te olhando feito um bobão.
Eu, que quase não me lembrava mais daquilo, abri bem os olhos.
-Oh, não, demoraria muito pra chegar na parte interessante – repliquei, com voz resignada. – O começo interessante foi no baile de Natal...
Segui contando o que tinha acontecido, e como de repente eu estava rendida nos braços de Potter. Alice me olhava, enternecida, como se eu estivesse narrando um conto de fadas. Finalmente, quando acabei de falar sobre aquela noite, ela murmurou:
-Sabe, a história é mais bonita do que eu imaginava... E por que afinal vocês não estão juntos? Por que não quer vê-lo?
Foi aí que entrou toda a parte que falava das férias de ano novo, e da minha décima decepção com ele. Alice ficou calada por um momento e depois disse:
-Não vou dizer que não foi uma atitude de trasgo mesmo. Mas sabe, Lílian... Você vai acabar tendo que falar com ele.
-Eu sei – repliquei, ansiosa. – Mas eu queria retardar ao máximo... Vai ser horrível...
-Eu acho que você não devia desistir de tudo assim tão de repente. Principalmente agora que toda Hogwarts está sabendo de vocês.
-O QUÊ?
-No trem – contou Alice. – Potter espalhou pra quem quisesse ouvir que estava com você. Teve gente que duvidou, claro, sabendo do passado de vocês dois, mas a maioria que também sabia dos seus antecedentes acreditou, dizendo que tanta raiva só podia estar disfarçando amor.
Mais sangue foi martelando na minha cabeça. Mais raiva foi subindo.
-Eu. Não. Acredito. Que. Ele. Fez. Isso.
-Ele fez. E Frank inclusive foi um dos que acreditaram. Aliás, Malfoy e alguns outros trouxas da Sonserina riram de quem duvidava. Agora estou vendo que foi porque eles te viram juntos.
-Então quer dizer que além de me fazer de brinquedinho, de teste de reações, Potter ainda ACABOU com toda a minha reputação em Hogwarts?? – perguntei, incrédula.
-É... Mais ou menos isso. – Alice resmungou, prevendo minha ação seguinte.
Ação essa que foi me levantar, abrir a porta do dormitório feminino com estrondo e sair correndo em direção à sala comunal. Não estava vendo nada diante de mim. Apenas queria descarregar toda aquela raiva e toda aquela tristeza em Potter mais uma vez. Ele tivera a sua chance, e jogara pela janela!
Cheguei à sala comunal em poucos segundos; ali estava Potter, me olhando com seu sorriso afetado, como se nada nunca tivesse acontecido. Por um momento, perdi o controle e acabei olhando bem fundo nos olhos dele, de uma forma que eu não ousaria repetir tão cedo, e senti aquelas coisas malucas que todo mundo que se deixa cair no... ahn... nisso, sente todas as vezes que vê uma pessoa.
-Lílian! – ele exclamou ao me ver, correndo até mim enquanto eu sentia os olhares de outras pessoas sobre nós. Merlin, diga que ele não está querendo me beijar diante de todo mundo, por favor... – Como é bom ver você...
Então ele se inclinou, com aqueles olhos castanhos fixos em mim, e ninguém sabe como foi horrível me esquivar. Ele me olhou, confuso.
-O que foi?
Não respondi, apenas continuei andando, na direção do retrato da Mulher Gorda. Eu sabia que ele me seguiria e foi o que ele fez. Saímos da Grifinória, e a princípio eu tentei um tom calmo de voz, mas sob o olhar dele eu sabia que estava tremendo e tentando parecer segura.
-Você deveria saber. – falei, ríspida. – Seu amiguinho Black não disse? Caso ninguém tenha lhe dito, eu não sou troféu, não sou peça de um dos seus joguinhos... – contei as coisas nos dedos, parecendo ter mais o que dizer, mas com certeza não tinha. A ansiedade estava fugindo com as minhas palavras e observações ácidas.
-Lílian... – ele murmurou. – Não vá me dizer que você se ofendeu mesmo com aquilo... Afinal, foi só uma brincadeira à toa, temos coisas muito mais importantes para... Você não gosta de mim, Lílian?
Pronto. Aquela era a pergunta. Eu não sabia mentir. Não enquanto o olhar dele estivesse sobre mim. Mas eu precisava. Estava hesitando demais, ele poderia perceber o que eu estava pensando! Seria horrível dizer aquilo... Mas eu precisava.
-Não – respondi, olhando pro chão.
-Repita – ele disse, segurando o meu queixo e chegando muito perto. Eu não vou conseguir fazer isso. Ele está olhando pra mim! Vejam como o rosto dele está próximo! Eu não posso... Eu não posso...
-Eu não posso... – acabei dizendo de verdade, me afastando. Droga, tudo que eu queria era beijá-lo naquele momento. Mas eu não podia. Ele simplesmente não era a pessoa. Eu tinha que passar por aquilo se quisesse pôr um ponto final logo naquela história. – Potter, me deixa em paz. Você não... Ah, seu idiota... Me deixa em paz! – concluí meramente, sabendo que tinha sido algo terrível de se dizer.
Ele fez uma cara horrível. Como se eu tivesse partido os sentimentos dele. Mas nem naquilo eu conseguia acreditar! Se tudo antes fora fingimento, por que aquilo não seria? Ele havia me soltado, mas continuava me olhando. Fixamente.
Potter estendeu as mãos devagar, e eu não sei onde havia ido parar a minha coordenação motora quando ele passou os braços pela minha cintura. Ele estava de novo fazendo aquilo... Não, dessa vez eu não podia deixar...
Soltei-me de novo, e imediatamente senti sua falta. Ah, que droga, vejam como essa coisa toda me deixou melodramática! É tudo culpa dele, tudo culpa dele... Eu tive que me afastar e eu me afastei.
Não consegui dizer mais nada. Nem ele, pelo que pareceu. Virei as costas e saí andando na direção da biblioteca. Eu precisava ficar sozinha. Queria simplesmente esquecer de tudo, acordar de manhã e não lembrar de mais nada. Como resultado, passei todo o dia enfiada no meio dos livros. Quando eu já estava com os olhos ardendo, vi Alice entrar e se sentar do meu lado.
-Potter está péssimo, Lílian. – ela me contou. – Parece que foi atropelado pelo trem da escola. E você não está muito melhor – acrescentou, me examinando.
Continuei em silêncio e fechei o livro. Alice não estava colaborando para a minha estratégia de esquecer.
-Vocês se gostam, Lily – insistiu ela, inconformada de me ver daquele jeito. – Não sei se isso é um problema tão grande. Olhe pra mim, não desvie. Eu não vou te fuzilar, só estou conversando com você. Escute: você está desistindo dele antes mesmo de tentar. Isso não é a atitude que eu esperaria de uma grifinória como você.
Ergui a cabeça lentamente.
-Eu tentei, Alice. Merlin sabe que eu tentei.
-Você só tentou esquecê-lo – ela me cortou. – Por que tanto medo de dar certo com ele?
-Porque nunca daria. Seria tempo perdido. Você o conhece, Alice. Mas eu vou esquecer. Tive uma idéia.
Minha amiga ergueu a sobrancelha, sabendo que depois disso não sairia nada muito sano da minha boca.
-Diga.
-Eu vou namorar outro. Firme. E será você quem vai me apresentar a alguém.
Alice revirou os olhos.
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