+ A meia-Comensal
Harry sentiu-se mal. De alguma maneira, ele não saberia explicar como, já aguardava aquela notícia. Sentia dentro de si mesmo que Marienne guardava um segredo que jamais poderia revelar sem que ele o odiasse. Angustiado, Harry abaixou a cabeça, evitando encarar os amigos. Ouviu a voz de Hermione, lá encima, falando-lhe, com uma espécie de choro contido em suas palavras:
– Harry... eu sinto muito.
– É... cara, você vai encontrar um monte de gente legal por aí! A Marienne não é a única no mundo! Ai, Mion... – Ia dizendo Rony, até sua noiva cutucar-lhe dolorosamente no braço, fazendo-o calar-se. Harry deu uma espécie muito estranha de risada, e disse em uma voz que decididamente não era a sua:
– É... vocês tem razão, eu... eu vou dar uma volta por aí, até o almoço, tá bem? Eu... – e saiu, completamente desolado, e nenhum dos amigos tentou impedí-lo. Harry automaticamente se dirigiu para o quarto de Sirius, que antes era ocupado pelo padrinho e por Bicuço; havia uma majestosa cama no centro, apesar de parecer bastante mal cuidada pelo tempo e pelas traças (e talvez também por Bicuço; definitivamente traças não faziam rombos em forma de bico). O quarto era amplo, apesar de bastante empoeirado e abafado; haviam grandes cortinas vermelho-vinho cobrindo janelas que mais pareciam portas, e um enorme tapete estava estrategicamente colocado ao lado da cama. Além disso, havia vários armários, estantes, gavetas, portas para todos os lados, gostos e tamanhos. Harry deitou-se na cama esfarrapada e, após levantar uma densa nuvem de poeira, virou-se de lado e descobriu uma modesta escrivaninha ao lado da cama. Houve um momento tenso, em que a escrivaninha, desgastada pelo tempo, emperrou sua gaveta; Harry agarrou o puxador da gaveta e tentou abrí-la durante alguns bons minutos, até a madeira soltar-se suavemente enquanto Harry puxava. A gaveta caiu em seu colo, e Harry caiu no chão.
Havia uma série de artefatos dentro da gaveta, tantos até que surpreendia, já que a gaveta era pequena: um livro grosso de capa de couro bege, alguns envelopes, uma caixinha de música e algo que parecia ser uma chave, porém bastante desgastada. Harry despejou sem cerimônia os conteúdos da gaveta na cama, e os examinou cuidadosamente. Primeiro abriu o livro.
Era um álbum cheio de fotos. Haviam algumas realmente antigas, amareladas, até, em que aparecia um bebezinho de cabelos muito negros e olhos reluzentes. Harry virou as páginas. As fotos seguintes mostravam um garoto mais crescido, com dez, onze anos, segurando feliz um envelope nas mãos que, sob um olhar mais atento, era a correspondência de Hogwarts. Em seguida (Harry já estava esperando por um momento como esse), viu Sirius abraçado com dois amigos tão altos quanto ele, os três sorrindo calorosamente, e um baixinho na frente da foto, sorrindo também. As mãos de Harry tremeram. Estava, nesse momento, observando o passado de Sirius, e constatando a amizade que havia entre os Marotos. Olhou os olhos de Rabicho – aquele ar ratinheiro não abandonava seus olhos nem quando não estava transfigurado – e sentiu um assomo de ódio. Virou a página. As fotos já mostravam Sirius e seu melhor amigo, James, sentados em bancos altos e devorando diversos sanduíches, enquanto uma mulher de aparência bondosa sorria simpaticamente para Harry, carregando uma bandeja nas mãos. Não parecia que aquele lugar pertencesse à mansão Black, então Harry deduziu que aquela só poderia ser a casa de seu pai, o que o fez sentir-se mais estranho ainda. As páginas continuavam recheadas de fotos, mas Harry não quis mais vê-las. Sentiu-se estranhamente irreal enquanto observava o passado de Sirius, como se não pertencesse àquela vida. Abandonou o álbum e virou-se para os outros objetos. Recolheu os envelopes espalhados pela cama e os abriu; eram realmente cartas, muitas, que pareciam vir de diferentes pessoas. A primeira que Harry analisou era a de Hogwarts – idêntica às que recebia, o mesmo timbre em alto relevo, a mesma letra fina – convidando Sirius para entrar em Hogwarts. Era a primeira carta, do primeiro ano. Harry pensou em guardá-la para si, mas sua curiosidade falou mais alto e resolveu abrir os outros envelopes primeiro.
A segunda carta era da mãe de James Potter (o nó no estômago de Harry começou a se desenvolver), convidando Sirius para visitá-los no verão. Harry deu risadas ao ler a carta e descobrir porque não fora o próprio amigo de Sirius que lhe escrevera a carta: “Sinto muito, Sirius, mas infelizmente seu amigo não pôde lhe mandar uma carta de férias porque está muito ocupado com o castigo que eu passei para ele. Desde que ele transformou as orelhas da tia Adelaide em beterrabas que dançam, ele está bastante atarefado... mas assim que ele aprender que vegetais não são órgãos auditivos, aí sim, ele vai voltar a escrever cartas para você.”, avisava a sra. Potter na correspondência.
O terceiro envelope Harry simplesmente não conseguiu abrir; tentou abrí-lo pela aba, depois tentou rasgar sua lateral, furou-o com a ponta da caixinha de música, nada adiantava, simplesmente o papel se reconstituía de maneira perfeita, impedindo que Harry ao menos conseguisse dar uma espiada no que havia dentro do envelope. Desconfiado, o moço deixou a carta de lado, mas não sem pensar bastante em uma maneira de abrí-la. Foi então que resolveu abrir a caixinha de música.
A música que tocava era bela e suave, e lembrava Marienne. Harry podia vê-la dançando pelo quarto como se fosse uma brisa suave, podia sentir o toque suave de suas mãos aveludadas avaliando seu rosto... Harry suspirou e tombou para o lado, dormindo profundamente sobre os lençóis rasgados.
– Harry... Harry! – Dizia uma voz grave, chamando-o à irresistível realidade. Harry fechou os olhos, pensando que era a segunda vez que isso acontecia no mesmo dia, o que lhe causava intenso desagrado.
Abriu os olhos. Era Lupin que o chamava, avaliando Harry com o rosto tenso. O jovem endireitou-se e pigarreou, pois sabia que sairia uma voz muito rouca caso tentasse falar.
– Imaginei que estaria aqui – Sorriu Lupin, com simplicidade. – A sra. Weasley está lhe chamando para o almoço, mas se você não quiser descer, ela disse que vai entender.
– Eu... – Disse Harry, mas não conseguiu uma continuação para a sua frase. Lupin falou, bem à tempo de poupar um silêncio desagradável.
– Harry... eu devo lhe dizer uma coisa... sei que talvez isso seja muito, muito ruim da minha parte, e talvez isso lhe faça muito mal, mas eu não sei se consigo guardar essa informação de você, e acho que você tem o direito de saber. A decisão vai ser sua, e eu imagino qual seja essa decisão, mas ninguém poderá impedí-lo. Infelizmente, eu sou a única pessoa que pode lhe contar essa informação, também, e talvez eu me sinta ainda mais mal em saber disso. Mas..
– Por favor, diga, profes... han... Lupin.
Lupin andou pelo quarto, aparentemente pensando por onde deveria começar. Relanceou um olhar para a cama de Sirius, levantou as sobrancelhas em exclamação e disse, parecendo agora que tinha esquecido o que estava falando:
– Quem lhe mostrou essa caixinha de música? – Perguntou Lupin, parecendo agora muito interessado.
– Ahh... fui eu que vi... estava.. han... mexendo nas coisas da escrivaninha, e descobri... ah... – Somente agora Harry percebeu que não era uma atitude muito bonita da sua parte ficar vasculhando as coisas dos outros assim, mas Lupin pareceu não dar importância para isso. Sorriu.
– Ah, essa caixinha... haha, quantas coisas aconteceram... – um brilho saudoso iluminou os olhos de Lupin, e ele pegou, muito cuidadosamente, a caixinha de música. Em seguida, sem olhar para Harry, disse:
– Esta caixinha é um presente que Sirius recebeu de uma admiradora secreta... acredito que o nome dela era Violeta, sim, provavelmente era esse o nome... ela era da Lufa-Lufa, e os dois se viam realmente pouco, então ela resolveu presentear Sirius com uma coisa que nunca o faria esquecê-la... – Um sorriso maroto, pouco comum, surgiu no rosto de Lupin, e ele acrescentou: – você abriu essa caixinha, Harry?
– Hum... sim, abri – Confessou o jovem.
– Então... provavelmente você caiu no sono... essa era a idéia da garota, fazer Sirius se apaixonar por ela através de sonhos... mas o feitiço deu errado, e Sirius passou a sonhar com a garota que ele já gostava antes e ter visões sobre o futuro da garota que amava, e a pobre Violeta ficou de mãos abanando.. coitada.. uma idéia engenhosa, até...
Harry não sabia porque Lupin estava lhe contando aquilo, mas sorriu. O bruxo, em compensação, ficou seríssimo, como estava anteriormente.
– Então, Harry... como eu estava lhe dizendo... provavelmente eu vou me sentir muito culpado depois de lhe contar, mas acho que devo, ou não estaria aqui; provavelmente Sirius me obrigaria a contar, ou ele mesmo lhe contaria. Bem... venha comigo.
Lupin manteve a porta do quarto aberta até Harry passar completamente; em seguida fechou-a com sutileza, e andou lado a lado com seu antigo aluno, muito calado. Só voltou a falar quando se encontravam nas salas mais baixas do casarão; Harry podia ouvir o barulho animado de talheres e pratos na cozinha, mas nesse momento não sentia nenhuma fome; Lupin continuou conduzindo Harry até a sala de estar, e parou com o garoto bem em frente à tapeçaria Black.
– Hum... por que estamos aqui? – Perguntou Harry, indeciso, já que Lupin continuava a mirar a tapeçaria como se nada tivesse acontecido. Finalmente, o ex-professor puxou a varinha, bateu-a três vezes na árvore genealógica dos Black e exclamou “Revelartis!!”. Algumas linhas foram aparecendo, como se algo estivesse correndo por debaixo da tapeçaria... e a tapeçaria inteira brilhou intensamente. Quando a luz cessou, Harry observou que haviam novas linhas na árvore. Lupin falou.
– Harry, por acaso você sabe quem é uma das primas mais próximas de seu padrinho, não sabe?
– Ah... sim, eu sei... é a Bellatrix... – Disse Harry, agora amargurado. Não gostava daquela mulher, iria odiá-la para o resto da sua vida até poder se vingar.
– Sim, muito bem... você sabe, a mãe de Bellatrix nem sempre foi uma mulher... bem... ela não gostava muito do marido que tinha, então se divorciou, como você pode ver aqui – e apontou para o nome acima de Bellatrix; a tapeçaria, já gasta pelo tempo, impossibilitava uma visão mais clara do nome da mãe de Bellatrix, mas era possível perceber que seu nome estava ligado ao nome de dois homens por linhas duplas, um nome masculino de cada lado.
– Erico Langerwoof foi o segundo marido da mãe de Bellatrix... eles se casaram há uns vinte e cinco anos,e só tiveram uma filha, antes que a mãe de Bellatrix fosse enxotada da família por ter se casado de novo... você pode me dizer o nome que está escrito embaixo, Harry?
Mas Harry já havia reparado, e agora seu estômago definitivamente estava se desintegrando... a menção daquele sobrenome já o havia alertado... ainda assim, olhou o círculo abaixo de Erico Langerwoof, e todos os seus receios se confirmaram; o círculo dizia Marienne.
– A mãe dela resolveu colocar o sobrenome do pai na filha, para poupá-la da vergonha de ser parente da família que a tinha expulsado; fugiram todos para a Irlanda, e a garota passou a estudar em casa, para não ter que conviver com o outro lado da família... enão sei se você já reparou, Harry, mas ela é extremamente parecida com a meia irmã, e tenta desesperadamente se livrar disso... a própria mãe fugiu para cuidar da filha, e talvez seja por isso que Bellatrix é tão revoltada... – refletiu Lupin – Carência afetiva.
Harry não conseguia encontrar palavras para comentar aquelas extraordinárias notícias; conseguiu perguntar pouco, muito pouco do que realmente estava pensando.
– Mas se as duas não se viam.... como a Marienne se tornou uma Comensal da Morte?
Lupin pareceu um pouco chocado.
– Então você já sabe... bem, calculei que você, Hermione e Rony teriam muito o que conversar... sim, de fato o Grupo de Inteligência do Ministério já tem muitas evidências que Marienne é a Comensal em questão... e eu sinceramente temo o que possam fazer com Marienne caso a encontrem.
Harry já estava abrindo a boca para falar, mas Lupin simplesmente fez um gesto com a mão.
– Você está me perguntando como ela se tornou uma Comensal da Morte. Bem, Harry, isso eu não saberia dizer com certeza, mas eu conheço Marienne o suficiente para dizer que ela não é a pessoa que estão pintando... e Hermione concorda comigo, o que é sempre um bom sinal – Sorriu Lupin, mas continuou falando ao ver a expressão de Harry – Olhe, é por isso que eu disse que não queria falar sobre Marienne. Eu sei coisas sobre ela que você ficaria simplesmente perplexo, coisas que ela tentou fazer mas... não conseguiu.
– Olhe, Lupin... eu acho que você pode até ter razão, talvez ela não fosse uma pessoa má, na época que você a conheceu, mas agora ela é uma Comensal da Morte! Ela quer me matar, ela quer vingar o seu mestre! Ela deve ter arquitetado tudo quando teve aquela reuniãozinha simpática lá na Ordem! Ela e os amiguinhos dela estão planejando uma vingança contra mim e contra o Ministério! Eu... eu não quero mais saber dela. Nunca, na minha vida. – Disse Harry, mesmo não tendo muita certeza de suas palavras.
Lupin encarou Harry um pouco decepcionado.
– Bem, então creio que vai ter seu desejo realizado, Harry. Marienne pediu demissão do CT hoje de manhã. – Dizendo isso, Lupin se retirou, deixando Harry sozinho com um buraco profundo em seu estômago.
Pareceu a Harry horas o tempo que ficou sozinho em frente à tapeçaria Black; encarava o nome de Marienne sem ao menos vê-lo. Precisava de um tempo para pensar, precisava ficar sozinho... e foi com esse pensamento que subiu lentamente as escadas rangentes da mansão, em direção ao seu quarto. Tentou fazer uma complicada volta, passando por salas que ele nunca tinha visto antes, para tentar desviar da cozinha e evitar ser visto por alguém, mas foi impossível; a sra. Weasley o encontrara colocando o primeiro pé na escada.
– Ah, Harry querido, venha almoçar conosco! Está tão pálido, o que você anda comendo naquela porcaria de Centro de Treinamento? Tonks! – Chamou a senhora Weasley, severa, e Tonks largou o garfo com estrépido e olhou para a bruxa.
– Sim, Molly? – Perguntou a auror, educada.
– Que tipo de porcaria estão servindo naquele Centro de Aurores? Olhe só a cara do Harry, está tão abatido!
Harry simplesmente queria entrar no chão naquele momento. Observou, constrangido, a reação de Tonks, que parecia levemente aborrecida, e falou em um tom de voz que não escondia seus sentimentos:
– Bem, Molly, minha prima é responsável pela alimentação no CT, e ela tenta fazer as receitas que você faz aqui na Ordem. – A sra. Weasley olhou para Tonks bastante constrangida, deu um sorriso insincero e disse bem baixinho “oh, desculpe querida” enquanto levava Harry para uma cadeira ao lado de Rony. A mesa ecoou em risadinhas.
Harry encheu o prato de frango assado e tentou comer o mais rápido possível, para sumir dali com a mesma velocidade que comia. Hermione, que estava sentada do outro lado de Rony, olhou para o amigo preocupada, e cochichou:
– Nem pense que vai sair dessa mesa sem falar com a gente.
– Eu não disse que ia. – Respondeu Harry ríspido, tentando se desvencilhar da amiga, porém a jovem continuou a encará-lo com um misto de aflição e teimosia.
– É bom mesmo. – Disse, com ar maternal – Você sabe, não é porque você está longe de nós que as coisas mudaram. – E espetou um pedaço de frango, comendo-o avidamente em seguida.
É, talvez nem tudo tivesse mudado, pensou Harry... estava novamente entre seus amigos e pessoas conhecidas, e novamente tinha tantos pensamentos na cabeça que bem que gostaria de esvaziá-la por alguns momentos... limitou-se a assentir com a cabeça e engoliu, com muito esforço, um pedaço de frango também e evitou olhar para os lados até o fim da refeição.
No fim do almoço, Harry, Rony e Hermione subiram novamente as escadarias da Mansão Black, um silêncio inquieto rondando à sua volta. Queriam comentar com Harry sobre Marienne, Harry sentia isso, mas o garoto não queria mais pensar nela, e nem no que ela significava para ele... nem ele sabia muito ao certo.
Para a infelicidade de Harry, afastar Marienne de sua mente era simplesmente impossível, como ele descobriu algumas horas depois.
Marienne estava novamente sentada ao lado da janela, mirando o horizonte. Era mais de meio dia, o sol entrava majestoso no quarto da bruxa, espalhava-se pelo chão e agitava as cortinas, deixando-as translúcidas. A jovem relanceou um olhar abrangente para o quarto todo; era desanimador deixar aquele lugar tão iluminado de sol, calor e felicidade, mas tinha que fazê-lo. Tinha que deixar Harry para sempre. E só havia dois meios de fazer isso. Um deles, o pior na visão de Marienne, ela jamais faria, era uma questão de princípios. Só restava uma segunda opção, e Marienne tinha que reunir toda a sua coragem para fazê-la. Mas já tinha se decidido.
Secou uma lágrima teimosa que queria por tudo brotar de seus olhos e escorrer pelas faces pálidas. Ajeitou seus cabelos negros, mirando-se séria no espelho do armário. Pegou sua pequena mala, conferiu se estava tudo lá dentro, e abriu a porta do quarto. Cada passo era uma dor imensa; as pessoas que traíra e que confiavam nela, o amor que despertara doentiamente em seu peito, a culpa, o remorso, o ódio...
Uma segunda lágrima escorreu. Marienne secou-a com raiva e saiu de seu chalé, os pensamentos atordoantes em sua cabeça. Passou pelo chalé de Lebatofsky, e seu coração se apertou e retorceu no mesmo lugar; parou em frente à casinha, e viu o bruxo encarando-a pela janela, um olhar de reprovação e pena fixado na bruxa. Marienne baixou a cabeça e continuou andando sem ao menos olhar para os outros bruxos que a observavam sair. Ouviu alguém atrás dela gritar “TRAÍRA!”, mas não olhou. Sim, era uma traíra, era uma pessoa nojenta e asquerosa que merecia todos aqueles adjetivos. Saiu pela porta da frente do CT, tendo que encarar um olhar severo do bruxo que fazia a guarda no portão; a mala pesava em seu braço, mesmo sendo muito leve; mas continuou andando com passos firmes e duros, a cabeça reta, até a saída do Centro. Aparatou diretamente no Beco Diagonal, e depois de localizar-se, lembrou-se da primeira coisa que tinha que fazer. Passou pela travessa de Gringotes e foi diretamente até o Correio; era um pouco maior que o correio de Hogsmeade, e era mais perto do segundo local que Marienne tinha que visitar. O segundo e último.
Marienne escolheu uma coruja marrom para entregar sua mensagem; colocou o envelope minúsculo bem preso à patinha da coruja, e em seguida foi ao balcão para pagar a postagem. Quando a coruja esvoaçou tranqüilamente para seu destino, Marienne falou bem baixinho, nervosa: “essa mensagem não devia ter sido mandada... mas até o fim dela estará tudo terminado, eu espero”... com um nó na garganta, se encaminhou para a segunda tarefa do dia.
Marienne seguiu o caminho escuro até a Travessa do Tranco, já se lembrando do trajeto que tinha que percorrer entre as ruas de pedra; se o dia estava claro lá fora, na Travessa parecia que já era madrugada, pois os prédios eram tão maltratados e altos que faziam sombras lamentáveis no chão e protegiam os transeuntes da rua da luz do sol. Marienne continuou caminhando por algum tempo nas embrenhadas ruas de pedra, até encontrar o que estava procurando; um prédio de aparência malcuidada, de paredes descascadas e janelas quebradas. A bruxa respirou fundo, agarrou a maçaneta da porta rachada e abriu-a.
O cheiro de mofo entrou em suas narinas, mas foi apenas por um segundo; a porta destroçada do prédio dava acesso à um grande salão, com um toque de realeza no tapete vermelho que se extendia, e o trono que ficava bem ao fim do salão. Havia no meio dele uma grande mesa e um grande grupo de pessoas se reuniam nela, rindo e conversando animadamente. Porém, a mera entrada de Marienne fez todo o grupo calar-se em um mísero segundo; a bruxa encarou cada um dos rostos perplexos na mesa e sorriu.
Um jovem loiro, de cabelos espetados e rosto escondido embaixo de um capuz, levantou-se com rapidez de sua cadeira e apontou para Marienne, aparentemente incapaz de acreditar no que via.
– O que você está fazendo aqui? Não está dizendo que está voltando?
– Sim, querido Draco... estou voltando.
Todas as pessoas olharam para o vulto encapuzado. Durante alguns segundos ele não se mexeu, até empurrar a cadeira para trás com força e correr até Marienne. A jovem bruxa observou, no mesmo lugar, o bruxo de capuz correr até ela, e imaginou que já esperava aquela reação. Quando Draco a abraçou, Marienne sentiu um arrepio no mesmo lugar. Realmente, estava voltando... mas sabia que aquilo não iria durar muito tempo a mais. Forçou um sorriso quando Draco se soltou dela, e viu seu rosto pela primeira vez naquele dia, quando o garoto baixou o capuz; continuava loiríssimo, seus olhos emanavam um brilho de cor cinzenta ainda mais forte, e tinha um sorriso muito grande no rosto, que deixavam à mostra todos os seus dentes branquíssimos.
– Temos muito o que conversar, Mari. – Anunciou Draco, agora sério.
Marienne assentiu.
– Sim, Draquinho... temos realmente muito o que conversar.
Com um sorriso insinuante para Marienne, Draco abraçou a cintura da bruxa; a própria queria se desvencilhar do jovem, mas sabia que iria conviver com isso até que o momento chegasse... mas não iria demorar muito tempo, pensava Marienne, tentando assim juntar forças para continuar. Esboçou um sorriso alegre e os dois saíram do salão, entrando por uma grande porta lustrosa de madeira.
Era uma outra sala, não tão grande quanto a outra, e Marienne a conhecia muito bem; era a sua sala, a sala aonde planejavam quem seria a próxima vítima... como se a cena passasse no mesmo intante sobre seus olhos, ela viu... Voldemort, vestido em trapos imundos, sentava-se sempre naquela poltrona, da direita; lá, os Comensais da Morte sempre se reuniam em volta dele, para fazer a predição maligna da noite... Então, como num flashblack, Marienne lembrou-se como tinha chegado até aquela sala, como tinha conhecido os Comensais da Morte... tudo ficou escuro....
– Mari.... Mari.... – Marienne abriu os olhos. Draco a encarava, pálido, os cabelos loiros caindo para a frente do rosto. Marienne, num impulso, o abraçou calorosamente, e Draco pareceu gostar. Ele não iria entender... um dos poucos amigos que fizera ali... mas ele não ia entender... como ela iria explicar que nunca quis ser uma Comensal da Morte, quando ela mesma dissera o contrário para ele mil vezes?
– Você está bem? Sei o que deve ter acontecido, todos nós ficamos abalados com a partida do mestre... Entendo que você deve se sentir mal até agora, mas todos nós ficamos aqui para lembrar o nome dele! Essa é a nossa missão! É o nosso dever, a única maneira de nos redimir!
– Mas Draco... – Pronto, ia falar. Ia. Ele era parte de sua família, bem ou mal ele iria compreender que havia algo errado. Ele tinha que saber. Ou melhor, ela tinha que contar. –... eu não quero brigar. Eu não quero mais lutar. Eu não quero mais defender o nome do mestre. Eu estou farta de fingir que gosto de ser uma Comensal da Morte! Que me importa que ele morreu? AINDA BEM QUE MORREU!
Draco mirou petrificado a garota, e correu até ela, tampando a boca dela com a mão.
– Mari, Mari, não diga isso, em nome de Merlin! Você está alterada, está nervosa, descanse um pouc...
– EU NÃO ESTOU CANSADA! – Gritou Marienne, empurrando Draco para longe, de modo que as palavras saíram perfeitamente audíveis de sua boca. – Eu não estou alterada! Eu não quero mais ser uma Comensal da Morte, Draco, eu não quero! Eu não...
Uma pessoa apareceu à porta. Tinha a silhueta parecida com a de Marienne, mesma estatura, porém seu rosto era bastante marcado e seus cabelos, muito mal cuidados, porém de cor igual ao de Marienne. Era Bellatrix Black.
– Acabei de saber que minha adorável irmãzinha está de volta... Draco, saia daqui imediatamente.
Draco abriu a boca para contestar, parecendo irritado, mas bellatrix ergueu a varinha e Draco estremeceu no mesmo lugar.
– Eu disse FORA. – Disse Bellatrix outra vez, e Draco obedeceu, assustado, fugindo porta afora.
– Então... pelo visto, resolveu voltar, não é? É o que estão dizendo por aí... o que eu não entendo é que você resolveu voltar depois de dizer claramente ao seu priminho que não gosta mais de ser uma Comensal da Morte. – Disse isso com toda a naturalidade, o que deixou Marienne apavorada. Geralmente, quando Bellatrix ficava furiosa, demonstrava isso sorrindo simpaticamente. Mas engoliu seu pavor e se aproximou da irmã.
– Digamos que eu fui expulsa da minha antiga casa, Bella. Mas ainda assim, nada me deu mais prazer do que voltar para cá.
As sobrancelhas de Bellatrix se ergueram ligeiramente.
– É? E por quê? Não me diga que foi saudades da irmã...
– Não, Bella.. porque só agora que eu voltei que eu percebi como não pertenço aos Comensais.. – Marienne deu um sorriso levemente maluco, mas continuou – Eu não pertenço à esse lugar, e ninguém ao menos sentiu a minha falta.. eu não preciso ter remorso algum de ter dito que não quero ser uma Comensal da Morte! – E foi andando, se sentindo livre de um peso, dando às costas à meia-irmã.
– Será que não, Marienne? – Perguntou Bellatrix com uma voz maligna, que fez Marienne olhar para ela e parar de andar de caminhar. – Mesmo você não tendo a Marca Negra, que por mim foi um deslize terrível do Mestre, com todo o perdão, não quer dizer que nada ligue você aos Comensais... ou será que já se esqueceu tão rápido do Milt? – E sorriu, daquele seu jeito simpático e terrível. Marienne congelou no mesmo lugar.
– Você... não se atreva... a falar...
– Ora, ora, ficou sensível, agora? Tão valente como estava ao dizer que não se lamentava pelo Mestre... – Gargalhou Bellatrix. Sabia que tinha tocado num ponto frágil.
Ah.... se Marienne era uma pessoa cheia de segredos, então, este era o pior... lembrar de Milt era sempre muito doloroso, mas ser atormentada pela promessa que fizera a ele no leito de morte era ainda pior... Ah, por que tinha que ser tão impulsiva, tão emotiva? Por que tinha que sempre levar tudo à ferro e fogo, por que se manifestava em tudo?
– Você não sabe... você não mencione... – Era tudo que conseguia dizer, aflita que estava, lembrando-se agora vivamente do momento que prometera para Milt que seria uma Comensal da Morte até vingar-se da morte dele..
Foi há alguns anos atrás... Marienne nada tinha a ver com Comensais da Morte, nem ao menos tinha sequer a curiosidade de conhecer a sua meia-irmã maligna, que todos mandavam manter-se longe... estava terminando os seus estudos em casa, e logo poderia fazer o que tanto queria, se especializar em Poções e Envenenamentos, assunto que a fascinava desde que era pequena.. até lembrava-se que um dos seus professores era Snape, antes dele poder ter experiência suficiente para lecionar em Hogwarts, e ele sempre a elogiava por seus talentos... e talvez por isso que fosse tão severo com ela, sempre queria que ela se superasse... namorava um garoto da sua rua, chamado Milt, que conhecia desde que se mudara para a Irlanda... ele era tão legal, a tratava tão bem, e estudava em Hogwarts... ah, como ela queria ter ido para Hogwarts... mas agora já tinha 17 anos, e já deveria estar formada...
Foi quando recebeu a notícia.
Naquela manhã, Milt tinha passado na sua casa. Estava muito nervoso, suava, e falava agitado. Quando Marienne lhe perguntou o que havia, ele respondeu levantando a manga da blusa... era uma caveira, uma cobra saindo de sua boca como uma língua... era a Marca Negra, tinha visto uma foto dela em um livro em sua casa... deu um berro alto.
– Por que você fez isso, Milt?
E ele lhe dissera... dissera que os súditos do mestre achavam que ele estava cada vez mais próximo de se reestabelecer, e que seria uma atitude inteligente se unir a eles... mas ela não quisera, não se unira... não ia se unir, não ia ser uma Comensal da Morte, não ia matar pessoas! Mas Milt, quem sempre estava ao seu lado, estava se tornando um Comensal... Ela ficara em pânico quando ele lhe convidou para assistir à um massacre que iriam fazer à um bando de trouxas em Londres... nem sabia aonde era Londres..! Se separou imediatamente dele, não iria querer conviver com uma pessoa que dormia à noite depois de matar pessoas que nunca vira na vida!
Meses e meses se passaram... Marienne estava concluindo seus estudos em casa, e já tinha até conseguido uma vaga de auxiliar na seão de Envenenamentos e Poções do Ministério da Magia da Grã-Bretanha! Seu sonho estava se realizando... quando chegou a notícia que Milt se encontrava semi-morto no St. Mungus, depois do que lhe informaram ser uma “briga de rua”. Marienne, que agora já sabia aparatar, saiu ventando até o hospital, e o encontrou na seção emergencial... sangrava profusamente... ele agarrou seu braço e disse as últimas palavras:
– Vingue-me, Marienne... torne-se uma Comensal até vingar a minha morte... aqueles canalhas... – E virou o rosto pálido e sangrento para o lado, deixando Marienne chorar desesperadamente quando viu que ele tinha a abandonado para sempre. Desde então, foi procurar os Comensais da Morte, e simulou uma Marca Negra em seu braço, já que o Mestre ainda não havia retornado, e seus Comensais não faziam idéia de como ele tatuava a Marca na pele e na alma de seus leais seguidores. Desde então tornou-se uma meia-Comensal; quando Voldemort voltara, ele mesmo decidiu não carimbar a Marca Negra em seu braço, pois, além de ser irmã da mais confiável das Comensais, ainda era muito jovem e um braço sem marcas poderia ter utilidade em seus planos futuros. Mas nada a impedia de cumprir as missões designadas por Voldemort; tinha... matado pessoas! Tinha matado pessoas que ela nem conhecia! Se sentira, naquele momento, a pior das pessoas, o pior ser humano; tinha que inventar desculpas para não comparecer nas “festinhas” animadas dos Comensais, sempre fartas de morte e sangue. Mas gostava tanto de Milt, e prometera aquilo no seu leito de morte, e não poderia descumprir a promessa! Isso somente a angustiava mais, a atormentava a cada dia, e Bellatrix não estava ajudando quando lembrava-lhe da sua dor.
Marienne encarou os olhos de Bellatrix, voltando de seus pensamentos flashback; tinha um trunfo, somente um.
– Eu prometi para Milt que vingaria a morte dele, mas não faço idéia de quem possa tê-lo matado. Ele não me falou. – Esforçou-se para não sorrir; seria idiota demais se fizesse isso. Mas Bellatrix o fez.
– E você acha que nos esquecemos deste pequeno detalhe, maninha? Oh, não... conheço pessoas que sabem quem o matou... e acredito que esta noite possa ser a noite da vingança, não acha?
Marienne engoliu em seco.
– Quem foi? – Perguntou, enfim, num misto de curiosidade e nervosismo; há anos queria saber de quem fora a culpa da morte de seu antigo namorado, mas também... acreditava, sinceramente, que quem o fizera era um herói, pois tinha matado um dos mais sangüinários Comensais que Marienne já conhecera.
– Oh, acho que deixei você curiosa, não é? Bem... digamos que seja uma pessoa conhecida... mais precisamente, um amiguinho de nosso adorável primo – e riu ao ver a expressão aterrorizada de Marienne.
– Remus... Lupin? – Perguntou, petrificada. Não, não podia ser.
– Bingo! – Anunciou Bellatrix, gargalhando – Você é ótima em adivinhações, sabia! – Bellatrix fez um barulhinho de discordância – Bem... de qualquer maneira, seja bem-vinda de volta, meia-Comensal da Morte... iremos quando você quiser para vingar o seu namorado.... – e ainda rindo de se acabar, Bellatrix retirou-se, sem pressa, dos aposentos... – Ah, querida, quase me esqueci! Hoje iremos fazer uma visitinha ao St. Mungus, sabe, para encontrar um velho amigo nosso... está lembrada de Cornélio Fudge? Pois bem... ajeite-se, aprume a sua varinha e trate de se preparar! Imagino que ainda lembre-se das Maldições, não é? – E saiu gargalhando pelos corredores amplos do casarão.
Como podia matar Lupin? O melhor amigo de Sirius, e grande amigo seu! Marienne lembrava-se quando ainda morava na casa dos pais, e Sirius e Lupin sempre iam ajudá-la para começar as aulas particulares... quando Sirius foi preso, Marienne tinha só sete anos, mas mesmo assim Lupin continuou a visitá-la para ajudar... era amigo dos pais da garota... como as aulas eram em casa, à todo momento ele interrompia a lição do dia para explicar tudo de maneira mais simples – o que até provocou o pedido de demissão do professor de Defesa Contra as Artes das Trevas, posto que assumiu na mesma hora, já que era bastante experiente na matéria... e agora iria matá-lo! Como? Como poderia fazer isso? Mas.... se o matasse, estaria livre, livre do terrível peso de ser uma Comensal da Morte!
Draco entrou na sala e correu até Marienne. Inconvenientemente, as lágrimas já tinham escapado do seu rosto, e o garoto pareceu preocupado por ela estar chorando daquela maneira.
– Mari... tudo bem? O que ela te fez? – Perguntou Draco bem baixinho, quase sussurrando.
– Minha irmã, Draco... é uma pessoa terrível – Choramingou Marienne, e em seguida começou a desfazer as suas malas, para colocar as roupas nos devidos cabides dentro do armário mofado do seu quarto e se aprontar, mesmo que completamente contra a sua vontade, para o ataque que os Comensais da Morte fariam no St. Mungus...
Harry estava, algumas horas depois, assistindo uma atribulada partida de xadrez bruxo entre Tonks e Rony. Nunca vira o amigo ficar tão nervoso quanto estava, mirando suas peças pretas no tabuleiro. O jantar já tinha acontecido, e todos pareciam felizes e bem alimentados.
– Hm... acho que... não, deixa eu ver, o bispo... ah... – estava tão confuso que fez Tonks sorrir. Mas ninguém se divertia tanto quanto Hermione.
– Olhe só, seu papudo! Quem estava dizendo que as mulheres não prestam para o xadrez bruxo? – Riu Hermione, divertida. Rony, reunindo toda a dignidade que tinha, falou raivoso, as orelhas tão vermelhas quanto tomate:
– Eu não disse que as mulheres não prestam para o xadrez, eu disse que VOCÊ não presta para o xadrez! – E voltou a olhar as suas peças, deixando Hermione barbaramente ofendida, a boca entreaberta, num misto de surpresa e estranhamento.
– Olha, gente, eu tenho uma confissão a fazer... eu já fui da Liga Juvenil de Xadrez Bruxo, por isso que eu estou ganhando – Disse Tonks, tentando acalmar os ânimos, quando Hermione abriu a boca para discutir. – Rony, você é bom nisso, sabia? Deveria tentar uma profissionalização, sei lá, fazer uns torneios...
Rony pigarreou alto e Hermione virou os olhos para o teto, relutante em concordar com Tonks.
– É, acho que seria uma boa idéia – riu Rony, que com um único movimento das peças derrubou dois piões e um cavalo do time de peças brancas. Tonks exclamou e bateu palmas simpáticas para agradar o garoto.
Harry, distraído com o jogo turbulento de Rony e Tonks (e, porque não dizer, de Hermione também), nem ao menos reparou que Remus Lupin tinha se sentado ao seu lado na poltrona, de modo que teve um sobressalto de bom tamanho quando o professor falou:
– Há quanto tempo que eu não jogo uma boa partida de xadrez bruxo – comentou, contemplando, saudoso, o tabuleiro. Harry sorriu, mas tentou evitar ao máximo encarar o ex-professor. Continuava ainda muito confuso sobre tudo que descobrira sobre Marienne, e fora Lupin quem lhe contara. O professor pareceu ler seus pensamentos (o que até poderia acontecer realmente, pensou Harry”), tanto que comentou, falando mais baixo: – Olhe, Harry, confie em mim. Marienne nunca foi uma pessoa da qual eu pudesse desconfiar. Não creio que ela possa ter mudado em tão pouco tempo. Sim, houveram acontecimentos que podem ter acentuado algumas mudanças – disse, depois que Harry o encarou de maneira estranha –, mas acho que não pode ter mudado tanto. Aliás, o que eu gostaria de lhe sugerir é que fosse conversar com ela e... – Mas parou de falar abruptamente, pois uma coruja pousara em seu ombro, um pequeno papel dobrado guardado na patinha. A coruja esticou a pata em direção à Harry, que apanhou o papel, um tanto surpreso, e em seguida a ave alçou vôo o mais depressa que conseguiu.
– Estava esperando correspondência, Harry? – Perguntou Lupin, amigavelmente.
– Não.. – O garoto abriu o papel amassado e um pouco sujo, também. E viu. Reconheceria aquela caligrafia de qualquer maneira, escrita em qualquer tinta, em qualquer língua; a letra de Marienne. A mensagem escrita fez seu coração se encher de algo muito estranho, uma esperança assustadora e nova.
Eu te amo.
Aquilo mudava tudo. Em um segundo, Harry esqueceu de suas angústias. Esqueceu que estava na Ordem da Fênix pois o Centro de Treinamento estava sofrendo ataques constantes dos Comensais da Morte; esqueceu que Marienne era na verdade meia-irmã de Bellatrix, a responsável pela morte do seu padrinho; esqueceu as armações, o sofrimento, esqueceu tudo. Talvez Harry tenha se tornado uma pessoa extremamente emotiva, mas não conseguia parar de pensar naquela frase. Estava lá, escrita por ela!! Reconhecia a letra! O mundo estava novo, agora, os passarinhos cantavam lá fora, a lua brilhava simpaticamente, tudo irradiava alegria, ânimo, nova esperança!
– Yess! – Bradou Rony, cortando o ânimo novo de Harry. – Xeque-mate! – Disse, batendo a mão na mesa, deixando as peças restantes do tabuleiro estremecerem. Harry, sem motivo algum, foi saudar o amigo, estupidamente alegre. Deu um tropeção no tapete da sala e PAF! caiu de cara no chão.
– Qué isso, Harry, é só um jogo! – Gargalhou Rony, vendo que o amigo iria lhe cumprimentar cheio de ânimo. Hermione encarou Rony com um olhar fuzilante, e em seguida, comentou:
– Ele não pode estar assim feliz só por causa do seu joguinho idiota, Rony. – Em seguida, adulou Harry – Vamos, Harry, porque você está assim tão animado?
– Por causa disto – Anunciou Lupin, entregando o pequeno bilhete para Hermione, que fez um barulho de surpresa.
– Isso aqui... é da Marienne, Harry? – Perguntou Hermione, com cautela.
Pergunta estúpida! Claro que era da Marienne! Harry teve vontade de gritar com Hermione, espantar aquela dúvida idiota da cabeça da amiga, mas resolveu simplesmente responder:
– Imagina mais alguém que escreveria isso, Mione? Claro que não! Eu... tenho que encontrá-la! Agora!
Capítulos republicados ^^ Obrigada pela paciência, gente! ^__^ Espero que agora corra tudo bem, e obrigada por terem me alertado do erro ^_^
Comentários (0)
Não há comentários. Seja o primeiro!