+ O treinamento pra valer
– Harry, por favor, me escute! Você não disse que nunca mais queria vê-la de novo? Não ficou mortificado com a notícia de que ela é uma Comensal da Morte? E não só isso, ela é irmã da Bellatrix! – Hermione relanceou um olhar para Lupin, pedindo apoio – Caso você se lembre, foi ela quem mat...
– Hermione, eu também pensei desta maneira – Afirmou Lupin, e a garota se calou para escutá-lo. – Mas vocês não conheceram a Marienne como eu conheci. Não, Harry, nem você conheceu ela tão bem assim – disse Lupin, quando Harry tentou se intrometer em suas palavras. – Posso garantir isso. Além disso, Hermione, foi você quem disse que ela não era uma pessoa de todo má, não foi isso? Você mesma disse que ela não era uma criminosa?
Todos os presentes olharam para Hermione, esperando sua resposta. A garota pareceu muito constrangida por um momento, mas no segundo seguinte desatou a falar, desenfreadamente.
– Olhe, pode até ser, eu realmente não acreditava que ela fosse uma Comensal da Morte, mas veja bem, olhem de quem ela é irmã, imagine a influência que esta mulher pode exercer sobre uma pessoa perturbada, não que eu esteja apressando as coisas, mas você não acha um tanto suspeito que a Bellatrix tenha convivido com ela e não ter mudado a maneira de pensar da Marienne!? Seria muita ingenuidade...
– Como você sabe que ela é irmã da Bellatrix? – Perguntou Harry, desafiador. Não acreditava que Lupin pudesse ter contado.
– Ora essa, eu sabia antes de você, Harry. – Disse Hermione, fazendo um gesto irritado com a mão. – O Departamento de Inteligência procura fontes e meios de descobrir. Mas essa não é a questão, o que importa realmente é que eu não acreditava que ela pudesse ser uma Comensal da Morte, mas... somente porque ninguém me apresentou evidências concretas para provar que ela era. Ser simplesmente parente de uma Comensal não quer dizer que ela também venha a ser. O Comensalismo não é genético, e ela poderia muito bem ser justamente o contrário da irmã... o que eu estou dizendo agora é para ele ter juízo! – E apontou Harry. – Pode até ser que ela não seja uma Comensal, mas esse bilhetinho é muito suspeito! Eu achei, sinceramente, que ela tinha dito para o Harry que não gostava dele porque ela queria vê-lo longe dos perigos que ele poderia correr, gostando de uma Comensal da Morte! Mas agora, acho que ela simplesmente não se importa! Se ele seguir a Marienne, provavelmente, muito provavelmente, vai encontrar um balde de Comensais da Morte, prontos para lançar tantos feitiços que ele nem saberia o que o atingiu! – A garota parou de falar, ofegante.
Lupin mirou o teto, pensativo. Em seguida, dirigiu-se para Hermione.
– Faz bastante sentido. Mas, como já disse, Hermione, eu convivi muito tempo com a Marienne, e posso lhe assegurar que mesmo sendo uma Comensal da Morte ela jamais faria mal ao Harry – e talvez seja Comensal por falta de opção.
Hermione encarou Lupin chocada.
– Mas... professor, eu ...
– Professor não, Remus. – Pediu Lupin.
– Ah, tudo bem... Remus, eu acho que não é possível ser Comensal da Morte faltando opção! Os Comensais são leais ao antigo mestre, e se são Comensais até hoje, não é por medo ou cautela; é por vontade de servir! – A garota respirou fundo antes de continuar – Não faz sentido prosseguir alguma coisa com medo, se a razão do medo não existe mais!
– E quem disse que não existe, Hermione? Por acaso se esqueceu que Marienne é irmã da Comensal mais obstinada que já se viu? Olhem... eu não queria contar isso para vocês, mas terei que contar, de uma maneira ou outra... como vocês devem imaginar, Sirius, tendo sido também um exilado da família Black, se tornou muito próximo de Marienne... e, como conseqüência, eu também. Assim que Sirius fugiu de Azkaban, foi a ela que pediu abrigo por uns tempos, porque ele sempre a ajudou, antes de ser preso... e me lembro que, nessa ocasião da prisão, ele me pediu que continuasse ajudando a garota em suas aulas em casa, e foi o que eu fiz até ela terminar o curso, sendo seu professor de Defesa Contra as Artes das Trevas! Então, posso dizer, seguramente, que conheço Marienne muito bem para ter certeza de que ela não é uma Comensal da Morte por opção!
Harry pareceu muito surpreso, imaginando como seria terrível ter aulas na casa dos Dursley, mesmo que os professores fossem excelentes, como Lupin... então imaginou como se sentia aliviado por conhecer alguém que sabia sobre o passado da namorada...
Num impulso, pegou o bilhete amassado e colocou-o sobre a mesa, num gesto quase mecânico. Em seguida, apanhou a varinha no bolso, mirou contra o bilhete e ordenou:
– Revelartis! – A tinta da mensagem “Eu te amo” dissolveu-se no próprio bilhete; foi dando espaço à outras palavras, escritas em outra letra, mais rabuscada e tremida que a de Marienne:
“ Sistema de Correios e Postagens Bruxo – Travessa Nottingtall – número 93 – Beco Diagonal”
– A carta saiu do Correio do Beco Diagonal! – Confirmou Harry, ao ler o endereço surgido no papel. – Precisamos ir para lá.
Hermione virou-se para Lupin.
– Nós vamos mesmo? – Perguntou a garota, ressabiada.
Lupin meramente sorriu.
– Sim, nós vamos, mas... ao que muito eu me engane, se a encontrarmos, encontraremos também os Comensais da Morte, como você mesma disse, Hermione – Anunciou Lupin, preocupado.
– Ah, e que importa isso!? Nós temos que trazê-la para cá! – Murmurou um Harry obcecado, mirando com um brilho fixo no olhar.
Hermione arregalou os olhos.
– Harry, você não usa seu cérebro, ou vai ver que o perfume da Marienne o entoxicou de vez! Você não sabe que os Comensais da Morte estão atrás de você? É como jogar a presa na frente do caçador! É estupidez, idiotice! Não percebe, esse é o jogo dela! Eu proíbo vocês de irem! – Exclamou a bruxa, e Harry riu.
– Você ouviu o Lupin falando que ela não deve ser uma Comensal da Morte por opção! Então, não vamos estar seguindo risco nenhum!
Hermione abriu a boca para retrucar, parecendo mais furiosa do que nunca, mas Rony segurou o braço da noiva, pela primeira vez intervindo na conversa.
– Mione, veja bem... eu também não concordo com a idéia de se atirar no meio de um bando de Comensais furiosos, mas tente ver pelo lado do Harry... a mulher nem ao menos deixou rastros de onde ia, e agora manda um bilhete desses!? Mesmo não querendo, nós deveríamos ir. Vamos lá, não somos um bando de inúteis, acho que aprendemos alguma coisa na escola, mesmo que não pareça – Riu Rony, tentando animar a noiva – Olhe, eu reconheço que não foi a idéia mais brilhante que o Harry já teve, mas se é para ele ter certeza de algo que está deixando ele pirado – Disse Rony, olhando para Harry em um ato quase de pedir desculpas –, então pode valer a pena. E, se ela realmente for uma Comensal da Morte, eu acho que todos nós concordamos que não é a coisa mais sensata do mundo adular o Harry para continuar com ela, não acham?
Lupin sorriu serenamente para Rony.
– É claro que não... em todo caso, acho que deveríamos deixar isso para amanhã, Harry. Está muito tarde agora, e não sabemos aonde se encontra a sede dos Comensais da Morte, e seria uma tarefa muito mais fácil de cumprir se fosse feita sob a luz do sol. Não acham?
Hermione, que parecia simplesmente desesperada em impedir a saída de Harry do Largo Grimmauld, concordou avidamente com a cabeça, o que deixou Harry ligeiramente irritado, mas não fez objeções graves; havia razão demais nas palavras de Lupin para discordar, seria realmente insensato da parte de um quase Auror sair em uma missão de risco sem a proteção do Sol... mas ainda assim, resmungou antes de concordar com a cabeça, mais por causa do aceno vigoroso de Hermione com a cabeça do que as palavras de Lupin.
– Bem... imagino que todos estejam querendo descansar um pouco... vamos subir e preparar as forças para amanhã, estou vendo que vai ser um longo dia...
Harry começou a subir as escadas de acesso aos dormitórios, seguido de perto por Rony e Hermione, quando ouviu uma campainha no saguão. Em seguida, em meio aos berros enlouquecidos da sra. Black, ouviu uma voz muito familiar:
– Hum... Lupin? – Disse a voz, e Harry decididamente estacou na escada.
– Harry, o q... – ia perguntando Rony, que quase tropeçou no amigo, mas Harry fez sinal para calar-se, e o amigo, intrigado, obedeceu. Harry colou o ouvido na parede para ouvir melhor.
– Ah, o senhor – respondeu Lupin, com uma voz parecendo espantada – Hum, entre, por favor...
– Obrigado, Lupin.. eu... a Tonks estaria aí, por favor? Eu realmente preciso falar com ela.
– Claro.. claro que sim, vou chamá-la, ou o senhor prefere vir comigo? – Perguntou Lupin, educadamente.
– Prefiro ir com você, suponho... nunca gostei desse lugar – Disse a voz, com desagrado. Lupin passou em frente à escada, parecendo um tanto preocupado, seguido de perto por um bruxo muito baixinho, e Harry arregalou os olhos ao vê-lo.
– Lebatofsky? – Indagou Harry, mais para si mesmo do que para os amigos.
– Quem é esse cara? – Perguntou Rony.
– Meu professor, no curso de Aurores... que estranho, o que ele está fazendo aqui? – Harry enviou um olhar sugestivo aos dois amigos, e desceu os poucos degraus que subira, seguindo de perto o mestre. Rony seguiu-o, também aparentemente intrigado, deixando Hermione sozinha na escada.
– Harry, eu acho que... ah, deixa para lá – Murmurou Hermione, que saiu correndo atrás dos amigos, e parando abruptamente ao ver a nuca ruiva de Rony. Quase derrubou o noivo, mas conteve-se à tempo. Lebatofsky e Lupin tinham chegado até a cozinha, aonde Tonks auxiliava a sra. Weasley a limpar os pratos. Não estava fazendo um serviço muito bom; a maioria dos pratos sujos do jantar pareciam estar em cacos espalhados no chão. Tonks estava justamente reparando os pratos quando os dois bruxos apareceram no lugar.
– Calma aí, gente, estou tentando ouvir... – Disse Harry, apurando os ouvidos; Tonks se livrara dos pratos em suas mãos e virara-se, intrigada, para Lupin e Lebatofsky.
– Hum, o que está havendo? – Perguntou a jovem. Com ar muito grave, Lebatofsky sentou-se à mesa; a sra. Weasley parecia bastante desgostosa ao ver que o bruxo colocara os cotovelos na mesa, mas não fez nenhum comentário. Lupin e Tonks se sentaram lado a lado, para escutar o bruxo.
– Bem... – O homem não sabia exatamente como começar; engasgou três vezes antes de dizer alguma coisa significativa, e não somente trechos de palavras. Quando Lupin e Tonks finalmente perceberam que o bruxo tentava indicar alguma coisa com seus acessos de engasgo forçado, a bruxa olhou para fora da cozinha e encontrou Harry, Rony e Hermione tentando espreitar alguma coisa.
– Ah! Agora que eu entendi tudo... – Riu Tonks; a bruxa virou-se para Lebatofsky, sussurrou algo e, ao ver a resposta afirmativa do Auror, somente com a cabeça, deu um sorriso e levantou-se da cadeira.
– Desculpe, Tonks, nós só estávamos... – Começou Harry, ao ver a bruxa muito próxima.
– Espionando. – Completou Tonks, ainda rindo. – Não vai ser preciso, ele deixou vocês entrarem.
Harry, Rony e Hermione trocaram-se sorrisos, e seguiram adiante. Harry sentou-se ao lado do Auror; Rony e Hermione, que não conheciam o bruxo, sentaram-se do lado oposto da mesa.
– Certo... bem... nós, no Centro de Aurores, recebemos uma notificação oficial há algumas horas atrás, avisando que os Comensais estariam invadindo o Hospital. Como o Centro está desestabilizado no momento – Lebatofsky enviou um olhar curioso para Harry, que baixou o rosto, sentindo-se culpado –, pensei em vir pedir ajuda à vocês, da Ordem da Fênix. Sabe... não imagino como poderemos vencê-los sem a ajuda de pelo menos alguns integrantes da Ordem.
– Claro que não teríamos problema algum em ir com vocês – Disse Lupin, sério.
– Podemos ir também? – Perguntou Harry, pressuroso. Rony encarou-o chocado e Hermione abriu a boca para falar, mas depois resolveu mirar o teto, decidida.
– Creio que não seja uma boa idéia... – Disse Lebatofsky vagamente, encarando Lupin.
– Professor, não haveria hora mais oportuna para treinar o que o senhor ensinou. – Argumentou Harry, esperançoso. Lebatofsky pareceu desconfortado, mas não pode fazer objeção à uma afirmação tão correta.
– Ah, está bem – Disse o bruxo, e as sobrancelhas de Lupin e Hermione ameaçaram sumir sob seus cabelos. Lupin não manifestou sua surpresa, mas, em compensação, Hermione o fez.
– Me desculpe, professor, mas eu não posso acreditar que nós faremos alguma diferença... somos muito jovens ainda... temos poucos conhecimentos...
– Mas somos integrantes da Ordem, e não podemos negar uma missão que nos é incumbida. Não é isso, professor? – Disse Harry e, muito a contragosto, Lebatofsky concordou com a cabeça, sem emitir som algum.
– Isso resolve tudo, para mim – Disse Harry, sorrindo tranqüilamente. Não podia deixar de pensar que Marienne poderia estar junto com os Comensais, e quem sabe Harry poderia conversar, nem que durante alguns minutos, com ela... Hermione parecia partilhar do mesmo pensamento, mas a idéia não a agradava nem um pouco.
– Desculpe, professor, mas eu realmente não creio que Harry deva ir nesta missão. E acho que os motivos são muito numerosos e claros para todos, não? – A garota parecia apavorada com a possibilidade de permitirem que Harry fosse atrás de Comensais da Morte, e Harry enviou-lhe um olhar fulminante.
– Eu derrotei o mestre, por que não posso enfrentar os subordinados? – Perguntou, baixinho, e Hermione mexeu a cabeça furiosamente.
– Quer que eu enumere as razões? – Perguntou a garota, quase agressivamente. – Um: a maior parte deles está furiosa porque você matou o mestre deles; dois: muitos deles são tão ou até mais agressivos, violentos e sanguinários do que Voldemort. Três: você não pode se expôr assim; Quatro: você não deve encontrar Marienne agora. – Quando Hermione enumerou a quarta razão, todos se calaram subitamente. Todos pareciam compreender as palavras se Hermione, e, para o horror de Harry, pareciam concordar com elas. Rony manteve-se quieto, Lupin e Tonks se entreolharam e Lebatofsky ajeitou a gola da veste; todos pareciam muito constrangidos, com exceção de Hermione, que encarava Harry avidamente, os olhos apertados em fúria. Havia, de fato, muita razão no que dizia, como sempre. Mas ele não podia perder a oportunidade!
O silêncio constrangedor foi interrompido pelo barulhinho teimoso de uma coruja tentando entrar pela janela fechada da cozinha. Lupin, que era o mais próximo da ave, levantou-se e deixou-a entrar, ainda evitando o olhar de Harry. A coruja pousou no ombro de Lebatofsky, deixou um papel minúsculo em seu colo e voltou para o ar frio da noite. O bruxo leu o bilhete muito rápido, e depois disse, com ar grave:
– Bem, parece que os Comensais da morte já destruíram um andar inteiro do Hospital. Acho que isso não é mais uma questão de escolha, Hermione – Harry nem ao menos se questionou sobre como o professor conhecia sabia que o nome de sua amiga era Hermione – , mas temos que ir, todos. Não podemos, por mais incompetente que tenha sido, deixar Fudge morrer. Nem tampouco os outros pacientes do St. Mungus. Vamos.... aprontem-se logo. Não temos muito tempo a perder. – O professor parecia muitíssimo descontente em ter que dizer a Harry que podia acompanhá-los; decididamente evitou seu olhar. Mas o estômago de Harry dava saltos de alegria: iria ver Marienne!! Iria reencontrá-la, finalmente! Não pôde deixar de sorrir ao se levantar da mesa e seguir Rony e Hermione até o andar de cima do casarão, aparatando, naturalmente; Harry viu de relance a expressão fechada no rosto de Hermione antes da garota sumir no nada. Imitando-a, surgiu, em segundos, no seu dormitório. Vestiu uma capa para lhe aquecer, embolsou a varinha que estivera sobre o criado-mudo e desaparatou para o andar de baixo; Rony e Hermione já estavam lá, e Lebatofsky dava os últimos conselhos:
– ... e vocês três, não se separem até segunda ordem, precisamos de um grande número de pessoas para encontrar esses Comensais e tentar reestabelecer a calmaria; já contatei alguns amigos meus, Aurores, e imagino que já estejam lá, para tentar acalmar a situação... e lancem somente feitiços comuns, estuporantes, congelantes e coisas assim, certo? E... tentem pensar com calma antes de agir, para não deixar a coisa toda pior... e aparatem somente no Salão de Atendimento, não tentem entrar em outro lugar para agilizar, será terrível se nos perdermos... e mandem mensagens se precisarem de ajuda... certo... vamos.
Houve rumorejares de capas simultâneos; todos pareciam estar executando o mesmo movimento, ao mesmo tempo...
Harry abriu os olhos à tempo de se desviar; um pilar gigantesco do prédio do Hospital acabara de desabar no chão, completamente em chamas, carbonizando-se completamente. Em poucos minutos, o pilar já estava completamente destruído.
– Harry! – Chamou uma voz aflita em suas costas. Hermione o encarava absolutamente desesperada, e agarrou a mão do amigo para trazê-lo ao resto do grupo.
– Ele está aqui, gente! Eu o achei! – Gritou Hermione, indo em direção à Rony e Lebatofsky; Lupin parecia estar em outro andar.
– Graças a MERLIN! – Suspirou Lebatofsky. Ótimo, olhem; eu vou ajudar o Remus, vocês, por favor, vão patrulhar o andar de Lesões Causadas por Feitiços e procurem Cornélio Fudge... e avisem para os pacientes vivos que estamos aqui tentando controlar a situação... – Lebatofsky aparatou, e Harry, Rony e Hermione se encararam por um minuto ou menos.
– Bem, vamos, então? – Adulou Hermione, decidida, indo à frente dos garotos; subiu as escadas correndo, Rony e Harry logo atrás dela.
– Por que não simplesmente aparatamos? Chegaríamos muito mais cedo...
– Não sabemos se existem Comensais da Morte no caminho... é melhor entrar pela porta, será mais fácil estuporar eles – Comentou Rony, ligeiramente afogueado, pois corria na escada. – Foi o que Lebatofsky disse para fazermos, antes de você chegar.
Estavam chegando ao quarto andar, absolutamente cansados e ofegantes, mas nenhum deles demonstrou qualquer sinal de seus sentimentos; não ousaram diminuir o passo quando chegaram ao corredor do andar.
– Muito bem! Já chamamos a atenção dos idiotas; agora vamos nos espalhar. A idéia é pegar o Fudge, já sabem disso, então quero o máximo de Comensais na região... aparatem imediatamente lá, acho que vocês sabem aonde fica, não? E Marienne, você vai liderar esse grupo, não me desaponte, ou vai enfrentar a minha ira – Disse Bellatrix, olhando a irmã de alto a baixo. Marienne segurava a varinha frouxa na mão, e encarava o nada fixamente.
– Han.... o quê? Ah... certo.... vamos – Disse a bruxa vagamente, seus pensamentos longe dali... será que Harry já sabia o que tinha acontecido? Será que ele viria? Será...
– Mari, eu quero lhe dizer uma coisa, se nós sairmos vivos daqui – Sussurrou Draco no ouvido da amiga. Marienne não o ouviu com a atenção que seria de bom-senso prestar; olhava os cantos, decidida a achar algo que mostrasse que Harry estava ali.
– Hum? Ah..certo – Disse Marienne novamente. Os Comensais aparataram imediatamente. Marienne não sabia ao certo como conseguira aparatar no corredor ou entrar na enfermaria... as cenas pareciam difusas, ligeiramente borradas... a cabeça dela ardeu de febre... sentiu que iria vomitar, daqui a pouco... mas não vomitou; seu estômago deu uma volta completa ao Marienne identificar os cabelos negros de Harry Potter. Abriu a boca, apavorada e surpresa, seus olhos se arregalaram até a órbita. Harry segurava na mão de uma mulher de aparência muito doente e magra, e um homem de traços de mesma definição se levantou também; ambos pareciam vidrados, enfeitiçados, não pertencentes a este mundo. Harry virou-se para frente, para adular a mulher a sair dali, e seus olhos se levantaram.
Seus olhares se encontraram.
Não se viam à menos de um dia, mas parecia muito, muito mais; aquele instante ficou congelado na eternidade. Marienne quase podia ver seu reflexo nos olhos verde-garrafa de Harry; a sensação febril voltou na cabeça de Marienne, e a mulher sentiu perder as forças; desmaiou nos braços de Draco, que estava bem atrás dela.
– Harry, o que você está fazendo aí parado!? – Gritou Hermione, derrubando dois Comensais com um bem lançado feitiço de Estuporamento. Harry não tirara os olhos de Marienne, e quando a viu cair, achou que tinha caído também. Não podia se dar ao luxo de ver como ela estava; Draco a pousara em uma poltrona, mas ela estava próxima demais dos Comensais da Morte para ele poder se aproximar... só se....
– Protego! – Gritou Harry, apontando a varinha para si mesmo, e saiu pulando pelas camas da enfermaria fechada até chegar em Marienne; sentia alguns feitiços vindo em sua direção, mas com o feitiço Protetor, não os sentia; pulou da última cama, parando, desajeitamente, na frente de Draco Malfoy, que sorriu.
– Ah, há quanto tempo eu queria uma chance! – Draco pulou como um maníaco no mesmo lugar. Harry aprontou a varinha. Iriam duelar, não só como Comensal versus Auror; Harry sentia que a luta entre os dois também significava Marienne. Os raios saídos de suas varinhas iluminaram a enfermaria fechada; alguns Comensais até pararam de atacar para apreciar o espetáculo, o que deu a oportunidade para Rony estuporar quatro deles, jogar um pela janela aberta e mandar o outro para o teto, flutuando no ar e completamente mudo. Hermione sorriu admirada para o noivo.
– Estupore! – Gritou Harry.
– Crucio! – Gritou Draco ao mesmo tempo. Os dois feitiços ricochetearam no teto e atingiram Comensais que assistiam a cena; Draco não pareceu se lamentar, sorriu com mais avidez.
– Só um treinamento, Potter... só para esquentar... CRUCIO! Gritou Draco, o feitiço acertando Harry em cheio; sentiu seus ossos arderem como se estivessem em uma lareira em brasa; Harry se contorcia no mesmo lugar, ainda mais torturado pelas risadas de Draco e seus asseclas...
– Lacarnum Inflamarae! – Disse Harry, apontando a varinha debilmente para a cabeça de Malfoy, sem muito foco; os cabelos do garoto começaram a ficar em chamas, e ele correu, desesperado, as mãos à cabeça.
– Façam alguma coisa, idiotas! – Gritou Draco com rispidez, mas os Comensais da Morte pareciam temer que o fogo fosse contagioso, e se fizeram alguma coisa, foi se afastar o mais rápido possível do garoto. Um Comensal,querendo fugir, pulou janela abaixo.
– Finite Incantatem! – Disse Hermione, mas apontando para Harry. Os ossos e músculos de Harry relaxaram; o garoto pôde se levantar sem dificuldade, a dor desaparecendo. Harry pulou duas camas para chegar perto de seus amigos, afastando-se de Draco e Marienne.
– Obrigado, Mione – Sorriu Harry. Agora só havia na sala um Draco de cabeça em chamas e mais alguns retardatários, que não sabiam se ficavam seguros no mesmo lugar ou se atreviam a lutar com eles.
– Que foi? Perderam a coragem, eh? – Gritou Rony em uma risada alta, gaitada e debochada. Hermione estremeceu no mesmo lugar. Um Comensal relinchou, parecendo um cavalo enraivecido, e gritou um feitiço em direção à Rony que Harry nem ao menos ouvira falar.
– Rony... Rony!
O garoto parecia ligeiramente esverdeado e bastante doente; em seu rosto surgiram grandes inchaços cor de abóbora, que se mesclavam suavemente com suas sardas. Sem pestanejar, Rony caiu para trás, a boca aberta, escorrendo dela um líquido pegajoso e escuro. Os olhos de Hermione se arregalaram de choque e fúria. Dando a idéia de que poderia ter feito isso a qualquer hora, mas não o fizera por motivos que ela preferia esconder, a garota estuporou o restante de Comensais, e lançou em Draco uma série de feitiços que definitivamente eles não aprenderam em Hogwarts, deixando o garoto estatelado no chão, branco como giz. Os cabelos loiros do garoto ainda crepitavam, quase inteiramente queimados.
– Isso me parece uma Azaração da Fúria Descontrolada das boas – Disse Hermione, analisando com olhar torto o noivo. – Geralmente é lançada quando a pessoa tem seu orgulho ferido ou se sente ameaçada moralmente – Explicou Hermione, depois de engolir o livro texto – Provavelmente o Comensal nem sabe que acertou Rony... basta ter a varinha na mão e experiência suficiente em magia para o nervosismo afluir através do cerne da varinha.
– E tem jeito de curar? – Perguntou Harry, tenso, achando que tinha engolido uma bola de golfe sem querer.
– Imagino que sim... afinal, isso aqui é um hospital, certo? Existe uma poção curadora, mas os ingredientes são terrivelmente trabalhosos de se obter... você se importa se eu levar o Rony até a Ordem da Fênix, Harry? Lá pelo menos ele pode ficar algum tempo em paz e sem riscos... Volto em um minuto para ajudar você – Prometeu a amiga, os olhos brilhantes e lacrimosos.
– Sem problemas – Assegurou Harry, sorrindo. Hermione conjurou uma padiola e levitou Rony até ela, e em seguida, segurando uma das bordas da padiola, desaparatou.
Agora Harry teria a oportunidade que esperava.
Foi andando lentamente até a outra extremidade da sala; na hora da luta, tinha se deslocado demais da poltrona aonde ficara Marienne. Pulou alguns estrados quebrados, saltou (e chutou para o lado) Draco Malfoy e aproximou-se de Marienne... estavam cara a cara...
– Enervate – Murmurou Harry para sua varinha, apontando Marienne. A mulher se remexeu na poltrona, parecendo desconfortável; estremeceu no mesmo lugar e abriu os olhos.
Se encararam.
– Oi, Mari – Disse Harry, sorrindo de uma orelha a outra.
A moça se ajeitou na poltrona, sentando-se de um jeito estranho; as suas costas e pernas estavam apoiadas nos braços da cadeira macia. Encarou Harry, e sentiu seu rosto corar. Abriu a boca para falar, mas quando se deu conta, estava chorando.
– Ah, H-H-arry, vo-vo-cê nã-nã-não dev-veria estar aqu-qui, tem um bando de Comensais tentando pe-pe-gar você...
– Incluindo sua irmã? – Sorriu Harry. Os olhos de Marienne se arregalaram.
– Como... como você... soube? – Perguntou a moça, chocada.
– Isso não é importante. O que importa é que eu gosto de você de qualquer maneira, e não poderia deixar de vir, depois de receber o bilhete.
– Bilhete? Que bilhete? – Perguntou Marienne, a voz ainda fraca.
– Não minta para mim – Riu Harry; apesar de não achar nada engraçado ver a namorada se fazer de besta.
– Harry... de que bilhete você está falando?
Harry vasculhou os bolsos. Sabia que estava lá. Retirou, então, um papelzinho amassado, que fora entregue pela coruja que visitara o Largo Grimmauld há poucas horas atrás. Entregou-o a Marienne, fazendo careta de pouco caso.
– Vai me dizer que essa letra não é sua? – Riu Harry. Marienne levantou os olhos para ele, chocada.
– Harry, sinceramente... esse bilhete não é meu – Disse Marienne, fitando o nada interrogativa. – Mas quem poderia tê-lo mandado?
– Você... não me mandou esse bilhete? – Perguntou Harry, mortificado. Ah... não, ele não poderia ser tão estúpido... aquela brincadeira já tinha perdido totalmente a graça... –Você nem foi no Correio?
–Bem, sim, eu fui ao correio, mas não, Harry, não mandei esse bilhete para você! Mas...
– Mas o quê? – Perguntou Harry, o coração batendo desenfreado.
– Mas... eu não posso negar que eu realmente estou perturbada com este bilhete.
Perturbada? Perturbada? Sinceramente, não era a palavra que Harry queria ouvir... fora até o St. Mungus cheio de esperanças, imaginando uma declaração de amor maravilhosa, um pedido de perdão, lágrimas... até backing vocals cantando aquelas musiquinhas bregas que a Tia Petúnia ouvia no rádio... mas agora o sonho tinha se tornado uma etérea nuvem de poeira, que podia ser desfeito com um simples abano – ou com uma palavra como “perturbada”. Era uma palavra realmente perturbadora.
– Por quê? – Perguntou Harry, cabisbaixo, se sentindo a pessoa mais idiota da face da Terra. Marienne encarou-o por alguns míseros segundos, mas não tardou em dizer a resposta. Levantou-se da poltrona, caminhou três passos em direção a Harry e, muito próxima a ele, rosto a rosto, nariz a nariz, ela disse:
– Você ainda pergunta? – E deu-lhe o beijo mais caloroso que Harry já recebera em toda a sua vida. O garoto sentiu o mundo rodopiar rapidamente embaixo dos seus pés, e podia jurar que ouvira uma voz muitíssimo semelhante à da uma das cantoras prediletas de Tia Petúnia, cantando baixinho em seu ouvido; quando separaram-se, Harry tratou de retribuir o beijo da maneira mais intensa que conseguiria; os dois estavam ali, relembrando os velhos tempos, compensando o tempo perdido, sem precisar de explicações mútuas e pouco se importando com isso, quando a porta da enfermaria explodiu e ouviram uma gargalhada fria e assustadora, cheia de satisfação:
– Ora, essa.... minha linda irmãzinha e pequeno Potter, juntinhos! Que comovente...
Bellatrix acabara de irromper pela porta, a varinha em punho soltando fagulhas verdes e ameaçadoras.
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