-A maneira deles-
-A maneira deles-
Mais um café da manhã, mais dor de cabeça pelos óculos tortos, e Harry começou a pensar em como falar aos tios que iria embora as três da tarde.
Sua tia levantou para pegar mais suco para o Duda quando o tio o olhou e falou a velha frase que não dizia a um bom tempo:
-Precisa cortar esse cabelo.-o tio o encarou.
Pela primeira vez ele talvez concordasse com o tio, seu cabelo estava enorme, caia nos olhos, mas não tinha vontade de corta-los, talvez essa resistência fosse culpa dos milhares de cortes que fizera na infância, preferia somente afastar os cabelos dos olhos, grato por nesse comprimento eles ocultarem totalmente a sua cicatriz.
-Talvez eu devesse leva-lo para cortar isso...-disse a tia em tom de descaso
-Essa tarde...- começou o tio
Era a oportunidade, ele interrompeu:
-Eu queria mesmo avisar, virão me buscar hoje...
Um clima ruim, os tios se olharam, foi interrompido pelo tio furioso:
-Como assim!!! Como assim virão te buscar?!!! Isso virou hotel de... de gente-que-nem-você?
-Válter!!!-disse tia Petûnia, ela ainda se lembrava do comitê na estação no início das férias.
-Não é minha escolha.-disse Harry encarando o tio.
Eles trocaram olhares de zanga, Harry percebeu que o primo tentava sair da mesa sem ser notado, carregando seu copo de achocolatado e umas bolachas, a tia suspirava aflita.
-Nem pensar moleque!!! -Ele disse bufando.- Nada de carros voadores, nem lareiras explodindo!!!
-Válter!!! Os vizinhos!!!-pediu Petûnia olhando em volta como se os vizinhos estivem na cozinha.
-Não! Não!
-Já falei-disse Harry interrompendo friamente, sabia que encarava o tio de modo desafiador.- Não é minha escolha, eles apenas virão...
-Eu disse nada de coisas esquisitas!!! -disse Valter de pé ameaçador.
-Em nenhum momento eu disse que seria esquisito, eles virão como trou...
-Eles!!!-perguntou a tia.- Aqueles... aqueles da estação?- ela arquejava.
Harry pensou um pouco, não sabia mesmo quem viria, nem como viriam , apenas sabia que tinha que ficar pronto as três. Murmurrou para aliviar a tia.
-Acho que não. Acho que virão de um jeito que não chame a atenção.
O tio estacou no meio do caminho que fazia, parando ao lado de Harry e olhando Petûnia.
-Quando?
-As três da tarde, tenho que estar pronto pra sair as três.
-Tá certo, vá arrumar suas coisas, fique no quarto até lá.-disse o tio aborrecido.- Mas se acontecer algo esquisito.
-Não vai acontecer nada esquisito.- disse ele se levantando empurrando o cabelo longe dos olhos, indo até o quarto, mas sem acreditar nas próprias palavras.
Afinal, como e quem viria, ele pensava olhando o bilhete que recebera da ave mais estranha que já lhe entregara algo, depois é claro de Fawkes, que Harry nunca imaginou que veria ali na rua dos Alfeneiros.
Amanhã você será levado daí, avise os trouxas que iremos busca-lo.
Lá pelas três da tarde. Esteja pronto. Dumbledore já planejou tudo, fique sossegado.
M.
Quem é M? É quem viria busca-lo?, não pelo bilhete não dava para entender se outras pessoas viriam, Harry dobrou o bilhete e se ajoelhou no chão, puxou aquela tábua solta do piso e pegou o maço de pergaminhos que enrolara, todas as correspondências do seu mundo, ele guardava todas, desde os comunicados do ministério sobre suas “infrações” até aquele quadrado de pergaminho com uma pata de cachorro gravada com lama. Ele guardava para se sentir vivo, real, quando acordava a noite apreensivo, puxava e resma de pergaminhos e lia, das listas de material até os bilhetes de Rony e Hermione, lembraria a amiga que ela lhe devia um pergaminho enorme contando a história de seus NOM´S, então Harry se lembrou, separou o envelope com o resultado e deixou fora do rolo, levaria, seus amigos estariam mais interessados que ele naquele pedaço de papel.
Só para variar seu quarto estava uma bagunça, totalmente desarrumado, lembrou de Tonks, e seu jeito de “fazer malas”, como gostaria de poder fazer o mesmo naquele momento, já que havia quase um mês de bagunça naquele quarto.
O almoço foi tenso, Duda pela primeira vez na vida estava sem apetite, e Harry não conseguiu culpa-lo, das vezes que tivera contato com seu mundo, Duda sempre levara a pior, criara rabo, tivera um problema com alguns caramelos, e é claro, os dementadores, sua tia parecia que ia desmaiar a qualquer momento, tremia ao passar coisas ao seu tio, este sim engolia tudo rápido com cara de que quanto antes o tempo passasse seria melhor, Harry tinha que aceitar, estava tão ansioso quanto os três, se não estivesse mais, não adianta ficar preocupado, ele pensou consigo mesmo.
Mais tarde, quase no horário de ir, ele terminou a arrumação.
Fechou o malão e deixou próximo a porta, ao ver a movimentação o primo se trancara no quarto, som alto, Harry achava melhor assim, subiu as escadas e deu uma olhada a sua fachada, o outro lhe encarava, detonado, pelo espelho, tênis não aparecia na jeans preta , mais pra cinza de tão gasta, larga, escondida por um blusão também preto, simplesmente enorme, que Harry ganhara quase novo, após Duda joga-lo fora por achar ridículo e afirmar para a mãe que meninas usavam aquilo, ele se encarou mais atenciosamente ao tirar os óculos, não estava tão ruim, os hematomas diminuíram bastante e estavam mais claros, o corte quase não aparecia, não seria visível com os óculos, mas estava bem branco, talvez ficasse mais aparente por estar usando roupas pretas, ele passou a mão pela cabeça, e instintivamente fez algo que nunca fizera antes, arrepiou os próprios cabelos, foi tão involuntário que realmente sentiu como se visse outra pessoa a sua frente, mas não queria pensar naquilo, fechou a cara pra si mesmo e colocou os óculos, pegou a vassoura e a gaiola de Edwiges e desceu.
Sua tia passava pelo corredor e o olhou descendo as escadas, ela parou como se tivesse sido atingida pelo feitiço do corpo preso, encarou Harry e então, depois de uns segundos constrangidos em que ele esperou que ela começasse a gritar, ela pôs a mão na boca e se virou, deixando-o atordoado. Desta vez não fizera nada, então a tia devia estar pensando nas “visitas”, assim como ele que se sentou na escada mesmo, não queria ver os tios que esperavam na sala, ele simplesmente se encostou na parede e olhava Edwiges que estava anormalmente quieta na gaiola, talvez estranhando, pois desde que chegara na casa Harry não a prendera mais.
Os minutos passaram torturantes, o tio dando muxoxos de insatisfação, apareceu na porta da sala.
-Está na hora, isso prova que sua... sua gente, não sabe o que é pontua...
Ele não terminou a frase, escutaram um carro que parecia entrar no terreno e dar uma discreta buzinada, Harry e o tio se encararam, o tio se apressou para abrir a porta e a tia apareceu na porta da sala olhando para quem estava parado em frente a tio Valter.
Harry ficou surpreso. Muito surpreso.
Um homem, vestido de preto, com uma calça jeans, camiseta e uma jaqueta comportada social, estava na porta, o tio o olhou de cima abaixo e Harry percebeu que ele e a tia ficaram satisfeitos por não perceberem nada mágico nele, mas não podiam estar mais enganados...
- Viemos buscar o Potter.- disse uma mulher que Harry ainda não via.
Ali parado, com roupas de trouxa e com os cabelos oleosos presos , estava nada menos que Snape. Harry estava surpreso, mas tentou não transparecer, Dumbledore enviara Snape? Depois de tudo? Mas uma mulher loira, apesar de muito parecida com sua tia, com roupas parecidas com as dela, lhe chamou:
-Venha Harry, temos que ir.
Ele saiu, com a vassoura e a gaiola, Snape com o malão, a mulher abriu o portamalas e ajudou-o a pôr a gaiola no banco traseiro, Ele observou os tios olharem o carro, que sem dúvida era novo e bem caro e observarem os dois estranhos, isso com certeza era o melhor que podiam esperar.
Mas para Harry tudo parecia errado, ele acabara de entrar em um carro com Snape e uma mulher estranha, não escutou o que eles disseram aos seus tios, só reparou que eles pareciam satisfeitos, então Snape entrou, e manobrou o carro, a mulher sentada ao lado dele se virou e sorriu.
-E aí Harry?- ela fechou os olhos com uma expressão de concentração.
-Agora não!-sibilou Snape.
Mas era tarde, para alívio de Harry ele estava olhando para Tonks, com seu cabelo rosa, e rosto pálido.
-Não devia ter feito isso.-repetiu Snape contrariado.
-Nenhum trouxa vai reparar, e se reparar é porque você está correndo.
-Ela tem razão.- disse Harry, - O limite...- emendou e se arrependeu.
-Eu sei dirigir Potter!!!- cortou Snape.- Aliás é por isso que eu estou aqui!
-Tá ! Tá!- Cortou Tonks aborrecida.- Não precisa começar de novo. Todo mundo já sabe.
Harry olhou os dois fascinado, era a coisa mais irreal que presenciara, Snape olhava de esguelha para Tonks com aquele já conhecido olhar assassino, mas ela voltara a se virar para Harry sorrindo:
-E aí Harry como foram as férias?
Ele reparou que Snape balançara a cabeça, visivelmente, ele apenas respondeu.
-Como sempre.
Tonks o encarou um pouco e se virou pra frente, então como que tomada de uma curiosidade infantil ao ver o aparelho de som disse:
-Vamos escutar música de trouxas!!!
-Ah! Não de novo!- atalhou Snape.- Esse botão não!!!
Tonks parara com o dedo no botão. Pareceu assustada e então riu.
-É ! É esse que apertei antes... o que faz o carro desaparecer!!! Tinha esquecido!!!
-Ela disse pra não mexer em nada!-disse Snape com veemência.
-Ah, ela é tão chata quanto você!!!- disse Tonks e apertou o botão ao lado, uma música alta irrompeu pelo carro quase deixando todos surdos.
-....isse Não!!!- Snape apertou o botão e olhou Tonks furioso.
A bruxa ficou constrangida, mas ainda olhava o painel com olhos de criança, parecia mais o pai do Rony, Snape agora parecia realmente zangado, Harry desviou o olhar para fora, e resolveu ficar quieto. Com certeza aquela era a melhor guarda que Dumbledore pudera disponibilizar? Ou tudo estava realmente sossegado, ou realmente haviam problemas, onde estavam Olho-tonto, ou Lupin?
-Para onde vamos?- deixou escapar após um bom tempo, já meio chateado da viagem.
-Não interessa Po...-Snape começou mas foi cortado por Tonks.
-Para a Toca!!! Você sabe...
-Não devia falar nada...
-Não tem problema...
-Como não tem?
-Pelamordedeus!!! Não tem nenhum comensal da morte a quilômetros daqui.
Harry e Snape trocaram um olhar pelo retrovisor, mas Harry na verdade queria cair na gargalhada, Snape parecia querer sumir do carro, ele imaginou como deveria ter sido a viagem de ida. Tonks estava irriquieta e se virou de novo ao ver que Snape podia largar o volante e agarrar seu pescoço se falasse com ela.
O resto da viagem se arrastou como naquela barraca antes da primeira prova do torneio tribruxo, Tonks mencionara os comensais, então eles estavam na ativa? Realmente na ativa... talvez vigiando-o? Mas isso seria colocar Snape na vista, como espião, ele não devia permanecer incógnito? Harry estava confuso com sua situação, para A Toca? Não que quisesse ver a casa da Ordem novamente, mas seria seguro? Seria seguro pararem na Toca? Desde quando Snape , puro sangue, sabia dirigir? Obviamente o carro era mágico, mas não parecia, e se era mágico, era ilegal... E quem era ela? A “dona” do carro? Ele não entendia mais nada e simplesmente estava começando a ficar contrariado, encostou a cabeça na janela do carro, começava a escurecer. Snape fazia o carro voar, devia ser mágica, ou eles já teriam batido no carro de algum trouxa, a velocidade lembrava o noitibus, Harry ficou sonolento, continuava a ver as coisas passando, tirou os óculos e se recostou, não viu mais nada, estava tudo escuro.
Escuro como a noite mais negra, escuro como na noite em que ele voltara, mas não havia nada a sua volta, ele estava imerso em escuridão, sentia algo próximo dele se virou, ao longe havia um contorno, algo grande, era... um cão, grande como um urso.
-Sirius?
Ele viu o padrinho erguer-se e apontar atrás dele, se virou.
-Hogwarts...
Ele se virou mas Sirius não estava mais ali. Hogwarts também sumira... o que ele queria dizer? Sentiu algo ao seu lado, havia alguém no chão, alguém caído no chão, chorando, soluçando, mas quando deu um passo na direção da pessoa viu uma estranha luz brilhar por trás de si e se virou apreensivo, uma leve luz verde, e tudo ficou gelado, como se houvessem dementadores por perto então ele caia, estava caindo, caindo e então parou, estava voando, sentia a movimentação era como se estivesse montado em bicuço, mas mais leve, mais próximo de uma vassoura, ele sentiu como se atravessasse uma nuvem, água agarrando no seu cabelo, então a claridade de um amanhecer o atingiu com a surpresa de ver o que montava, montava um dragão... um imenso dragão vermelho que o levava para Hogwarts, Hagrid sorria quando o dragão se preparava para pousar:
-Você trouxe de volta! Trouxe de volta pra casa!
-Hagrid?
Mas da floresta veio um guincho horrendo e Harry caiu do Dragão e quando se levantou encarou Voldmort:
-Não ainda, não agora...
então ele lhe apontou a varinha, e Harry percebeu-se indefeso e sentiu um rumorejo e uma luz verde intensa. Gritou.
-O que foi isso?-perguntou Tonks assustada olhando-o
Harry acordara ainda no carro, com a mão apertando a cicatriz, sabia que soltara um exclamação de dor.
-Pesadelos Potter?-disse Snape que não parecia nem um pouco preocupado.
-É, e lhe mandaram lembranças...- disse Harry maldoso, observou que Snape não se movera, mas ficara um pouco pálido.
Ficaram em silêncio, então Harry percebeu que amanhecia e que ali a frente estava A Toca, e nunca ficara tão contente em vê-la. Na porta estavam o Sr e a Srª Weasley.
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