-A noite negra da alma-



-A noite negra da alma-

Ele ficou muito tempo abraçado com Mione, até nem lembrar porque estava ali, quando percebeu, estavam sozinhos, e ela acariciava seus cabelos, ele respirava muito fundo.
-Eu achei que se provocasse você, você cederia sem saber de nada... eu fui maldosa... eu te machuquei...
-Eu mereci.
Ela nem estava chorando, mas havia uma aura triste entre eles, ele suspirou e se afastou um pouquinho.
-Eu achei que se me afastasse de você, você não ia correr perigo...
Ela o olhou nos olhos surpresa...
-Eu... eu não suportaria se você morresse... eu morreria também.
Ela deixou a primeira lágrima rolar...
-Eu sou uma maldição pra todos que eu amo... entenda isso...
-Não...
-Eu tenho medo...
Ela segurou o rosto dele.
-Você não pode segurar tudo em você Harry... você não tem culpa.
-Hum...-ele apoiou a cabeça no ombro dela.- Quem dera fosse verdade...
-Você me assusta às vezes... quando fala assim... é como você se...
-despedisse.
Ela o abraçou forte, trêmula.
-Pára de falar assim!
-Você não se arrepende Mione?
-De quê?
-De ter ficado com a gente... comigo?
-Como?
-Você é a única que não precisava se envolver com isso...
-Com isso o quê?
-Não vamos falar mais nisso...
-Você é um cretino enrolado...
-Sou...
-Eu amo você Harry...
-nunca mais repita isso...
Ela voltou a agarra-lo com muita força:
-EU AMO VOCÊ!!! VOCÊ NÃO PODE ME IMPEDIR DE AMAR!!! VOCÊ NÃO PODE TIRAR ISSO DE MIM!!!
-Se eu pudesse tirava de você...
-Porquê?
-Pra você não sofrer...
Ela colocou a mão na boca dele, olhos arregalados, então ficou com uma expressão muito doce no rosto, puxou-o pra mais perto, o beijou.
Ele se abandonou no beijo, sua mente a muito não estava ali, estava na verdade se debatendo no medo de faze-la sofrer... de ser o motivo para ela ter o mesmo destino de Ana, não queria ver mais ninguém morrendo.
Ela afastou os lábios dele, chorando:
-Porquê você não reage?! Você mal sorri! Você mal fala, você mal come... não dorme... o que você está escondendo da gente?
-Nada.- tentou sorrir...
-MENTIRA!!! VOCÊ ESTÁ ASSIM DESDE O COMEÇO DO ANO!!!
-Mione...
-Eu tento, tento, mas você está sempre pelos cantos, sempre pensando em algo que tá te devorando por dentro!!!
-Calma...-ele a abraçou assustado.- calma...
Ele nunca imaginou que ela tivesse percebido, que ela estivesse prestando atenção...
-Todas as vezes que você fica doente, que amanhece como se tivesse arrastado o mundo nas costas... as loucuras que você fez... isso não é normal... você tá escondendo algo...
-Mione... não... pára de chorar por favor... por mim não...
Ela o fez deitar no chão, mãos nos ombros dele...
-Porquê você nunca chora?
-Por que eu já chorei... demais...
Ela o olhou nos olhos, ele passou a mão no rosto dela, ela sorriu, ia se aproximar para beijá-lo novamente, então ele sentiu, muito forte, doloroso, queimando, rolou de lado, apertando a maldita cicatriz.
-Droga...-gemeu.
-Harry, Meu Deus!
-Vai passar...ah- gemeu.- Sempre passa...
Ela o abraçou mas ele estava encolhido, a cicatriz ardia, queimava, latejava, ele se sentiu muito fraco, doente, abatido.
Relaxou.
Ela o virou devagar, olhando-o assustada.
-Você tá bem? Ah... Harry...
-Estou... vai passar...
-Era... ele?
-Muito feliz pra variar.- disse fechando os olhos e inspirando fundo...
Ficou um tempo ali,parado, estendido no chão de pedra, mão na cicatriz, vendo ela ajoelhada ao seu lado, com medo nos olhos, se levantou, olhou para ela, estendeu a mão:
-Não fique preocupada, a gente sabe que isso sempre acontece, vamos descer...
Ela pegou a mão dele e ficou de pé, ainda o olhando assustada.
-Não fica assim Mione...- ele limpou as lágrimas do rosto dela.- Eu já estou bem... não fica assim por favor...
Ela forçou um sorriso, ele sorriu também, procuravam coragem um no sorriso do outro.

Quando voltaram a sala comunal, ele pediu pra ir deitar, não queria falar com ninguém, havia fraquejado, se sentia muito infantil, o olhar preocupado de Hermione o afligia, provocara tanto sofrimento, estava tão confuso que desabou na cama... sem dormir, apenas cansado...
Eu quero fugir... pensou... mas pra onde...

Alguém o cotucou, só então percebeu que dormira a tarde toda, se virou, viu Rony. Teve medo de falar um olá... tinha medo de machucá-lo mais...
-Vamos jantar... eu estou morrendo de fome... vamos! - ele o puxou pelo braço.- O Malfoy vai ter que por a cara pra fora... eu tô doido pra ver!
Ele estava feliz demais... como se fosse o mesmo de sempre, como se nada tivesse acontecido, como se estivesse vendo o mesmo Rony de um tempo atrás...
-Mas... – começou confuso sentando na cama.
Rony ficou de costas pra ele, Harry teve medo que ele fizesse qualquer coisa, tinha medo de tudo. Rony agarrou seu travesseiro e acertou na cabeça de Harry.
-Levante... ou eu vou jantar sem você... pra fazer companhia pra Mione sabe...
-Rony eu...
Mas Rony lhe deu mais uma almofadada, e riu.
-Eu tenho pena de você... a Mione é muito perigosa.
Harry o olhou, entre as batidas da almofada.
-Eu não sou criança... apesar de agir as vezes como...-ele riu metendo uma almofadada mais forte.- Eu estou bem... ela está bem... não estraga tudo com essa cara!
-O quê?
-Há uma diferença entre amar e querer amar...- ele riu.- Eu não amo a Mione... eu só queria amar... sabe... é muito estranho ficar com ela... era como se eu tivesse beijando a Gina...- ele riu batendo nele de novo.- entendeu?
-Hã?
Rony sentou na cama, parecia muito feliz.
-Eu tinha ciúmes... da gente... de perder vocês... dois.
-Rony!
-Mas eu não vou ficar sozinho, se vocês ficarem juntos...
Harry sorriu... recebeu a almofada na cara.
-Não fique metido... e não magoa mais ela... senão eu te dou uma surra!- pegou-o pelo braço.- Eu to com fome! Anda seu preguiçoso!
Nunca se sentiu tão feliz por Rony ser incapaz de se afundar em sentimentos.

E realmente a cara do Malfoy era horrível, se Harry não estivesse tão afundado em temores idiotas teria ficado sabendo que ele não tinha sido visto pela escola desde a partida, e sempre que tirara a cara pra fora tinha alguém pra gritar “Wronski!”, ou perguntar se tinha ficado com medo de bater no chão... além das vaias... quando entrou no salão estava feliz, ao lado dos amigos, pronto o suficiente para acenar junto com Rony, de maneira deboxada para Draco.

Foi o jantar mais feliz que tivera em muito tempo, porque parecia que tudo estava bem, que podiam ser alegres de novo... até olhando para mesa dos professores, Dumbledore o olhava, com certeza o observava a muito tempo, ele se sentiu confiante ao vê-lo sorrindo, Hagrid lhe deu um aceno, e apontou pra eles fazendo sinal que estava devendo uma visita, Harry concordou com a cabeça, estava mesmo.
Foi quando algo acertou Rony na cabeça, se fosse qualquer outro teria enfiado a cara no prato, mas Rony olhou confuso, gemeu de raiva:
-Píchi....
Mas Harry já tinha agarrado a corujinha no ar, percebeu a inquietação na mesa, inclusive na mesa dos professores, foi Morgan que confabulou com a profa Minerva, que falou com Dumbledore, mas ambas ficaram calmas quando ele concordou.
-Vamos, vamos ver o que é.-disse se levantando com Píchi nas mãos.
Felizmente tinha mãos grandes o bastante pra abafar os pios insandecidos daquela coruja louca.
-Pega logo o que ele tá levando...-disse Hermione.
-É solta essa bola de pena babaca!-completou Rony.
Ele pegou o pequeno bilhete e tirou da pata de Píchi, e a soltou, em vão, Píchi os acompanhou, voando em torno das cabeças deles até o retrato, foi Hermione que catou a corujinha que ficou quieta, Rony olhou pra Píchi.
-Sem vergonha.
Harry riu estava rindo quando disse a senha:
-Fogos azuis...
-Com certeza querido!
O retrato os deixou entrar, a sala estava vazia, eles sentaram nas poltronas, Rony puxou um papel colado no sofá, e que estava escrito com a letra dos gêmeos:
“Exclusivo para uso de animais...”
Rony deu um ronco, Mione ficou fula:
-Eles estão chamando a gente de ANIMAL!
-Não estão de todo errados por sua culpa...-disse Rony.
Mas Harry sabia que a história era bem outra... riu abrindo o bilhete:
-Fiquem esperando pra conversar, vocês sabem como, na hora de sempre, como fazia Snufles...”
RL
-Remo... – ele falou baixo.
-Na lareira?-falou Hermione.
-Como fazia Snufles...-repetiu Harry se sentando.
Os amigos o olharam, esperando mais tristeza, mas ele sorriu:
-Bom, vamos passar mais uma longa noite... alguém quer sair pra fazer algo antes de ficar de vigília?
Mione saiu, foi pegar livros, Rony achou absurdo:
-Pra quê? Você não leu o suficiente hoje de manhã?
Ela corou. Rony saiu também.
-Vou pegar o xadrez que tal?
-Ótimo.-ele disse puxando a mesinha.

Mione tentou convence-los a estudar, “vocês nem perceberam, mas os exames estão aí... menos de um mês...”, isso tinha um gosto muito doce para os dois garotos, que ainda se deram ao prazer de dar de ombros “tá, é um mês Mione...”, dessa vez, mesmo fazendo um muxoxo de desaprovação ela sorriu.

-Não adianta!!!- ele se esticou arrepiando os cabelos enquanto bocejava.
-Há!- Rony fez um v com os dedos. – Uma oitava partida?
-Uma oitava surra, você quer dizer...- disse Mione.
-Sabe, cansa apanhar desse jeito...
-Você não ganha por que é muito apressado.-disse a garota.
-Eu sou um bom estrategista!- falou Rony.
-Não vou negar, eu nunca vou ganhar de você...
-Eu concordo, ele é muito bom mesmo...
Os três pularam e olharam para a lareira.
-LUPIN!- Mione falou alto.
-Faz quanto tempo... –disse Harry conferindo as horas.
-Uns quinze, vocês se concentram mesmo.- ele sorriu.
-Se você tivesse interrompido, eu não ia levar a sétima surra.- disse Harry já sentado normalmente.
-Fazia muito tempo que eu não via uma partida tão boa...
-É mas você outras coisas pra fazer além de ver boas partidas de xadrez não tem? Notícias? - perguntou Hermione.
Harry e Rony balançaram a cabeça, a conversa estava boa, pra quê saber os motivos de Remo procura-los via lareira? Mas Lupin ficou muito sério.
-Sobre o que você me pediu Harry.
Os amigos olharam pra ele, ele sentiu um frio no estômago, pedira naquele dia, no noitibus, pra ficar sabendo notícias sobre seus pais.
-Alguma no...
-Sim, uma remessa imensa de penas de fênixes desapareceu do espólio dos Abbott, e muitas pedras lazulis foram roubadas, e...
-E o que isso tem haver?-ele atalhou seco.
-Mundongo interceptou pedidos estranhos de ingredientes, Harry, estamos temendo o pior...
-Como o pior? Me defina o pior...-ele disse nervoso.
-Magia negra Harry, você sabe como funciona.
Arquivo mental: Magia negra-Voldmort- noite em que Voldmort retornou- o ritual mágico que usou- seu sangue...ele instintivamente segurou o local onde Rabicho o tinha ferido.
-O que quer dizer?-disse angustiado...- ele vai usá-los?
-Você quer dizer que vão usar os corpos?-disse Mione.
-Harry há muita coisa de magia negra que não entendemos, que talvez nem Dumbledore sabe, e que Voldmort conhece.
-Eu não entendi...-disse Rony com uma das mãos na testa apertando-a como se fosse espremer alguma idéia.
-Pra que...-Harry começou a falar.- Pra quê, com que propósito... o que ele pode fazer...
-Harry...
Ele olhou a face austera e preocupada de Lupin.
-Morgan Graveheart foi a maior estudiosa das artes negras depois de Snape e... Voldmort... ela tem uma teoria, mas não queria lhe contar... mas eu acho que você tem que saber.
-Como assim Morgan não queria me contar?-ele disse alto.
Eles o olharam surpresos, mas ele estava bravo com ela, achou que ela falaria qualquer coisa pra ele, por pior que fosse.
-Morgan não tem certeza, ela nunca fala do que não tem absoluta certeza, você devia saber disso.- ele disse com ar de censura.
-Mas o que ela tá com medo de me contar?
-Há duas maldições que levam esses ingredientes, ossos e terra negra...
-Terra negra?-perguntou Rony.
-Terra das sepulturas, ingrediente usado só em magia negra.- disse Hermione ainda muito chocada.
-Que maldições?-ele disse muito nervoso.
-As Jinki.-ele disse.
Rony e Harry ficaram sem entender, mas Mione deu um gritinho e deixou o livro cair.
-Jinkis!!!
-Alguém quer ter a bondade... por favor...-Rony interpelou.
-Jinkis são maldições negras do oriente, necromancia...-disse Hermione,que se virou pra Lupin.- Quais Jinki, são muitas... pelo que se diz em lendas...
-Sim, você ainda me surpreende Hermione, aplicada como sempre.-disse Lupin bondosamente.
-E daí?-interrompeu Rony, que não olhava os dois, e sim a face nervosa de Harry.
-Existe uma Jinki... que traz a forma original do corpo...
-A Ressussitação?-falou Hermione.
-Mas nada pode trazer os mortos...-disse Harry.
-Não traz...-disse Lupin o olhando.- Traz um corpo vazio, uma cópia...
-Voldmort vai fazer uma cópia de meus pais? Isso não tem sentido...
-Sim, não tem, então vamos para outra, essa sim, achamos mais provável e perigosa, dado o que sabemos de nossa situação atual... a Jinki da dominação.
Harry sentiu uma fisgada no estômago.
-A dominação...-disse Hermione baixo e olhou para Harry.
-A Jinki da dominação é uma forma avançada de maldição Imperius, mas que só é feita se duas pessoas partilham o mesmo sangue... feita na forma de amuletos, a vítima fica em poder ...
-Mas entre pessoas que partilham o mesmo sangue? Então não dá...-começou Rony.
-Como assim...-disse Mione
-Voldmort iria dominar o Harry?- falou Rony.- Eles não tem o mesmo sangue... e pra quê?
-Mas nós temos o mesmo sangue...-disse Harry.- Foi meu sangue que o trouxe de volta...
-Tá pra que ele ia fazer isso?- disse Rony amargurado.
-Não sabemos...-disse Lupin.
-Se não pode com eles, junte-se a eles...-disse Hermione.
-O quê?- perguntou Rony.
-É um provérbio trouxa.- disse Harry, entendendo o que Mione queria dizer.
-Por isso Harry, você não deve sair de Hogwarts, não vá nem para Hogsmeade, nem para a floresta, entendeu?
-Entendi.
-Eu sei o quanto...
-Não precisa dizer Lupin eu sei, eu nem vou sair do castelo, só pras aulas, ok?
-Obrigado Harry.- ele disse sério.- Vão dormir...
E sumiu das chamas verdes, que voltaram a ser vermelhas, a poucos minutos havia uma alegria ao seu redor, e agora, novamente havia silêncio...

Hermione limpava sua varinha, com olhos na lareira, Rony empurrava as peças de xadrez jogando sozinho, Harry ainda digeria o que ouvira, não falavam porque o entendimento entre eles já estava além das palavras, pareciam meramente entediados, mas com as cabeças funcionando a toda.
-Harry, me dá a sua varinha.- ela disse com a flanela na mão.
Ele a olhou, a varinha, ele gostava dela, mas era outro elo com Voldmort... ele estendeu para a garota, sentindo a varinha aquecer em sua mão, como se não quisesse abandona-lo, Hermione a olhou.
-Você não cuida dela... devia...-ela começou a passar a flanela.
Ele sorriu, então um toque toque na janela chamou sua atenção, mas Rony já abrira a janela,ela entrou, era uma coruja enorme, castanha escura, olhos avermelhados, por um segundo Harry achou que a conhecia, mas foi tão rápido que ela apenas passou, soltou o envelope no colo dele e saiu pela janela ainda aberta...
-O que é Harry?-perguntou Mione, parando de limpar a varinha o olhando.
Ele olhou a envelope sem nada escrito, enquanto Rony sentou ao lado dele, virou:
-Para o senhor H.Potter em mãos...bom, chegou em mãos não é?-ele abriu o envelope.
Sentiu um frio na barriga ao ver o que tinha dentro.
-O que foi?-perguntou Rony ao ver a cara dele.
-Isso era de Ana... eu dei a ela...- ele virou o envelope para a corrente cair em sua mão estendida.- Ela usava quando mo...
Não terminou a frase, quando a corrente caiu do envelope e o pingente tocou sua mão ele apenas ouviu uma breve exclamação de seus colegas... e então sentiu o já conhecido puxão atrás do umbigo e se viu num redemoinho colorido.
O impacto com o chão o deixou muito consciente do que houvera, sabia que era uma armadilha, que caíra em uma cilada, a corrente, a corrente que ele dera a Ana fora transformada em uma chave de Portal, e não tinha sido enviada por amigos, ficou gelado ao se perceber só e desarmado.
-Finalmente, Potter! Estávamos a sua espera.
Quando se virou, viu, e ficou chocado, Lúcio Malfoy, sentado num puf, em meio aquela sala vazia, de uma velha casa, ele mesmo parecendo muito mais velho do que antes, mas não pode ver muito mais, pois Malfoy ergueu a varinha e lançou-lhe um raio vermelho, sentiu o impacto, ficou inconsciente antes de atingir o chão.

-Enervate!

Abriu os olhos, sabendo o que veria a sua frente, sentiu-o antes de vê-lo, sentiu na dor pulsante de sua cicatriz, mas saber não impediu a dolorosa surpresa, quando endireitou o rosto, viu, Voldmort estava sentado a sua frente, numa poltrona em frente a lareira, encarando-o com aquela cara viperina e muito branca...
-Que bom que atendeu meu convite tão prontamente, senhor Potter.- ele sibilou cinicamente.
-Eu não tive muita escolha tive?- não lhe ocorria nada mais a dizer...
-Espirituoso sempre...- disse Belatriz rindo.
Sentiu um frio assomo de ódio ao vê-la ali, sentada em uma cadeira, ao lado de Voldmort, olhando-o com uma expressão quase faminta.
-O senhor Potter não aprecia sua companhia Bela.- riu Voldmort.
-Que pena...- ela disse sem parar de olha-lo.
A última afirmação de Voldmort arrepiou-o, "tenho que fechar minha mente" foi o que pensou, e Voldmort percebeu.
-Vamos aos negócios Potter, você tem resistido as minhas tentativas de possuí-lo ou de penetrar em sua mente, bravamente, desesperadamente até.- ele o encarou, então estendeu a mão barrando a frente de Belatriz.- Calma Bela.
Belatriz segurava a varinha apontada diretamente ao peito de Harry, olhando para ele como se fosse a coisa mais extraordinária que já tinha visto e arfava indecentemente, ele sentiu um calafrio ao olhá-la.
-E daí?- ele nem percebeu que havia dito, de tão irritado que estava.
Voldmort o encarou com os olhos vermelhos, então apoiou o cotovelo no braço da poltrona e apoiou a queixo branco na mão grande de dedos longos, desviou os olhos para a lareira, e disse calmamente:
-Tenha a gentileza Bela.
Ela arregalou os olhos de felicidade e disse:
-Crucio!

Ele já conhecia aquela dor, mas a sentiu em toda a intensidade, não pode sufocar os próprios berros, se não estivesse tão bem amarrado na cadeira teria rolado de dor no chão. A dor parou, ele aprumou a cabeça ofegante.

-Bom.-disse Voldmort sem encará-lo, olhando o fogo, como se estivesse em companhia de alguém muito conhecido.- Creio que você entendeu sua situação Potter, não quer sofrer muito quer?
-Você tem uma memória ruim, Voldmort.- Disse porque não tinha mais esperanças, não se importava, só resistia.
-MALDITO! Como ousa! Crucio!

Ele mal sentiu, não berrou, olhou surpreso a gêmea de sua varinha erguida cancelando a maldição.
-Calma Bela... Você terá muitas oportunidades para brincar com o senhor Potter...
Voldmort voltou a fitá-lo.- Quero a profecia, quero ouví-la, quero entendê-la, você vai me repetir o que aquele velho lhe contou.

Havia algo estranho no desejo de Voldmort em querer a profecia e não desejar matá-lo imediatamente, mesmo sabendo que iria se arrepender, mesmo não desejando sofrer mais, sorriu e disse calmamente:
-Repito, você tem uma memória ruim...
-CRUCIO! -disse Voldmort.

A maldição foi mantida por muito tempo, até ele praticamente esquecer de quem era, o que estava acontecendo e só ter a certeza que berrava de dor a plenos pulmões. Então passou, mas ao invés de sentir o cansaço típico e as dores resultantes, ele se sentiu muito zonzo e algo escorreu até seu lábio, receoso de que tivesse chorado de dor ele passou de leve a língua e sentiu horrorizado que era sangue, estava ferido, Voldmort captou sua surpresa:
-Sim, Potter... a maldição Cruciatus causa danos a mente e ao corpo a longo prazo.- suas narinas viperinas se dilataram.- Então que tal conversarmos civilizadamente...
-Está perdendo seu tempo!- disse com a voz rouca, olhou de esguelha para a cara deliciada de Belatriz.- Você não vai tirar nada de mim Voldmort.
Belatriz voltou a xingá-lo e amaldiçoá-lo e não foi interrompida.

Quando parou a garganta ardia horrivelmente, ele tossiu tentando respirar e seus ouvidos pulsaram, o sangue voltou a escorrer, ele percebeu, vindo do nariz...
-Percebi- começou Voldmort.- Que você tem escondido mais coisas de mim... não é?
Se limitou a fechar os olhos, tentando fechar a mente, percebendo a tentativa de Voldmort em procurar mais fundo, e sabendo que não via solução para sua situação.
-O que você está escondendo?
Silenciou, concentrado em não revelar nada.
-Responda! Imperio!

A sensação maravilhosa de não ser, não pensar tomou conta de sua cabeça, mas ao invés de um debate de vontades o que surgiu foi aquela risada, alta, dolorida, Voldmort arregalou os olhos, ele ofegou e ergueu a cabeça, rindo dementemente, como tinha raiva, como odiava aquela "coisa" a sua frente, disse ainda mais rouco:
-Má memória Voldmort, você não tem como me dominar...
Voldmort estreitou os olhos ameaçador:
-Você... você é um inseto insignificante, como os outros, irritante... vai ter o mesmo fim de seus pais, seus amigos e sua amante...- ele deixou a corrente de Ana cair de sua mão fechada, presa ainda por um dedo, o pingente balançando como um pêndulo.- Sempre sorrirei para você... - ele disse cinicamente.- Romântico não?- ele olhou para Belatriz.
-Ela gritou tanto por ele...- Ela sorriu e olhou Harry nos olhos.- Pena que você não estava lá para ver, uma pena não ter visto...- ela riu.
Ele não pode evitar, mesmo com raiva, mesmo apertando os dentes de raiva, reviu em sua memória Ana gritando, segurando a corrente, caindo morta, Voldmort se ergueu num salto com um olhar de descoberta.
-Você viu... interessante... como eu imaginei... como você viu? Como se ligou a ela?
Harry voltou a tentar fechar sua mente, percebendo que Voldmort queria saber mais sobre seu dom, mas quando sentiu que tinha conseguido se proteger, viu novamente a varinha, Voldmort apelava para algo mais direto.
-Legilimens!

Harry foi inundado por lembranças, todas as que utilizava como barreira, como as vida na rua dos Alfeneiros, mas então reviu Ana, lembrou dela no dia da seleção, no cabeça de Javali, e as mais recentes, das aulas, do Três vassouras, na biblioteca, dela com a mão na cicatriz, no baile:
- Fique comigo Ana, e eu sempre sorrirei para você...
Ele lembrou e se aqueceu, como se não sentisse mais dor... não sentisse mais medo, sempre sorrirei...sorriu.
Voldmort cambaleou, ergueu novamente a varinha, parecendo surpreso, Belatriz também tinha uma expressão de surpresa.
Por alguns segundos, Harry pode captar os pensamentos de Voldmort, que pensou seriamente em matá-lo com a maldição letal, mas um desejo de saber imperou...
-Crucio!

Tossiu sangue, não tinha mais voz, a estranha pressão no ouvidos se tornou ainda maior, soltou um soluço dolorido plenamente consciente da dor deixada pela magia e dos ferimentos na pele deixados pelas cordas que o atavam firmemente naquela cadeira.
-Vou extrair cada pedaço de informação dessa sua cabeça...- Voldmort falou friamente.- Quando terminarmos você nem vai ser capaz de desejar morrer... esteja a vontade Bela.

Após um tempo que pareceu uma eternidade de dor, quando apesar de não estar mais sob o efeito direto da maldição, ainda continuava sentindo dor, se engasgando para respirar, sentiu que sua mente estava vacilando, sentiu Voldmort procurar metodicamente, indo mais fundo, essa ação, essa violação de sua personalidade, gerou uma repulsa tão grande que depois de tanto tempo de silêncio doloroso ele gritou:
-SAIA DA MINHA CABEÇA!
Voldmort não esperava essa reação, cambaleou e caiu, Belatriz saltou da cadeira em fúria:
-MALDITO! AVAD...
Ainda do chão, Voldmort tomou-lhe a varinha com magia, mas o ódio de Belatriz não tinha medida, não olhou seu mestre, avançou para Harry agarrando-o pelos cabelos, forçando a cabeça com toda força para trás.
-Desgraçado! Mestiço, nojento! Eu não preciso de varinha para quebrar seu pescoço!
-ME LARGA SUA VACA!- ele berrou com uma raiva tremenda.
Belatriz caiu, quase estuporada, ao ser envolvida por uma luz avermelhada, quando Harry conseguiu, gemendo de dor, voltar a cabeça a posição normal, viu Voldmort que segurava duas varinhas olhar dela para ele rindo:
-Ora, Ora, dezesseis anos e mantém o mesmo akasha da infância...
Ele olhou Belatriz no chão ofegante, xingando-o baixo, viu Voldmort a erguer com um trejeito de varinha e tornar a sentar, ela aprumou as vestes nervosamente, Voldmort riu para ela:
-O Potter tem segredinhos interessantes Bela, Você sabe o motivo para Graveheart ter retornado?
Belatriz pareceu meio temerosa só de ouvir o nome de Morgan, mas Voldmort continuou para horror de Harry que não havia percebido que tinha tido a mente violada tão fundo.
-Então minha menininha ex-aurora está fazendo algo no ministério com o arco... já imaginávamos isso... mas parece que ela se tornou sua amiga... procurando alguém suponho?
A menção sarcástica de sua amizade com Morgan o fez falar, quase sem querer:
-Seu...
-Bela...- interrompeu-o
-CRUCIO!

Ele mantinha a boca aberta ofegante, Voldmort já não tentava penetrar em sua mente, mas o olhava friamente, Nem lembrava mais da última coisa que fizera antes de ser pego... ele já não sabia o quanto mais ia resistir, a imagem dos pais de Neville lhe passou pela cabeça, "Assim não... não quero acabar assim...", "Não desse jeito"... sentia gosto do sangue na boca, completamente zonzo.
-Bela, pode continuar...
Belatriz parecia a pessoa mais feliz do mundo nesses últimos instantes, a cada ordem erguia a varinha como se fosse a primeira vez, encarando-o, devorando-o com os olhos, ela estava novamente erguendo a varinha quando foi interrompida por batidas na porta, então ele escutou alguém entrar e reconheceu a voz imediatamente, com tanto nojo quanto podia ter de seu dono.
-Meu amo eles chegaram com a encomenda.- disse Rabicho.
-Ah! Excelente, espero que tenham ouvido nossa doce melodia... - ele disse com uma grande expressão de satisfação e acenou para Belatriz.- Vamos... mais tarde o senhor Potter se juntará a nós...
Ela o olhou, por um segundo pareceu relutante, talvez não querendo deixar tal presa um instante, mas se levantou.
-Rabicho, faça companhia ao convidado, sim?- disse Voldmort.- Mas não o toque, Belatriz ficaria desapontada...
Rabicho pareceu intimidado com os dois quando passaram por ele, nem sequer olhou para o rapaz na cadeira, foi a lareira reavivar o fogo, Harry ainda escutou um sibilar no corredor, entendeu:
-Cuide para que eles não saiam da sala, Nagini.
A cobra entrou se arrastando, a reação de Rabicho foi instantânea, se afastou até uma poltrona meio virada perto da janela, o mais longe possível da cobra, aproveitando para não vê-la, a cobra subiu na poltrona onde estivera Voldmort e se enrolou.
Foi quando Harry teve um súbito lampejo de esperança, um esboço de plano, ao ver Nagini e Rabicho, certas coisas lhe vieram a mente... as vozes animadas abaixo, e a distância de Voldmort, seriam úteis.
-Nagini.- sibilou baixo encarando a cobra.
A serpente enorme ergueu a cabeça e o mirou, língua para fora farejando o ar.
-Nagini.- confirmou.
A cobra o encarou nos olhos.
-Nagini... pegue o Rabicho... pegue o rato... - sibilou calmamente.
-O messstre...-ela sibilou ainda o olhando.
-Mas Nagini... merece... não é...
-Nagini essspera tanto...- a cobra voltou-se para Rabicho.
-Nagini... pegue-o... você pode...
-Nagini... cuida... - ela voltou a fitá-lo.
-Nagini... fiel... merece um recompensa... mestre prometeu não é...
-Messstre prometeu... - ela voltou a mirar Rabicho.
-O que você está fazendo?- perguntou Rabicho os encarando.
Harry sorriu...
-Nagini pegue-o... olhe... sua recompensa...
Rabicho arregalou os olhos, a cobra se ergueu e deu um bote, Rabicho deu um Berro e se jogou pra trás, nesses preciosos segundos de confusão um gato negro surgiu na cadeira sem ser percebido, e agilmente cruzou a porta, escutou os Cracks de aparatação na sala e os passos na escada, se enfiou embaixo de uma estante no corredor, alguém saiu rapidamente da sala sem se importar com os berros que Rabicho ainda dava.
-POTTER!!!- berrou Malfoy.- POTTER FUGIU!!!
Houve um tropeu de passos na escada e sons de aparatação, várias vozes irromperam.
-COMO? ONDE?-gritou Belatriz.
-Ele desaparatou!- gritou uma voz.
-Ele não sabe desaparatar!
-Mas como?
-Nagini atacou Rabicho.

O gato negro recuou o máximo possível contra a parede, temia ser descoberto, sentia as dores dos ferimentos, enfiou as garras no chão por vários motivos, Voldmort subia lentamente a escada, Harry viu pelo fresto, temia ser localizado por ele, mas não sentia sua presença pela cicatriz, a cobra aparecera rastejando, lentamente, ela sim podia farejá-lo, mas estava molemente estendida no chão em frente a Voldmort, como qualquer servo que cometeu um erro.
-Nagini, Nagini, o que aconteceu?- sibilou Voldmort.
Mas na verdade, o que fez o gato enfiar as garras no chão com toda força que tinha, eram as figuras que subiram a escada logo atrás de Voldmort, vestidas de negro como os outros, um casal, um homem de cabelo negro arrepiado e uma mulher ruiva de olhos verdes.
-Nagini! Responda-me!
O gato sentiu uma corrente de ar frio, se não podia usar as escadas devia procurar uma janela, mas por torturantes segundos desejou se atirar no colo do casal, quis gritar... lhes chamar a atenção... mas tentando não chamar a atenção da cobra forçou os membros enrigecidos e exaustos a se arrastarem até uma porta entreaberta, por onde vinha uma brisa, passou pela porta, escutando sibilos desencontrados de desculpas feitas por Nagini, entrou no quarto passando pela cama desarrumada, viu a janela aberta, se encaminhou para ela, se arrepiando ao sentir a cobra ser castigada, mas com um tremendo esforço pulou para a janela, viu uma árvore, saltou, olhou a casa, uma casa grande e velha, saltou novamente para um muro, desceu para a rua, e correu, correu com toda a velocidade que podia, mesmo sofrendo dores horríveis por todo o corpo, por causa das horas de tortura, sentindo os ferimentos abertos gelarem por causa do sangue, vendo o céu empalidecer com a proximidade do amanhecer, tendo toda a certeza que deixava para trás a segunda noite mais longa de sua vida.

Mas estava perdido, não tinha a menor idéia de onde estava, parou, não iria voltar a forma normal, não era seguro, nos segundos em que ficou parado, sentiu os músculos protestarem, tinha que se manter em movimento, ou caíria para não levantar mais...

Nunca sentiu tanta dor na necessidade de correr, por duas vezes seu estado de confusão quase o fez ser atropelado, mas algo o impelia para adiante, além de querer manter a maior distância daquele lugar onde fora mantido, ele também começou a reconhecer onde estava, cada vez mais tinha certeza que conhecia as ruas que cruzava, reconheceu...Londres.

Então soube onde estava, estava nos arredores do metrô, se fosse à direita chegaria ao StMungus... o que seria um bom lugar para alguém tão ferido, mas também sabia que se arriscasse pegar o metrô, podia chegar ao Largo...inteiro...a salvo.

Arriscou-se no metrô, descendo as escadas sendo empurrado por pés de gente sonolenta que ia ao trabalho, sentou-se trêmulo embaixo dos bancos, perto de uma lixeira, com certeza parecendo um animal perdido e pedindo pra não chamar a atenção, em vão, uma menininha encarnou nele:
-Bichano... Bichano.- a garotinha de uns seis anos chamava.
Ele tentou não olhar para a menina,então sentiu-se preso pelo rabo, a menina tentava puxá-lo pra perto.
-Gatinho...vem gatinho...
Nem teve a chance de mostrar as garras em protesto, assim que a menina o desentocou debaixo dos bancos ele sentiu o impacto em sua cabeça e o protesto da menina:
-Mãe...não...
Mas a mulher que lhe dera uma bolsada apenas puxou a menina para trás dela e o ameaçava com a bolsa, talvez achasse que ele podia ser um tigre faminto disfarçado:
-Passa! Olha o estado desse bicho vadio! Passa! Deviam acabar com essas pestes! Bicho doente e Vadio!
"Vadio é a senhora sua mãe..." Harry pensou se afastando ainda mais dolorido ao levar aquela bolsada no meio das idéias, mas escutou alguém ler o destino do carro que avançava, era o que ele esperava, se meteu com cuidado entre as pernas das pessoas voltando a se esconder embaixo dos bancos, tentando manter a vista da porta, torcendo para conseguir contar os pontos certo, o que era difícil pois estava mortalmente fatigado e zonzo, desceu e percebeu que estava no ponto certo, com alívio voltou a rua, "está perto... mais umas quadras..." sentiu uma dor de alegria ao se ver no Largo... "estou salvo...", "SALVO!!!" correu pensando firmemente.

"A sede da Ordem da Fênix está no no. 12 da Largo Grimauld!!! Por favor... A sede da Ordem..." repetia como uma prece de salvação, como um mantra.

Viu surgir entre o no. 11 e 13, uma felicidade irrompendo no seu peito, ele voltou a forma humana, um rapaz magro com aspecto moribundo tentou esmurrar a porta que acabara de surgir... mas o máximo que suas forças produziram foram umas pancadinhas tímidas... ofegando, fazendo um esforço sobre humano para erguer os braços ele bateu de novo desesperadamente, foi quando a porta abriu e eles se encararam por segundos antes de suas pernas cederem e ele ser agarrado e conduzido para dentro...
-Pelos duendes Harry!!!- exclamou Lupin quando o puxou pra dentro.

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