-Antes do retorno-



-Antes do retorno-

Acordou enroscado nos outros como um gato, sem formalidades, tinham dormido todos juntos naquela cama grande de casal onde ele acordara assustado horas antes, sem roupas pra trocar, todos cansados e assustados, tinham desabado naquela cama, ele acordou sentindo a respiração de Gina na sua nuca, na sua frente, Rony dormia com o cabelo de Hermione enrolado em uma das mãos, sabia que nos seus pés estavam atravessados na cama os gêmeos, e no chão de cada lado da cama estavam os irmãos mais velhos, ele suspirou, podia acabar assim, todo mundo junto, naquela paz, naquele silêncio, sem precisar encarar os olhares de pena dos amigos, ele se moveu e deslizou pra fora da cama, sendo leve não fez nenhum ruído, quando saiu viu que na salinha onde conversara com Dumbledore há algumas horas, estavam o Sr e Sra Weasley dormindo, continuou até a cozinha e encontrou Lupin olhando o céu pela janela acordado.

-A última pessoa que eu esperava que acordasse cedo.- ele sorriu.

-Não dá pra dormir pra sempre.- ele sorriu também e abriu a geladeira, pegou um iogurte e sentou-se, devorou o conteúdo, se serviu de bolachas, pão, então viu o olhar de Lupin e disse acabrunhado:

-Eu estava com fome.

-Viagens astrais dão fome.

Pronto, ele pensou desanimado, recomeçamos o assunto, sabia quando entrara na cozinha e vira Lupin que acabaria assim.

-O que Dumbledore lhe contou?- perguntou .

-O suficiente.

-Que bom.- disse ele com tom de encerrar o assunto,estendendo a mão para outra bolacha, mas Lupin sentou a frente dele.

-Dumbledore me avisou que você podia estar meio chateado.- ele falou em tom casual comendo um pedaço de bolo.

Ele sorriu, não imaginou porque sorria, sabia que era um sorriso torto, totalmente diferente do sentimento de mágoa e frustração em seu peito.

-Por que será? Não imagino o que teria dado a ele essa idéia. - falou soturnamente.

-Bem, só vou comentar, e acho que mereço um pouco de sua atenção, pela amizade que acho que podemos ter.

Harry sentiu o sorriso sumir de seu rosto, olhou para Lupin que subitamente parecia mais cansado e grisalho.

-Se ficar guardando e remoendo sentimentos, você vai explodir como ontem, não sei se você sabe exatamente o que aconteceu, se Dumbledore explicou o que pode ter havido...

-Não, - ele interrompeu enfático.- Não, ele não explicou nada, pelo contrário.

Lupin pareceu confuso, surgiu uma ruga na testa entre os olhos, então Harry sentiu-se aliviado, percebeu que não era mais o único que se sentia um pouquinho "enganado".

-Então por isso ele foi tão enfático para que eu lhe explicasse qualquer dúvida? Não entendo então o motivo de sua conversa com ele ontem...

Harry fez sinal de que também não compreendera bem o que tinha ocorrido e Lupin absteve-se de especular mais, mas ele não conseguiu segurar suas dúvidas, perguntou mais ansioso do que queria :

-O que aconteceu ontem? Porque eu me senti daquele jeito? Não foi como antes.

-Harry, você se lembra de como se sentia antes? Como tudo começou? Anos atrás?

Harry pensou, lembrando cinco anos de fatos estranhos e surpreendentes que simplesmente invadiram sua vida. Falou inexpressivamente :

-Sim, antes só doía, então eu passei a sentir, perceber os sentimentos dele, então comecei a ver, e naquela noite, na noite do ataque... - ele parou com a boca seca. -Eu participei...

-Não. você não participou do ataque, só se tornou consciente dele, atingiu um estágio de compartilhamento de consciências. Mas o mais importante, é que isso só ocorreu nesse nível quando você estava bem vulnerável, cansado ou dormindo.

-Tá bem, então porque isso foi diferente? Porque desta vez as coisas estavam acontecendo ao mesmo tempo, antes eu "apagava", mas desta vez , - ele recordou a sensação horrível de ter a alma se rasgando, incapaz de ter qualquer reação. - Foi como se eu estivesse em dois lugares ao mesmo tempo.

-Porque você não partilhou a consciência com Voldmort, você resistiu.

-Isso não deveria ser bom?

-Deveria, se você não tivesse tido uma reação tão estranha...- ele disse enchendo um copo com leite. - Você despertou um dom raro, são raríssimos os magos capazes de fazer uma projeção astral consciente, supondo que você saiba o que é uma projeção astral.

-Não tem algo com sair do corpo?- Ele falou ansioso, - Como assim um dom raro?

-Viagens astrais comuns podem ser obtidas com transes, feitiços e rituais específicos, todos desaconselhados pelos riscos que envolvem, afinal você deixa pra trás um corpo indefeso, que pode ser destruído ou possuído.

Harry estremeceu. Mas insistiu:

-Mas o que aconteceu ontem então? Não foi isso, eu não saí do meu corpo, eu via tudo que acontecia, só não podia me mover.

-Porque você é um projetista consciente, um dom tão raro quanto sua ofdioglosia, na verdade mais raro, você pode se manter "ligado" e ver coisas em outros lugares, com o devido treino.- ele completou professoral.

-Tá, digamos então que eu possa estar em dois lugares no mesmo tempo... isso não deveria ser menos perigoso? Afinal eu não abandonei o corpo.

-Abandonou Harry, e é mais perigoso ainda, afinal você deve ter sentido, enquanto você resistia a ligação mental que estava acontecendo, suas dúvidas e apreensões o forçaram a ver o que estava acontecendo, sua vontade foi tão grande e contraditória que você quase se partiu em dois, quase cortou a ligação com sua alma, sua alma estava fora, sua consciência estava dentro, imagino então que não foi nada agradável, lembrando que isso podia gerar danos permanentes a seu corpo. – Lupin completou com sua voz rouca.

-Como assim? Você está dizendo que eu podia ter perdido minha alma? Eu não estou entendendo... –estava sentindo-se irritado outra vez, era tão sensacionalmente burro assim?, ou todo mundo achava que ele era tão capacitado quanto a Mione?

-Estou dizendo que se a conexão entre sua alma e seu corpo tivesse se rompido você estaria morto agora. Definharia até morrer. Harry lembra o que acontece quando um Dementador beija alguém?

Então ele subitamente entendeu o risco que correra, sentiu-se esfriar, um arrepio correu-lhe pela espinha, estaria pior que morto.Então Lupin continuou tão eficiente quanto em uma aula.

-Só que diferente do que acontece nesses casos onde a alma morre e o corpo continua, seu corpo pereceria, sua alma permaneceria, e isso, bem não temos idéia do que poderia acontecer, quer dizer, somente Voldmort retornou dessa forma. -ele o encarou, entre apreensivo e constrangido.

-Você quer dizer, - agora Harry sentira perder o chão.- Que estaria como ele... antes? Pior do que um fantasma? Meu Deus...eu... não sabia... eu...

Perdeu a fala, foi como se todas as luzes do mundo se apagassem e ele lembrou da primeira vez que viu Voldmort, um rosto saindo da cabeça de outra pessoa, ele mesmo, Voldmort contara pra ele como era. "ser somente uma forma vaporosa, que só existe compartindo o corpo de alguém...". Ele balançou a cabeça angustiado e olhou Lupin que o encarava preucupado:

-Como eu vou evitar que isso aconteça? Eu não tenho o controle...

-Tem Harry, esse embate foi um "efeito colateral" de uma resistência fragmentada, foi o seu desejo de se punir que manteve sua alma presa naquele lugar.

-Me punir? Do que você está falando? –disse na defensiva.

-Você se achou na obrigação de ficar mesmo não podendo fazer nada, ele não podia forçar você a ficar se você resistiu a ligação, mas foi seu sentimento de impotência que o prendeu lá, e piorou o fato de você ter sido removido, quer dizer, aumentara a distância física entre seus dois eus, na verdade Harry, se não fosse esse seu dom, você não teria se recuperado, deve ter percebido isso.

-Eu senti sim, senti que arrancavam minha alma, quando caí aqui... -sentiu sua voz tremer. - mas ainda ... ainda...

-Imagino que você terá que encontrar suas próprias respostas Harry. -Lupin disse visivelmente triste. -Não sei que fardo você está carregando, o que você está escondendo, você e Dumbledore nunca falaram muito sobre aquele dia, sobre depois, Harry, não sei o que aconteceu, e acho que mais ninguém sabe, quando você sumiu, -ele o olhava com a tristeza evidente naquele olhar.- Quando você apareceu na escola, mais tarde, bem, você está diferente, o que eu quero dizer é que não deve guardar sentimentos ruins com você, tem pessoas a sua volta pra compartilhar sua dor, pessoas que talvez entendam o que você está sentindo.

Harry entendeu, ele estava falando da morte de Sirius, ele se referia a própria dor de perder um amigo, ele, e ninguém mais sabia do resto, da profecia, daquela luta, de seu erro, mas não pode deixar de se sentir aliviado, podia contar com Lupin, mas sentia também que Lupin precisava contar com ele, imaginou como deveria ser triste perder um dos poucos amigos, pela segunda vez. Disse enfim:

-É eu também penso nele ás vezes.

-Imagino que deva sentir falta dele.

-Do bom humor.

-E que bom humor... – Sorriu Lupin.

-Ele era impulsivo, mas era muito ...

-Impulsivo... sem dúvida... teimoso.

Os dois riram, era como se tivessem destruído um bicho-papão que se alojara em seus corações, Lupin comentou algumas coisas sobre as impulsividades de Sirius, até chegarem na ida a Hogwarths, na estação, quando Sirius o acompanhara como cachorro.

-Parecia muito feliz.- disse Harry.

-Com certeza estava.- confirmou Lupin sorrindo também.

Escutaram um tropel que invadiu a cozinha, que chegou, e parou olhando pra eles, todos muito quietos, então Lupin se levantou, mas foi Harry que falou tirando seu copo da mesa:

-Dorminhocos... Demoraram pra levantar... já acabei com o iogurte... Deram azar.

-Acabou com todo o iogurte?- exclamou Jorge.

-Sacanagem né?- falou Fred

-Eu voto por faze-lo virar um sapo.- disse Jorge levantando a mão.

-Uma doninha!- disse Gina entrando na brincadeira, - ou ouriço!

-Concordo maninha! Peguem ele!

Mas não fizeram nada apesar de gargalharem muito, pois a sra Weasley segurou os gêmeos pelas blusas e disse ríspida:

-Fora! Fora! Essa cozinha não é grande o bastante pra essas brincadeiras! Meu Deus! Como os trouxas vivem nesses lugares apertados?

Saíram em direção a sala, levando copos e pratos com comida, pra comer na mesinha em frente a televisão, então Harry passou perto de Rony e Hermione que continuavam sérios, ele sorriu:

-Relaxem... com essas caras eu vou ficar com impressão que estão decepcionados em me ver de pé.

-Nem brinca com isso cara.- disse Rony sério indo pra sala.

-Ás vezes você só dá dor de cabeça.- disse Hermione meio séria, então chorando fez o que ele temia que fizesse a um bom tempo.

-QUATRO!- gritaram os gêmeos rindo.

Harry quase se afogou no cabelo lanzudo da amiga que dera outro abraço nele, escutou Rony bufar:

-Maluca, larga ele, se apertar mais ele sufoca...

-Vocês são tão insensíveis...- disse ela balançando a cabeça.

Ela se jogou no sofá e estufou a boca com uma bolacha, lágrimas escorrendo pelo rosto, Rony ficou olhando-a um tempão e passou um guardanapo pra ela, Harry sentou-se mais afastado, os gêmeos sentados no chão em frente ao sofá e Gina sentada na poltrona ao lado, em vez de ver os desenhos animados na televisão ele olhou pela janela, era uma manhã bonita e ensolarada.

Craque!

Eis que estava na frente deles Olho-tonto Moody, ele balançou a cabeça e comentou:

-Zero de segurança aqui, onde estão as varinhas de vocês? hein? E se eu fosse...

-Bom dia pra você também Moody.- comentou Lupin da cozinha. - está tudo pronto?

-Com certeza. - Moody se virou em direção a cozinha.- Temos alguns minutos. Margem de segurança...

-Esse cara me dá arrepios...- sussurrou Jorge, Fred concordou com a cabeça.

Mas Harry sentiu uma fisgada no coração, ele esquecera, e isso estava ocorrendo com certa frequencia agora, ele havia esquecido completamente de sua varinha.

Foi quando escutou um outro Craque! e alguém simplesmente desabou em cima dos Gêmeos, era Thonks...

-Poxa. desculpa aí.- ela disse se levantando.

-Que é isso.- disse Jorge.

-É , pode cair em cima da gente quando quiser!- Disse Fred.

Mas ela estava sorrindo para Harry, que reparou que o cabelo dela agora estava lilás, ela estava com roupas de trouxa, calça jeans, camiseta verde limão e jaqueta, então ela sentou no sofá empurrando um pouco Rony e disse alegre:

-Advinha o que achamos ontem?

Harry olhou desconfortavelmente para os gêmeos que olhavam de Thonks para Harry, era como se ele sentisse que eles estavam esperando para dar o bote, ele olhou pra ela pouco a vontade.

-Não achou falta de nada Harry?

-A varinha,- a voz dele soltou-se ansiosa.- você...

Thonks estendeu pra ele, havia puxado de dentro da jaqueta. ela também puxou outras quatro, varinhas abandonadas na sala dos Weasley, Harry ficou aliviado por não ter sido o único a cometer aquela burrada e Fred então gritou:

-Rá, você esqueceu a sua!- ele tirou sarro da cara de Jorge.

Jorge o olhou ofendido, Thonks devolveu as varinhas e se levantou rindo comentou:

-Pronto! Entregues a seus donos Moody! Viu, não morreu ninguém...

-Isso não é desculpa, a segurança... e não ponha a varinha aí menina!- ele falou apontando pra Gina que pulou do sofá, ela espetara a varinha entre a dobra dos braços do móvel -Se soltar faíscas hein? Graveheart te mata.

-Ah! Não seja exagerado olho-tonto!- replicou Thonks.- Ela não é tão rabugenta assim!

-Você que pensa... -disse olho-tonto balançando a cabeça.- Partimos em dois minutos, então se apressem!

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