Truth (Calvin Klein)
Capítulo Cinco: Já brigas?
Olívio descia as escadas em direção ao Salão Principal, seu rosto milagrosamente iluminado após uma amarga derrota logo no início da temporada. O sorriso estampado de orelha a orelha rendeu várias erguidas de sobrancelhas e olhos arregalados logo que ele desceu para o Salão Comunal da Grifinória àquela manhã, além de comentários curiosos de Eric e Ed.
- O que deu em você hein, Olívio? – indagava Ed fitando-o desconfiado – Você tomou alguma poção para animar é?
- Não. – respondeu o garoto sorridente – Foi bem melhor que uma poção para animar!
- O que foi então? – perguntou Eric com um “quê” malicioso na voz.
Olívio apenas alargou o sorriso, enquanto os três entravam para o Salão Principal, estranhamente agitado para um domingo de manhã. Vários alunos haviam se levantado das mesas, apoiados nas pontas dos pés, aparentemente para ver alguém, ou algo que acontecia na mesa da Grifinória.
- O que está acontecendo ali? – perguntava Olívio franzindo o cenho para a multidão que se aglomerava ao redor de um pontinho no canto da enorme mesa.
- Não sei. Vamos lá descobrir. – respondeu Eric agitado, e começou a andar em direção à aglomeração, mas no momento em que eles estavam chegando, a multidão de alunos começou a dispersar-se, e a voltar, agitados, para suas respectivas mesas.
- Saiam daqui, seus curiosos! Vocês não têm vida não? – ralhava Kahlen irritada, fazendo movimentos de “xô” com as mãos.
O que Olívio viu àquela hora fez seu estômago dar uma cambalhota. Ele prendeu a respiração, o rosto queimando de fúria. Os olhos saltaram ligeiramente e ele teve a sensação de que ia vomitar.
Jean Morlevat se encontrava ali, e acabara de tirar sua língua da boca de Mia, que Olívio não conseguia ver o rosto, mas tinha certeza de que era ela. Reconheceria aquele emaranhado de cabelos negros mesmo em uma noite chuvosa no meio da Floresta Proibida.
- O que aquele retardado pensa que está fazendo? – indagava ele furioso, fitando Jean sentar-se ao lado de uma Mia vermelha como um tomate.
- Beijando a noiva, oras. – respondeu Ed erguendo as sobrancelhas – Afinal de contas, Mia ainda É a NOIVA dele.
Olívio apertou os olhos e bufou de raiva.
- O que ele está fazendo aqui, afinal? – perguntou ele tentando acalmar a voz, mas aparentemente ela insistia em continuar trêmula e irritantemente alta.
- Eu sei lá! – respondeu Eric dando de ombros – Vai ver queria fazer uma surpresa, marcar a data do casamento...
Olívio arregalou os olhos, fitando o amigo incrédulo.
- Vo-você acha que é isso? – gaguejou ele com a voz trêmula.
Eric deu um riso sarcástico, revirando os olhos para o amigo.
- Larga de ser frouxo, Olívio! – comentou ele rispidamente, enquanto se sentava na mesa da Grifinória, tomando cuidado para seu lugar ser longe o suficiente de Mia e de Jean, para Olívio não saltar para o pescoço do rapaz e estrangulá-lo cada vez que ele fazia uma carícia no rosto de Mia ou mexia em seus cabelos.
- Se você quer a garota, deve lutar pela garota. – concluiu Ed juntando-se aos amigos – Não ficar torcendo e rezando pro noivo terminar com ela, não?
Olívio balançou a cabeça, confuso, depois fitou os amigos, que o olhavam com as sobrancelhas erguidas.
- E quem disse que eu quero a Chang, hein? – disse ele desdenhoso, agora com a voz mais confiante.
- Olívio, seu retardado! O único de nós burro o suficiente pra não perceber que você ta amarradão nela é você mesmo! – retrucou Ed impaciente.
Olívio fez uma careta para o amigo.
“Não sou burro” – pensou ele mal-humorado, e seu olhar recaiu sobre Mia e Jean, que agora se levantavam da mesa e atraiam a atenção de todos no salão.
- Pra onde eles estão indo? – Olívio se perguntava, acompanhando os dois com os olhos apertados de raiva.
- Isso não é da sua conta, já que você não quer a “Chang”. – disse Eric calmamente, e Olívio fitou-o abobalhado. “Falei alto?”, ele se perguntou, enquanto Mia e Jean sumiam pela porta que dava para os jardins; parara de chover e um belo arco-íris se projetava no céu.
- Preciso ver. Preciso saber o que eles estão fazendo! – Olívio murmurava com raiva para si mesmo, enquanto travava uma luta interiormente: segui-los, ou não segui-los? Ficou ali, cerca de cinco minutos, olhando para o nada, aparentemente em transe, quando soltou um longo suspiro, se levantou e seguiu os dois com passos vagarosos para não chamar atenção.
- Seu idiota, onde você pensa que vai? – gritava Eric da mesa, mas Olívio se limitou a fazer um gesto de pouco caso com a mão e saiu sorrateiramente para os jardins. O sol aparecia fracamente atrás do arco-íris, e as copas das árvores da Floresta Proibida e dos jardins ainda estavam molhadas pela chuva da noite anterior. Ele procurou por Mia e “pelo seu noivinho”, como ele denominava Jean de um modo desdenhoso, e os encontrou sentados em um rochedo à beira do lago. Apertou os olhos com raiva ao ver que Jean abraçava “sua” Mia e lhe oferecia seu casaco, pois uma brisa gélida acabara de soprar em direção ao norte.
- Ai, não consigo escutar nada daqui. – ele resmungava baixinho, enquanto se espreitava pelos rochedos, até chegar em um perto dos dois, particularmente grande que pudesse escondê-lo, onde conseguia escutar Mia falando.
_______ Versão Mia __________
- Querrrida? – chamava Jean, enquanto Mia ainda fitava-o boquiaberta.
- Hm, Jean, o que... o que você está fazendo aqui? – indagava ela, tentando parecer o mais educada possível, mas a verdade era que ainda não estava preparada para falar com Jean. O que ia falar?
- Orrra, focê diss q querrria me verrr urrgentemen, enton aqui estou. – respondeu ele, parecendo um tanto ofendido pela falta de consideração da noiva.
- Ah, claro, claro. – murmurava Mia perturbada – Vamos conversar. – ela disse, mas pela primeira vez reparou no alvoroço que a presença de Jean causava. Vários alunos e alunas se equilibravam na ponta dos pés para ver o apanhador do Puddlemere United, e cochichavam entre si, enquanto outros corriam de volta para seus dormitórios, aparentemente para pegar pena e pergaminho para um autógrafo, ou para avisar seus colegas da ilustre visita que Hogwarts recebia. Kahlen irritara-se com a curiosidade dos colegas e logo tratou de dispersá-los com uns berros bem merecidos.
Jean sentou-se ao lado de Mia, encarando-a com aqueles olhos muito azuis e um sorriso no rosto, enquanto acariciava o rosto da garota, que suspirava, não de prazer, mas de culpa. Ela fitou as dezenas e mais dezenas de pares de olhos que os observavam àquela hora, quando seu olhar recaiu sobre um canto do outro lado da mesa da Grifinória: lá estava Olívio, a última pessoa que ela gostaria que visse Jean ali; ele aparentemente discutia alguma coisa com Eric, mas Mia logo tratou de puxar Jean para fora do castelo, onde não poderiam ser perturbados.
- Vamos, Jean. – ela dizia impaciente puxando o rapaz pelo braço, depois de Jean ter parado duas vezes para autografar pôsteres com sua foto que saíra na revista ´Bruxalinda´ para duas terceiranistas da Lufa-Lufa.
- Prrronto. – disse Jean sorrindo, depois que os dois saíram do castelo e se sentavam em alguns rochedos próximo ao lago – Agorrra sou todin seu, pod falarrrr.
Mia soltou um longo suspiro. Não tinha a mínima idéia de como terminar o noivado. Achava, sensatamente, que começar com um “Olha Jean, a verdade é que fui enfeitiçada e dei uns amassos no Olívio e acabei me apaixonando por ele...” era de muito mau gosto, além de cruel. Que era a verdade nua e crua, isso era, mas não deixava de ser extremamente cruel.
- Enton? – perguntou Jean sorridente, erguendo levemente a sobrancelha – O q de ton urrrgent focê tinha prrra me falarrrr?
Mia suspirou novamente.
- Jean. – começou ela com a voz fraca, sorrindo docemente pra ele. Nem ela mesma sabia como conseguira sorrir no estado de nervos em que se encontrava – Você... hm... você se lembra da primeira vez que nos encontramos? – perguntou ela encarando aquele mar azul intenso que eram os olhos de Jean.
Ele sorriu.
- Clarrro q me lembrro. Eu estav saindo do vestiárrio do estádio, após o jogo, e vi você, linda, discutind com seu pai. Você dizia muitos palavrrrões, mas eu non estav escutand... só conseguia te admirrrarrr... ah, Mia focê non faz idéia de como é linda...
Mia corou. Seus olhos estavam marejados.
- Enton eu vi seus olhos enxerrrem de lágrrimas igualzin agorrra. – ele sorriu, impedindo uma lágrima de Mia cair, enxugando-a delicadamente com o dedo – E me deu uma vontad enorrrrme em baterrr naquele homem barrrrigud que grrritav com focê.... – Mia soltou um grunhido muito parecido com um riso engasgado pelas lágrimas – E foi o qui fiz. – completou ele, sorrindo ao lembrar da situação embaraçosa. Mia riu.
- É, você pegou meu pai em cheio. – soluçou ela sorrindo, encarando o lago, enquanto Jean a abraçava pelos ombros. – Lembro que ele ficou uma semana com aquele olho inchado e roxo.
- É, mas eu lembrrrro mais é dos tapas que focê me deu, logo depoisss de eu terrr achado que tinha virrrado seu herrrói. – disse ele sorrindo – Depois que já tinha socado o Sr. Chang é q fui perrrceberr q ele err-ra seu pai. Mon dieu! Que verrrgonha... e focê me estapeando igual uma louca...
- Eu achava que você era um louco, por ter socado meu pai do nada! – exclamou ela sorridente – Ainda não conhecia você! Você ainda era o reserva do Richardson!
- É eu er-rra. – concordou ele – E grrraças a focê qu me torrrnei titularrr.
- Graças a mim? – repetiu ela com as sobrancelhas erguidas – Mas eu não fiz nada!
- Clarrro qu fez! – corrigiu ele sorrindo docemente – Focê me apoiou o temp todo depois qu começams a namorrar! Foi grrraças ao seu apoio e seus carrrinhos qu tiv forrrças parrra agüentar no Pudd long de casa, longe da minh família... focê tinha se torrrnad minh família...
Mia tentava conter as lágrimas a todo custo, se sentia culpada agora... iria... abandoná-lo? Seus olhos ardiam ao se lembrar das cenas, de quando eles se encontraram pela primeira vez, como se apaixonaram... Eram lembranças boas, mas simplesmente lembranças... já não amava mais Jean...
- Jean, escute. – começou ela encarando os pés – Eu disse que precisava falar urgentemente com você, porque... – e parou de falar... não sabia se conseguia continuar.
Ele a encarava tristemente. No fundo, já devia saber do que se tratava.
- Bom, - continuou Mia, ao ver que Jean não insistiria para ela continuar – porque não posso mais continuar com você. – ela disse tudo muito lentamente, como se ela mesma precisava se convencer daquilo; mas na verdade já se decidira: queria muito ficar com Olívio.
Jean a fitou tristemente, e virou seu olhar para as montanhas além do lago. Mia sentiu seu estômago afundar: seriam... lágrimas nos olhos dele?
- Jean, eu... eu sinto muito... – começou ela, mal contendo as lágrimas – Não sei como foi acontecer e... – ela se calou, com o dedo de Jean sobre seu lábios.
- Tem outrrra pessoa non é? – disse ele evitando encarar a garota nos olhos.
Mia não sabia o que responder. Mentiria? Não, não poderia mentir. Não para Jean. Acenou brevemente com a cabeça, indicando que “sim”.
Jean tentou inutilmente sorrir, e sua tentativa frustrada rendeu algumas lágrimas a mais em seus olhos.
- Clarrro qu tem. – disse ele encarando os pés – É porr iss qu focê hesitou quand eu te pedi em casament... mon dieu! Como fui burrro! E aind prrrressionei focê a fazerrr uma cois qu non querrria...
- Não! – cortou Mia, desesperada – Não, Jean! Não tinha ninguém! Você não me pressionou, eu estava com medo de compromisso, sabe? Namorar é uma coisa, agora casamento... Ah, Jean! Você sempre foi maravilhoso comigo – ela começou a soluçar mais forte, as lágrimas caiam sem parar, ela vomitava as palavras, não sabia se Jean conseguia entender alguma coisa devido aos soluços – sempre foi perfeito... desde que nos conhecemos, apesar de ter socado meu pai, você veio me procurar depois, e com a maior car-de-pau do mundo disse que eu era a mulher com quem você sempre sonhou, que você ia se casar comigo, eu fiquei boba... o primeiro encontro, tadinho, você era alérgico à camarão e comeu, só pra eu não me sentir mal por ter pedido de entrada... depois ficou com a cara toda inchada e vomitando, ai Jean! Você planejou o melhor pedido de casamento que alguém poderia receber no mundo... Você é uma pessoa maravilhosa, sabe? – ela disse tudo muito rápido, chorando e soluçando muito, enquanto Jean continuava encarando os próprios pés.
“Lembra do primeiro dia que eu vi seu rosto?
Lembra do primeiro dia que você sorriu para mim?
Você veio até mim e me disse que eu era a mulher que você sonhou...”
- Se sou ton marrravilhoso assim, porrqu focê está me deixand...? – disse ele virando-se para encarar Mia, que parecia ter sido esbofeteada; seu olhos estavam inchados e muito vermelhos, o rosto encontrava-se no mesmo estado e ela soluçava baixinho.
- Porque... – começou ela suspirando, e virou-se para encarar aquele mar azul nos olhos de Jean novamente – Porque não te amo mais. – disse com a voz firme, mas seu lábio tremeu violentamente ao dizer aquelas palavras.
Jean soltou um suspiro, fechou os olhos e para o total espanto de Mia, ele sorriu.
- Mas eu continuo te amand... non imporrrrta oq aconteça, sabe? Querrro te verrrr feliz. Mesm qu su felicidad sej longe de mi... – ele disse sorrindo, mas seus olhos marejaram. Nesse momento uma brisa gélida passou pelos dois, mas Mia não a sentiu. Arrepiou-se, na verdade, era por ter escutado aquelas palavras de Jean. Como ele era muito mais maduro que ela! “Mais maduro que eu e Olívio juntos”, ela pensou, enquanto Jean tirava seu casaco e a cobria, que agradeceu. Ele a abraçou firmemente, e ela sentiu lágrimas molharem seu ombro.
- Jean, me desculpe. – começou ela com a voz embargada abraçando o rapaz – Desculpa por tudo, eu te amo, amo muito sabe, só que... só que... – sua voz foi morrendo, até se tornar num sussurro audível somente para Jean – Só que não dessa forma.
Jean sorriu, afastou-se um pouco de Mia, enxugou o rosto com as costas da mão, e para o espanto da garota, tascou-lhe um beijo... o último beijo... o beijo de despedida... Mia, que ainda estava com os olhos arregalados de pânico e de surpresa, fechou-os e deixou-se levar pelos lábios quentes de Jean. Eles se beijaram com fervor, mas quando Jean ia aprofundar o beijo, ela começou a se afastar, lentamente. Abriu os olhos e encarou os do rapaz.
- Espero que você seja feliz. – ela sussurrou para ele, abrindo um sorriso.
- Também querrro qu focê sej muit feliz. – ele respondeu, mas não conseguiu abrir um sorriso, ao invés disso, uma lágrima escorreu pelo seu rosto. – Adeus, Mia. – e deu as costas para a garota, caminhando firmemente pelos jardins do castelo, e Mia o viu desaparecer pela trilha que levava à Hogsmead. Ele teria que sair dos terrenos de Hogwarts para aparatar.
Mia soltou um suspiro. Estava ao mesmo tempo triste e aliviada. As palavras de Jean fizeram grande efeito na sua cabeça, e ela pensava se algum dia Olívio a amaria como Jean a amava. Na verdade, Olívio apenas disse que queria ficar com ela, nunca disse que a amava. Soltou um longo suspiro novamente, e começou a caminhar em direção ao castelo, que continuava apinhado de estudantes curiosos, que lançavam a porta olhares esperançosos logo que ela entrara no Salão Principal pela mesma, obviamente esperando por Jean entrar logo após dela. Mia caminhou vagarosamente para a mesa da Corvinal; sua cabeça estava muito mais leve que nos últimos dias, sem remorsos ou sentimentos de culpa.
- E então? O que Jean queria com você? – perguntava Kahlen ansiosa.
- O que deu nele para aparecer em Hogwarts uma semana depois de terem começado as aulas? – perguntou Emma desconfiada, lançando a Mia um olhar inquisidor.
- Eu mandei uma carta dizendo que precisava falar urgentemente com ele. – disse Mia num sussurro, de modo que as pessoas curiosas ao seu redor não pudessem escutá-la.
- E posso perguntar porquê você precisava falar com ele com essa urgência? – perguntou Emma, olhando nos olhos de Mia como uma juíza desconfiada de um réu.
- Terminei o noivado. – Mia apenas movimentou a boca, sem que saísse som algum, no que Emma soltou uma exclamação alta e levou as mãos à boca, horrorizada, enquanto Kahlen sorria com satisfação, e ar de quem pensava “Eu sabia!”.
- Por que você fez isso? – perguntava Emma indignada, até parecia que era ela o noivo dispensado.
- Ora, porque... gosto do seu irmão. – Mia disse muito depressa, evitando encarar a amiga.
- VOCÊ O QUÊ...? – berrou Emma espantada, no que todos os alunos que se encontravam àquela hora no salão Principal esqueceram o que estavam fazendo e viraram-se para Emma, que se colocava de pé. – Mia, não acredito! Que burrada! – ela continuava a gritar, mas agora com a voz um pouco mais baixa.
- Não, não foi. – discordou Kahlen sorrindo para Mia – Acho que você fez o certo. Pra falar a verdade, eu já sabia que você... hm... tava gostando dele mesmo antes da Amortentia.
Mia ergueu as sobrancelhas e fitou a amiga.
- Sabia?
- É. – começou Kahlen sem jeito, dando de ombros, e encarando uma torrada na mesa – Sabe, você tentava mentir pra você mesma, mas eu já tinha percebido. Ia ser o maior erro da sua vida se você casasse com Jean, então... – e parou de falar.
- Então... – insistiu Mia com as sobrancelhas erguidas.
- Então, ah, Mia, eu sabia que aqueles chocolates estavam enfeitiçados e coloquei bem na sua cara pra você comer. – respondeu Kahlen impaciente.
Mia ergueu ainda mais as sobrancelhas (se é que era possível) e sorriu para a amiga, enquanto Emma abria e fechava a boca, horrorizada.
- Você o que? – indagou Emma alterando a voz novamente – Kahlen, não acredito!
- Emma – começou Mia séria – você está fazendo todo esse escândalo porque eu terminei o noivado ou porque você não quer me ver com seu irmão?
Emma abriu e fechou a boca. Estava vermelha como tomate e ofegava um pouco por causa dos berros que dera.
- Um pouco dos dois. – murmurou ela sentando-se finalmente e baixando a cabeça – Mia, você sabe que te amo como se ama uma irmã. – disse ela encarando a amiga – Mas a idéia de vocês juntos é um pouco, quer dizer muito – corrigiu ela revirando os olhos – estranha pra mim.
- Realmente, deve ser. – concordou Mia com um sorriso nos lábios.
- Mas eu me acostumo. – completou Emma sorrindo para Mia. As duas se entreolharam e se abraçaram fortemente, no que Kahlen se juntou a elas exclamando “Suas bobas! Suas bobas!”.
Mia se soltou do abraço coletivo, um tempinho depois, e procurou Olívio com o olhar pelo Salão Principal.
- Ele deve estar no dormitório. – disse Emma, sem que Mia nem ao menos tivesse dito nada.
- Vamos, eu falo a senha pra você passar! – exclamou Kahlen animada, puxando Mia pelo braço.
As duas percorreram as escadarias até o quadro da Mulher Gorda, onde Kahlen disse a senha, e continuou parada ao lado de fora.
- Você não vai entrar? – perguntou Mia erguendo uma sobrancelha.
- Não, isso é uma coisa de vocês! – respondeu ela animada, e murmurou um “Boa sorte” quando Mia entrou pelo corredor e desapareceu na Sala Comunal, absolutamente vazia àquela hora. Nada de Olívio.
“Hm... ele deve estar no dormitório... mas... qual é o dele?”, murmurou ela pensativa, e milagrosamente ela viu pernas aparecerem na metade de uma escada em caracol. Pernas que ela reconhecera instantaneamente.
Olívio descia pelas escadas, sua vassoura posta em um dos ombros. Os cabelos estavam bagunçados e o rosto amassado, parecia que tinha acabado de acordar.
Ele ergueu levemente as sobrancelhas ao notar que Mia o aguardava no salão Comunal. A garota sorria radiante para ele, que pareceu nem notar.
- Olívio – ela começou, mal contendo sua felicidade. Queria abraçá-lo, beijá-lo ali mesmo, mas o garoto meramente a fitou, seus olhos frios como ela nunca havia visto.
- O que você está fazendo aqui Chang? Mudou de casa por acaso? – alfinetou ele rispidamente. E sua voz estava gélida como seus olhos.
- Não, não mudei. – respondeu ela com a voz um tanto trêmula. “Por que ele está falando desse jeito?”, ela pensava um pouco magoada – Apenas precisava falar com você. Queria te dizer uma coisa. – completou ela enquanto Olívio lhe lançava um olhar de absoluta raiva.
- Eh? – disse ele com desprezo – Veio aqui me informar que ontem à noite também foi um erro? Que você já esclareceu tudo com seu “noivinho” e que ele te perdoou e que agora vocês vão ser felizes para sempre? – disse ele, e a cada palavra o volume da sua voz aumentava, e seu rosto se contorcia de raiva.
- Do que você está falando? – disse Mia irritada. Olívio já não era lá a pessoa mais paciente do mundo, mas Mia conseguia superá-lo. Logo já se aborrecera com a atitude do rapaz.
- Pode me poupar das suas explicações baratas, Chang. – disse ele com raiva – Eu ouvi tudo. Escutei você pedindo perdão a ele e dizendo que o amava.
- Você o quê? – gritou Mia com uma voz esganiçada, enquanto seus olhos marejavam – Você escutou o que eu disse para Jean? – perguntou ela indignada.
- Escutei. – respondeu Olívio com amargura, passando a mão pelos cabelos e encarando Mia nos olhos – Então me poupe do seu discurso, do seu fora, que não estou com a mínima vontade de escutar, ta? – ele completou, caminhando em direção ao buraco do retrato, mas foi impedido por Mia, que segurava seu braço.
- OLÍVIO, SEU ABELHUDO! – berrou ela, o rosto vermelho de raiva – SEU ABELHUDO BURRO! Se você tivesse escutado tudo o que eu disse a Jean, saberia que eu disse que o amo, sim, mas não da mesma forma que ele me ama! Teria visto eu terminar o noivado com ele, porque gosto de outra pessoa, ou seja, gostava, porque agora não sei mais. – ela gritou tudo muito rápido, seus olhos ardiam, e as lágrimas insistiam em cair apesar do esforço de Mia em deixá-las em seus olhos.
- Você o quê...? – repetiu Olívio abobalhado – Você terminou o noivado?
- Terminei. – respondeu ela rispidamente.
- AH, É? – ele gritou, continuando a discussão – E aquele beijo? O que foi hein? Um beijo de despedida? – disse ele fazendo uma careta de desgosto.
Mia fitava-o abobalhada. Os olhos vermelhos ainda pendiam lágrimas quentes. Ela soluçava involuntariamente, enquanto Olívio proferia aquelas palavras, não mais com frieza, mas com nítida raiva.
- SE VOCÊ QUER SABER, FOI SIM! – berrou ela com ódio; Como pôde trocar o Jean por aquele trasgo burro e abelhudo que berrava com ela?
- Ah, e era de EXTREMA necessidade vocês se beijarem, não é? – gritou ele com desdém – Não bastava ter um rompimento normal, com lágrimas e atiramento de objetos um na cabeça do outro. Aliás, VOCÊ AINDA ESTÁ COM A ESTÚPIDA ALIANÇA NO DEDO! – berrou ele furioso, apontando para a mão direita de Mia. Ela fitou o anel de brilhantes, um pouco perturbada, e sorriu desdenhosa para ele.
- Estou, não é mesmo? – disse ela com desdém, e seus lábios se crisparam em um sorriso – Pois não vou tirar! Que burrice a minha, trocar Jean por um trasgo estúpido e burro como você!
Olívio fitou-a com os olhos arregalados. Parecia ter sido esbofeteado pela garota.
- SOU UM TRASGO ESTÚPIDO E BURRO É? – berrou ele de volta – POIS VOLTE COM ELE! – ele falava tudo aquilo sentindo uma pontada no coração, e no fundo uma vozinha implorava para Mia ficar com ele, não queria se separar dela de jeito nenhum. Queria abraçá-la, beijá-la, sentir seu perfume doce.
- É isso mesmo o que vou fazer! – gritou ela se descontrolando, e deu as costas para o Olívio, saindo pelo buraco do retrato – Aliás, você não é um trasgo estúpido e burro. – disse ela com a voz um pouco mais calma, virando-se para encará-lo no meio do caminho. Olívio a fitou confuso, o rosto ainda muito vermelho – VOCÊ É UM TRASGO ESTÚPIDO, BURRO E ABELHUDO! – berrou ela, e em seguida saiu bufando pelo retrato da Mulher Gorda, deixando um Olívio raivoso para trás.
Mia desceu as escadarias, bufando de raiva, se dirigiu para seu dormitório e lá ficou. As palavras frias de Olívio ecoando em sua cabeça. Ela afundou o rosto no travesseiro e desatou a chorar. Soluçava de raiva e de tristeza. O que ela dissera não era verdade; apesar de Olívio a ter tratado tão mal àquela hora, não se arrependia nem um pouco por ter deixado Jean. Estava gostando demais de Wood, gostando tanto, que chegara a se questionar se amava o garoto. Amor de verdade. Amor incondicional.
E passou o resto de seu domingo afundada no travesseiro, os olhos inchados de tanto chorar, até que finalmente adormeceu.
A semana demorou a passar, Mia evitava com todas as suas forças não encontrar com Olívio, mas era quase impossível dado ao fato de que os dois tinham praticamente todas as aulas juntos. Sendo assim, um não olhava para a cara do outro, o que estava matando ambos por dentro, mas nenhum dos dois admitiria para ninguém. A garota parecia um inferi (zumbi), como Emma vivia ressaltando. Não comia direito e acordava todos os dias com os olhos inchados de tanto chorar. Seus cabelos já não brilhavam mais como antes, pois a garota mal os penteavam direito, tamanha sua tristeza. Simplesmente não tinha vontade de fazer nada. O que a deixava viva, parecia ser o ódio que nutria por Olívio. Um ódio alimentado por uma bizarra esperança de tê-lo ao seu lado.
- Mia, pelo amor de Merlin, coma uma torrada! – insistia Kahlen preocupada.
- Já disse que não estou com fome! – respondeu ela irritada, já era a quarta vez naquele café que Kahlen empurrava alguma coisa para Mia comer.
- Mas desse jeito você vai acabar com sua pele! Olha, já está aparecendo alguns sinais de manchas... – insistiu Kahlen com um tom choroso, apontando para a testa de Mia; não havia nenhuma mancha lá.
- Eu não me importo. – retorquiu Mia mal-humorada.
- Oi meninas! – cumprimentou Emma com um sorriso, a garota estava um pouco ofegante e carregava um saquinho transparente com algumas tachinhas enfeitiçadas nele. Mia observou um aglomerado de estudantes conversarem excitados em frente ao mural no Salão Principal.
- O que aconteceu? – perguntou Mia apontando para a aglomeração.
- Ah, acabei de pregar lá. – respondeu a amiga se sentando, com Cedrico em seu encalce – É um aviso do primeiro sábado em Hogsmead.
- Que vai ser? – perguntou Kahlen esperançosa, com as sobrancelhas erguidas.
- Depois de amanhã. – respondeu Emma servindo-se de um mamão, e virando-se automaticamente para Mia – Coma uma fruta. – disse, encarando a amiga com uma sobrancelha erguida.
- Kahlen, não sei porquê você está tão animada, - disse Mia entediada, ignorando o comentário de Emma – é só mais um sábado das centenas que tivemos nesses quatro anos...
Kahlen corou.
- Ah não ser – começou Mia lançando à amiga um olhar malicioso – Que esse fim de semana seja diferente... com um... certo par especial?
- Não, Mia. – corrigiu Kahlen séria, franzindo o cenho – Ele não me chamou.
- Claro que não! – exclamou Mia agora um pouco mais alegre – Você não foi falar com ele depois que recebeu a carta!
- Ahn? Que carta? De quem? – perguntava Emma curiosa – Mia, coma uma fruta!
Mia lançou um olhar a Kahlen como se pedisse permissão pra falar. A amiga apenas sorriu, revirou os olhos de um modo muito mais discreto que Emma e assentiu.
Mia contou tudo à Emma, empolgadíssima, a amiga apenas fitou Kahlen com um olhar preocupado, e logo soltou:
- Kahlen, você é a garota mais bonita de Hogwarts, sem brincadeira. – disse Emma em um tom sério, e soltou um muxoxo impaciente quando Cedrico a interrompeu “Não Em, é você, linda!” – Mas você conhece a fama do Davies... Ele não parece ser muito ahn... do tipo que manda cartas de amor desse tipo.
- Eu sei. – respondeu Kahlen tristemente – Vocês acham que foi uma brincadeira?
- Se foi, foi de muito mau gosto! – respondeu Mia emburrada – Kahlen, você sabe que é alvo de inveja de muitas garotas, mas você é um amor de pessoa! Quem ia querer fazer você sofrer desse jeito?
- Não sei. – respondeu Kahlen com a voz fraca.
- Então! Provavelmente foi o Rogério, e ele não tem coragem de se declarar! – exclamou Mia tentando animar a amiga – Você quer que eu pergunte a ele?
- Não! Claro que não! – respondeu Kahlen se desesperando.
- Mia, pelo amor de Merlin, você tem cada idéia... – disse Emma balançando a cabeça negativamente – E coma alguma coisa! – acrescentou, no que Mia perdeu a paciência.
- JÁ FALEI QUE NÃO QUERO! – berrou ela nervosa, atraindo vários olhares para a mesa da Corvinal, mas ela pouco se importou. Àquela altura já estava acostumada.
Os dias se passaram rapidamente até o sábado, o tempo ajudara muito, não estava mais chovendo como no dia do jogo da Grifinória contra a Lufa-Lufa, mas um vento gélido soprava forte e insistente por todo o castelo. Quando finalmente sábado chegou, Mia ainda estava de pijamas, largada em uma poltrona confortável na frente da lareira do Salão Comunal quando Emma, já arrumada e muito bonita foi se juntar a ela.
- Não está pronta ainda? – ralhou Emma impaciente.
- E quem disse que eu vou? – perguntou Mia despreocupada, fitando o fogo crepitar na lareira.
- É lógico que você vai! – retorquiu Emma fazendo um gesto com a mão – Pára com esse cu doce todo porque senão vamos nos atrasar!
- Já falei que não vou, Emma! – retrucou Mia impaciente – Não sou louca de sair do quentinho do salão comunal para ir pegar uma ventania e ir segurar vela!
- Você não vai segurar vela! – exclamou a amiga agora levemente espantada – Segurar vela de quem, está doida?
Mia revirou os olhos.
- Você-e-Cedrico, – disse Mia lentamente, contando os casais nos dedos – Kahlen e-Rogério, eu-e-pirraça. – concluiu a garota, fazendo uma careta. Emma riu.
- Mia, qual é! – exclamou ela, ainda rindo – Eu não vou com Cedrico, nem Kahlen vai com o Davies! Vamos ser nós três! Como antigamente!
- Você não vai com Cedrico? – perguntou Mia erguendo uma sobrancelha desconfiada – E aquele mel todo no outro dia, no Salão Principal? Afinal de contas, vocês estão juntos ou não?
Emma soltou um muxoxo típico, e fez um gesto de impaciência com a mão.
- Ainda não rolou nada, vou deixar ele tentando mais um pouco, já que está acostumado a ter todas as garotas de Hogwarts suspirando por ele. – disse ela abrindo um sorriso divertido.
- Ai, Em, você não tem jeito. – disse Mia sorrindo, balançando a cabeça, e sentindo-se um pouco melhor, levantou-se e foi se trocar.
Trinta minutos depois ela desce, os cabelos brilhantes como antigamente, e um sorriso no rosto.
“Simplesmente não posso deixar Olívio estragar minha vida!”, ela pensou, confiante, enquanto aquela vozinha chata retorquia “Ele já estragou, querida... Já estragou”.
Ela abriu um sorriso ainda maior e mais falso, pois a dor que sentia não a deixaria abrir um verdadeiro; juntou-se a Emma e as duas desceram para o salão principal para se juntarem a Kahlen, que estava muito bonita também.
- Nossa, hoje está soprando um vento tão gelado! – lamentou Kahlen enquanto as três pegavam a trilha para a Hogsmead.
- Pois é, pelo menos não está chovendo. – disse Mia sorrindo. Kahlen a fitou curiosa.
- Mia, o que aconteceu? – perguntou à amiga, mas Mia apenas deu de ombros e continuou a sorrir, um sorriso que fazia seu rosto contorcer de dor, e seu coração gritar; um sorriso forçado e cheio de mágoa.
E continuou a sorrir, para o espanto e preocupação das amigas, que não se deixaram enganar pelo que Mia mostrava por fora, estavam preocupadas com o estado de ânimo da garota por dentro.
As três se dirigiram ao “Três Vassouras” para tentar fugir do vento gélido que rugia em seus ouvidos. Sentaram-se em uma mesa a um canto e pediram três cervejas amanteigadas.
- Eu vou – começou Mia se levantando.
- Lavar a mão. – completaram Kahlen e Emma juntas, revirando os olhos.
Mia sorriu fracamente, e esse sorriso não era tão forçado nem tão falso quanto os outros. As amigas a conheciam muito bem, como a irmãs, e ela sabia que elas queriam o melhor para ela. Sorriu ao fitar as duas, o primeiro sorriso verdadeiro da semana, mas ele logo se murchou do seu rosto e se transformou em lágrimas quando ela se dirigiu ao lavabo, e viu uma coisa que a fez sentir uma pontada no coração.
Olívio estava sentado em uma mesinha próxima ao lavabo, segurava as mãos de Katie Bell, seus dedos entrelaçados, seus rostos muito juntos. Parecia que ele fazia juras de amor à garota, que estava corada, mas sorria abertamente. Então, ele a beijou. Um beijo longo e terno que fez lágrimas e mais lágrimas brotarem nos olhos de Mia. Ela estava vermelha e ofegante, parecia que tinha sido esbofeteada e petrificada, pois não conseguia se mexer. Seu cérebro mandava suas pernas saírem dali, correr para o banheiro, ou sair do bar, mas suas pernas simplesmente ignoravam o comando. Continuava a observar a cena com um misto de horror e ódio no rosto.
Olívio parou de beijar Katie e Mia pôde jurar que ele a olhou pelo canto dos olhos, abrindo um sorriso triunfante logo em seguida. Finalmente as pernas de Mia resolveram obedecer ao seu comando e ela irrompeu pela porta do bar, aos prantos, correndo feito louca, quando esbarrou em alguém muito mais alto e mais forte do que ela.
- Mia? – chamou a voz conhecida, segurando-a pelos braços.
- Me solta! – ela deu um grito esganiçado, e tentou se desvencilhar, mas o rapaz a segurou mais forte.
- O que aconteceu? – ele perguntou preocupado, e Mia finalmente reconheceu sua voz; era Rogério Davies.
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P/ ~.Thaty : aqui está como Jean e Mia se conheceram! Obrigada por comentar! Bjuss!!
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