-Os dias passarão por suas asa
-Os dias passarão por suas asas-
Foi levado para dentro... nunca imaginou como o sofá mais próximo da entrada estava tão longe.
-Harry? Como?- perguntou Lupin, mesmo sabendo que ele não responderia.
-O senhor está de volta.- bufou gravemente Monstro.- Ele conseguiu fugir novamente...- disse mais baixo.
Mas ele não conseguia falar, nem se moveu ao ouvir as palavras do velho elfo, foi sacudido por um acesso de tosse sangrenta, Lupin o olhava com preocupação, o deixou por instantes e foi até a lareira, Harry não se deu ao trabalho de ouvir, seu corpo gritava em protesto, a exaustão o vencendo, sua consciência ia e vinha, sentiu a cabeça pender.
-Enervate!
A sua frente estava Dumbledore, devia ter passado direto pela lareira, se olharam por um instante, Harry estava cansado demais para sentir medo, vergonha, raiva, estava apenas jogado naquele sofá, repetia pra si mesmo como se não acreditasse “Estou vivo! VIVO!”.
-Preciso que me conte o que aconteceu Harry... onde esteve.
-Precisamos leva-lo a um lugar para cuidar dessas feridas...- interrompeu Lupin.- Ele está muito mal...
Em algum lugar na mente de Harry estava arquivada uma lembrança de situação semelhante, foi quando Voldmort retornara, Sirius queria que ele descansasse, em vão, daquela vez havia contado tudo a Dumbledore, e agora, em nenhum momento pensou em se negar a falar, por pior que fosse... por mais doloroso e humilhante que a experiência tivesse sido, o problema dessa vez é que simplesmente não conseguia articular palavra alguma, tal dor havia em sua garganta, ele tentou mover os lábios, mas não tinha forças, sussurrou, sua voz parecia estranha até pra si mesmo, como se pertencesse a outra pessoa, de tão rouca que estava, ele mal conseguiu pronunciar.
-A corrente... era chave... Malfoy... Voldmort.
Viu Lupin arregalar os olhos.
-Queria... queria saber...
Foi sacudido por outro acesso de tosse, se engasgou, não tinha forças para erguer a cabeça.
Foi quando Dumbledore pôs a mão em seu ombro, fez um enorme esforço para erguer a cabeça e olha-lo, Que falta fazia o calor de Fawkes naquele lugar, Dumbledore parecia muito preocupado, falou gravemente:
-Já sabíamos da chave, ela o levou direto até Voldmort?
-Sim...
Dumbledore olhou-o longamente, e Harry não conseguia saber o que ele poderia estar pensando, mas percebia sua decepção, sim Dumbledore parecia imensamente decepcionado, com o quê Harry não pode precisar, mas ele fez o esforço, queria falar, precisava.
Foram as palavras mais dolorosas e amargas de sua vida, relembrar cada segundo de medo e dor que passara, sendo torturado por Voldmort e Belatriz... mas ao contrário daquela primeira vez a dois anos, cada palavra não o livrava de algo ruim, venenoso, e sim o envenenava mais, com ódio, cada memória o deixava com mais raiva, mais ódio.
-Mas...- finalmente Lupin conseguiu falar.- Mas a profecia?
Dumbledore afirmou com a cabeça, o segredo partilhado em três, Harry virou o rosto, Lupin tremia visivelmente, chocado, olhando-o com total espanto.
-Isso... isso é insano Dumbledore! Porquê? Porquê... o que diz essa profecia?
Dumbledore olhou de Harry a Lupin e disse gravemente:
-Creio que Harry decidiu não partilhar seu destino com ninguém...
-Mas... – disse Lupin desabando na poltrona próxima.- Mas... como...
Ficou em silêncio, não imaginava como Harry ficou grato por ele não insistir, se soubesse, se mais alguém soubesse do conteúdo da profecia estaria como ele mesmo, não conseguindo acreditar que saíra vivo.
-Voldmort descobriu que Harry tem alguns poderes escondidos, ficou muito curioso, principalmente se nos lembrarmos do recente duelo entre Harry e Belatriz... – disse Dumbledore pensativo.- Devo imaginar o quanto ele deve estar surpreso com sua nova fuga.
Harry sorriria se não doesse tanto, mas Voldmort estava furioso, ele sabia pelo latejar em sua cabeça, podia ser pior, estava tão amortecido pela dor que a da cicatriz era a que menos o incomodava.
-Precisamos tratar esses ferimentos.- Falou Lupin.
-Ele não tem condições de ser removido.- sentenciou Dumbledore. –Isso é um problema. Não podemos leva-lo ao StMungus... não com o que desconfiamos que pode acontecer...
-Mas a escola?- Perguntou Remo esperançoso.
-Seria difícil nessas condições. –disse Dumbledore.
Eles podiam pensar mais depressa, pensou Harry que olhava suas mãos apoiadas em seus joelhos, haviam cortes horríveis nos pulsos, onde a corda que o prendia a cadeira penetrara na carne, sua roupa estava empapada de sangue, sentia frio tremia, tossiu novamente.
-Mas alguém que possa vir... Morgan?
-Trabalhando... como os outros.
-Voldmort sabe de Morgan...- disse dolorosamente. -Sabe do véu...
Dumbledore o olhou, balançou a cabeça, levantou-se, Harry não percebeu o que ele disse, teve a impressão de ter adormecido, mas captou as últimas palavras:
-...sabemos se ele terminou, talvez não, ou Harry não teria voltado...
-Mundungo disse que os ingredientes pedidos foram entregues...
-Esperemos que esteja engando.
-Não está.- Harry disse muito lúcido ao entender o motivo da conversa, sobre as Jinkis, lembrou do que vira. - Eu os vi...
Dumbledore e Lupin se viraram para ele, mas Harry agora falava mais claramente que antes, tomado de um ódio que se acumulara, como se não sentisse mais nada:
-Eu os vi sim! Reconheci! Embora nunca os tenha visto assim... eram eles tenho certeza! Eu sei! Ele os copiou! MALDITO!- se levantou.- Pra quê?! Por quê?! DESGRAÇADO!- estava tremendo, de pé.
-Harry... - Lupin se aproximou assustado.- Não se mova, não se exalte.
-Não se exalte?!- ele falou mais alto.- Voldmort copiou meus PAIS! Você não quer que eu me exalte! Eu não vou! Imagine! -Harry tentou se controlar, não queria, não podia gritar, sabia, mas era dor demais.
Ele parou, olhou para Dumbledore, ficou com vergonha, mas aquele ódio era grande demais, ele precisava desabafar, arrancar de dentro, ou ia explodir, virou-se ainda tremendo, estendeu a mão para o encosto da poltrona ao lado, suas pernas pareciam recusar-se a sustentar seu peso, ofegou dolorosamente.
-Harry...- disse Lupin.- Você deve ter se enganado...
Os dedos dele afundaram no encosto de raiva:
-Eu não me enganei! eu VI! atrás de Voldmort! Com as roupas pretas!- sua mão tremia, agarrada ao encosto da poltrona.- Como comensais! DESGRAÇADO! Como ele pode?! COMO ELE PODE FAZER ISSO!!!
-Harry... - foi Dumbledore que o chamou.
-MALDITO! MALDITO! EU QUERO QUE ELE MORRA!!!
Foi quando a poltrona se incinerou sob as mãos de Harry, como se o ódio dele passasse para o móvel como uma imensa chama, a poltrona pegou fogo, brilhou e se consumiu, Chegou a escutar a exclamação de Lupin, mas sem apoio arcou para frente.
Estava fraco demais, foi Lupin que o segurou pelo peito, ou ele iria cair para frente, não pode agradecer, foi sacudido por outro acesso de tosse, mas dessa vez não conseguia parar, escutou um movimento, palavras, mas sua tosse o impedia de escutar, sua cabeça zunia, estava se sentindo mortalmente fraco, como se algo nele tivesse se consumido junto com aquela poltrona, o cheiro do móvel queimado, da madeira, infestava a sala, algo se chocou com ele, se tivesse forças teria gritado de dor:
-Harry!Harry!- chamou Hermione segurando o rosto dele.
-Ele não vai conseguir responder!- disse Lupin aflito.
-O que está havendo?- perguntou Morgan.
-Larga ele Mione!- disse Rony.
-Como vocês ficaram...- começou Lupin.
-Certas medidas são mais urgentes que respostas Morgan.- respondeu Dumbledore.
-Parece grave.- interviu Snape.
-Vamos cuidar disso.- Disse Morgan.- Lupin! Weasley! Carreguem ele pra cima! Severo! Granger! Vão fazer as poções! Andem!
Seria estranho observar aquele grupo trabalhando se ele pudesse se dar ao luxo, mas ele mal sentiu Rony e Lupin o erguerem...
Algo ardeu em seus tornozelos feridos... queimou, o mesmo aconteceu com os joelhos, os braços, o peito, os pulsos... ele sentiu um cheiro adocicado no pano que cobriu seu rosto, era como se estivesse semi-adormecido, escutou a voz de Snape dizendo que seria necessário fazerem mais poções... Rony afirmando que Lupin já avisara algumas pessoas, Morgan mandando-os sair e pedindo ajuda para Hermione lhe passar as ataduras, e as fungadas doloridas da garota.
E foi tudo antes de voltar a desmaiar...
Antes de tudo, ao sentir-se consciente, moveu os dedos da mão direita...
pareciam meio rígidos, sentiu o braço, ergueu-o, tirou o pano sobre seu rosto, estava no antigo quarto, aquele que não dividira com Rony no começo do ano por causa da briga... olhou suas mãos, estavam arranhadas mas limpas, os pulsos estavam enfaixados, ele tentou sentar, estava fraco, as cobertas escorregaram, eram muitas, umas cinco, ele estava só de cuecas, joelhos e tornozelos enfaixados e horríveis manchas negras por todo o corpo, se esforçou para levantar, quanto tempo estivera dormindo?
Ao lado havia um pijama, limpo, nem sinal de suas vestes... vestiu as calças, se pôs de pé, olhou-se no espelho, era uma visão da morte, nem ele percebera que estava tão magro, devia se cuidar mais, mas estava novamente pálido como um morto, havia manchas roxas sob os olhos, nem dava para chamar aquilo de olheiras, procurou os óculos em vão, se aproximou mais do espelho para perceber que havia uma pequena mecha de cabelos brancos próxima a têmpora, parecia ter sido surrado, não havia parte do corpo onde não tivesse hematomas, deu uma tossida fraca, se virou para pegar a camisa do pijama quando alguém abriu a porta:
-Não devia estar de pé, querido! -disse a Sra Weasley.- Volte a deitar...
Ele se virou, a sra Weasley o olhou com cara de choro, mas deu um sorriso tímido.
-Faz quanto...
Foi interrompido por Monstro que entrou no quarto pelo vão:
-O senhor está de pé.- ele bufou.- está de pé enfim... que pena.
-Saia desse quarto monstro. Agora.- disse a Sra Weasley séria.
O elfo nem deu ouvidos, olhava morbidamente para Harry, algo que o deixou muito incomodado, imaginou imediatamente o quanto tinha sido duro para Sirius suportá-lo.
-Vá para seu quarto Monstro, vá descansar por hoje. Ande!- Harry falou rouco.
Uma ordem direta que não foi ignorada, o elfo saiu:
-Descançar... Monstro não descansa... não com ele vivo...
Molly deu um muxoxo e olhou tristemente para Harry.
-Deite-se Harry, nem imagino como está de pé, as poções deviam fazê-lo dormir pelo menos até a tarde... Vamos, não são algumas horas que vão lhe curar...
Ela o reconduziu maternalmente a cama, ele nem conseguiu protestar, disse que mandaria alguém para conversar com ele, uma mentira deslavada, queria que ele dormisse, lhe virou um líquido doce e frio garganta abaixo e saiu deixando um sorriso confiante da porta, como ele mesmo imaginou logo ficou sonolento, foi quando os amigos entraram, provavelmente achando que ele dormia, Hermione o olhou nos olhos, nem conseguiu sorrir, mas ele sorriu:
-Como vocês dois vieram parar aqui?!
Os dois se olharam, sentaram na cama ao lado, mas pareciam ter medo de falar, ele lançou um olhar mais expressivo, foi Rony que começou:
-Depois de levar um susto vendo você sumir na nossa frente? Bem a gente não esperou em correr para prof Dumbledore...
-Ele estava ocupado... -disse Hermione.- Algo da Ordem...
-A profa Minerva ficou muito preocupada...
-Mas ele chegou... então parecia muito preocupado também...
-Tentamos convocar você a noite inteira!
Ele fechou o senho, na verdade estava ficando com mais sono, Mione explicou:
-Uma magia complicada para dizer onde você estava... tentamos com tudo!
-Usamos até sua Firebolt!- Rony arregalou os olhos.- Mas nada de sinal seu...
-Pensávamos... -ela soluçou.- Pensamos...
-Mas Lupin apareceu na lareira... disse que você estava no Largo!
-E muito mal....
-Dumbledore passou direto pela lareira!
-E nos deixou pra trás...
-Esperamos um pouco com a profa Minerva!
-Então Morgan e Snape apareceram, pra deixar um relatório...
-Ela parecia muito preocupada, veio atrás...
-Aproveitamos pra vir também...
-Só a profa Minerva não veio...
-Vocês parecem o Fred e o Jorge falando assim... - sorriu sentindo as pálpebras pesarem, tossiu novamente.
-Você devia estar dormindo!- censurou Hermione preocupada.- Harry você tava muito mal...
-Você foi mesmo até o ...
Harry estava muito mais sonolento, piscava de leve, mas balançou a cabeça confirmando.
-O que te aconteceu? Como fugiu?
-Acho que vou agradecer a Mione o resto da vida por ter feito aquilo...
pra ser...mos... ani...
Adormeceu, mas ainda sentiu os braços de Mione o envolverem...
"Estava em um lugar muito frio, tremia... sentia a presença a sua volta... podia ver aqueles olhos:
-Vá embora, me deixe em paz...
Mas ele estava acompanhado por mais... mais pessoas, três mais a frente... Harry recuou, não estava em condições de lutar, ainda estava fraco.
-Com medo Potter?!
-Covarde! Eu não tenho medo de você... nem desses...
-Tem certeza? Que não tem medo deles?- os olhos se aproximaram.- Não tem medo?
-Eu não tenho...
-Não tem medo do que essas máscaras podem esconder?
-Como assim?
Dois comensais se adiantaram... puxaram as máscaras, Harry balançou a cabeça:
-Não são eles! São cópias!
A mulher sorriu, tinha uma expressão entre a alegria e tristeza, chorava, mas sorria...
-Vem filho...
-Não... você não é ela!!!
O homem sorriu, eram tão parecidos...
-Adeus filho...
-Não!!!
Ele o olhou ainda sorrindo, Voldmort se virou para sair:
-Eu vou ficar olhando ainda... por enquanto...
-SEU DESGRAÇADO!!!
-Para não partirmos sem deixar uma lembrança...
O terceiro comensal se adiantou, tirou a máscara...
-Não... ela não...
-Oi Anjo...
-Vá embora...
Voldmort riu:
-Sabe o melhor Potter? Eu já fiz ela também..."
-Não...
Acordou apertando uma dor imaginária, e ao mesmo tempo muito real no peito, não queria saber, não queria acreditar, mas foi envolvido por braços carinhosos:
-Que foi? Pesadelo?
Mione tinha sentado na cama, e de algum modo o fizera deitar a cabeça em seu colo, agora, que ele sentara assustado, ela o abraçara por trás.
-Que foi Harry?
Ele se afastou devagar, sentindo-se muito mal, muita coisa na cabeça, mas a visão de Ana martelando na memória, "não é ela...", então se ergueu num ímpeto e atravessou pela porta correndo, Mione assustada atrás, ele mal passara da porta para a escada e seu olhar cruzou com o de Lupin e Thonks que subiam devagar, e pararam o olhando martirizados, atrás o Sr e Sra Weasley.
-Harry... precisamos lhe falar...- começou Lupin.
-O que está havendo?- perguntou Rony ansioso.
-Ele a pegou...- Harry disse baixo.
Lupin lhe olhou e concordou com a cabeça.
-Foi essa noite... acho que quando você... –Começou Thonks com uma expressão de abatimento que não combinava com ela.
Ele sabia que estavam olhando para ele, “Meu amo eles chegaram com a encomenda.” lhe passou pela cabeça, sabia que qualquer reação seria aceita, se gritasse, chorasse, desmaiasse, fizesse qualquer coisa os olhares a sua volta pareciam estar prontos, olhavam para ele, para a sombra do que podia ser um jovem de dezesseis anos, com os punhos fechados, olhando-os com um ar indecifrável... se virou e voltou para o quarto, despindo a camisa do pijama, abrindo o guarda-roupa, catando umas roupas velhas, coisa que abandonara por ali...
-O que você está fazendo?- perguntou Lupin.
-Qualquer coisa... vou fazer qualquer coisa...
-Você tem que descansar...
-Não vou ficar aqui quieto com isso!!!
Na porta estava Lupin, que o seguira, no corredor estavam os outros, todos ouvindo mas sem coragem de se intrometer.
-O que você está falando? Você não pode sair daqui!
-Eu posso sim!
-Você vai fazer uma enorme besteira!
-Se vocês pensam que vou ficar quieto enquanto Voldmort mexe com os que são importantes pra mim estão enganados!!!
Remo lhe desceu a mão, o tapa foi suficiente para o Sr e Sra Weasley se aproximarem, chamando por Lupin, mas ele parecia muito alterado, pela primeira vez, Harry o viu com um olhar dolorido, ele disse bravo:
-Foram exatamente essas as últimas palavras de Sirus antes de sair daqui para o Ministério!
Foi Thonks que o puxou de leve, e olhou para Harry que se sentara na cama ainda olhando para Lupin.
-Harry... ir assim é fazer o que ele quer...
-Eu sei...
-Então.- ela sorriu.
-Mas eu não quero ficar aqui... sem fazer nada.
Thonks puxou Lupin para fora do quarto, Sr e Sra Weasley entraram devagar, o olhando, ele abaixara a cabeça, aturdido, ouviu:
-É difícil Harry, sabemos disso.- disse Arthur.
-O importante é ficar calmo, querido.
-Dumbledore disse pra você ficar aqui, por um tempo...
-Não!
Os dois o olharam meio temerosos, mas ele olhou os dois amigos na porta.
-Vou voltar para Hogwarts, vamos voltar. – ele sorriu para Hermione.- É melhor... assim.
Os dois amigos sorriram para ele.
Morgan apareceu pouco depois do jantar, e ficou furiosa por ele estar de pé, “Um dia não é descanso! O que eu tenho que fazer? Te dar uma surra? Moleque teimoso!”, Trocou todas as ataduras, ele estava bem melhor, só tossia de vez em quando, decidiram não usar flú por causa das condições dele, e ele não se mostrou feliz com a proposta de usarem uma chave de portal, uma repulsa aceitável, já que por duas vezes tinha sido seqüestrado daquela forma... decidiram ir de noitibus, o que quase fez Moody obrigar Harry a usar o flú.
A viagem foi calma, se é que se pode dizer que uma viagem no Noitibus podia ser calma... Harry fez questão de sentar com Lupin para pedir desculpas, foi ele que o surpreendeu, e o deixou furioso com Dumbledore.
-Eu perdi a cabeça... mas depois do que Dumbledore me contou... eu fiquei com medo que você forçasse... a “coisa”.
Harry o olhou com espanto.
-Dumbledore achou melhor me contar... os detalhes sobre... a prof...a “coisa”.
-Ele.. o quê? –Harry captou o sentido, encarou Lupin.
Lupin olhou a paisagem borrada pela janela.
-Eu não pensei... o que era... o que nunca ficamos sabendo...-ele olhou as próprias mãos.- Eu prometi não contar para ninguém Harry...- ele o olhou, havia muita tristeza nos seus olhos.- Mas você nunca devia ter ficado sabendo.
Foi Harry que desviou o olhar, era isso que evitara, com todas as forças, ao suportar o fardo sozinho, ele não queria ninguém o olhando como coitadinho, mais do que já olhavam...
-Não pense nisso Remo.-disse baixo.
Usou o nome de Remo, porque sabia que tinha o direito, Lupin ganhara uma visão de um futuro sombrio, e estava muito abalado, Harry percebeu, e ao ver isso teve mais certeza de que mais ninguém devia saber, se levantou e foi sentar com Morgan, Thonks trocou com ele, Morgan tentou anima-lo.
-Belo casal não?
Ele olhou Thonks e Lupin conversando.
-É sim, ele merece...
-Me prometa que vai se cuidar moleque...- ela disse o olhando.
-Eu sempre me cuido...
Ela riu, o noitibus parou, Harry levantou, ela segurou-o pelo braço:
-Eles estão te espionando, Harry. O tempo todo.
-Eu sei...- ele disse lembrando de Voldmort.
-Não ele... –ela disse aborrecidamente e olhou para os dois amigos que se levantaram apôs caírem no chão.- Eles... eles estão te espionando, o tempo todo... cuidado com o que fizer...
Ele entendeu, ela ficou em silêncio, saíram e estavam sendo esperados por uma das carruagens da escola.
-O que foi dito do nosso sumiço?-Perguntou Rony.
Harry nem tinha pensado no assunto, olhou Morgan ansioso.
-Dissemos que Harry tinha sido azarado à noite, e que estava na ala hospitalar, madame Pomfrey confirmou a pedido de Dumbledore, dissemos a ela que esteve no StMungus, e se ela olhar para essa sua cara vai concordar comigo que você bem que podia ficar por lá.
Harry se sentou mais calmo, e Morgan continuou:
-Mione e Rony foram liberados para ficar com você... menos hoje. É sim! Vocês vão para o dormitório, mas você- ela olhou Harry.- Vai dormir na ala hospitalar, só vai sair de lá amanhã, se eu e Pomfrey concordarmos.
Madame Pomfrey já tinha as poções preparadas, e o olhou longamente, ele não queria tomar as poções, tinha medo de dormir e ver Ana novamente, queria pensar, tentou se manter desperto, em vão, teve pesadelos a noite toda, acordou tão amarrotado quanto adormecera.
-Esse é para tarde, para fortalecer, use por três dias...- ela lhe deu o vidrinho.
-Tá.
-Esse é pra antes das refeições...- ela lhe deu outro vidrinho.
-Tá.
-Esse é pra antes de dormir.- mais um vidrinho.
-Tá.
-Esse é se os machucados coçarem... não os coce!- deu o potinho.
-Tá bem...
-Se eu souber que você não está comendo ou dormindo direito corro atrás de você e te interno!- ela sorriu.
-Entendi, entendi!- ele disse aborrecido.
Saiu despejando a farmácia nos braços de Rony, meio chateado.
-Não fica com essa cara.- disse Hermione.
-Parece que tenho seis anos! Nem com seis anos me trataram assim...
-Bem, seus tios não se preocupavam muito né não?
“Maldito né não?... deve ser de família....” pensou olhando Rony.
-Ah Harry, a gente só quer o melhor pra você... e você tá reclamando do quê?– ela disse segurando-o pelo braço.
Ele soltou-se do braço dela, esse contato com outras pessoas o estava deixando mal, ele queria ficar sozinho, pra pensar, organizar suas idéias...mas ela voltou e pegou em sua mão.
-Não seja teimoso, tente relaxar um pouco, está de volta...
-Hermione...
-O quê?
-Cala a boca.
Ela estacou ofendida, Rony disse muito chateado:
-Tá Harry, desconta sua raiva na gente!
-Não é isso!
-É sim!- ela disse triste.- Você está magoado, e furioso... eu entendo...
-Então me deixa quieto! Que saco!
Os três estavam parados no corredor, Harry não sabia o que fazer, via Rony o encarando, os remédios nos braços, Hermione fingia que olhar para a parede era muito interessante, olhos carregados... “eu me esqueci das pessoas...” eram suas próprias palavras... como conseguia ser tão grosso? Tão egoísta? Tinha que lembrar da cara de Lupin... pra saber o quanto de dor causava nas pessoas a sua volta, “ quem dera eu morresse logo, aí eles não iam sofrer...” foi um pensamento bobo, contra sua própria natureza, mas estava tão cansado, tão saturado que mal ouviu:
-Eu sei que não estou... que estou magoando vocês... mas não é minha intenção... me desculpem... me desculpa Mione... é que eu to cansado.
Ela o olhou murmurou um “eu sei.”, mas o estrago estava feito, ele apenas seguiu os amigos, no fundo bem no fundo ele estava preocupado com algumas coisas, sobre o que Lupin dissera sobre apressar as coisas... porque nunca tinha pensado nisso? Em forçar a profecia? Em ele mesmo procurar Voldmort? Lá no fundo vinha a resposta, “seria insanidade, você não tem o mesmo coração do ano passado... Voldmort está mais forte, você mesmo sabe... e se ela aparecesse? Se eles aparecessem?” E então, outra coisa surgia ainda mais fundo em seu peito, algo que o fazia tremer, mas também o aquecia um pouco... Eu prometi esperar... e ela... ela... talvez tenha voltado... nem toda ela... mas se for ela?
Isso lhe deixava angustiado, se ficasse frente a frente com a cópia de Ana, provavelmente fraquejaria, pois ela estava encravada no coração, muito fundo, muito recente , ele ainda sentia a falta dela, e Voldmort sabia disso.
“O que eu vou fazer?”pensou olhando pela janela da sala comunal, depois de mil explicações e piadas.
-Não, não vi quem me pegou...- repetiu pela décima vez.
-Foi um sonserino com certeza, Malfoy estava todo orgulhoso ontem de manhã. –falou Dino.
Malfoy... isso lembrou-lhe de algo que não questionara, como Malfoy podia estar lá, se estava preso?Ainda divagava sobre isso, sobre tudo aquilo quando Hermione quase o arrancou da poltrona ás nove e meia, como se fosse uma criança.
-Mione! Me larga!-ele disse puxando o braço, segurando a tinta com a outra mão.
-Você tem que dormir... lembra do que a Pomfrey disse!-ela o olhou séria.
Ele estava pronto para trocar um olhar exasperado com Rony ao notar que o amigo o fitava com um pouco de raiva.
-Mas eu tenho que terminar a lição, estou atrasado um monte!
-Eu ajudo você fazer amanhã!- ela insistiu.
-Mione... pára com isso, eu posso fazer a lição e ir dormir, não vai demorar...- ele disse quando percebeu uns olhares naquela direção.
-Tá, termina, vou ficar olhando.- ela sentou cruzando os braços.
Se sentiu uma criança sob o olhar severo de uma babá muito implicante... teve que se concentrar na lição, pois Hermione esticava o pescoço pra ver o que ele estava fazendo de cinco em cinco minutos, quando terminou ela imediatamente falou:
-Terminou?
-Terminei.- ele disse assoprando o pergaminho pra tinta secar.
-Então pra cama!
-Não.
-Harry, vai dormir!-disse Rony nervoso.
-Até você?!-ele olhou desamparadamente para o amigo.
-Vai se olhar no espelho.- Rony falou escrevendo no pergaminho.
Ele guardou as coisas e subiu, quando se olhou no espelho teve que dar razão aos amigos, não parecia nem um pouco melhor, ainda mortalmente pálido, sabia que não ia melhorar tão cedo... tirou a roupa na cama, protegido pelas cortinas, para ninguém ver as marcas, tirou devagar as ataduras, haviam crostas, cascas sobre a pele ferida, coçava um pouco, ele usou a pomada, as marcas dos pulsos e tornozelos eram mais fundas...
Era surpreendente que tivesse corrido meia Londres com aquelas feridas, vestiu o pijama se recostou na cama, não quis tomar a poção para dormir, não queria dormir, sabia que ia ter pesadelos, temia que os colegas ouvissem seus receios atuais, quantas vezes dormira com o travesseiro e cobertores por cima do rosto por medo de ser ouvido nos sonhos...
“ Eu gosto de voar em Bicuço apesar de tudo...
Atrás, sua companhia apenas fez um hum hum.
-Ele me lembra de Sirius...
-Você gosta dele?
-De Sirius?
-Não- apertou os braços em torno de seu peito.- Do Hipogrifo?
-Gosto sim...
-Você não gosta de muitas coisas...
-Como?
-Do que você gosta de verdade?
-Gosto de Hogwarts... gosto dos meus amigos...
-Não... do que você gosta de verdade... acima de tudo?
-Gosto de voar! -riu.- Não é Bicuço?
Começaram a descer...
-Mentiroso...
-Não... não sou não...
-Você não gosta de mim não?
-Ah... Mione eu...
-Você não disse que ia me esperar?
-Ana?
-VOCÊ DISSE QUE IA ME ESPERAR! MAS TÁ TENTANDO ME SUBSTITUIR!
-Do que está falando?
-Ah Mione...eu? EU O QUE?
-Peraí Ana!
-COMO PODE! DEPOIS DE TUDO! VOCÊ DISSE QUE ME AMAVA!
-Mas Ana...
-VOCÊ É MENTIROSO!!! NÃO TEM CORAÇÃO!!!
-ANA... você morreu...
-VOCÊ DISSE QUE IA ME ESPERAR PRA SEMPRE!!!
Uma varinha foi puxada, algo acerta a asa de Bicuço, que guincha e começa a cair tentando ganhar altura de novo, sangue espirrando da asa ferida.
-Ana o que você fez?!
-Se eu voltar... vai ser pra levar você comigo.- ela agarrou mais forte o peito dele.
O chão estava tão perto, perto."
-Ah!- acordou.
Estava olhando as cortinas em volta, mão agarrando a camisa na altura do coração que parecia querer explodir, suando frio, tremendo, pela primeira vez Voldmort não era responsável por um sonho tão angustiante... esse pesadelo era culpa dele mesmo, da culpa que sentia pela morte dela, se virou na cama, metendo o rosto no travesseiro, tenho que dormir... pensou, dormir...
-Você tomou a poção para dormir?- Hermione perguntou ao olhar as olheiras.
-Claro.
-Ele teve pesadelos a noite inteira.- disse Rony limpando a boca no guardanapo.
-Como assim?- Harry perguntou olhando para Rony.
-Ah... você meio que fala dormindo... chamou...- Rony olhou o copo.
-Chamou?- perguntou Hermione.
Rony o olhou constrangido, Harry foi sincero.
-Tive pesadelos com Ana a noite toda...- passou a mão no rosto, como se quisesse acordar.- Mas já passou, foram só pesadelos...
Hermione parecia mortificada, desviou o olhar.
Algumas coisas chamaram sua atenção, como as últimas aulas de revisão, estavam perto dos exames afinal... e a aula que ele mesmo vinha prometendo na AD, a primeira e única coisa que ele enfrentou sem abatimento, eram as aulas da AD, em breve teria que dar continuidade aos Patronos... mas antes tinha que resolver duas questões básicas que vinham lhe tirando o sono, sobre a AD, como se não precisasse de mais coisas lhe tirando o sono... novamente para resolver isso teria que esconder algo dos amigos, coisa difícil já que como Morgan o alertara, Rony e Hermione só faltavam se enfiar no banheiro com ele, coisa que Rony fazia, ele tinha muita pouca privacidade, eles o estavam tentando empurrá-lo a força pra frente, isso acabou dando em uma nova briga, mas dessa vez com Hermione, quando Rony estava ocupado dando uma detenção aos calouros, Marco entre eles.
-Não está na hora da poção?- ela disse olhando em volta.
-Não preciso mais, já deram três dias... falei ontem...- ele disse sem se desgrudar da árvore.
-Não faria mal continuar até o fim do vidro.
-Mione... - ele disse em tom de censura.
-Teimoso!- ela se encostou na árvore ao lado dele.
Não demorou para a mão dela encontrar a sua, ele afastou, ela suspirou sentida.
Mais um tempo e ela apoiou a cabeça no ombro dele, ele ficou ali, olhando o lago com ela apoiada nele, incrível como a menor demonstração de carinho por parte dela lhe gerava uma sensação de pânico.
-Harry...
-Hã?
-Posso fazer uma coisa?
-Hã?
Ela se virou, olhando-o nos olhos, se aproximou, mas ele percebeu a intenção, virou o rosto.
-Você não me deixa beijar você...- ela falou muito baixo.
-Mione... não...
Ela voltou a sentar, olhando-o triste.
-Você não é mais o mesmo...
-Nem você...- ele disse ainda mais triste.- Você mudou, fez coisas...
-Fiz coisas burras pra chamar sua atenção... - ela disse de cabeça baixa.- Mas não adianta... você...
-Ah... Mione.- ele estendeu a mão para afastar o cabelo que escondia o rosto dela.
Vê-la triste machucava, muito, era a última coisa que queria fazer, mas ele não sabia o que sentia, tamanha confusão reinava em sua cabeça, quando ia afastar o cabelo, ela levantou o rosto, se olharam , ela fez o gesto para segurar a mão dele, então o olhar dele caiu no relógio, o relógio dourado, apesar de arranhado, riscado por causa daquela noite, estava inteiro e funcionando, o relógio que era um presente de Ana, "de verdade, pra sempre" estava gravado nele, Hermione também o olhou, mas o olhar dela ficou gelado, então com muita força ela arrancou o relógio do pulso dele, arrebentando a pulseira, arranhando as feridas do pulso dele, parecia outra pessoa, parecia aquela que o atacara naquela noite...
-É isso! Isso que te envenena!!! Essa!
-Mione larga isso!- ele estendeu a mão.
-Ela morreu! MORREU! Você está vivo!
-Mione me devolve!
-Ela só te fez mal! Ela nem gostava de você o suficiente!!!
-Não fala dela assim! Devolve!
-Você prefere essa... essa morta! Essa burra!- Hermione se virou e jogou o relógio no lago.
Ele parou olhando a curva no ar, dourado como um pomo, mas então, ploft! ele caiu na água, ele olhou muito magoado.
-Mione! Não!- ele se levantou e foi até o lago entrando na água fria, mãos tateando na lama atrás do relógio.- Onde... Onde?
Mas em vão, tirou a varinha:
-Accio relógio!
Ele veio, coberto de lama. Ele ainda limpava a lama na roupa quando seu olhar se encontrou com o dela, ela estava furiosa:
-Olha pra você...
Ele estava molhado e sujo, mas o que importava? Viu com desgosto a água dentro do relógio, lama, estava parado:
-Você estragou ele! Você...
-Isso é tão importante assim? Um presente e ela comprou você? Pra sempre?!
-Não fale assim! Você não entende!
-Entendo sim! Você é um homem cruel!- ela estava chorando. -Eu amo você, mas você não tem mais coração!!!
Ele ficou olhando chocado a coruja partir para a floresta, olhou em volta, e ficou um pouco aliviado em ver que não havia gente ali fora por ser quase hora do jantar, estava tremendo, era a terceira que repetia a mesma coisa "você não tem coração", olhou o relógio em sua mão, olhou a floresta, dilacerado entre duas dores muito diferentes, o relógio caiu no chão, ele correu, tinha que ir atrás dela, a floresta era perigosa, mesmo para uma coruja, varinha em punho, estava passando pelas primeiras árvores quando algo segurou:
-Calma aí rapaz!-disse Hagrid.
-Hagrid! Me solta!
-Onde você pensa que vai?- disse ele ainda o segurando pelas vestes.- Está molhado... o que aconteceu?
-A Mione entrou na floresta! Temos que procurá-la!
-A Hermione na floresta?- Hagrid riu.- Ela nunca entraria aí sozinha...
-Nós brigamos, e ela... ela ficou furiosa...- ele puxou as vestes com força bravo.- Temos que procurá-la!
-Brigaram é?- disse ele olhando-o.- Tem certeza que ela entrou na floresta?
-Tenho! Vamos Hagrid me ajude!
-Tá fique aqui...
-Não! Eu vou!
Disparou para a floresta com Hagrid atrás, chamando por ela... estava tão preocupado que foi se embrenhando cada vez mais... se ela acabasse perto do ninho de Aragogue? Ou topasse com um Testrálio mais faminto? Ou se perdesse... ele corria.
-HERMIONE!!! MIONE!!!
Ao longe escutou Hagrid a chamar, mas chamá-lo também.
-MIONE!!!
Reconhecia aquele trecho, ia até uma clareira... foi onde viu o unicórnio morto, não quis relembrar o vulto de Voldmort, a primeira vez que o vira...
-HERMIONE!!!
Sua voz falhou, ele não estava totalmente recuperado, tossiu mas continuou:
-MIONE!!! MIONE!!!
Chegou em um olho d'agua, nunca tinha ido tão longe, ofegou, tossiu, escutou a voz de Hagrid muito longe.
-HERMIONE!!!
-Por favor não se machuque... MIONE!!!
Ele continuou andando... se eu desse atenção... orelhas atentas para qualquer barulho... se eu falasse com ela... seus passos vacilavam... é minha culpa se ela se machucar...
Isso tinha um gosto amargo de memória, ele se forçou a continuar gritando, mesmo tossindo cada vez mais, a noite ia caindo.
Ele perdeu a voz cerca de uma hora depois... mas continuou andando, foi quando escutou:
-Eu sempre magôo ele...
-Isso acontece querida.
Ele não podia imaginar quem mais podia ser, mas uma das vozes era de Hermione ele sentiu uma súbita alegria e alívio, nem escutava o que ela dizia, só muito feliz por escutá-la.
-Mas ele é tão distante...
-Mas você gosta dele mesmo assim...
Sob uma luz pálida ele encontrou-as, a garota estava encolhida, devia estar chorando, e perto dela um vulto brilhante, parecia uma fada ou anjo, iluminava tudo por ali com uma tênue luz, ele se aproximou, falou muito rouco.
-Mione?!
Ela ergueu os olhos, se pôs de pé assustada.
-Harry! O que você tá fazendo aqui?!
Mas ele a abraçou muito forte, praticamente sem fôlego.
-Não faz isso.. não faz isso de novo! Mione... que perigo!
-Harry...
Ele tossiu, respirou fundo:
-Não faz isso... nunca mais! Isso.. isso... não faz isso comigo!
-Harry... eu...
-Eu me preocupo com você! Droga Mione! - ele perdeu o fôlego.
Ela também o abraçava forte, estava soluçando...
-Eu não quero que você sofra! Eu não quero você chorando! Eu não quero machucar você!!!
Ele sentia que seu peito ia estourar, as pernas dele tremiam muito, ele sentia a garota soluçando contra seu peito.
-Como você pode gostar de alguém como eu? Você não merece isso...
Ela o empurrou devagar, balançou a cabeça:
-Eu sei... eu sei que você não sente o mesmo...
Ele a olhou, com as lágrimas escorrendo na face, tão bonita, pensou: não é isso... não é nada disso...
-Não é isso...- sussurrou.
Então suas mãos a puxaram com delicadesa,ele a abraçou novamente, sentia ela tremendo, aquele maldito ar de infelicidade que o perseguia, só porque não conseguia ver mais nada além de escuridão no horizonte, ele estava completamente sem fôlego, inspirou muito fundo, apoiando o rosto no ombro dela, ela sussurrou:
-Você não devia ter vindo atrás de mim... você não pode deixar o castelo...
-Eu ia até o inferno se você estivesse lá...
-Você não está recuperado ainda.
-Isso não é importante... não se você está em perigo...
-Na verdade é importante Mago.
Ele e Hermione olharam aquela coisa iluminada, Mas Harry finalmente reconheceu a voz.
-Ubaf?
Mas ela não se parecia com aquele urso com asas, e sim com uma bela mulher de cabelos loiros e olhos negros...
-Como?- perguntou Hermione para ele.
-Ela... você é Ubaf, não é?
A mulher lhe sorriu, olhou para Hermione.
-Sentimos que você podia ficar em perigo, então vim ajudar, fazer companhia, mas ele me conhece com outra forma.
Onde havia a mulher, surgiu a Ubaf que Harry conhecia, um urso com asas de inseto, Hermione o apertou com força, e sussurrou:
-É um dos quatro... que você tinha visto? Mas ela é...
-Eu sou Helga.-disse a criatura.- Foi como disse que me chamava... Mas os dois devem voltar... o Mago precisa descansar... está muito fraco.
-HERMIONE!!! HARRY!!!- a voz de Hagrid pareceu vir de mais perto.
Eles olharam na direção da voz, quando voltaram a olhar, viram o vazio, Ubaf partira.
Hagrid os achou um pouco depois, foram até a cabana dele comer alguma coisa, Rony apareceu preocupado uns quinze minutos depois, mas os três combinaram de não contar nada para ninguém, Rony apenas brigou com eles por não terem aparecido para o jantar... sem saber o que tinha acontecido de verdade.
Antes dele ir deitar, muito cansado e dolorido, Hermione o abraçou:
-Eu acho que deixei aquela angústia quando abri minhas asas... mas você não deixou a sua...
-Deixei sim... -ele disse baixo.- deixei uma parte dela no gramado coberta de lama...
Ela passou a mão no rosto dele, ainda muito pálido, sussurrou:
-Eu prometo que não vou mais gritar com você...
-Não prometa o que não vai cumprir... machuca.- ele beijou-a na testa.- Prefiro quando grita.
Deixou um sorriso para uma garota que o olhava intrigada.
Comentários (0)
Não há comentários. Seja o primeiro!