I LoveLove (Moschino)
“Impossível mesmo é viver sem você...”
(Oliver Wood)
Paramos em:
“- Não. – respondeu Francesco com um sorriso demoníaco – Matar seu filho.”
Capítulo Dezoito: “I LoveLove” (Eu AmoAmo)
Inspirou, não totalmente ciente do que estava fazendo. Seu peito doía com a entrada e saída de ar, tornando o movimento essencial para sua vida um mártir.
Apertou os olhos – que até ali continuavam fechados – com força, sentindo flashes de luzes estourarem na escuridão em que sua mente mergulhara.
Aos poucos, sua consciência voltava. Lembrava-se daquele cubículo onde fora trancado, da voz de seu primo ecoando em sua mente. Com o susto, sentou-se abruptamente na cama, os olhos arregalados e a respiração falha.
- O... o que...? – ofegou, piscando os olhos para a luz que cortava a cortina, fazendo o quarto mergulhar em um tom alaranjado acolhedor.
Inspirou profundamente mais uma vez, apertando o peito com uma mão, como se o movimento fizesse a dor passar. Esfregou os olhos com a mão livre, alisando os cabelos logo depois.
Mesmo assimilando o que acontecera, era estranho pra ele poder esticar as pernas depois de três dias encolhido. Pensara por um momento quando estivera trancado, que suas pernas atrofiariam devido a tamanho desconforto.
Espreguiçou-se, sentindo as juntas estalarem e seus músculos pestanejarem. Não sabia ao certo o que deram para ele tomar no hospital, mas o que quer que fosse, teve seu efeito comprovado. Sentia-se revigorado mesmo depois de três dias sem comer, beber, ou sequer se movimentar.
Suspirou, olhando em volta e reconhecendo um dos quartos particulares do St. Mungus: já visitara aquele hospital pelo menos algumas dezenas de vezes desde que começara a jogar quadribol profissionalmente.
Com um sorriso nostálgico passeando por seus lábios, ele se atirou no travesseiro novamente, sorvando uma grande quantidade de ar, juntamente com um odor inesperado: um cheiro meio doce, meio cítrico. Algo que lembrava verão e Minhocas de Geléia.
- Mia. – ele sussurrou, enterrando o rosto no travesseiro e sorrindo. Sentou-se novamente da cama, meneando a cabeça. Parecia uma adolescente idiota sonhando com o príncipe encantado – Idiota. – murmurou, enquanto saltava da cama com os pés descalços. Reparou que vestia apenas um samba-canção e rapidamente vestiu um roupão de algodão, do próprio hospital, que estava largado em uma cadeira.
Escutou a porta emitir um suspiro melancólico enquanto uma luz branca ofuscava sua visão. Piscou os olhos repetidamente, quando escutou uma voz familiar.
- Oli, querido! – Helena chamou, rapidamente envolvendo o rapaz em um abraço apertado – Quando me mandaram subir me disseram que você estava inconsciente! Estou tão feliz que esteja bem!
- Deixa o rapaz respirar, Helen! – a voz grossa do Sr. Wood ecoou próximo ao ouvido do rapaz – Graças a Merlim você está bem filho.
Abraçou Olívio apertado, enquanto a Sra. Wood o empurrava de volta para a cama.
- Mãe, eu estou bem. – protestava Olívio revirando os olhos – É sério, não precisa se preocupar.
- Oras se não preciso! – resmungou Helena de volta – Aquele psicopata do seu primo! Como ousa ter feito uma coisa dessas com você...? Meu irmão vai escutar umas verdades quando chegar aqui... ah, se vai!
- Francesco foi preso? – perguntou Olívio, sentindo seu peito doer.
- Ainda não, mas vai ser! – respondeu a Sra. Wood insistindo para que Olívio se deitasse na cama, mas o rapaz era muito mais forte que ela, e só pelo fato de manter-se em pé já era o suficiente para a mãe não conseguir empurrá-lo – Deve estar acontecendo agora, o julgamento... Eu nem me dei o trabalho de ir assistir... Sabia que passaria nervoso.
- Ele está sendo julgado agora? – perguntou Olívio com as sobrancelhas erguidas.
- Sim. – respondeu a mãe enquanto arrumava a cama com um movimento automático – Sua irmã, Kahlen e aqueles dois rapazes também foram...
Olívio fez uma careta, incerto se devia perguntar por ela.
- Mia também foi. – seu pai completou, como se adivinhasse seus pensamentos.
- Achei um absurdo Scrimgeour pedir pra ela ir, depois de tudo o que ela passou também. – comentou a Sra. Wood com a voz trêmula – Como se ela já não estivesse traumatizada o bastante pra assistir o julgamento daquele cretino...
- Traumatizada com o quê? – Olívio perguntou.
- Ora – retomou a Sra. Wood encarando o filho – Ela foi seqüestrada junto com você.
Olívio não esperou por mais informações. Rapidamente se dirigiu ao banheiro do quarto, trocando-se com uma velocidade absurda ao som dos protestos da mãe “Volte já pra cama!”.
- Ei! Aonde você pensa que vai? – Helena tentou protestar, mas já era tarde; Olívio desaparecera ao som de um esplendoso CRAQUE, rumo à sala de julgamentos do Ministério da Magia.
Seguiu pelos corredores, devidamente informado pela moça da recepção. Entrou, recebendo protestos e xingamentos de alguns bruxos quando seguiu para um lugar vago na última fileira da arquibancada. Avistou Francesco sob os refletores, provavelmente dopado com a poção da verdade. Sentiu um par de olhos negros recaírem sobre ele das primeiras fileiras, e encolheu-se nas sombras que se projetavam no fundo. Lá estava ela.
Sentiu toda a raiva que borbulhava em seu sangue quando soube que Francesco raptara Mia se esvair de seu corpo ao ver que ela estava ali, que estava bem. Pra ele, isso já era o bastante.
Aos passos que se seguiu o julgamento, Olívio se sentia nocauteado com tanta informação. Francesco, metamorfamago... Desde quando que ele não sabia?
Perseguição... perseguição sobre outra forma... Sua cabeça zunia, girava. Suas mãos tremiam de raiva, o coração palpitava acelerado, os olhos procuravam desesperadamente por ela... Foi quando, por um breve milésimo de tempo, seu coração parou. Sentia que ele tinha parado de bater no instante em que aquela mulher, três fileiras abaixo dele, gritou:
“Grávida de Wood?”.
Grávida. Mia, grávida... Como ele não soubera? Por que ela nunca o procurara? Por que escondera isso dele?
As perguntas alfinetavam sua cabeça, seu peito doía.
Onde estava seu filho?
Não absorvia mais a confissão de Francesco, até que um silêncio mórbido se instalou pelo lugar.
Será que ele escutara direito...? Francesco queria... Matar seu filho?
Um soluço vindo da segunda fileira fez seu sangue ferver em suas veias. Levantou-se com um salto, ignorando os resmungos de um velho bruxo que assistia ao julgamento.
- Senta aí, moleque! Agora que a história ta interessante... Não quer saber o que aconteceu não?
Olívio sentia seu coração palpitar freneticamente. Dor. Doía... Uma perda que causava uma dor física, tamanha era sua importância. Engoliu seco, retendo algumas lágrimas em seus olhos. Trincou os dentes para não dizer nada quando Francesco retomou seu depoimento:
- Seria perfeito. Mia sempre tomava café naquele lugar, e em um dia, ocasionalmente, eu colocaria uma poção que a faria abortar. Ninguém desconfiaria de nada.
Olívio sentiu seu peito doer, tamanha violência seu coração batia. Fechou a mão em punho, sentindo suas veias saltarem em sua testa.
- Maldito... – resmungou – Desgraçado... Vou matá-lo...
- Calma, rapaz! – o velho bruxo sentado ao seu lado o fitou espantado – Até parece que você era o pai!
Mais uma vez, Olívio ignorou o velho.
- E então, um dia eu tomei coragem. – Francesco continuou, agora com um sorriso satisfeito estampado no rosto – Mia encontrou sua amiga na Casa de Cafés e contou à ela que seria uma menina, e eu me dei conta de quanto tempo passara. Se ela chegasse ao sexto mês de gravidez, a poção não faria mais efeito. Então, eu coloquei o veneno.
Olívio socou o braço da cadeira com força, e o velho voltou-se para ele com uma expressão horrorizada.
- Menina... – Olívio murmurou, a cabeça baixa com o peso de tanta informação – Era uma menina...
Um silêncio se instalou pelo local, cortado apenas pelos soluços da morena na segunda fileira. A cada lágrima que Mia derramava Olívio sentia uma dor invadir seu corpo. Ao mesmo tempo que queria abraçá-la, consolá-la, sentia raiva por ela lhe ter escondido um segredo tão maravilhoso como aquele. Ela não tinha direito algum de não lhe contar sobre a gravidez. Ele tinha certeza que seria um pai excelente.
- Muito interessante essa sua historinha – Scrimgeour concluiu com uma voz entediada – Mesmo não tendo absolutamente nada a ver com o seqüestro, você sabe que essa confissão lhe garantiu uma terceira acusação não é? Assassinato.
Francesco sorriu.
- Sei muito bem disso.
- Agora me diga de uma vez, e sem mais balelas que a minha paciência já está se esgotando – retomou Scrimgeour cansado – Por que você planejou o seqüestro de Amélia Chang?
- Não sei. – Francesco suspirou – Acho que foi uma junção de tudo. Vingança de Olívio, obsessão por ela, galeões... Tudo isso mexeu com minha cabeça.
Scrimgeour apenas assentiu, fitando o loiro com uma expressão indecifrável.
- Pra mim já é o suficiente. Aguarde o veredicto do júri.
Mancando, Scrimgeour deixou a masmorra onde fora feito o julgamento seguido de mais uma dúzia de bruxos e bruxas todos, sem exceção, com feições e gestos arrogantes.
Um burburinho se instalou entre os jornalistas e os espectadores do julgamento. Pela segunda vez Olívio se pôs de pé, mas dessa vez foi para sair daquele salão abafado. Sentia seu cérebro sufocado por aquele lugar, pela presença do primo. Precisava respirar ar puro, ar límpido. Com a cabeça latejando e o coração em frangalhos, ele aparatou.
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- Acalme-se querida. – Rachel tentava consolá-la com sua voz doce, mas era impossível. Mia sentia todo seu corpo trêmulo de nervoso. De ódio. Que vontade sentia de pular no pescoço de Francesco e torcê-lo de um modo lento, para que talvez ele pudesse sentir um décimo da dor que ela sentiu ao perder a filha. Lembrava-se muito bem de como sua recuperação foi tortuosa. Só Rachel sabia o quanto ela sofrera para retomar sua vida. Sentia que uma parte de seu corpo faltava, que sua alma estava incompleta sem a filha.
- E eu, que me culpei porr terr feito Mia ficarr nerrvosa e perrderr a nenê... – ela escutou Jean sussurrar ao seu lado – E tod´esse temp erra culpa dele...
Ela soluçou mais forte. Ela mesma chegara a culpar Jean pelo ocorrido, mas vendo que estava cometendo uma injustiça, passou a culpar a si mesma, entrando uma época depressiva de sua vida.
- N-não acredito que ele pôde fazer isso. – Emma, que até aquele momento encontrava-se chateada com Mia por ela não ter lhe contado sobre sua gravidez, rangia os dentes para reprimir sua raiva – Oh, quando Olívio ficar sabendo... ele vai matá-lo! Vai transformá-lo em comida pra tronquilho!
- Seu irmão já sabe Emma. – disse Mia entre um soluço.
- Como assim? Você contou a ele? – foi Kahlen quem indagou.
- Eu o vi. Pude senti-lo. – respondeu Mia simplesmente, fechando os olhos e deixando algumas lágrimas escorrerem – Ele estava aqui até instantes atrás, mas acho que ouviu o suficiente para não agüentar mais ficar nesse salão.
Kahlen abriu a boca pra falar alguma coisa, mas naquele momento Scrimgeour voltou à masmorra com o veredicto do júri.
Francesco se levantou com pesar da cadeira, e um súbito silêncio preencheu o ar.
- Francesco Leonardo Favalli, pela acusação de seqüestro de Amélia Lie Chang e Olívio Rodrigo Wood o júri o considera... Culpado. – Scrimgeour lia com atenção o pergaminho em mãos – Pela acusação de formação de quadrilha o júri considera o réu... Culpado. Pela acusação de tortura física a Olívio Wood o júri considera o réu... Culpado. E por fim, pela acusação de assassinato ao feto de Amélia Chang, o júri o considera... Culpado. – Scrimgeour ergueu seus olhos para encarar o réu – O que lhe renderá prisão perpétua em Azkaban.
Aplausos soaram pela arquibancada, enquanto jornalistas escreviam alvoroçados em seus pergaminhos. Dois dementadores adentraram as masmorras, levando consigo um Francesco ainda dopado sob o soro da verdade.
- Era o máximo que podiam fazer. – comentou Emma com a voz satisfeita.
Mia escorregara pela cadeira, apenas fitando o lugar vazio que Francesco ocupara durante o julgamento. Ele podia passar sua vida inteira ao lado da tristeza e do abandono na companhia dos dementadores, mas os danos que ele causara à sua vida jamais seriam recuperados. A dor e a saudade de uma filha que ela nem chegara a conhecer assombrariam seu coração para sempre. E nem prisão nem mesmo morte de Francesco mudaria isso.
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(Flashback)
Vestiu sua capa parda e com um suspiro, saiu de sua mansão rumo ao tradicional chuvisco londrino. Esgueirou-se com o corpo esbelto pelas ruas, murmurando um mantra para que não fosse vista. O salto alto marcava um ritmo acelerado e cauteloso ao mesmo tempo, enquanto ela entrava em uma joalheria trouxa.
Um sino tocou quando ela abriu a porta e agradeceu aos céus pela temperatura agradável dentro da loja. Uma jovem bonita sorriu para ela antes de ela sequer retirar seu casaco.
- Posso ajudá-la? – ela perguntou, simpática, enquanto a morena tentava retirava de seu anelar direito uma jóia, mas suas mãos trêmulas dificultavam o ato. - A sra. quer penhorar esse anel?
Mia assentiu com a cabeça, incapaz de dizer qualquer palavra. Sentia sua respiração curta e algo martelar sua cabeça: era errado o que estava fazendo. Provavelmente se arrependeria depois.
- Eu preciso do dinheiro. – ela disse em voz alta, tentando convencer a si mesma, enquanto a jovem da joalheria analisava o anel de ouro branco e diamantes que Olívio lhe dera quando a pedira em namoro.
- É um belo anel. – comentou a jovem enquanto depositava a jóia no balcão da loja – Posso te dar cinqüenta mil libras por ele.
- Isso é um absurdo! – retrucou a morena – Ele deve valer pelo menos o triplo!
- É pegar ou largar. – a jovem sorriu.
A morena bufou, assentindo. Um dia voltaria para pegá-lo. Um dia...
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Mia suspirou, enquanto dobrava com cuidado sua última calça e colocava na mala já relativamente lotada. Tivera que usar o feitiço de redução pelo menos umas três vezes desde que começara a empacotar as coisas no dia anterior.
- Pronta, querida? – a cabeleira loira e olhos verdes de Rachel apareceram no vão da porta.
- Quase. – respondeu Mia sorrindo fracamente – Estou terminando de fazer minhas malas.
- Eu vou indo na frente, ok? Espero encontrar o Krum pra me despedir. – Rachel disse com a voz ansiosa, e piscando um olho, ela desapareceu e fechou a porta atrás de si.
Mia fitou o quarto vazio do hotel com uma tristeza profunda emanando dos olhos. Recebera uma carta do Nova York Bruxa dizendo que o relato em primeira pessoa de seu seqüestro rendera o triplo de exemplares vendidos em um dia, e sendo assim, ela voltaria para a América como editora e Rachel como editora-chefe do jornal.
- Se ele ao menos me pedisse pra ficar... – ela sussurrou para o quarto vazio, suspirando logo depois.
Não queria ir embora sem se explicar, mas aparentemente Olívio não queria mais conversa com ela. Procurou o rapaz logo depois do julgamento, para poder resolver logo todos seus assuntos pendentes, mas ele simplesmente desaparecera, e nenhum dos Wood sabia onde ele poderia estar.
- Acho que vou terminar essa história sem um final, então. – sussurrou ela para o nada, caminhando para a ampla janela aberta. A cortina de seda perolada tremeluzia com o vento ameno do fim de tarde. O sol tingia o céu de laranja, vermelho e um dourado faiscante. Ela fechou os olhos, inspirando profundamente o ar londrino que ela tanto amava.
Em poucos minutos ela cobriria a final da Taça Européia de Quadribol entre a Inglaterra e a França, e sabia que o encontraria lá. Jurara para si mesma que não faria nenhuma cena, que no máximo se despediria de Olívio e seguiria sua vida em Nova York, mas no fundo ela sabia que um simples “adeus” não seria suficiente para encerrar sua história com ele. Aquele ser, que parecia impregnado em sua pele, que somente com seu cheiro natural era capaz de enlouquecê-la.Ele, que já era parte dela... que como ela mesmo dissera uma vez...
- Eu vou te amar pra sempre Porquinho. – sussurrou para a paisagem do Big Ben ao pôr-do-sol.
Fechou os olhos novamente e inspirou, sorrindo ao sentir o cheiro maravilhoso de chuva e grama molhada inundar seus pulmões e acelerar seus batimentos cardíacos.
- É incrível o que um pouco de imaginação e muita saudade podem fazer... – murmurou para si mesma com um sorriso triste riscando os lábios.
- Sabe, falar sozinha nunca foi um dos seus hábitos mais normais, apesar de eu achar engraçado.
Ela virou-se bruscamente na direção da porta do quarto, encontrando Olívio apoiado no vão com os braços cruzados.
- Olívio, eu... – sussurrou, arregalando os olhos de surpresa. Tinha muitas coisas pra falar, respostas para dar e devia muitas desculpas ao rapaz, mas fora pega tão desprevenida que acabou por apenas encarar as orbes cor-de-mel dele e deixou-se perder naquela serenidade que Olívio lhe proporcionava.
- Por favor, eu preciso dizer. Eu decorei, até ensaiei o que ia falar – ele riu nervoso, caminhando lentamente na direção da morena – Por isso vou te pedir pra não me interromper.
Ela apenas assentiu, ansiosa demais pra proferir quaisquer palavras.
- Primeiramente, quando fui naquele julgamento e descobri que você esteve grávida, me senti traído. Duplamente traído, pois você não somente não me contou quando estava grávida, como também não me procurou depois.
Mia sentia as palavras de Olívio, apesar de já previstas, perfurarem seu coração. Talvez ela ainda não estivesse preparada pra pôr um ponto final em tudo, afinal.
- Doeu. Doeu não ter sabido por você, como me doeu a perda da minha filha. É estranho, não? – ele caminhou sem rumo pelo quarto, encarando as paredes – Eu vivi todo esse ano sem saber da existência dela, e quando soube, ela já tinha partido e levado uma parte de mim com ela. Porque ela tinha uma parte de mim. Ela era metade eu, metade você.
Os olhos de Mia encheram de lágrimas impossíveis de se evitar escorrer.
- Estava confuso com sua volta, com a revelação. Minha cabeça estava cheia, e meu coração ferido.
Mia ergueu uma sobrancelha com as palavras do rapaz.
- É, eu sei que esse não sou eu, que não sou romântico, que nunca falei em coração partido – ele soltou um riso pelo nariz – Mas não tenho outras palavras pra te explicar o que eu senti. Mia, eu era o pai. Tinha tanto direito sobre essa criança quanto você.
- Eu sei, mas... – ela começou com a voz embargada. Abaixou a cabeça e limpou rapidamente os olhos na manga do suéter que usava – M-mas você disse tudo aquilo quando nos despedimos de Hogwarts e... e eu...
- Eu sei que eu disse coisas ruins. – respondeu ele secamente – Mas eu tinha razão pra agir como agi. Pra dizer o que disse. Afinal, eu tinha comprado um apartamento pra nós morarmos no centro de Londres, já tinha feito todos os tipos de planos pra gente depois de Hogwarts... E você vem me dizer que se mudaria, que eu não era suficientemente bom pra você.
- E-eu nunca disse isso. – gaguejou ela com a voz trêmula, tentando controlar seus nervos qualquer custo – Nunca soube que você tinha comprado um apartamento... Você nunca compartilhou comigo seus desejos, seus planos...
- De qualquer modo, você se foi. – cortou ele dando de ombros – Eu entrei para o Puddlemere, fiquei famoso, saí com mulheres maravilhosas...
Mia apertou os olhos e rangiu os dentes para não falar nada. Ele queria feri-la, magoá-la... Então, que assim fosse. Sabia que tinha feito pro merecer.
- Fico feliz que você soube aproveitar bem esse tempo. – retrucou ela friamente.
- Ainda não terminei. – cortou ele com uma sobrancelha erguida.
- Ta, continue. – rebateu ela com a voz ligeiramente alta – Continue com sua vingança. Eu mereço! Ande! Por que não manda logo uma Cruciatus pra cima de mim?
Olívio desviou os olhos do quadro de uma praia deserta para encarar as orbes marejadas da morena.
- Nessa semana que desapareci, estava na casa da praia de Jean na França. – respondeu ele tranqüilamente – Eu pensei, refleti. Queria muito te perdoar, mas... Não consegui.
Mia fechou os olhos com força, sentindo seu rosto umedecer com as lágrimas. Virou-se na direção da janela novamente e engoliu seco antes de responder.
- É justo. – sua voz não passava de um sussurro.
O vento leve que entrava pela janela balançou de leve seus cabelos, fazendo-a se recordar de quando os dois se despediram em Hogwarts. Exatamente aquela paisagem, aquele céu, aquele vento.
Não escutou mais os passos de Olívio pelo quarto, e deduziu que ele se fora. Ainda de olhos fechados, ela se permitiu soluçar uma vez, reprimindo as lágrimas que se formavam em seus olhos negros.
Com o corpo trêmulo e um arrepio indo e voltando em sua espinha, ela sentiu dois braços a abraçarem por trás. Não ousou abrir os olhos, mas inspirou uma generosa quantidade de ar, junto com um o cheiro maravilhoso dele.
- Achei que era impossível te perdoar. – o hálito quente dele em seu ouvido fazia os pêlos de sua nuca eriçar – Mas fui tolo em pensar assim.
Ela apertou os olhos com mais força, reprimindo um soluço mudo.
- Impossível mesmo é viver sem você. – ele completou, roçando os lábios na pele da morena.
Mia não se atreveu a abrir os olhos. Se aquilo fazia parte de uma de suas fantasias, que assim fosse. Preferia não acordar. Naquele momento ela deixou todas as lágrimas reprimidas e todos os soluços contidos se manifestarem. Soluçou mais forte ao senti-lo beijar carinhosamente seu pescoço e entrelaçar suas mãos na dele.
Com um movimento cuidadoso, ele a girou de modo que pudesse encarar seu rosto borrado pelas lágrimas.
- Mia? Você ouviu o que eu disse? – perguntou, com a voz séria. Ainda de olhos fechados, ela assentiu, reprimindo um soluço.
Ele emudeceu. Mia queria abrir os olhos pra encará-lo, queria protestar quando ele soltara sua cintura, mas não conseguia. Apenas continuava soluçando baixinho, quando sentiu as mãos dele enxugarem seu rosto delicadamente.
- Bolinha, abra os olhos. – ele deslizou as mãos para a cintura da morena novamente, encostando sua testa na dela. Mia meneou a cabeça, apertando os olhos com força. – Vamos, Bolinha... Faça isso por mim.
Inspirou profundamente, antes de deixar suas orbes negras visíveis aos olhos de Olívio. Encarou-os por uma eternidade, sentindo cada músculo do seu corpo relaxar e se arrepiar com a proximidade de seus corpos. Olívio sorriu marotamente, entreabrindo os lábios e deixando seus dentes brancos à mostra.
Mia riu com a careta do rapaz, franzindo o cenho ao reparar que Olívio mordia um brilho prateado. Ele colocou o objeto na língua e mostrou-lhe, enquanto ela retirava a jóia de sua boca. Um anel. Um anel de ouro branco e um diamante azul marinho, semelhante com aquele que ele lhe dera no passado e que fora obrigada a penhorar.
- Sei que já te dei esse anel uma vez... – ele sussurrou, roçando a ponta do nariz arrebitado com o nariz dela – Mas como você se desfez dele, eu vou ser obrigado a te dar de novo. – ela sorriu com os olhos fechados, apertando firmemente o anel entre os dedos – Bolinha...
Mia abriu os olhos para encará-lo.
– Casa comigo?
Com um sorriso trêmulo dançando nos lábios, ela assentiu, abraçando-o fortemente e puxando o rapaz para um beijo avassalador.
Naquele momento, uma essência magnífica que os dois sentiriam para o resto de suas vidas inundou o aposento. A noite caíra lá fora, e em meio às sombras projetadas no quarto, um cheiro de verão e outono se misturava. Uma fusão de almíscar, cedro e sândalo de Olívio, e mandarim, maçã-verde e freesia de Mia. Chuva, grama molhada e Minhocas de Geléia. Wood e Chang.
Em palavras puras e simples, um cheiro único de amor.
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N/A: Fiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiim!! Finalmente chegamos aqui!! Nossa, detestei o penúltimo capítulo, mas adorei escrever esse! Como todo romance, é lógico que eles teriam que casar néé?! Queria fazer algo diferente, que nunca fora usado em filme nenhum, em história nenhuma.... Acho que consegui, apesar de ter ficado meio nojento... Hahaha... Mas afinal, Olívio é um porquinho mesmo né?
Ah! Queria que vocês me dissessem se ficou algo no ar... tipo, alguma coisa que eu tenha esquecido de esclarecer durante a fic... Sabe, eu sou meio esquecida e não duvido nada que tenha faltado alguma coisa! Qualquer observação, por favor, me comuniquem!
Ahhh! Se alguém ficou curioso sobre da onde eu tirei os “ingredientes” pra descrever o cheiro de Olívio e Mia, eles são alguns dos componentes do perfume “Echo”, de Davidoff, e “Ralph”, de Ralph Lauren respectivamente. Simplesmente sou louca pro perfumes e esses são meus favoritos!
Espero que vocês tenham gostado do Fim, e não se vãããooo!! Ainda tem o epílogo e eu imploro pra vocês continuarem me fazendo companhia em “ÁS”... !! Hahaha como ainda tem mais um capitulo, vou deixar pra agradecer lá OKKK????
Obrigada aos comentários! Postei o ultimo capitulo logo porque não estava muito confiante quanto ao penúltimo! Hehehe Agradecida desde já à :
RFC´s, Thássia; ●, Tammie, Emmy Black ~¤, Ligia Melo, Lunny, Mih, Tati ~*, Tati, Luisa, Nash, Fê Ft Louie...
E a todos que leram e aocmpanharam essa fic!! Como disse la em cima... Agradecimentos detalhados no Epílogo! Até lá! Um beijo enorme à todas!! Adoro vocêees!
** Ahh! Não se esqueçam de comentar, plz? Eu sei que depois q a fic ta terminada da uma preguiiiiiiiça de ir lá e criticar, ou elogiar, mas façam um esforcinho plzz?! Eu to com o Epílogo pronto e to doiiiiiiiida pra postá-lo, mas queria uns coments primeiro... =P entãããoooo... por favor galeraaa
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